sexta-feira, 29 de julho de 2022

 

  JESUS VOLTARÁ DE NOVO

Côn. Jose Geraldo Vidigal de Carvalho*

Claro o alerta de Jesus:” Estai preparados porque na hora em que menos pensais o Filho do homem chega “(Lc  12,32-48). Um dia Ele voltará e exigirá de cada um as mais estritas contas de todas as coisas e retribuirá proporcionadamente à correspondência individual aos dons e às graças que Ele lhe concedeu. Esta verdade exige de nós um sério exame de como temos correspondido aos favores divinos neste nosso caminhar terreno. Na verdade, cada um de nós tem já tudo o que é necessário para viver plenamente unidos a Deus. Cada um de nós sabe plenamente o que Ele quer de nós, que Ele vive conosco e em nós e que, através de nós, Ele prossegue sua obra no mundo.  Nós temos os sacramentos da fé que prolongam até nós os gestos salvíficos de Jesus salvador e sempre nos reunimos para receber Cristo, Pão de Deus. Jesus está invisivelmente entre nós e, no entanto, Ele nos diz e rediz que Ele voltará. Ele, de fato, voltará não para demolir o que tivermos construído com Ele e por Ele, mas para tudo remodelar à sua maneira, à maneira de Deus. Ele virá novamente para inaugurar “os céus novos e a terra nova” Ele virá colocar o selo de Deus sobre toda a obra do homem realizada com amor. Falou claramente: “A todo a quem muito foi dado, muito será exigido e àquele a quem muito de entregou, mais ainda se pedirá”. Nós não sabemos quando e menos ainda como, mas o certo é que Ele voltará e o cristão deve viver como quem está a sua espera. Há entretanto maneiras de O aguardar:  vivendo piedosamente ou de um modo relaxado, agindo ativamente como um verdadeiro seguidor do Evangelho ou   pactuando, muitas vezes, com os desígnios mundanos. Eis por que Jesus preconiza a vigilância, dado que não sabemos nem o dia nem a hora em que Ele voltará. O essencial é que à chegada dele cada um esteja luminoso pelas boas obras, como servos fiéis, seus bons seguidores em tudo e por tudo, dando frutos para a vida eterna. Pouco importa a lugar onde a Providência divina nos colocou para dar frutos. O importante é que Ele nos encontre como seus verdadeiros discípulos e não como aqueles que vivem superficialmente a sua fé.  Ai daqueles que tenham perdido o gosto de viver a vida cristã e perdido o sentido que o amor às coisas espirituais exigem de uma verdadeira fraternidade para com todos que professam a mesma fé ou pouco fazendo para ajudar os outros a crescerem na prática das virtudes. Ao voltar Ele deve nos encontrar a postos seja a que hora for, prontos porém para O acolher. Então a medida de nossa fidelidade será a medida de nossa felicidade para poder comer o repasso servido pelo próprio Cristo: Ele passará e Ele servirá os servos bons e fiéis. Donde ser necessário esperar com sabedoria a visita do Senhor. Infelizes os que vivem na ilusão de poder realizar por si mesmos sua própria vida e alcançar por si mesmos o caminho das pessoas que o   cercam. Como cristãos devemos estar preparados reconhecendo os sinais que Deus não cessa de nos oferecer através dos diversos acontecimentos de nosso caminhar terrestre. Fazer tudo do melhor modo possível é, sem dúvida, a melhor maneira de aguardar a volta de Deus, da qual não sabemos nem o dia nem a hora. Cada um correspondendo o mais fielmente possível de acordo com os dons recebidos, trabalhando sempre para a glória de Deus e bem das almas do próximo, daqueles que Deus nos confiou. Nem sempre se reflete sobre a responsabilidade de fazer multiplicar as luzes divinas através das boas obras num esforço permanente, mas tudo isto numa imensa confiança nas graças divinas. É preciso estar ininterruptamente no serviço de Jesus e trabalhar segundo sua palavra, seu desejo que é a salvação de quantos estejam em nosso derredor. Cumpre então ser testemunha do amor do divino Redentor, sendo fiel em nosso caminhar de todos os dias. É preciso estar continuamente consciente de que é mister praticar tudo que Jesus ensinou. Ele sempre se mostrou o servidor de todos e quer todos seus seguidores no serviço aos outros. Nada de viver assentado em um confortável sofá e de se contentar em dizer “Jesus te ama”. É necessário agir demonstrando em nossos atos como Jesus, realmente, ama. Isto significa estar com as lâmpadas acessar como aquele que espera o retorno de seu Senhor para Lhe abrir a porta no momento de seu retorno. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

quinta-feira, 21 de julho de 2022

 

RICO COM RELAÇÃO A DEUS

Côn. Jose Geraldo Vidigal de Carvalho*

O Evangelho deste domingo trata da importante relação dos seguidores de Cristo com os bens materiais (Lc 13, 13-21). Questão delicada, porque é preciso evitar tanto o angelismo no que diz respeito às necessidades humanas, quanto o materialismo que não respeita nossa dimensão espiritual. Assunto importante que nos esclarece quando se vislumbra o verdadeiro sentido da vida. A existência humana pode ser vista de duas maneiras, ou seja, considerando que tudo termina com a vida terrestre ou avaliando esta existência como um etapa preciosa rumo à vida eterna. Disto depende a maneira como cada um vive sua peregrinação neste mundo. É preciso então, total coerência entre o que se crê e o que se vive. De acordo com nossas convicções filosóficas e espirituais somos levados a práticas diferentes, sobretudo no que diz respeito aos bens materiais. É o que advertem os comentaristas do supra citado Evangelho. Se tudo termina com a morte, para os que assim erroneamente pensam, cumpre aproveitar ao máximo os prazeres sem outro cuidado que não seja a satisfação pessoal. Entretanto, para os que a vida presente não é senão o começo da vida eterna, uma preparação para o derradeiro encontro com o Senhor Deus, então é este objetivo que deve orientar a caminhada do viver nesta terra. No Evangelho Cristo nos lembra que o aumento dos bens materiais não ajuntará em nada a duração da vida terrestre. Um dia, quer queiramos ou não, será necessário deixar esta vida, tal como a conhecemos, para entrar na vida perene com Deus   para a qual o ser humano é destinado. Nossa vida eterna é desde já  aquilo na terra foi começado e é preciso sempre tender para as realidades espirituais as quais serão inteiramente possuídas após a morte. Nossa vida está oculta em Deus e o batizado, ressuscitado com Cristo, deve estar sempre voltado para as coisas do alto. São Paulo na sua Primeira Carta aos Coríntios precisa qual é a realidade espiritual que ultrapassa a morte, que é o amor. Compreende-se então que Deus sendo amor, somente em mim a capacidade de amar e de ser amado pode acolher o Amor supremo. Tudo que não é o verdadeiro amor no cristão é estranho a Deus e assim não pode subsistir na sua presença. Trata-se então da importância, durante nossa vida terrestre, de trabalhar para aumentar a capacidade de amar que nos dará a possibilidade de passar pela porta da morte para entrar na vida eterna junto de Deus. Assim sendo, o critério do amor autêntico é aquele com o qual podemos julgar a nossa maneira de utilizar os bens materiais. Pode-se, deste modo, compreender que nada terrestre levamos para a outra vida e que os bens materiais não oferecem em si felicidade. Há no coração do homem dois receios e dois desejos que o impulsionam a procurar os bens materiais. Nós procuramos a posse dos bens terrestres para apaziguar o temor do futuro ou a satisfação de nosso desejo de poderio e glória efêmeros. É certo, porém, que há uma certa legitimidade no agir de maneira responsável quanto ao futuro, especialmente quando se tem a reponsabilidade de uma família, de uma comunidade. É também legítimo querer ter sucesso nas tarefas diárias. Não se pode é perder de vista o objetivo final de toda a vida humana. O desapego que o Evangelho de hoje inculca não impede de se ter uma vista prospectiva do desejo de viver, de crescer, de possuir, mas utilizando-se de bens terrenos, visando o bem próprio e o dos irmãos sem endeusar o que é transitório. Em tudo o importante é ser rico em relação a Deus. Do contrário, no final da vida muitos terão que lamentar a vacuidade de vãos esforços que giraram unicamente em torno do que é efêmero, vaidade de tudo que passa. É necessário se convencer que o único bem é amar a Deus de todo coração e de ser pobre de espírito. Para entrar nesta dinâmica do desprendimento em relação aos bens materiais é preciso não somente compreender que nossa finalidade consiste em fazer tudo para a glória de Deus e bem do próximo, entendendo que com o verdadeiro amor partilhado o nosso trabalho gerará uma melhor segurança em face às incertezas do futuro. Diante de tudo isto é de bom alvitre indagar como é nossa relação com os bens materiais e o dinheiro? Nas nossas prioridades que lugar damos à procura e acumulação de riquezas? Como posso ser rico para com Deus? * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 14 de julho de 2022

   JESUS ENSINOU A REZAR  

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* 

Contemplar Jesus em preces daria desejo ardente de rezar. Eis então o pedido que alguém lhe faz: “Senhor, ensina-nos a rezar, como João ensinou a seus discípulos (Lc 11, 1-13). O que se queria era aprender de Jesus uma nova maneira de orar que fosse a característica de sua comunidade. A prece ensinada por Jesus se tornaria então um sinal de convergência de todos os seus seguidores e um bem a ser repartido; Quando orardes dizei “Pai”. É o essencial aos olhos de Jesus. Ele mesmo, em quando homem, falava a Deus: “Aba” uma palavra intraduzível, cujo sentido, como notam vários comentaristas, é um meio caminho entre Pai e Pai querido. É, pois, por aí que é preciso começar dizer “Pai” a nosso Criador. Dizer “Pai” Àquele que é o senhor do espaço e do tempo e que conduz a história do mundo como o destino de todo o ser humano. Dizer “Pai” colocando neste nome mais confiança, mais segurança, mais ternura que pai algum neste mundo haja jamais podido merecer. Dizer “Pai” com a certeza de ser amado como nós o somos e como nós o temos sido. Quando se reflete nisto há uma audácia desconhecida de nossa parte e da parte de Deus, uma oferta de amor que nos ultrapassa inteiramente, ao ponto que certos homens e mulheres que não guardaram de sua juventude senão uma imagem paterna bastante desvalorizada lutam por vários anos, no íntimo de si mesmos, antes de poder dizer verdadeiramente com felicidade, no início de sua prece: “Pai”, tu que é Pai à maneira de Deus. É somente quando nós nos aproximamos de Deus, dando-lhe seu nome de bondade e de ternura que nós começamos nossa prece falando-lhe dele mesmo: “Que teu nome seja santificado”, isto é, que o mistério de teu ser e de teu agir seja reconhecido e adorado pelos homes do mundo inteiro. Que venha o teu reino, isto é, que teu plano de amor e de salvação se realize entre os seres humanos como tu o queres, nos momentos que tu determinastes. É somente quando nós nos aproximamos de Deus e nele damos seu nome de bondade e de ternura que nós começamos de fato nossa prece nela falando: “Que teu nome seja santificado”, isto é, que o mistério de teu ser e de teu agir seja conhecido e adorado por todos os homens. “Que teu Reino venha”, ou seja que teu plano de amor e de salvação se cumpra entre todos os homens como tudo que queres, nos momentos que determinastes. Com o Nome e o Reino de Deus, eis aí uma questão da glória deste Deus que é Pai, mas nós lhe associamos nisto que nós pedimos, dado que está glória pelo louvor deverá vir a partir desta nossa prece, provinda do íntimo de nosso coração. Deste modo, a prece segundo Jesus, visa imediatamente o que Deus espera do homem, mas tudo naturalmente em virtude da reciprocidade da Aliança, pois num segundo momento, de fato, a prece aborda o que o homem espera de Deus. Que vai então dizer o homem: “Dai-nos o pão do qual temos necessidade cada dia de nossa vida”. Mesmo quando rezamos sozinhos a prece de Jesus nos leva a pedir “dai-nos”. Isto mostra que a dimensão comunitária, universal, deve estar presente sempre em nossa prece pessoal. Realmente, quando nós dizemos Pai nosso mesmo orando individualmente trata-se de uma prece universal É uma prece que concerne a bens materiais, mas, Deus que nos criou seres de carne, não receia de nos dar coisas materiais. Finalmente últimas preces com as mesmas dimensões individuais e universais, ou seja, “perdoa os nosso pecados, pois também nós perdoamos a todos que nos ofenderam e não nos deixeis cair em tentação”. Trata-se da pedagogia do perdão e da recusa de tudo que não estiver de acordo com a vontade do Pai, Recusa de todo poder desviado e de todo prazer condenável. Deste modo o Pai Nosso oferece momentos preciosos de união com Deus, deixando lições que visam o corpo e a alma. Jesus, Mestre divino, ensinou solidariedade com nossos irmãos, rezando como Jesus e com Jesus. Receberemos então do Pai o Espírito que Jesus glorioso nos enviará porque rezaremos com Ele e nele. Podemos então suplicar: “Senhor, Escuta teu servidor que fala”, Desta maneira, nossa prece se torna um cainho de purificação e a nossa oração do Pai Nosso será sempre o diapasão de nossa união com Deus, fonte de graças extraordinárias, porque expressam súplicas que possuem o sentido de Deus, ou seja, o seu nome o seu reino e uma postura humilde na presença do poderoso Senhor que é |Pai amoroso a quem pedimos assistência nas tentações e apresentamos nossas disposições de perdão. Dá-se então uma verdadeira purificação de todo o nosso ser. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.      

quinta-feira, 7 de julho de 2022

   ESCOLHER A MELHOR PARTE  

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho 

Nas pessoas de Marta e Maria o Evangelho nos mostra que o cristão deve servir e rezar (Lc  10,38-42). Marta é aquela que sabe ser eficiente, realiza uma tarefa útil, enquanto Maria sabia empregar o tempo escutando Jesus, a Palavra de Deus. Deste modo uns são mais sensíveis aos bens materiais imediatos e outros aos bens espirituais e se identificam com uma ou a outra destas personalidades. Segundo os bons hermeneutas, quando se faz esta análise simples, assaz simples, a reflexão de Jesus a Marta é incompreensível, talvez injusta: “Maria escolheu a melhor parte e ela não lhe será tirada”.  Segundo esta interpretação simplista então Jesus toma partido de uma contra a outra e, neste caso, esquece o alimento que terá para comer. Se a contemplação é superior à ação poderia dizer Marta, enquanto Jesus e Maria curtiam as realidades espirituais. Entretanto, várias vezes Jesus nos convita a uma caridade ativa, sobretudo quando nos previne: “Não é aquele que diz Senhor, Senhor que entrará no reino dos céus, mas o que faz a vontade de meu Pai que está nos céu” (Mt 7,21). É que Jesus repreende Marta não porque ela está agindo, mas porque ela estava agitada. “Marta, Marta, tu te preocupas e te agitas por muitas coisas” Agir e agitar não é a mesma coisa. Como, aliás, nada fazer não é forçosamente rezar e, menos ainda, ser contemplativo. Isto porque em toda a vida uma só coisa é necessária, como ressalta Jesus e é porque Maria ao contrário de Marta sabe colocar em prática a única coisa necessária, que o Senhor a louva. Entretanto, qual é esta coisa única e necessária? Marta nos ajuda a melhor compreendê-la. O Evangelho diz que a atitude de Marta é estar ela absorvida pelas muitas tarefas do serviço, ela se agita e está afobada e até protesta contra sua irmã. Ela se concentrava unicamente no que tinha a fazer, no que tinha a organizar e esquece a razão de ser de todo aquele serviço. O valor de nossas ações deve ser, por uma grande parte, a resposta a estas questões “porquê e para quem”. Se nosso olhar se fixa sobre a materialidade de nossas obras, se perdemos o sentido, a finalidade de nosso trabalho, de nossos ofícios, então se corre o risco de ser absorvido pela extensão de nossas tarefas e ficar desanimado pelo incessante recomeço de cada hora numa rotina monótona e sem significado. Esquecendo-se a razão de ser de determinado serviço, ou seja o amor a Jesus, vem a agitação. Marta, como foi dito, não agia, estava, isto sim, agitada e protestava veem entente, “isto não é equitativo, somente eu a trabalhar”. Não fazia, assim, um julgamento imparcial sobre os que a rodeavam. A discórdia se instalava entre ela e sua irmã, elas que deveriam estar unidas. Perdendo o sentido de seu serviço, Marta pedia também a alegria e a paz interiores. Entre se agitar ou escutar tranquilamente a Palavra de Deus a melhor parte é facilmente discernível.  Não se trata no Evangelho de hoje de descrever a figura do cristão ativo e a do cristão contemplativo, opondo-os entre si, mas de nos colocar em guarda contra a perda do sentido que nos faz perder o fundamento último daquilo que se pratica. Se nossos serviços, nossas tarefas não encontram um sentido positivo no amor, ele se tornam algo que escraviza e do qual se deve se libertar. Esquecendo-se que nossos deveres têm um sentido numa dinâmica de vida que leva o cristão à perfeição do amor, se cai num materialismo insensato, condenável. Para o cristão toda sua vida deve ser   a expressão do amor de Deus que é a Vida em plenitude. Compreende-se então que a   prece e a ação não se opõem uma à outra desde que não se viva na mediocridade. Trata-se da oração como uma simples inatividade e a ação como uma mera agitação. Entretanto se a prece e a ação são vividas como uma decorrência da caridade elas se tornam uma maneira única de se estar louvando a Deus e de se estar ao serviço do próximo. Portanto, como Marta se pode fazer muitas coisas, mas superficialmente sem estarem elas impregnadas do verdadeiro amor. Com efeito, sob o ponto de vista da Fé uma obra caritativa toma todo seu peso e seu valor quando ela não simplesmente é mera obra da vontade humana e não colaboração de nossa liberdade com a obra de Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.  .            

segunda-feira, 4 de julho de 2022

    QUE FAZER PARA TER A V IDA ETERNA   

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*             

Um legista propôs a Jesus esta questão: “Que fazer para ter a vida eterna”? (Lc  10, 25- 37) Esta indagação reflete bem os debates teológicos daquela época e recebe sucessivamente duas respostas. Na primeira o próprio legista  cita a Escritura  ajuntando uma passagem do Livro do Deuteronômio sobre o amor de Deus e uma passagem do    Levítico  sobre o amor ao próximo. Sob o ponto de vista teórico está tudo dito e nada havia a acrescentar. Jesus, aliás, afirma: “Tu respondeste bem, faze isto terás a vida eterna”. De fato, ele sabia o que devia fazer. A segunda resposta à questão “Quem é o meu próximo”, Jesus responde com uma parábola admirável pelo seu dinamismo sob a  forma de um programa de reflexão e conclui “ Vai e tu  faze  também do mesmo modo”. Ora, o que praticou aquele estrangeiro senão uma obra de misericórdia, de bondade para com aquele que estava ferido, abandonado no caminho. Naquela caridade ativa do bom samaritano, porém, há momentos importantes. De início a emoção, pois chegando perto da vítima “encheu-se de compaixão” Em seguida, o instante dos primeiros cuidados, com gestos que salvassem um homem quase inerte e, depois, o erguendo sobre sua cavalgadura para o transportar. Finalmente, uma sublime atitude, dado que, simplesmente não o deixou   na estalagem mas aí lhe  prestou  assistência. No dia seguinte, tendo que partir deixou uma quantia com o estalajadeiro, dizendo que se ele gastasse a mais na volta seria ressarcido. Belas lições, uma vez que o samaritano colocou sua pessoa a serviço do homem ferido, gastou com ele  tempo e dinheiro, contemplando nele o seu próximo. Demonstrou amor e ofereceu salvação diante do sofrimento. A caridade tem sua lógica que foi seguida rigorosamente por aquele samaritano. Assim deve  proceder o cristão, mesmo porque é deste modo que age Deus em nossas necessidades. Cumpre imitar a comiseração divina e vir sempre ao encontro das penúrias alheias.   Frequentemente vem a tentação de se esquivar, de desviar o olhar, de perder a paciência perante a inércia de quem sofre, privando-o de uma assistência necessária. As estradas da vida nos oferecem oportunidade para uma ação caritativa através do trabalho de cada dia, da solidariedade sincera e dos gestos de fraternidade. Saibamos abrir os olhos, peçamos a Jesus de os ter sempre abertos e tenhamos em tudo compaixão dos que sofrem atingidos pelas adversidades da vida. Jesus nos amou até o fim  entregando-se  inclusive  numa cruz para nossa salvação eterna. Cumpre sairmos  incontinentes de nossos pequenos confortos para poder ajudar a quem padece. Praticar a religião não é executar ritos, mas viver em plenitude os ensinamentos do Mestre divino Não basta, com efeito. louvar a Deus,  proclamar que somos todos irmãos, fazer novenas,  quando meu vizinho ou aquele que cruza simplesmente nosso  caminho  sofre, a dificuldade que muito o aflige, e  quando o poderíamos ajudar. Encontrando tantas vezes desculpas para não prestar o auxílio oportuno.. Multiplicam-se as escusas para  deixar de socorrer a quem precisa . Um dia  diante do julgamento divino como se  justificar? No entanto seguir Jesus é saber olhar  além e nós mesmos,  mais longe do que nossos interesses tantas vezes mesquinhos. É preciso superar toda indolência na prática da caridade fraterna para se ter parte na vida eterna. Teresa de Calcultá dizia  que temos necessidade  de uma união íntima com Deus na nossa existência cotidiana e para isto  é preciso vida de oração. Estando unidos a Deus nos abrimos mais facilmente  para uma existência fraternal O papa Bento XVI  dizia que o programa de vida do cristão  deve ser o programa do bom Samaritano, o programa de Jesus . Ver o sofrimento alheio e  parar e sanar sua dificuldade. Dois personagens da parábola não pararam e seguiram em frente. O samaritano parou. Viu e agiu  a bem do homem ferido. Jesus recriminou os fariseus : “Vós tendes  olhos e não vedes ( Mc 8,18). Nosso próximo ensinava o citado papa Bento XVI é toda pessoa que precisa de mim e a qual posso e devo amparar Ensinava São Gregório de Nissa nada como as boas obras para nos tornar  semelhantes a Deus. A caridade fraterna é a chave que abre a porta da vida eterna. No centro de nossa vida espiritual deve portanto reluzir o amor a Deus e ao próximo. Na parábola de Jesus o modelo do próximo é um samaritano, isto é alguém que era marginalizado,  um excluído do povo judeu  Um sacerdote e um levita  continuaram o seu caminho sem parar para ver  o que acontecera com o homem ferido.  O samaritano, contudo, deu prova de bondade e se tornou um modelo a ser imitado.  No crepúsculo de nossa vida nós seremos julgados sob o signo do amor. Jesus deixou com a  parábola do bom Samaritano não uma lição  intelectual, um programa teórico, Ele não discorreu  sobre uma situação econômica, mas deu um ensinamento  concreto compreensível e aplicável por todo seu seguidor de todos os tempos. Jesus é por excelência o bom Samaritano sempre próximo de nós a curar nossas feridas e multiplicando suas curas e perdões. Ele vem até nós com muito amor e compaixão. Ele é misericordioso não obstante nossos erros e faltas e nos perdoa e conduz a Deus. Peçamos a  Ele a graça de nós também nos apiedarmos das necessidades do nosso próximo para nos assemelharmos a Ele. Que se multipliquem os bons samaritanos para a glória de Deus e bem do próximo! *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.