sábado, 27 de março de 2021

o túmulo vazioO TÚMULO VAZIO Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Diante de um túmulo vazio jorra a alegria intensa que marca o festivo dia da Páscoa (Jo 20, 1-9). Na sua origem a palavra Páscoa significa simplesmente passagem, contendo em si o sentido de transformação, travessia, movimento. O dia solene da Páscoa, com efeito, convida os cristãos a comemorar aquele instante único na história no qual o Filho de Deus conquistou para os que nele creem e amam a possibilidade de passar, de demudar, de modificar toda sua existência numa vida melhor, plenificada de um sentido que ultrapassa a realidade visível. Trata-se de celebrar a morte da morte, numa proclamação vibrante de que a ressurreição de Cristo é prova definitiva de que o sofrimento não tem na vida humana a derradeira palavra. O ápice da dor humana ocorre nos momentos finais de sua passagem nesta terra ao sobrevir a morte e, por isto, a passagem da morte para a vida está bem simbolizada pelo ovo que é visto por toda parte nos tempos pascais. O ovo, fechado e sem ar, faz pensar em um túmulo, mas traz em si a vida. Disto se tem conta quando nascem os filhotes. O túmulo no qual fora sepultado Jesus foi encontrado vazio porque não podia mais conter como morto quem havia ressuscitado imortal e impassível. A fé na ressurreição de Jesus repousa no zelo, no dinamismo e na força incrível dos primeiros testemunhos que viveram o misterioso acontecimento que mostrava Jesus estar vivo. Tímidos, apavorados, antes deste notável fato, os primeiros a proclamarem as aparições de Cristo ressuscitado o fizeram com muita convicção, sendo audaciosos em suas palavras que provinham da contemplação daquele que triunfara da morte. Até mulheres acabrunhadas pela ausência do Mestre bem amado se mostraram firmes por entre sua alegria imensa de terem visto Aquele que fora morto e sepultado e agora se achava vivo estre elas e os apóstolos. Daí a importância de deixar a Páscoa agir na vida de cada um com sua mensagem a incutir fé naquele que provou pela sua Ressurreição que era verdadeiramente Deus e que têm razão aqueles que acreditam em tudo que Ele ensinou e prometeu. Cumpre então deixar de lado a tristeza para viver no júbilo. Expulsar a dúvida para degustar confiança e fé. O cristão, que crê que Jesus ressuscitou dos mortos e deixou vazio seu túmulo, lança fora a obscuridade e se inebria na luminosidade. Aparta as trevas da noite para se imergir na luminosidade e, deste modo, passa da ofensa para o perdão cordial. Esvazia-se de si mesmo e se enche de generosidade. Não admite a timidez para caminhar na audácia. Vence o medo e marcha na segurança. Da tibieza de uma vida sem sentido se muda para uma existência nova de quem tem certeza de que ruma para uma eternidade feliz, do pecado para a santidade existencial, do esmorecimento para um entusiasmo vivificante. As primeiras testemunhas da Ressurreição de Jesus não duvidaram mais da veracidade dos fatos, porque estavam abertos à ação de Deus. Entenderam inclusive que um túmulo vazio era uma prova do maravilhoso acontecimentos. Outros acreditaram no falso testemunho daqueles que foram subornados pelas autoridades que haviam patrocinados a morte do grande Profeta que era, de fato, o Verbo de Deus Encarnado, que fora vilmente crucificado e morto no alto de uma Cruz e depois sepultado. Foi a alegria da certeza de que Jesus estava vivo que levou Madalena a correr e ir até Pedro fazendo com que Ele e João fossem pessoalmente verificar o que elas diziam. As aparições posteriores de Cristo registradas no Evangelho ratificaram a prova do túmulo vazio. Hoje mais do que nunca há necessidade do testemunho daqueles que comemoram a Páscoa com a mesma fé e amor no divino ressuscitado, o qual afirmou que está conosco até o fim do mundo. Madalena foi a grande pecadora que foi dar notícia do túmulo vazio a Pedro que havia negado o Mestre diante de uma criada, mas revelaram então possuírem uma fé inabalável e é desta fé que precisa o mundo de hoje. Na expressão do evangelho eles viram e creram. Perante a presença de Jesus na vida de cada um que contempla tantas maravilhas que Ele faz a cada hora para os que nele creem há necessidade de uma multidão movida por uma fé profunda para uma transformação radical do mundo. O túmulo de Jesus estava vazio, mas ninguém tinha roubado o corpo do Senhor. Jesus, porém, vivo, com seu corpo que foi visto por testemunhas escolhidas por Deus estaria vivo através dos séculos no Sacramento da Eucaristia, como está junto de Deus Pai de onde virá julgar os vivos e os mortos É preciso testemunhar esta verdade basilar da fé cristã para que, como ocorreu no começo do cristianismo Jesus seja crido, amado e seguido por milhares que nele depositem toda sua esperança. O túmulo vazio vem nos lembrar que é necessário vencer a insensatez dos corações que duvidam, o desleixo dos que se deixam enganar pelas falsidades dos que continuam a negar, na prática, a vitória de Jesus sobre a morte, impedindo refulja intensamente a chama de um intenso amor ao divino vitorioso, pois -Jesus ressuscitou está a nos lembrar um túmulo vazio. Eis a mensagem importante que nós cristãos do século XXI devemos transmitir por toda parte num mundo que se distancia de Deus* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

O TÚMULO VAZIO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Diante de um túmulo vazio jorra a alegria intensa que marca o festivo dia da Páscoa (Jo 20, 1-9). Na sua origem a palavra Páscoa significa simplesmente passagem, contendo em si o sentido de transformação, travessia, movimento. O dia solene da Páscoa, com efeito, convida os cristãos a comemorar aquele instante único na história no qual o Filho de Deus conquistou para os que nele creem e amam a possibilidade de passar, de demudar, de modificar toda sua existência numa vida melhor, plenificada de um sentido que ultrapassa a realidade visível. Trata-se de celebrar a morte da morte, numa proclamação vibrante de que a ressurreição de Cristo é prova definitiva de que o sofrimento não tem na vida humana a derradeira palavra. O ápice da dor humana ocorre nos momentos finais de sua passagem nesta terra ao sobrevir a morte e, por isto, a passagem da morte para a vida está bem simbolizada pelo ovo que é visto por toda parte nos tempos pascais. O ovo, fechado e sem ar, faz pensar em um túmulo, mas traz em si a vida. Disto se tem conta quando nascem os filhotes. O túmulo no qual fora sepultado Jesus foi encontrado vazio porque não podia mais conter como morto quem havia ressuscitado imortal e impassível. A fé na ressurreição de Jesus repousa no zelo, no dinamismo e na força incrível dos primeiros testemunhos que viveram o misterioso acontecimento que mostrava Jesus estar vivo. Tímidos, apavorados, antes deste notável fato, os primeiros a proclamarem as aparições de Cristo ressuscitado o fizeram com muita convicção, sendo audaciosos em suas palavras que provinham da contemplação daquele que triunfara da morte. Até mulheres acabrunhadas pela ausência do Mestre bem amado se mostraram firmes por entre sua alegria imensa de terem visto Aquele que fora morto e sepultado e agora se achava vivo estre elas e os apóstolos. Daí a importância de deixar a Páscoa agir na vida de cada um com sua mensagem a incutir fé naquele que provou pela sua Ressurreição que era verdadeiramente Deus e que têm razão aqueles que acreditam em tudo que Ele ensinou e prometeu.  Cumpre então deixar de lado a tristeza para viver no júbilo. Expulsar a dúvida para degustar confiança e fé. O cristão, que crê que Jesus ressuscitou dos mortos e deixou vazio seu túmulo, lança fora a obscuridade e se inebria na luminosidade. Aparta as trevas da noite para se imergir na luminosidade e, deste modo, passa da ofensa para o perdão cordial. Esvazia-se de si mesmo e se enche de generosidade. Não admite a timidez para caminhar na audácia. Vence o medo e marcha na segurança. Da tibieza de uma vida sem sentido se muda para uma existência nova de quem tem certeza de que ruma para uma eternidade feliz, do pecado para a santidade existencial, do esmorecimento para um entusiasmo vivificante. As primeiras testemunhas da Ressurreição de Jesus não duvidaram mais da veracidade dos fatos, porque estavam abertos à ação de Deus. Entenderam inclusive que um túmulo vazio era uma prova do maravilhoso acontecimentos. Outros acreditaram no falso testemunho daqueles que foram subornados pelas autoridades que haviam patrocinados a morte do grande Profeta que era, de fato, o Verbo de Deus Encarnado, que fora vilmente crucificado e morto no alto de uma Cruz e depois sepultado. Foi a alegria da certeza de que Jesus estava vivo que levou Madalena a correr e ir até Pedro fazendo com que Ele e João fossem pessoalmente verificar o que elas diziam. As aparições posteriores de Cristo registradas no Evangelho ratificaram a prova do túmulo vazio. Hoje mais do que nunca há necessidade do testemunho daqueles que comemoram a Páscoa com a mesma fé e amor no divino ressuscitado, o qual afirmou que   está conosco até o fim do mundo. Madalena foi a grande pecadora que foi dar notícia do túmulo vazio a Pedro que havia negado o Mestre diante de uma criada, mas revelaram então possuírem uma fé inabalável e é desta fé que precisa o mundo de hoje. Na expressão do evangelho eles viram e creram. Perante a presença de Jesus na vida de cada um que contempla tantas maravilhas que Ele faz a cada hora para os que nele creem há necessidade de uma multidão movida por uma fé profunda para uma transformação radical do mundo. O túmulo de Jesus estava vazio, mas ninguém tinha roubado o corpo do Senhor. Jesus, porém, vivo, com seu corpo que foi visto por testemunhas escolhidas por Deus estaria vivo através dos séculos no Sacramento da Eucaristia, como está junto de Deus Pai de onde virá julgar os vivos e os mortos É preciso testemunhar esta verdade basilar da fé cristã para que, como ocorreu no começo do cristianismo Jesus seja crido, amado e seguido por milhares que nele depositem toda sua esperança. O túmulo vazio vem nos lembrar que é necessário vencer a insensatez dos corações que duvidam, o desleixo dos que se deixam enganar pelas falsidades dos que continuam a negar, na prática, a vitória de Jesus sobre a morte, impedindo refulja intensamente a chama de um intenso amor ao divino vitorioso, pois -Jesus ressuscitou está a nos lembrar um túmulo vazio. Eis a mensagem importante que nós cristãos do século XXI devemos transmitir por toda parte num mundo que se distancia de Deus* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos. 

 

segunda-feira, 22 de março de 2021

 

JESUS ENTRA COMO REI EM JERUSALÉM

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A entrada solene de Jesus em Jerusalém mostra que, embora fosse o início de uma caminhada que terminaria no Calvário, ela deveria ser, de fato, como a de um Rei. Esta homenagem aumentou de muito a responsabilidade daqueles que O julgariam sem lhes deixar nenhuma escusa. São Marcos apresenta-O como Rei servidor e Profeta. Foi, realmente uma apoteose sem precedentes. Tão logo o Filho de Deus se pôs em marcha inúmeros os que estenderam suas vestimentas para a passagem do grande soberano, outros cortaram ramos das árvores e os espalharam naquela via real Um cortejo triunfal com magníficas aclamações: “Hosana, bendito seja aquele que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino de nosso Pai Davi, que vem. Hosana no mais alto dos céus!” Hosana”, isto é, como está no profeta Isaias: “o Eterno é nosso Rei, Ele nos salvará” (23,22) ou no Salmo 118 “Salva-nos, Senhor! Nós vos imploramos. Faze-nos prosperar, Senhor! Nós vos suplicamos. Bendito é o que vem em nome do Senhor” (118:25), Era sob a ação do Espírito Santo que os discípulos aclamavam Jesus como rei e salvador no que eram acompanhados pela multidão. Pouco depois, porém, o povo em gritos desejaria sua morte, mostrando quão volúvel é o juízo popular. Ficaria somente como recordação daquele espetáculo o escrito de Pilatos sobre uma cruz ignominiosa no alto do Gólgota, como testemunho da realeza de Cristo. O povo então a aclamar “Nós não temos outro rei senão César” (Jo 19 15.20). No decorrer desta Semana Santa, cumpre refletir que, através de sua Paixão e pelo seu Amor, Jesus foi fiel até à morte, fiel a sua dileção infinita ao Pai, fiel a seu amor infinito por todos nós apesar das infidelidades humanas. Pela sua Paixão aceita livremente, Jesus veio quebrar o dinamismo de morte que está no homem e o dinamismo do pecado que se acha enraizado no ser racional. Pecado que conduziu os escribas e os fariseus ao ódio e que levou Pilatos ao medo. Pecado que lançou os discípulos ao sono s à fuga, Pecado que levou Pedro, covardemente, a renegá-lo. Face a estes desastres ocasionados pelos erros dos homens e ante uma espiral de violências, Jesus não deixou de ser aquele que ama e amará até o fim, mesmo do alto da Cruz, tendo sempre um olhar de amor. Ele nos convida a retribuir a este amor, a viver em função de uma grande dileção a Ele. Nesta semana veremos ainda uma vez que tendo chegado a hora em que se sacrificaria pela humanidade, percebendo que o golpe final se aproximava, Jesus entrou em agonia, se viu abandonado. Entretanto, não obstante tanto sofrimento, tanta angústia, Ele não recuou. Sua morte foi uma morte doada, como sua vida foi uma vida ofertada totalmente à missão que lhe havia confiado o Pai.   Recordemos nesta semana como a cruz, instrumento de sua paixão e de sua morte, se tornou um sinal para seus verdadeiros seguidores, ela que se fez o trono de sua glória. Lembremo-nos que grande foi a humilhação de Cristo diante de seus opressores, mas não nos esqueçamos de que esta humilhação foi profética, anunciando a salvação do gênero humano. Fato, realmente, maravilhoso dado que um Rei reinou se fazendo servidor. Um Soberano que renunciou seus privilégios porque muito nos amou. Este Rei não é como os outros reis, mas um monarca que quer permitir aos outros serem felizes, que quer fazê-los participar de seu força. Um Rei cujo poder é uma potência de dileção sem limites. Portanto, nesta Semana Santa, contemplando o trono de sua glória, a Cruz, nos deve levar a entrar na lógica bendita desta ternura incomensurável, uma atitude que conduz à entrega do dom desse acolhimento dos que são irmãos regenerados pelo mesmo sangue divino. Arrependimento cabal de todos os pecados, um novo programa de vida que revele total gratidão Àquele que tanto nos amou e ama. Saibamos retribuir ao amor de Jesus Cristo, Messias e Salvador. Soberano de um reino novo.  Isto porque Ele estabeleceu    um reino de justiça e de paz no qual devemos viver, correspondendo sempre a tanta generosidade divina. Ele veio a este mundo para dar testemunho da verdade.  Não obstante, esta demonstração O levou à morte porque seus contraditores e todos os pecadores através dos tempos têm recusado esta verdade. Sobretudo, por tudo isto, durante a Grande Semana em todas as suas cerimoniosa é preciso refletir sinceramente se Ele tem sido para cada um de nós “o Caminho, a Verdade e a Vida”. É necessário deixar de lado as preocupações terrenas e estarmos convencidos de que a salvação de cada um de nós custou o sacrifício de um Deus feito homem. De fato, lutar para que Jesus seja, realmente, aclamado, amado, exaltado. O verdadeiro cristão não pode estar sujeito a um mundo, como outrora aquele que julgou tão mal Àquele que só irradiou amor, quantos a repetirem numa injúria inominável em pleno século vinte e um ao olhar para a Cruz Redentora: “Salva-te a ti mesmo”, mas repitamos do íntimo do coração: “Verdadeiramente Este era Filho de Deus”, e em consequência, seja sempre Jesus a razão de ser de nossas vidas. * Professor no Seminário d Mariana durantes 40 anos.



 

sábado, 13 de março de 2021

 

JESUS, SENHOR DO MUNDO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Jesus, mostrando ainda uma vez o quando era admirado por aqueles que tinham ouvido falar dele, foi objeto de especial atenção dos gentios, como eram chamados genericamente os gregos iniciados no judaísmo (Jo 12.20-35). Estes no templo só podiam ficar no átrio a eles reservado. Alguns deles, porém, queriam conversar com Jesus Pediram então a mediação de André e Felipe: “Queremos ver Jesus”. Eram, na verdade, pessoas que tinham vindo a Jerusalém por ocasião das festas e que tinham fome do Deus verdadeiro. O Mestre não respondeu diretamente, à solicitação, mas estabeleceu um princípio que bem contradiz o modo de pensar e de agir do mundo. Ele, Senhor deste mundo ia ser glorificado, mas a primeira condição, a fim de O encontrar, seria aceitar e compreender a sua paíxão, morte e elevação numa cruz como o Salvador enviado do Pai. À primeira vista, a resposta de Jesus pode parecer enigmática, mas tem uma expressão chave a ser aprofundada: “Chegou a hora em que o Filho do Homem deve ser glorificado”. Tudo focalizado na “sua” hora. A hora de Jesus para São João, não era somente um momento principal, a fase decisiva da redenção da humanidade, a passagem solene que fez Jesus ir até o Pai em nosso nome, o momento no qual o Filho do Homem devia ser aclamado, mas isto passando pelo vale tenebroso da morte. Neste texto joanino, portanto, a hora de Jesus engloba a entrada no sofrimento, toda a sua paixão, toda sua morte e ressurreição, glorificação junto do Pai e, até mesmo, o dom do Espírito Santo aos Apóstolos. Deste modo, portanto, se pode entender como foi a resposta de Jesus aos gregos: “Vós me procurais? Pois bem, sabei, porém, que por vós, os Gregos, como para os Judeus, eu serei um Messias crucificado”. No dizer de São Paulo, escândalo para os Judeus, loucura para os pagãos! Conforme seu costume, Jesus ilustra tudo isto com uma parábola “Se o grãó de trigo lançado na terra não morrer, fica só, ou seja um simples grão, bem seco, intacto, porém estéril, mas, se morrer, produz abundante fruto”. Nesta parábola se destaquem dois aspectos. Um deles mostra que a morte de Jesus seria fecunda e permitiria o acolhimento dos Gregos   juntamente com os Judeus em sua barca salvadora, numa só comunidade, numa só igreja A outra concerne diretamente aos seus seguidores, ou seja, quem ama sua vida, quem endeusa sua existência, está prestes a se destruir, caso venha a desprezar a vida eterna. A postura do cristão neste caso é decisiva e Jesus dirá claramente que ninguém pode amar a dois senhores. Trata-se de uma questão de coerência. Não se trata de uma atitude psicológica, masoquista ou depressiva, mas simplesmente de amar a vida de Deus e de viver aqui na terra conforme a vontade divina para poder estar eternamente com Ele. O cristão, testemunha de Jesus, não deve cessar de viver e de construir comunitariamente com todos os irmãos, e dado que não vive mais para si mesmo, um Outro vive nele, o qual   é, aliás, proprietário de todas as suas alegrias, de todas as suas forças, de todos os seus desejos e este Outro é Aquele que morreu na terra como primeiro grão de trigo, aquele que o amou e se sacrificou por ele. Deste modo, o cristão não deve se prender à própria vida, não pode se destruir, suicidar-se, matar em si as riquezas da inteligência ou do coração, da alma e do corpo.  Precisa, isso sim, é começar a viver em função de Jesus, em função unicamente de Deus. Cumpre é entregar, desde agora, sua vida a Jesus para que ela se torne origem e fruto, após ter se desabrochado numa existência de serviço aos outros. Tal a orientação Jesus: “Se alguém quer me servir, que ele me siga e lá onde eu estiver, lá também estará meu servidor”. Tudo confluindo numa comunidade, cujo destino é Jesus, que amplifica, unifica, vivifica todas as ações humanas. É que com Jesus é que devemos fazer tudo conforme os desígnios divinos. Podemos, desta forma, compreender em plenitude o que Cristo afirmou “Eu quando for levantado da terra, atrairei todos a mim”. Presente na Eucaristia, Ele vem recebendo através dos séculos as mais sinceras homenagens de milhares de fiéis, Ele o eterno conviva de Emaus, ao longos dos dias, Ressuscitado, Ele conduz aqueles que Lhe são leais. Um dia no Cenáculo Ele tomaria o pão e o consagraria e olhos humanos passariam, pela fé, a crer na sua admirável presença, chama iluminada na qual nosso coração percebe a verdadeira felicidade. Estrela da derradeira manhã, despertaria nos corações, através de seu imenso amor, a grandiosa esperança de seu retorno um dia para julgar os vivos e os mortos. Ele o Messias vencedor, rei e sumo sacerdote, Deus ressuscitado dos mortos, possuidor de uma glória eterna, pois o Pai deu-lhe um cetro de força invencível e Ele domina todas as forças do mal, Ele que é o Senhor repleto de poder e majestade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

segunda-feira, 8 de março de 2021

 

A CRUZ. SALVADORA

Côn. JoséGeraldo Vidigal de Carvalho*

No colóquio com Nicodemos Jesus, para explicar o mistério da Cruz, lembrou um fato marcante do Antigo Testamento, visando fixar o desvelo misericordioso de Deus para com seu povo.  Do mesmo modo que Moisés elevou a serpente no deserto, assim teria que ser elevado o Filho do homem para que todo que nele cresse tivesse a vida eterna (Jo 3.14-21).  Uma visão dualista incluindo cenas de abatimento e elevação, morte e vida, trevas e luz. A recordação da cena do Antigo Testamento, que ostentava os que sofriam a olhar para uma serpente colocada no alto de um poste sendo salvos de terrível flagelo, seria então uma imagem esclarecedora do mistério da Cruz redentora de um Deus sempre rico em misericórdia. Outrora os que eram mordidos pelas serpentes deveriam levantar os olhos para uma serpente de bronze para logo serem salvos.  Agora, afirma Jesus, bastaria olhar para a Cruz na qual se operaria a salvação da humanidade ferida pelo pecado, para que fosse recebida a graça do perdão divino. Ao contrário dos fariseus, Cristo não proporia uma redenção ao retorno de uma observância escrupulosa dos preceitos, mas convidaria aos ditosos que cressem nele a acolher gratuitamente a vida nova que Ele oferecia da parte do Pai. Segundo Jesus, seria pela graça que os fiéis, de graça, receberiam a vida nova, fruto da fé inabalável nele.  Isto seria não pelo poder humano, mas sim um dom de Deus. Ninguém seria justificado pela prática da lei, mas pela fé no filho de Deus como bem ensinaria São Paulo (Gl 2,16). A lei mostra a incapacidade humana em corresponder aos apelos de Deus. Ela em si não permite realizar o bem ou evitar o mal, pois isto vem da luz e da força do Espírito Santo, da crença inabalável em Deus, da fé que cura e salva. O cristão iluminado pelas virtudes teologais tem o coração reforçado   que lhe permite produzir os verdadeiros frutos de justiça e santidade. É deste modo que o Espírito Santo pode em cada cristão realizar uma obra de recriação para formar o homem novo à imagem de Cristo Jesus pela Cruz que regenera e salva. Então as obras do discípulo de Cristo são feitas segundo Deus. Portanto, quem crê em Jesus não será condenado porque acolheu o Espírito Santo no batismo, e cuja presença é renovada a cada Comunhão eucarística, a cada Confissão numa participação renovada na vida divina. Esta vida divina que anima o mais íntimo do seguidor de Cristo tende então a se manifestar exteriormente, irradiando em torno do fiel a presença divina. Esta é a dinâmica da salvação na qual quem age segundo a verdade vem à luz, para que suas obras sejam reconhecidas como obras de Deus. Eis porque grandes santos fizeram e fazem obras maravilhosas com toda humildade, porque nunca deixaram de reconhecer que é a graça divina é que opera maravilhas. O cristão verdadeiro reconhece sempre sua fraqueza e atesta o que Jesus declararia: “Sem mim nada podeis fazer”. Incapacidade total de praticar o bem sem o auxílio divino, sempre olhando para a Cruz redentora, da qual vem a misericórdia celeste, que supera toda miséria humana É preciso, contudo, saber viver a misericórdia que vem da Cruz salvadora, reconhecendo a própria fraqueza para poder degustar a força que jorra da Trindade Santa. Aí está a razão pela qual quem crê no Crucificado tem a vida eterna (Jo 3,16). Não se trata de uma realidade vinda não se sabe de onde e em que ela consiste, nem de uma recompensa vindo coroar meros esforços terrenos. Ela não é eterna porque duraria indefinitivamente, mas é um favor de Deus que ultrapassa os limites do homem, penetrando, porém, todas as possibilidades de quem vive em função da potencialidade de uma Cruz que confere vida eterna. O cristão possui então uma qualidade de vida que supera a realidade da morte, vencido o “último inimigo” de que fala São Paulo (1Cor 15,26).  Vida eterna que a sombra da morte não pode paralisar nem inquietar. Jesus, porém, daria a vida eterna e quem vive e crê nele não morreria jamais (Jo 11,26). Nascer e receber a vida eterna é uma graça do amor de Jesus crucificado. A misericórdia e a dileção divinas são ofertas da bondade infinita de Deus, o qual quer que tenhamos a vida e a tenhamos em abundância (Jo 10,10). Deste modo, a fé conduz a nossa trajetória humana a uma vida eterna. São João nos lembra:” Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos amou e nos enviou o seu Filho em expiação dos nossos pecados” (1Jo 4,10). Este perdão consiste na libertação da morte que pairou sobre a humanidade e a paralisou. Da cruz de Cristo, porém, jorrou a libertação do ser humano. É preciso saber encontrar nela a total libertação. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.