quinta-feira, 24 de março de 2022

 

14 O ARREPENDIMENTO DO FILHO PRÓDIGO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A parábola do Filho Pródigo apresenta três personagens em torno dos quais lições preciosas podem ser tiradas: o pai, o filho mais novo e seu irmão (Luc 15, 1-3.11-32. O pai que deseja uma casa repleta de alegria, o filho mais novo que usufrui exteriormente sem cessar daquela felicidade e seu irmão que vai embora, mas retorna arrependido, encontrando seu verdadeiro lugar, numa atitude interior de um arrependimento fruto de uma triste experiência. O pai promove uma festa no retorno do filho que abandonara o lar e dá explicações àquele que não se regozijava com o regresso do irmão ao qual, pelo contrário, recrimina veementemente. Uma intransigência injustificável, mas que patenteia a maneira de ser de quem agia sem viver em plenitude o gaudio que deveria fluir da paz dentro daquela casa paterna. Por isto mesmo, não poderia gozar da alegria da reconciliação do pai a perdoar o filho que errara. Em tudo se deve esperar a união, crer que tudo é possível onda de reina um profunda e doce paciência que gera harmonia e reconciliação, não obstante as fraquezas humanas. É preciso aguardar e viver o equilíbrio das mudanças e aplaudir qualquer atitude de arrependimento pelos erros cometidos como ocorreu com o filho pródigo. Toda intransigência deve ser afastada e o pai da parábola sabiamente agiu. Cumpre sempre se colocar no lugar do outro e aplaudir todo retorno à casa paterna. Deus quer que sempre se procure o caminho da vida, a via da transformação interior. Havendo compreensão paira a alegria que inventa e afasta a intolerância. Cumpre dar tempo à graça de Deus que pode operar maravilhas. A raiz dos erros se encontra no espírito de independência, de egoísmo, e de orgulho. Como o filho mais novo muitos julgam poder gerir sua via sozinhos, fora dos desígnios paternos não compreendendo o alcance do perdão. É necessário não enquadrar as situações nos próprios moldes mentais para poder aceitar que é possível ao ser humano errar e se arrepender. Muitos como o filho mais novo se recusam em admitir a autoridade paterna e obedecer à mesma, reconhecendo seus acertos misericordiosos. Como o filho mais novo são aquele que querem aproveitar-se da fortuna do Pai, mas sem nada lhe dar em troca, ainda que isto lhe custe tão pouco. Ao filho que loucamente pede sua parte na riqueza paterna, o pai atende sem nada exigir. Deus age sempre assim nos cumulando de seu amor, de seus dons, de suas graças, isto gratuitamente, respeitando a liberdade de cada um. Infeliz, contudo, quem malbarata as dadivas divinas e não se arrepende como aconteceu com o filho mais velho. Este numa vida dissoluta dissipou o que recebera, procurando a felicidade onde ela não se encontrava. Foi viver sua liberdade fora dos ensinamentos paternos e rapidamente perde tudo que havia exigido do pai e daí sua ruina completa. Deus oferece a todos os seus dez mandamentos sagrados, mas, em os abandonando, só surgem desgraças, frutos do abandono da vontade do Deus três vezes sábio. Sendo, contudo, felizes na obediência ao Senhor é preciso lhe agradecer sempre e, no caso, da infelicidade causada pela rebelião contra Deus, procurar agir com um arrependimento sincero, confiante e eficaz. Com Deus, de fato não se brinca. Na prece sincera fluem todas as luzes celestiais, resultado do amor paterno que perdoa o coração contrito. Para Deus ininterruptamente é possível a conversão, desde que haja sinceridade. Junto dele há solução para tudo. O pai da parábola recebe festivamente o filho transviado, o abraça e manda preparar um baquete festivo pele seu regresso. Estava feliz com sua volta. O mesmo acontece com Deus, quando o pecador arrependido se volta para Ele. Deus não olha o pecador arrependido do alto de sua grandeza infinita, mas, sim, sabe olhar a fraqueza humana para anistiar com seu amor infinito. O importante será viver intensamente os gestos da dileção divina, vivendo intensamente seu imenso amor com profundo espírito filial, mesmo porque o amor divino é incondicional para quem Lhe é leal. Saibamos, contudo, nos regozijar com a conversão daqueles que erram Longe, portanto, qualquer laivo de orgulho, egoísmo, vã glória. Confiar sempre na misericórdia divina e imitar em tudo a comiseração do Pai que está nos céus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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