JESUS PASSANDO PELO
MEIO DELES, SEGUIA SEU CAMINHO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Depois
do entusiasmo de seus conterrâneos na Sinagoga de Nazaré, o furor (Luc 21-30).
Num único episódio do Evangelho temos aqui a síntese de toda a
vida de Jesus: aplausos e perseguição. São Lucas registrou que todos admiravam-se das
palavras que saiam da boca de Jesus, depois, porém, se encheram ira e O
expulsaram da cidade e queriam até jogá-lo monte abaixo. Aí então uma cena admirável:
“Jesus passando pelo meio deles, seguia o seu caminho”. Ele demonstrou então
todo sua grandeza, enfrentando com galhardia aqueles que o afrontavam. Ele com
razão poderia mais tarde afirmar que era
o bom Pastor que daria sua vida por seus seguidores, oferecendo-lhes uma
garantia extraordinária. Isto O distinguiria dos mercenários, mesmo porque os
que são de seu redil O conheceriam e reconheceriam a sua voz. Trata-se de uma
relação pessoal que leva a uma intimidade mútua entre Ele e quem lhe é fiel,
pois Ele “sonda os rins e os corações” (Ap 2,23). Por isto Ele aos poucos iria
introduzindo quem O seguisse no conhecimento profundo de Deus, da Sua sabedoria,
de Sua onipotência. Eis aí, aliás, a grande mensagem de todo o Evangelho, ou
seja, o encontro em Jesus entre o Ser Supremo e o ser humano. Esta é uma
verdade que não é propriedade dos grandes místicos, mas que deve ser a realidade
de todos os cristãos, isto é, a íntima relação entre Ele e seu seguidor, um
pertencendo ao outro e daí o mútuo conhecimento que disto decorre. Donde a arguição
de São Gregório Magno numa de suas mais belas homilias: “Vós, irmãos
caríssimos, se sois de Cristo, vede se vós O conheceis de fato, vede se
percebeis, realmente, a luz da verdade pelo amor que Ele vos devota”. Em Nazaré,
enfrentando os que O expulsaram da cidade e O queriam matar, Jesus deixa uma
mensagem de esperança e alerta para que não se proceda como seus companheiros
de infância que a princípio O acolheram, mas que em seguida duvidaram e
exigiram milagres que lhes provassem sua origem divina. Queriam sinais como os
que Ele fizera em Cafarnaum. O plano de salvação de Deus era diferente do que
os nazarenos julgavam, mas ao enfrentá-los Jesus mostrou sua força admirável e,
passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho. Para muitos neste século vinte
e um a mensagem de Jesus suscita contradição. Para aqueles cristãos que O têm ou O julgam possuir, mas que se
deixam levar na sua inteligência e no seu coração a dúvidas, acontece o mesmo
que se deu em Nazaré não compreendendo o mistério do Filho de Deus. Jesus,
porém, passa no meio dos descrentes e prossegue sua obra redentora de
reconciliação de todos com o Pai que está nos céus. Muitos não chegam a
conhecer o Jesus poderoso que não se curva perante os absurdos de uma mídia
contrária ao Evangelho, à obra de Deus feita nele e por Ele. São aqueles que se
mostram como o reflexo dos descontentes de Nazaré, mas Jesus, que se torna
sinal de contradição, prossegue sua caminhada na história, redimindo aos de boa
vontade, para aqueles que creem em seu poder salvador e sabem preservar o dom preciosismo
da fé. Alguns se esquecem que “Jesus Cristo é o mesmo ontem e hoje: Ele o será
para a eternidade”! Cristo ostentou
sempre qualidades excepcionais. Ele herdou de nossa condição humana a capacidade
de sofrer e de morrer. Seu corpo como os nossos era sensível à fome e à sede, à
fadiga e por isto tinha necessidade de dormir. Nele vislumbramos as afeições humanas
mais positivas como a amizade e era sensível às ingratidões. Assim sendo muito
sofreu com a atitude dos habitantes de Nazaré, como mais tarde terrível foi sua
agonia no Horto das Oliveiras e sua dolorosa paixão e morte na cruz. Como Deus,
porém que era, admiráveis os seus milagres e Ele pôde preceituar “Aprendei de
mim que sou manso e humilde de coração”. Nele brilharam as mais excelsas virtudes.
Entre os atos heroicos de sua vida está o episódio narrado no Evangelho de
hoje, quando por entre a turba injustamente enfurecida “Jesus passando pelo
meio deles, seguia seu caminho” No dia de sua transfiguração no monte Tabor,
seu rosto mais brilhante que o sol no seu fulgor e com veste igual a neve, Ele se
apresentou. Por tudo isto, do nascer do sol até o seu ocaso, louvado seja sempre
o Senhor Jesus! A Ele honra, gloria e poder. Ele é, de fato, o nosso Deus
onipotente. Ele é o resplendor do Pai, expressão de seu ser e é, por isto,
segurança de nossa vida. Cumpre, pois, seguir o conselho de São Paulo, que nós
todos reflitamos como num espelho a glória do Senhor Jesus. Transfiguremo-nos
nesta mesma imagem, que deve ser em nós, cada vez mais resplandecente. * Professor no Seminário de Mariana durante40
anos.
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