O7 PESCADORES DE HOMENS
Côn. Jose Geraldo
Vidigal de Carvalho*
O encontro de Jesus com seus
primeiros discípulos começou naquela manhã de uma maneira quase corriqueira.
Com efeito, Cristo solicita a Simão um pequeno favor: afastar-se um pouco da
margem para que sua voz chegasse melhor aos ouvintes que ali estavam para
escutar sua pregação. Isto nada custava àquele que vivia da pesca, o qual logo
satisfaz a ordem recebida (Luc 5,1-14). Um detalhe não escapou por certo
àqueles pescadores, ou seja, Jesus se põe ao trabalho no momento em que eles
acabavam de terminar o seu, quando eles, recolhendo suas redes, já se “punham a
lavá-las”, pensando que nada mais podiam pescar naquelas circunstâncias.
Entretanto, mesmo quando é muita tarde para os êxitos humanos, isto jamais é
muito tarde para Deus. Este, muitas vezes, pede algo a seus fiéis em instantes
de fadiga, algo que pode parecer ao homem inútil, mas que o leva a marchar com
Ele. Entretanto Simão não estava senão no início de suas surpresas. Quando
Jesus acabou de falar aos seus ouvintes, Ele envia os pescadores para longe da
margem, onde havia águas mais profundas. Simão estava persuadido que era
inútil, depois de uma longa noite infrutífera, mas a palavra de Jesus era mais
forte que todas as suas evidências humanas, mais segura que todas as suas dúvidas,
mais imperiosa do que suas dubiedades. Eis porque movido pela fé ou pela
confiança no Senhor ele ultrapassou seus limites de bom senso terreno e a pesca
vai muito além de suas expectativas e o resultado mostrará que aquilo era obra
de Deus. Quando o Senhor onipotente age, tudo
é possível, mas o mais difícil por vezes é deixar Deus livre para
atuar. A primeira reação de Simão e de
seus companheiros foi o estupor: “Afasta-te de mim Senhor, pois sou um homem
pecador”. Ele percebera o esplendor do poder divino, mas era uma majestade que
dele o afastava e que, ao contrário, deveria a Ele unir na adoração, na
gratidão e no amor. Jesus, contudo, aparta o temor e, na verdade, confiando-lhe
uma sublime missão: “Doravante serás pescador de homens”. Muitas vezes o que
impede o amor a Cristo é o temor. Medo do que Ele pode e quer fazer através de
nós, em nós, para nós. Medo de um Deus que nos ultrapassa e quer fazer prodígios
em nossa vida, contanto que confiemos em sua palavra todo poderosa. O essencial
é deixar Cristo nos guiar ao alto mar, amá-lo tanto quanto Ele o quer. A
conversão dos irmãos se dará na hora prevista por Deus. Pedro, Tiago e João se
tornaram então pescadores de homens, engajados na obra missionária de Jesus.
Deixaram todo e O seguiram. Para encontrar Jesus é preciso sempre escutar sua
palavra com um coração aberto para reconhecer os sinais de Deus em nossa vida
e, os tendo reconhecido, aceitá-los como tal. Simão e seus companheiros reconheceram
na pesca milagrosa o dedo do Senhor. Eis
porque, quando Jesus os chama para um outro tipo de pesca estavam já estavam
preparados para aceitar a grandiosa incumbência e simplesmente O seguem.
Ninguém é tão e santo que possa merecer as graças divinas e Deus escolhe entre
os pescadores alguns que Ele transforma como cooperadores na sua obra
salvadora. Ele quer através deles converter a muitos, tocando seus corações.
Deus almeja, da parte dos que Ele chama ao apostolado, fé, confiança amor e
perseverança. Ele deseja entrega total, como aconteceu com Pedro, Tiago e João
que deixaram tudo e seguiram Jesus. Ser chamado por Cristo não é apenas ser
sacerdote, mas também ser um batizado que com Jesus coopera no imprescindível
apostolado dos leigos de acordo com o carisma de cada um, colaborando num
apostolado eficiente, inclusive com o bom exemplo em todas as atividades. Cumpre
então que cada um reflita como tem correspondido aos chamados do Mestre divino.
Ele quer se servir de cada cristão para levar a muitos a uma vida nova numa
sociedade que se aparta tantas vezes da Boa Nova. Ele quer que nós nos
afastemos de nossos temores, de nossos preconceitos e ir até águas mais
profundas em busca daqueles que longe dele se acham num cotidiano medíocre
feito de angústias e falta de coragem. Jesus quer se servir de cada batizado
como de um instrumento de sua ação salvadora. Por maior que seja a pequenez
humana quem atende ao chamado de Jesus verá que Ele dará a capacidade
maravilhosa de poder operar muitas conversões. Com Ele o cristão fará maravilhas
numa pesca maravilhosa para glória de Deus. * Professor no seminário de Mariana durante 40 aos.