segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

PESCADORES DE HOMENS

 

O7 PESCADORES DE HOMENS

Côn. Jose Geraldo Vidigal de Carvalho*

O encontro de Jesus com seus primeiros discípulos começou naquela manhã de uma maneira quase corriqueira. Com efeito, Cristo solicita a Simão um pequeno favor: afastar-se um pouco da margem para que sua voz chegasse melhor aos ouvintes que ali estavam para escutar sua pregação. Isto nada custava àquele que vivia da pesca, o qual logo satisfaz a ordem recebida (Luc 5,1-14). Um detalhe não escapou por certo àqueles pescadores, ou seja, Jesus se põe ao trabalho no momento em que eles acabavam de terminar o seu, quando eles, recolhendo suas redes, já se “punham a lavá-las”, pensando que nada mais podiam pescar naquelas circunstâncias. Entretanto, mesmo quando é muita tarde para os êxitos humanos, isto jamais é muito tarde para Deus. Este, muitas vezes, pede algo a seus fiéis em instantes de fadiga, algo que pode parecer ao homem inútil, mas que o leva a marchar com Ele. Entretanto Simão não estava senão no início de suas surpresas. Quando Jesus acabou de falar aos seus ouvintes, Ele envia os pescadores para longe da margem, onde havia águas mais profundas. Simão estava persuadido que era inútil, depois de uma longa noite infrutífera, mas a palavra de Jesus era mais forte que todas as suas evidências humanas, mais segura que todas as suas dúvidas, mais imperiosa do que suas dubiedades. Eis porque movido pela fé ou pela confiança no Senhor ele ultrapassou seus limites de bom senso terreno e a pesca vai muito além de suas expectativas e o resultado mostrará que aquilo era obra de Deus. Quando o Senhor onipotente age, tudo   é possível, mas o mais difícil por vezes é deixar Deus livre para atuar.  A primeira reação de Simão e de seus companheiros foi o estupor: “Afasta-te de mim Senhor, pois sou um homem pecador”. Ele percebera o esplendor do poder divino, mas era uma majestade que dele o afastava e que, ao contrário, deveria a Ele unir na adoração, na gratidão e no amor. Jesus, contudo, aparta o temor e, na verdade, confiando-lhe uma sublime missão: “Doravante serás pescador de homens”. Muitas vezes o que impede o amor a Cristo é o temor. Medo do que Ele pode e quer fazer através de nós, em nós, para nós. Medo de um Deus que nos ultrapassa e quer fazer prodígios em nossa vida, contanto que confiemos em sua palavra todo poderosa. O essencial é deixar Cristo nos guiar ao alto mar, amá-lo tanto quanto Ele o quer. A conversão dos irmãos se dará na hora prevista por Deus. Pedro, Tiago e João se tornaram então pescadores de homens, engajados na obra missionária de Jesus. Deixaram todo e O seguiram. Para encontrar Jesus é preciso sempre escutar sua palavra com um coração aberto para reconhecer os sinais de Deus em nossa vida e, os tendo reconhecido, aceitá-los como tal. Simão e seus companheiros reconheceram na pesca milagrosa o dedo do Senhor.  Eis porque, quando Jesus os chama para um outro tipo de pesca estavam já estavam preparados para aceitar a grandiosa incumbência e simplesmente O seguem. Ninguém é tão e santo que possa merecer as graças divinas e Deus escolhe entre os pescadores alguns que Ele transforma como cooperadores na sua obra salvadora. Ele quer através deles converter a muitos, tocando seus corações. Deus almeja, da parte dos que Ele chama ao apostolado, fé, confiança amor e perseverança. Ele deseja entrega total, como aconteceu com Pedro, Tiago e João que deixaram tudo e seguiram Jesus. Ser chamado por Cristo não é apenas ser sacerdote, mas também ser um batizado que com Jesus coopera no imprescindível apostolado dos leigos de acordo com o carisma de cada um, colaborando num apostolado eficiente, inclusive com o bom exemplo em todas as atividades. Cumpre então que cada um reflita como tem correspondido aos chamados do Mestre divino. Ele quer se servir de cada cristão para levar a muitos a uma vida nova numa sociedade que se aparta tantas vezes da Boa Nova. Ele quer que nós nos afastemos de nossos temores, de nossos preconceitos e ir até águas mais profundas em busca daqueles que longe dele se acham num cotidiano medíocre feito de angústias e falta de coragem. Jesus quer se servir de cada batizado como de um instrumento de sua ação salvadora. Por maior que seja a pequenez humana quem atende ao chamado de Jesus verá que Ele dará a capacidade maravilhosa de poder operar muitas conversões. Com Ele o cristão fará maravilhas numa pesca maravilhosa para glória de Deus. * Professor no seminário de Mariana durante 40 aos.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

 

JESUS PASSANDO PELO MEIO DELES, SEGUIA SEU CAMINHO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Depois do entusiasmo de seus conterrâneos na Sinagoga de Nazaré, o furor (Luc 21-30). Num único  episódio do    Evangelho temos aqui a síntese de toda a vida de Jesus: aplausos e perseguição.  São Lucas registrou que todos admiravam-se das palavras que saiam da boca de Jesus, depois, porém, se encheram ira e O expulsaram da cidade e queriam até jogá-lo monte abaixo. Aí então uma cena admirável: “Jesus passando pelo meio deles, seguia o seu caminho”. Ele demonstrou então todo sua grandeza, enfrentando com galhardia aqueles que o afrontavam. Ele com razão poderia mais tarde afirmar que era   o bom Pastor que daria sua vida por seus seguidores, oferecendo-lhes uma garantia extraordinária. Isto O distinguiria dos mercenários, mesmo porque os que são de seu redil O conheceriam e reconheceriam a sua voz. Trata-se de uma relação pessoal que leva a uma intimidade mútua entre Ele e quem lhe é fiel, pois Ele “sonda os rins e os corações” (Ap 2,23). Por isto Ele aos poucos iria introduzindo quem O seguisse no conhecimento profundo de Deus, da Sua sabedoria, de Sua onipotência. Eis aí, aliás, a grande mensagem de todo o Evangelho, ou seja, o encontro em Jesus entre o Ser Supremo e o ser humano. Esta é uma verdade que não é propriedade dos grandes místicos, mas que deve ser a realidade de todos os cristãos, isto é, a íntima relação entre Ele e seu seguidor, um pertencendo ao outro e daí o mútuo conhecimento que disto decorre. Donde a arguição de São Gregório Magno numa de suas mais belas homilias: “Vós, irmãos caríssimos, se sois de Cristo, vede se vós O conheceis de fato, vede se percebeis, realmente, a luz da verdade pelo amor que Ele vos devota”. Em Nazaré, enfrentando os que O expulsaram da cidade e O queriam matar, Jesus deixa uma mensagem de esperança e alerta para que não se proceda como seus companheiros de infância que a princípio O acolheram, mas que em seguida duvidaram e exigiram milagres que lhes provassem sua origem divina. Queriam sinais como os que Ele fizera em Cafarnaum. O plano de salvação de Deus era diferente do que os nazarenos julgavam, mas ao enfrentá-los Jesus mostrou sua força admirável e, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho. Para muitos neste século vinte e um a mensagem de Jesus suscita contradição. Para aqueles cristãos   que O têm ou O julgam possuir, mas que se deixam levar na sua inteligência e no seu coração a dúvidas, acontece o mesmo que se deu em Nazaré não compreendendo o mistério do Filho de Deus. Jesus, porém, passa no meio dos descrentes e prossegue sua obra redentora de reconciliação de todos com o Pai que está nos céus. Muitos não chegam a conhecer o Jesus poderoso que não se curva perante os absurdos de uma mídia contrária ao Evangelho, à obra de Deus feita nele e por Ele. São aqueles que se mostram como o reflexo dos descontentes de Nazaré, mas Jesus, que se torna sinal de contradição, prossegue sua caminhada na história, redimindo aos de boa vontade, para aqueles que creem em seu poder salvador e sabem preservar o dom preciosismo da fé. Alguns se esquecem que “Jesus Cristo é o mesmo ontem e hoje: Ele o será para a eternidade”!  Cristo ostentou sempre qualidades excepcionais. Ele herdou de nossa condição humana a capacidade de sofrer e de morrer. Seu corpo como os nossos era sensível à fome e à sede, à fadiga e por isto tinha necessidade de dormir. Nele vislumbramos as afeições humanas mais positivas como a amizade e era sensível às ingratidões. Assim sendo muito sofreu com a atitude dos habitantes de Nazaré, como mais tarde terrível foi sua agonia no Horto das Oliveiras e sua dolorosa paixão e morte na cruz. Como Deus, porém que era, admiráveis os seus milagres e Ele pôde preceituar “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”. Nele brilharam as mais excelsas virtudes. Entre os atos heroicos de sua vida está o episódio narrado no Evangelho de hoje, quando por entre a turba injustamente enfurecida “Jesus passando pelo meio deles, seguia seu caminho” No dia de sua transfiguração no monte Tabor, seu rosto mais brilhante que o sol no seu fulgor e com veste igual a neve, Ele se apresentou. Por tudo isto, do nascer do sol até o seu ocaso, louvado seja sempre o Senhor Jesus! A Ele honra, gloria e poder. Ele é, de fato, o nosso Deus onipotente. Ele é o resplendor do Pai, expressão de seu ser e é, por isto, segurança de nossa vida. Cumpre, pois, seguir o conselho de São Paulo, que nós todos reflitamos como num espelho a glória do Senhor Jesus. Transfiguremo-nos nesta mesma imagem, que deve ser em nós, cada vez mais resplandecente. * Professor no Seminário de Mariana durante40 anos.

 

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

 

                                                           UNIVERSALIDADE DA MISSÃO DE JESUS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Ao narrar o ministério de Jesus na Galileia São Lucas deixa clara a universalidade da missão de Jesus (Lc 11,1-4; 4, 11-21). Jesus “ensinava nas sinagogas com aplauso universal”. Muitos foram testemunhas oculares dos prodígios por Ele realizados e se tornaram servidores da Palavra, elogiando inclusive o extraordinário Pregador. Jesus veio a Nazaré onde Ele, enquanto homem, fora educado. Na sinagoga de Nazaré, dia de sábado, Ele se levantou para fazer a leitura da Escritura. Abriu o livro do Profeta Isaias que lhe fora entregue. No qual encontrou a passagem na qual estava escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim e me consagrou pela unção. Ele me enviou para levar a Boa Nova aos pobres e anunciar aos cativos sua libertação, e aos cegos o dom da vista, e pôr em liberdade os oprimidos e promulgar um ano de graça concedido pelo Senhor”. Depois afirmou que esta passagem que acabavam de escutar se confirmava ali. Jesus é aquele que veio trazer a Boa Nova ao mundo.  Ele veio e vem também para transmitir a nós pessoalmente porque diante de Deus nós somos pobres, pobres de amor e cegos da verdade e Ele abre nossos olhos, nossos corações para que possamos ver e entender os valores do ser humano e não apenas as aparências, oprimidos que somos por todas as más influências da sociedade ou dos olhares atrevidos dos malignos. Jesus vem nos ensinar a acertar nossas ações, fixando nele o nosso pensamento, nos mostrando a importância de viver na total confiança nele. Sim! Em tudo isso Jesus está a nos cumular com suas   graças, mas nós as reconhecemos, nós as recebemos?  Sabemos nós vivê-las em plenitude? Jesus é realmente nosso Senhor, nosso Salvador? É preciso, porém nos lembrarmos sempre que as palavras do Evangelho têm uma atualidade e uma universalidade que são eternas. Isto porque elas foram pronunciadas pelo Ser Eterno e são sempre atuais, dado que Deus faz que elas se realizem em qualquer época. Trata-se de uma palavra que tem o poder de transformar o ser humano que a recebe com amor. Deus nos fala não aos nossos ouvidos, mas ao nossos corações, enchendo o fiel de sabedoria e retidão É fonte inesgotável de vida. Eis por que quem a ouve deve dizer a Deus como Maria: “Que se faça em mim segundo a tua palavra “(Lc 1,38). Então coisas maravilhosas se dão na vida daquele que crê no que Deus que lhe fala. Pregando na Galileia logo no início de seu ministério, Jesus quis colocar o programa que Ele tinha a intenção de cumprir nos anos que depois iriam se seguir. Ele a todos encantava, pois falava da vida espiritual a seus contemporâneos, contestando o culto estabelecido tal como se desenrolava então nas sinagogas e também no Templo de Jerusalém. Segundo os melhores exegetas Ele se apresentava como um Mestre, o Messias, na linha dos grandes profetas que mostravam Deus numa visão cheia de ternura, diferente daquela que transparecia através do ensinamento legalista dos fariseus e dos doutores da lei. Pregava como os profetas anteriores que haviam aberto o futuro numa esperança que devia   se concretizar na adesão aos verdadeiros valores. Eles anunciaram uma era de paz, de prosperidade sem violência e a glória de Deus seria revelada para o bem de todos sem discriminação. Na época de Jesus  contudo, o Deus no qual esperavam era acessível apenas  pela aplicação rígida da lei tal como os fariseus o exigiam Eis por que na própria sinagoga de Nazaré  os aplausos se transformaram em ira e quiseram inclusive precipitá-lo  monte abaixo sobre o qual estava construída  a cidade É de se notar que Jesus  não havia infligido nada que implicasse uma irregularidade no culto, uma vez que tomou e leu o texto do profeta Isaias que lhe passaram, mas o que irritou a seus conterrâneos foi que Ele recusara  a fazer prodígios exigidos por eles. No que diz a ordem do culto, Jesus não havia perturbado em nada.  Ele lera o texto previsto para aquele dia, fechara o livro e o passara ao servente, tudo, portanto, normal. Normal inclusive que Ele fizesse um comentário sobre o texto que acabara de ler. O que aconteceu foi que Ele recusou a fazer ali os milagres que realizar em Cafarnaum, pois os nazarenos se sentiram excluídos. Eles queriam ter um lugar à parte nos planos de Deus. Neste caso Jesus estava focado na reforma proposta pelo profeta Isaias e que era a linha diretriz de sua atuação. Não se tratava de um Messias revolucionário, mas reformador, cujo programa levava à pessoa humana, quer no plano físico, quer no plano moral, num notável apoio condenando todos os ataques feitos ao ser humano sofredor Nestes a reforma, previa um ano de graça do Senhor. * Professor no Seminário de Mariana 40 anos.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

 

NÚPCIAS EM CANA

                              Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Nas núpcias em Caná da Galileia Jesus realizou o célebre milagre no qual admiramos o poder do Filho de Deus, atendendo à intervenção oportuna de sua Mãe.  Aí Ele antecipou o momento no qual devia começar a revelar sua glória. Notável a ação dos serventes que não falaram nada, mas que seguindo o que lhe disse Maria puderam presenciar um grande prodígio. Para que este milagre ocorresse foram colaboradores da transformação da água em vinho, fazendo uma ação simples, mas de extraordinário efeito ao encherem prontamente as talhas com água.  Eram talhas para as abluções rituais dos convivas e Jesus lhes pede para as encher de novo com água impa. Eram seis talhas de pedra, cada uma das quais continha duas ou três medidas, ou seja, de 38 a 40 litros. Certamente pensaram que se tratava de um trabalho inútil, mesmo porque os convivas já se achavam assentados à mesa. A mãe de Jesus lhes havia falado para obedecer as ordens de Jesus e o fez de uma maneira muito convincente e, por isto, eles logo vão obedecer a determinação de Jesus e, na verdade, encheram completamente as talhas até à borda e as levaram ao mestre da mesa, ao mestre sala. A água, porém se transformou em vinho.  Os serventes escutam o mestre sala felicitando o esposo, dado que o vinho era de primeira qualidade, regalando os que estavam naquela festa. São João não disse como o milagre foi em si saudado nem como o papel de Maria foi reconhecido, mas de uma maneira incisiva afirma que foi o primeiro dos sinais operados por Jesus e que os discípulos começaram a nele crer. A orientação de Maria deve ecoar em nossos corações: “Fazei tudo que ele vos disser”! Quantas inspirações Deus faz chegar a cada um, mas que nem sempre são seguidas! Todo cuidado é pouco para não opor resistência às graças divinas, mesmo porque estamos sempre repetindo a Deus “seja feita a vossa vontade”! É preciso lutar contra a rebeldia do coração. É pela docilidade diante das iluminações celestiais que o cristão se torna obreiro das maravilhas divinas. Jesus quer se servir de cada cristão para operar grandes coisas por toda parte. Com Jesus seu seguidor pode multiplicar os benefícios celestes, mesmo que seja através das ações aparentemente mais simples. É necessário se habituar a escutar Jesus e a obedecer suas orientações. Que Ele possa, desde o momento em que Ele nos inspira, nos encontrar prontos a encher as bordas todas das talhas do nosso passado para que Ele   coloque aí o vinho novo que só ele pode oferecer. Saibamos, porém, sempre pedir a Maria sua intervenção a nosso favor, aumentando cada vez mais a nossa fé no seu divino Filho É através da fé que somos convidados a caminhar a partir das intervenções de Jesus a nosso favor. Esta fé faz crescer a confiança numa progressão contínua, aberta aos problemas que forem surgindo e que vão sendo superados. Jesus faria depois muitos outros milagres que iam acentuando na mente de seus discípulos a crença na sua divindade. Esta fé, contudo, seria posta à prova por ocasião da Paixão do senhor. Seria, porém, na manhã de Pascoa que ela renasceria para se tornar aquele elã que os levaria, depois de Pentecostes, até às extremidade do mundo, fazendo seguidores de Cristo de todas as nações, batizando-os e os levando a observar tudo que ele lhes havia ensinado. Jesus estaria sempre com eles ( Mt 28,10-20), Acontece com os cristãos através do tempos o mesmo que se deu com os apóstolos. A fé pode se obscurecer, mas os sinais das bodas de Deus com a humanidade brilhariam sempre no dom da partilha, do amor e da fidelidade, do acolhimento aos irmãos e irmãs. É preciso que se peça ao Senhor que coloque nos nossos corações uma abertura aos sinais de sua presença no mundo e em todas as circunstâncias de nossas vidas. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.