O TÚMULO VAZIO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Diante de um túmulo vazio jorra
a alegria intensa que marca o festivo dia da Páscoa (Jo 20, 1-9). Na sua origem
a palavra Páscoa significa simplesmente passagem, contendo em si o sentido de
transformação, travessia, movimento. O dia solene da Páscoa, com efeito,
convida os cristãos a comemorar aquele instante único na história no qual o
Filho de Deus conquistou para os que nele creem e amam a possibilidade de
passar, de demudar, de modificar toda sua existência numa vida melhor,
plenificada de um sentido que ultrapassa a realidade visível. Trata-se de
celebrar a morte da morte, numa proclamação vibrante de que a ressurreição de
Cristo é prova definitiva de que o sofrimento não tem na vida humana a
derradeira palavra. O ápice da dor humana ocorre nos momentos finais de sua passagem
nesta terra ao sobrevir a morte e, por isto, a passagem da morte para a vida
está bem simbolizada pelo ovo que é visto por toda parte nos tempos pascais. O
ovo, fechado e sem ar, faz pensar em um túmulo, mas traz em si a vida. Disto se
tem conta quando nascem os filhotes. O túmulo no qual fora sepultado Jesus foi
encontrado vazio porque não podia mais conter como morto quem havia
ressuscitado imortal e impassível. A fé na ressurreição de Jesus repousa no
zelo, no dinamismo e na força incrível dos primeiros testemunhos que viveram o misterioso
acontecimento que mostrava Jesus estar vivo. Tímidos, apavorados, antes deste
notável fato, os primeiros a proclamarem as aparições de Cristo ressuscitado o
fizeram com muita convicção, sendo audaciosos em suas palavras que provinham da
contemplação daquele que triunfara da morte. Até mulheres acabrunhadas pela
ausência do Mestre bem amado se mostraram firmes por entre sua alegria imensa
de terem visto Aquele que fora morto e sepultado e agora se achava vivo estre
elas e os apóstolos. Daí a importância de deixar a Páscoa agir na vida de cada
um com sua mensagem a incutir fé naquele que provou pela sua Ressurreição que
era verdadeiramente Deus e que têm razão aqueles que acreditam em tudo que Ele
ensinou e prometeu. Cumpre então deixar
de lado a tristeza para viver no júbilo. Expulsar a dúvida para degustar
confiança e fé. O cristão, que crê que Jesus ressuscitou dos mortos e deixou vazio
seu túmulo, lança fora a obscuridade e se inebria na luminosidade. Aparta as
trevas da noite para se imergir na luminosidade e, deste modo, passa da ofensa
para o perdão cordial. Esvazia-se de si mesmo e se enche de generosidade. Não
admite a timidez para caminhar na audácia. Vence o medo e marcha na segurança. Da
tibieza de uma vida sem sentido se muda para uma existência nova de quem tem
certeza de que ruma para uma eternidade feliz, do pecado para a santidade existencial,
do esmorecimento para um entusiasmo vivificante. As primeiras testemunhas da Ressurreição
de Jesus não duvidaram mais da veracidade dos fatos, porque estavam abertos à
ação de Deus. Entenderam inclusive que um túmulo vazio era uma prova do maravilhoso
acontecimentos. Outros acreditaram no falso testemunho daqueles que foram subornados
pelas autoridades que haviam patrocinados a morte do grande Profeta que era, de
fato, o Verbo de Deus Encarnado, que fora vilmente crucificado e morto no alto
de uma Cruz e depois sepultado. Foi a alegria da certeza de que Jesus estava
vivo que levou Madalena a correr e ir até Pedro fazendo com que Ele e João
fossem pessoalmente verificar o que elas diziam. As aparições posteriores de
Cristo registradas no Evangelho ratificaram a prova do túmulo vazio. Hoje mais
do que nunca há necessidade do testemunho daqueles que comemoram a Páscoa com a
mesma fé e amor no divino ressuscitado, o qual afirmou que está conosco até o fim do mundo. Madalena
foi a grande pecadora que foi dar notícia do túmulo vazio a Pedro que havia
negado o Mestre diante de uma criada, mas revelaram então possuírem uma fé
inabalável e é desta fé que precisa o mundo de hoje. Na expressão do evangelho
eles viram e creram. Perante a presença de Jesus na vida de cada um que contempla
tantas maravilhas que Ele faz a cada hora para os que nele creem há necessidade
de uma multidão movida por uma fé profunda para uma transformação radical do
mundo. O túmulo de Jesus estava vazio, mas ninguém tinha roubado o corpo do Senhor.
Jesus, porém, vivo, com seu corpo que foi visto por testemunhas escolhidas por
Deus estaria vivo através dos séculos no Sacramento da Eucaristia, como está
junto de Deus Pai de onde virá julgar os vivos e os mortos É preciso testemunhar
esta verdade basilar da fé cristã para que, como ocorreu no começo do cristianismo
Jesus seja crido, amado e seguido por milhares que nele depositem toda sua esperança.
O túmulo vazio vem nos lembrar que é necessário vencer a insensatez dos
corações que duvidam, o desleixo dos que se deixam enganar pelas falsidades dos
que continuam a negar, na prática, a vitória de Jesus sobre a morte, impedindo
refulja intensamente a chama de um intenso amor ao divino vitorioso, pois -Jesus
ressuscitou está a nos lembrar um túmulo vazio. Eis a mensagem importante que
nós cristãos do século XXI devemos transmitir por toda parte num mundo que se distancia
de Deus* Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.
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