segunda-feira, 4 de julho de 2022

    QUE FAZER PARA TER A V IDA ETERNA   

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*             

Um legista propôs a Jesus esta questão: “Que fazer para ter a vida eterna”? (Lc  10, 25- 37) Esta indagação reflete bem os debates teológicos daquela época e recebe sucessivamente duas respostas. Na primeira o próprio legista  cita a Escritura  ajuntando uma passagem do Livro do Deuteronômio sobre o amor de Deus e uma passagem do    Levítico  sobre o amor ao próximo. Sob o ponto de vista teórico está tudo dito e nada havia a acrescentar. Jesus, aliás, afirma: “Tu respondeste bem, faze isto terás a vida eterna”. De fato, ele sabia o que devia fazer. A segunda resposta à questão “Quem é o meu próximo”, Jesus responde com uma parábola admirável pelo seu dinamismo sob a  forma de um programa de reflexão e conclui “ Vai e tu  faze  também do mesmo modo”. Ora, o que praticou aquele estrangeiro senão uma obra de misericórdia, de bondade para com aquele que estava ferido, abandonado no caminho. Naquela caridade ativa do bom samaritano, porém, há momentos importantes. De início a emoção, pois chegando perto da vítima “encheu-se de compaixão” Em seguida, o instante dos primeiros cuidados, com gestos que salvassem um homem quase inerte e, depois, o erguendo sobre sua cavalgadura para o transportar. Finalmente, uma sublime atitude, dado que, simplesmente não o deixou   na estalagem mas aí lhe  prestou  assistência. No dia seguinte, tendo que partir deixou uma quantia com o estalajadeiro, dizendo que se ele gastasse a mais na volta seria ressarcido. Belas lições, uma vez que o samaritano colocou sua pessoa a serviço do homem ferido, gastou com ele  tempo e dinheiro, contemplando nele o seu próximo. Demonstrou amor e ofereceu salvação diante do sofrimento. A caridade tem sua lógica que foi seguida rigorosamente por aquele samaritano. Assim deve  proceder o cristão, mesmo porque é deste modo que age Deus em nossas necessidades. Cumpre imitar a comiseração divina e vir sempre ao encontro das penúrias alheias.   Frequentemente vem a tentação de se esquivar, de desviar o olhar, de perder a paciência perante a inércia de quem sofre, privando-o de uma assistência necessária. As estradas da vida nos oferecem oportunidade para uma ação caritativa através do trabalho de cada dia, da solidariedade sincera e dos gestos de fraternidade. Saibamos abrir os olhos, peçamos a Jesus de os ter sempre abertos e tenhamos em tudo compaixão dos que sofrem atingidos pelas adversidades da vida. Jesus nos amou até o fim  entregando-se  inclusive  numa cruz para nossa salvação eterna. Cumpre sairmos  incontinentes de nossos pequenos confortos para poder ajudar a quem padece. Praticar a religião não é executar ritos, mas viver em plenitude os ensinamentos do Mestre divino Não basta, com efeito. louvar a Deus,  proclamar que somos todos irmãos, fazer novenas,  quando meu vizinho ou aquele que cruza simplesmente nosso  caminho  sofre, a dificuldade que muito o aflige, e  quando o poderíamos ajudar. Encontrando tantas vezes desculpas para não prestar o auxílio oportuno.. Multiplicam-se as escusas para  deixar de socorrer a quem precisa . Um dia  diante do julgamento divino como se  justificar? No entanto seguir Jesus é saber olhar  além e nós mesmos,  mais longe do que nossos interesses tantas vezes mesquinhos. É preciso superar toda indolência na prática da caridade fraterna para se ter parte na vida eterna. Teresa de Calcultá dizia  que temos necessidade  de uma união íntima com Deus na nossa existência cotidiana e para isto  é preciso vida de oração. Estando unidos a Deus nos abrimos mais facilmente  para uma existência fraternal O papa Bento XVI  dizia que o programa de vida do cristão  deve ser o programa do bom Samaritano, o programa de Jesus . Ver o sofrimento alheio e  parar e sanar sua dificuldade. Dois personagens da parábola não pararam e seguiram em frente. O samaritano parou. Viu e agiu  a bem do homem ferido. Jesus recriminou os fariseus : “Vós tendes  olhos e não vedes ( Mc 8,18). Nosso próximo ensinava o citado papa Bento XVI é toda pessoa que precisa de mim e a qual posso e devo amparar Ensinava São Gregório de Nissa nada como as boas obras para nos tornar  semelhantes a Deus. A caridade fraterna é a chave que abre a porta da vida eterna. No centro de nossa vida espiritual deve portanto reluzir o amor a Deus e ao próximo. Na parábola de Jesus o modelo do próximo é um samaritano, isto é alguém que era marginalizado,  um excluído do povo judeu  Um sacerdote e um levita  continuaram o seu caminho sem parar para ver  o que acontecera com o homem ferido.  O samaritano, contudo, deu prova de bondade e se tornou um modelo a ser imitado.  No crepúsculo de nossa vida nós seremos julgados sob o signo do amor. Jesus deixou com a  parábola do bom Samaritano não uma lição  intelectual, um programa teórico, Ele não discorreu  sobre uma situação econômica, mas deu um ensinamento  concreto compreensível e aplicável por todo seu seguidor de todos os tempos. Jesus é por excelência o bom Samaritano sempre próximo de nós a curar nossas feridas e multiplicando suas curas e perdões. Ele vem até nós com muito amor e compaixão. Ele é misericordioso não obstante nossos erros e faltas e nos perdoa e conduz a Deus. Peçamos a  Ele a graça de nós também nos apiedarmos das necessidades do nosso próximo para nos assemelharmos a Ele. Que se multipliquem os bons samaritanos para a glória de Deus e bem do próximo! *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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