sábado, 27 de março de 2021
o túmulo vazioO TÚMULO VAZIO Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Diante de um túmulo vazio jorra a alegria intensa que marca o festivo dia da Páscoa (Jo 20, 1-9). Na sua origem a palavra Páscoa significa simplesmente passagem, contendo em si o sentido de transformação, travessia, movimento. O dia solene da Páscoa, com efeito, convida os cristãos a comemorar aquele instante único na história no qual o Filho de Deus conquistou para os que nele creem e amam a possibilidade de passar, de demudar, de modificar toda sua existência numa vida melhor, plenificada de um sentido que ultrapassa a realidade visível. Trata-se de celebrar a morte da morte, numa proclamação vibrante de que a ressurreição de Cristo é prova definitiva de que o sofrimento não tem na vida humana a derradeira palavra. O ápice da dor humana ocorre nos momentos finais de sua passagem nesta terra ao sobrevir a morte e, por isto, a passagem da morte para a vida está bem simbolizada pelo ovo que é visto por toda parte nos tempos pascais. O ovo, fechado e sem ar, faz pensar em um túmulo, mas traz em si a vida. Disto se tem conta quando nascem os filhotes. O túmulo no qual fora sepultado Jesus foi encontrado vazio porque não podia mais conter como morto quem havia ressuscitado imortal e impassível. A fé na ressurreição de Jesus repousa no zelo, no dinamismo e na força incrível dos primeiros testemunhos que viveram o misterioso acontecimento que mostrava Jesus estar vivo. Tímidos, apavorados, antes deste notável fato, os primeiros a proclamarem as aparições de Cristo ressuscitado o fizeram com muita convicção, sendo audaciosos em suas palavras que provinham da contemplação daquele que triunfara da morte. Até mulheres acabrunhadas pela ausência do Mestre bem amado se mostraram firmes por entre sua alegria imensa de terem visto Aquele que fora morto e sepultado e agora se achava vivo estre elas e os apóstolos. Daí a importância de deixar a Páscoa agir na vida de cada um com sua mensagem a incutir fé naquele que provou pela sua Ressurreição que era verdadeiramente Deus e que têm razão aqueles que acreditam em tudo que Ele ensinou e prometeu. Cumpre então deixar de lado a tristeza para viver no júbilo. Expulsar a dúvida para degustar confiança e fé. O cristão, que crê que Jesus ressuscitou dos mortos e deixou vazio seu túmulo, lança fora a obscuridade e se inebria na luminosidade. Aparta as trevas da noite para se imergir na luminosidade e, deste modo, passa da ofensa para o perdão cordial. Esvazia-se de si mesmo e se enche de generosidade. Não admite a timidez para caminhar na audácia. Vence o medo e marcha na segurança. Da tibieza de uma vida sem sentido se muda para uma existência nova de quem tem certeza de que ruma para uma eternidade feliz, do pecado para a santidade existencial, do esmorecimento para um entusiasmo vivificante. As primeiras testemunhas da Ressurreição de Jesus não duvidaram mais da veracidade dos fatos, porque estavam abertos à ação de Deus. Entenderam inclusive que um túmulo vazio era uma prova do maravilhoso acontecimentos. Outros acreditaram no falso testemunho daqueles que foram subornados pelas autoridades que haviam patrocinados a morte do grande Profeta que era, de fato, o Verbo de Deus Encarnado, que fora vilmente crucificado e morto no alto de uma Cruz e depois sepultado. Foi a alegria da certeza de que Jesus estava vivo que levou Madalena a correr e ir até Pedro fazendo com que Ele e João fossem pessoalmente verificar o que elas diziam. As aparições posteriores de Cristo registradas no Evangelho ratificaram a prova do túmulo vazio. Hoje mais do que nunca há necessidade do testemunho daqueles que comemoram a Páscoa com a mesma fé e amor no divino ressuscitado, o qual afirmou que está conosco até o fim do mundo. Madalena foi a grande pecadora que foi dar notícia do túmulo vazio a Pedro que havia negado o Mestre diante de uma criada, mas revelaram então possuírem uma fé inabalável e é desta fé que precisa o mundo de hoje. Na expressão do evangelho eles viram e creram. Perante a presença de Jesus na vida de cada um que contempla tantas maravilhas que Ele faz a cada hora para os que nele creem há necessidade de uma multidão movida por uma fé profunda para uma transformação radical do mundo. O túmulo de Jesus estava vazio, mas ninguém tinha roubado o corpo do Senhor. Jesus, porém, vivo, com seu corpo que foi visto por testemunhas escolhidas por Deus estaria vivo através dos séculos no Sacramento da Eucaristia, como está junto de Deus Pai de onde virá julgar os vivos e os mortos É preciso testemunhar esta verdade basilar da fé cristã para que, como ocorreu no começo do cristianismo Jesus seja crido, amado e seguido por milhares que nele depositem toda sua esperança. O túmulo vazio vem nos lembrar que é necessário vencer a insensatez dos corações que duvidam, o desleixo dos que se deixam enganar pelas falsidades dos que continuam a negar, na prática, a vitória de Jesus sobre a morte, impedindo refulja intensamente a chama de um intenso amor ao divino vitorioso, pois -Jesus ressuscitou está a nos lembrar um túmulo vazio. Eis a mensagem importante que nós cristãos do século XXI devemos transmitir por toda parte num mundo que se distancia de Deus* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
O TÚMULO VAZIO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Diante de um túmulo vazio jorra
a alegria intensa que marca o festivo dia da Páscoa (Jo 20, 1-9). Na sua origem
a palavra Páscoa significa simplesmente passagem, contendo em si o sentido de
transformação, travessia, movimento. O dia solene da Páscoa, com efeito,
convida os cristãos a comemorar aquele instante único na história no qual o
Filho de Deus conquistou para os que nele creem e amam a possibilidade de
passar, de demudar, de modificar toda sua existência numa vida melhor,
plenificada de um sentido que ultrapassa a realidade visível. Trata-se de
celebrar a morte da morte, numa proclamação vibrante de que a ressurreição de
Cristo é prova definitiva de que o sofrimento não tem na vida humana a
derradeira palavra. O ápice da dor humana ocorre nos momentos finais de sua passagem
nesta terra ao sobrevir a morte e, por isto, a passagem da morte para a vida
está bem simbolizada pelo ovo que é visto por toda parte nos tempos pascais. O
ovo, fechado e sem ar, faz pensar em um túmulo, mas traz em si a vida. Disto se
tem conta quando nascem os filhotes. O túmulo no qual fora sepultado Jesus foi
encontrado vazio porque não podia mais conter como morto quem havia
ressuscitado imortal e impassível. A fé na ressurreição de Jesus repousa no
zelo, no dinamismo e na força incrível dos primeiros testemunhos que viveram o misterioso
acontecimento que mostrava Jesus estar vivo. Tímidos, apavorados, antes deste
notável fato, os primeiros a proclamarem as aparições de Cristo ressuscitado o
fizeram com muita convicção, sendo audaciosos em suas palavras que provinham da
contemplação daquele que triunfara da morte. Até mulheres acabrunhadas pela
ausência do Mestre bem amado se mostraram firmes por entre sua alegria imensa
de terem visto Aquele que fora morto e sepultado e agora se achava vivo estre
elas e os apóstolos. Daí a importância de deixar a Páscoa agir na vida de cada
um com sua mensagem a incutir fé naquele que provou pela sua Ressurreição que
era verdadeiramente Deus e que têm razão aqueles que acreditam em tudo que Ele
ensinou e prometeu. Cumpre então deixar
de lado a tristeza para viver no júbilo. Expulsar a dúvida para degustar
confiança e fé. O cristão, que crê que Jesus ressuscitou dos mortos e deixou vazio
seu túmulo, lança fora a obscuridade e se inebria na luminosidade. Aparta as
trevas da noite para se imergir na luminosidade e, deste modo, passa da ofensa
para o perdão cordial. Esvazia-se de si mesmo e se enche de generosidade. Não
admite a timidez para caminhar na audácia. Vence o medo e marcha na segurança. Da
tibieza de uma vida sem sentido se muda para uma existência nova de quem tem
certeza de que ruma para uma eternidade feliz, do pecado para a santidade existencial,
do esmorecimento para um entusiasmo vivificante. As primeiras testemunhas da Ressurreição
de Jesus não duvidaram mais da veracidade dos fatos, porque estavam abertos à
ação de Deus. Entenderam inclusive que um túmulo vazio era uma prova do maravilhoso
acontecimentos. Outros acreditaram no falso testemunho daqueles que foram subornados
pelas autoridades que haviam patrocinados a morte do grande Profeta que era, de
fato, o Verbo de Deus Encarnado, que fora vilmente crucificado e morto no alto
de uma Cruz e depois sepultado. Foi a alegria da certeza de que Jesus estava
vivo que levou Madalena a correr e ir até Pedro fazendo com que Ele e João
fossem pessoalmente verificar o que elas diziam. As aparições posteriores de
Cristo registradas no Evangelho ratificaram a prova do túmulo vazio. Hoje mais
do que nunca há necessidade do testemunho daqueles que comemoram a Páscoa com a
mesma fé e amor no divino ressuscitado, o qual afirmou que está conosco até o fim do mundo. Madalena
foi a grande pecadora que foi dar notícia do túmulo vazio a Pedro que havia
negado o Mestre diante de uma criada, mas revelaram então possuírem uma fé
inabalável e é desta fé que precisa o mundo de hoje. Na expressão do evangelho
eles viram e creram. Perante a presença de Jesus na vida de cada um que contempla
tantas maravilhas que Ele faz a cada hora para os que nele creem há necessidade
de uma multidão movida por uma fé profunda para uma transformação radical do
mundo. O túmulo de Jesus estava vazio, mas ninguém tinha roubado o corpo do Senhor.
Jesus, porém, vivo, com seu corpo que foi visto por testemunhas escolhidas por
Deus estaria vivo através dos séculos no Sacramento da Eucaristia, como está
junto de Deus Pai de onde virá julgar os vivos e os mortos É preciso testemunhar
esta verdade basilar da fé cristã para que, como ocorreu no começo do cristianismo
Jesus seja crido, amado e seguido por milhares que nele depositem toda sua esperança.
O túmulo vazio vem nos lembrar que é necessário vencer a insensatez dos
corações que duvidam, o desleixo dos que se deixam enganar pelas falsidades dos
que continuam a negar, na prática, a vitória de Jesus sobre a morte, impedindo
refulja intensamente a chama de um intenso amor ao divino vitorioso, pois -Jesus
ressuscitou está a nos lembrar um túmulo vazio. Eis a mensagem importante que
nós cristãos do século XXI devemos transmitir por toda parte num mundo que se distancia
de Deus* Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.
segunda-feira, 22 de março de 2021
JESUS
ENTRA COMO REI EM JERUSALÉM
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
A entrada solene de Jesus em Jerusalém
mostra que, embora fosse o início de uma caminhada que terminaria no Calvário,
ela deveria ser, de fato, como a de um Rei. Esta homenagem aumentou de muito a
responsabilidade daqueles que O julgariam sem lhes deixar nenhuma escusa. São
Marcos apresenta-O como Rei servidor e Profeta. Foi, realmente uma apoteose sem
precedentes. Tão logo o Filho de Deus se pôs em marcha inúmeros os que
estenderam suas vestimentas para a passagem do grande soberano, outros cortaram
ramos das árvores e os espalharam naquela via real Um cortejo triunfal com magníficas
aclamações: “Hosana, bendito seja aquele que vem em nome do Senhor! Bendito
seja o reino de nosso Pai Davi, que vem. Hosana no mais alto dos céus!”
Hosana”, isto é, como está no profeta Isaias: “o Eterno é nosso Rei, Ele nos
salvará” (23,22) ou no Salmo 118 “Salva-nos, Senhor!
Nós vos imploramos. Faze-nos prosperar, Senhor! Nós vos suplicamos. Bendito é o
que vem em nome do Senhor” (118:25), Era sob a ação
do Espírito Santo que os discípulos aclamavam Jesus como rei e salvador no que eram
acompanhados pela multidão. Pouco depois, porém, o povo em gritos desejaria sua
morte, mostrando quão volúvel é o juízo popular. Ficaria somente como recordação
daquele espetáculo o escrito de Pilatos sobre uma cruz ignominiosa no alto do
Gólgota, como testemunho da realeza de Cristo. O povo então a aclamar “Nós não temos
outro rei senão César” (Jo 19 15.20). No decorrer desta Semana Santa, cumpre refletir
que, através de sua Paixão e pelo seu Amor, Jesus foi fiel até à morte, fiel a
sua dileção infinita ao Pai, fiel a seu amor infinito por todos nós apesar das
infidelidades humanas. Pela sua Paixão aceita livremente, Jesus veio quebrar o
dinamismo de morte que está no homem e o dinamismo do pecado que se acha
enraizado no ser racional. Pecado que conduziu os escribas e os fariseus ao
ódio e que levou Pilatos ao medo. Pecado que lançou os discípulos ao sono s à
fuga, Pecado que levou Pedro, covardemente, a renegá-lo. Face a estes desastres
ocasionados pelos erros dos homens e ante uma espiral de violências, Jesus não
deixou de ser aquele que ama e amará até o fim, mesmo do alto da Cruz, tendo
sempre um olhar de amor. Ele nos convida a retribuir a este amor, a viver em
função de uma grande dileção a Ele. Nesta semana veremos ainda uma vez que tendo
chegado a hora em que se sacrificaria pela humanidade, percebendo que o golpe
final se aproximava, Jesus entrou em agonia, se viu abandonado. Entretanto, não
obstante tanto sofrimento, tanta angústia, Ele não recuou. Sua morte foi uma
morte doada, como sua vida foi uma vida ofertada totalmente à missão que lhe havia
confiado o Pai. Recordemos nesta semana
como a cruz, instrumento de sua paixão e de sua morte, se tornou um sinal para
seus verdadeiros seguidores, ela que se fez o trono de sua glória. Lembremo-nos
que grande foi a humilhação de Cristo diante de seus opressores, mas não nos
esqueçamos de que esta humilhação foi profética, anunciando a salvação do
gênero humano. Fato, realmente, maravilhoso dado que um Rei reinou se fazendo servidor.
Um Soberano que renunciou seus privilégios porque muito nos amou. Este Rei não
é como os outros reis, mas um monarca que quer permitir aos outros serem
felizes, que quer fazê-los participar de seu força. Um Rei cujo poder é uma potência
de dileção sem limites. Portanto, nesta Semana Santa, contemplando o trono de
sua glória, a Cruz, nos deve levar a entrar na lógica bendita desta ternura
incomensurável, uma atitude que conduz à entrega do dom desse acolhimento dos que
são irmãos regenerados pelo mesmo sangue divino. Arrependimento cabal de todos
os pecados, um novo programa de vida que revele total gratidão Àquele que tanto
nos amou e ama. Saibamos retribuir ao amor de Jesus Cristo, Messias e Salvador.
Soberano de um reino novo. Isto porque
Ele estabeleceu um reino de justiça e
de paz no qual devemos viver, correspondendo sempre a tanta generosidade
divina. Ele veio a este mundo para dar testemunho da verdade. Não obstante, esta demonstração O levou à
morte porque seus contraditores e todos os pecadores através dos tempos têm recusado
esta verdade. Sobretudo, por tudo isto, durante a Grande Semana em todas as
suas cerimoniosa é preciso refletir sinceramente se Ele tem sido para cada um
de nós “o Caminho, a Verdade e a Vida”. É necessário deixar de lado as
preocupações terrenas e estarmos convencidos de que a salvação de cada um de
nós custou o sacrifício de um Deus feito homem. De fato, lutar para que Jesus seja,
realmente, aclamado, amado, exaltado. O verdadeiro cristão não pode estar sujeito
a um mundo, como outrora aquele que julgou tão mal Àquele que só irradiou amor,
quantos a repetirem numa injúria inominável em pleno século vinte e um ao olhar
para a Cruz Redentora: “Salva-te a ti mesmo”, mas repitamos do íntimo do coração:
“Verdadeiramente Este era Filho de Deus”, e em consequência, seja sempre Jesus
a razão de ser de nossas vidas. * Professor no Seminário d Mariana durantes 40 anos.
sábado, 13 de março de 2021
JESUS,
SENHOR DO MUNDO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus,
mostrando ainda uma vez o quando era admirado por aqueles que tinham ouvido
falar dele, foi objeto de especial atenção dos gentios, como eram chamados
genericamente os gregos iniciados no judaísmo (Jo 12.20-35). Estes no templo só
podiam ficar no átrio a eles reservado. Alguns deles, porém, queriam conversar
com Jesus Pediram então a mediação de André e Felipe: “Queremos ver Jesus”. Eram,
na verdade, pessoas que tinham vindo a Jerusalém por ocasião das festas e que
tinham fome do Deus verdadeiro. O Mestre não respondeu diretamente, à solicitação,
mas estabeleceu um princípio que bem contradiz o modo de pensar e de agir do
mundo. Ele, Senhor deste mundo ia ser glorificado, mas a primeira condição, a
fim de O encontrar, seria aceitar e compreender a sua paíxão, morte e elevação
numa cruz como o Salvador enviado do Pai. À primeira vista, a resposta de Jesus
pode parecer enigmática, mas tem uma expressão chave a ser aprofundada: “Chegou
a hora em que o Filho do Homem deve ser glorificado”. Tudo focalizado na “sua”
hora. A hora de Jesus para São João, não era somente um momento principal, a
fase decisiva da redenção da humanidade, a passagem solene que fez Jesus ir até
o Pai em nosso nome, o momento no qual o Filho do Homem devia ser aclamado, mas
isto passando pelo vale tenebroso da morte. Neste texto joanino, portanto, a
hora de Jesus engloba a entrada no sofrimento, toda a sua paixão, toda sua morte
e ressurreição, glorificação junto do Pai e, até mesmo, o dom do Espírito Santo
aos Apóstolos. Deste modo, portanto, se pode entender como foi a resposta de
Jesus aos gregos: “Vós me procurais? Pois bem, sabei, porém, que por vós, os
Gregos, como para os Judeus, eu serei um Messias crucificado”. No dizer de São
Paulo, escândalo para os Judeus, loucura para os pagãos! Conforme seu costume, Jesus
ilustra tudo isto com uma parábola “Se o grãó de trigo lançado na terra não morrer,
fica só, ou seja um simples grão, bem seco, intacto, porém estéril, mas, se
morrer, produz abundante fruto”. Nesta parábola se destaquem dois aspectos. Um
deles mostra que a morte de Jesus seria fecunda e permitiria o acolhimento dos
Gregos juntamente com os Judeus em sua barca salvadora,
numa só comunidade, numa só igreja A outra concerne diretamente aos seus seguidores,
ou seja, quem ama sua vida, quem endeusa sua existência, está prestes a se destruir,
caso venha a desprezar a vida eterna. A postura do cristão neste caso é
decisiva e Jesus dirá claramente que ninguém pode amar a dois senhores. Trata-se
de uma questão de coerência. Não se trata de uma atitude psicológica, masoquista
ou depressiva, mas simplesmente de amar a vida de Deus e de viver aqui na terra
conforme a vontade divina para poder estar eternamente com Ele. O cristão,
testemunha de Jesus, não deve cessar de viver e de construir comunitariamente
com todos os irmãos, e dado que não vive mais para si mesmo, um Outro vive
nele, o qual é, aliás, proprietário de
todas as suas alegrias, de todas as suas forças, de todos os seus desejos e este
Outro é Aquele que morreu na terra como primeiro grão de trigo, aquele que o amou
e se sacrificou por ele. Deste modo, o cristão não deve se prender à própria
vida, não pode se destruir, suicidar-se, matar em si as riquezas da
inteligência ou do coração, da alma e do corpo. Precisa, isso sim, é começar a viver em função
de Jesus, em função unicamente de Deus. Cumpre é entregar, desde agora, sua vida
a Jesus para que ela se torne origem e fruto, após ter se desabrochado numa existência
de serviço aos outros. Tal a orientação Jesus: “Se alguém quer me servir, que
ele me siga e lá onde eu estiver, lá também estará meu servidor”. Tudo confluindo
numa comunidade, cujo destino é Jesus, que amplifica, unifica, vivifica todas
as ações humanas. É que com Jesus é que devemos fazer tudo conforme os desígnios
divinos. Podemos, desta forma, compreender em plenitude o que Cristo afirmou “Eu
quando for levantado da terra, atrairei todos a mim”. Presente na Eucaristia,
Ele vem recebendo através dos séculos as mais sinceras homenagens de milhares
de fiéis, Ele o eterno conviva de Emaus, ao longos dos dias, Ressuscitado, Ele
conduz aqueles que Lhe são leais. Um dia no Cenáculo Ele tomaria o pão e o
consagraria e olhos humanos passariam, pela fé, a crer na sua admirável presença,
chama iluminada na qual nosso coração percebe a verdadeira felicidade. Estrela
da derradeira manhã, despertaria nos corações, através de seu imenso amor, a
grandiosa esperança de seu retorno um dia para julgar os vivos e os mortos. Ele
o Messias vencedor, rei e sumo sacerdote, Deus ressuscitado dos mortos,
possuidor de uma glória eterna, pois o Pai deu-lhe um cetro de força invencível
e Ele domina todas as forças do mal, Ele que é o Senhor repleto de poder e
majestade. * Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.
segunda-feira, 8 de março de 2021
A
CRUZ. SALVADORA
Côn.
JoséGeraldo Vidigal de Carvalho*
No colóquio com Nicodemos Jesus, para explicar o
mistério da Cruz, lembrou um fato marcante do Antigo Testamento, visando fixar
o desvelo misericordioso de Deus para com seu povo. Do mesmo modo que Moisés elevou a serpente no
deserto, assim teria que ser elevado o Filho do homem para que todo que nele
cresse tivesse a vida eterna (Jo 3.14-21).
Uma visão dualista incluindo cenas de abatimento e elevação, morte e
vida, trevas e luz. A recordação da cena do Antigo Testamento, que ostentava os
que sofriam a olhar para uma serpente colocada no alto de um poste sendo salvos
de terrível flagelo, seria então uma imagem esclarecedora do mistério da Cruz
redentora de um Deus sempre rico em misericórdia. Outrora os que eram mordidos
pelas serpentes deveriam levantar os olhos para uma serpente de bronze para logo
serem salvos. Agora, afirma Jesus,
bastaria olhar para a Cruz na qual se operaria a salvação da humanidade ferida
pelo pecado, para que fosse recebida a graça do perdão divino. Ao contrário dos
fariseus, Cristo não proporia uma redenção ao retorno de uma observância escrupulosa
dos preceitos, mas convidaria aos ditosos que cressem nele a acolher gratuitamente
a vida nova que Ele oferecia da parte do Pai. Segundo Jesus, seria pela graça
que os fiéis, de graça, receberiam a vida nova, fruto da fé inabalável nele. Isto seria não pelo poder humano, mas sim um
dom de Deus. Ninguém seria justificado pela prática da lei, mas pela fé no
filho de Deus como bem ensinaria São Paulo (Gl 2,16). A lei mostra a
incapacidade humana em corresponder aos apelos de Deus. Ela em si não permite
realizar o bem ou evitar o mal, pois isto vem da luz e da força do Espírito Santo,
da crença inabalável em Deus, da fé que cura e salva. O cristão iluminado pelas
virtudes teologais tem o coração reforçado
que lhe permite produzir os verdadeiros frutos de justiça e santidade. É
deste modo que o Espírito Santo pode em cada cristão realizar uma obra de
recriação para formar o homem novo à imagem de Cristo Jesus pela Cruz que regenera
e salva. Então as obras do discípulo de Cristo são feitas segundo Deus.
Portanto, quem crê em Jesus não será condenado porque acolheu o Espírito Santo
no batismo, e cuja presença é renovada a cada Comunhão eucarística, a cada Confissão
numa participação renovada na vida divina. Esta vida divina que anima o mais
íntimo do seguidor de Cristo tende então a se manifestar exteriormente,
irradiando em torno do fiel a presença divina. Esta é a dinâmica da salvação na
qual quem age segundo a verdade vem à luz, para que suas obras sejam
reconhecidas como obras de Deus. Eis porque grandes santos fizeram e fazem obras
maravilhosas com toda humildade, porque nunca deixaram de reconhecer que é a
graça divina é que opera maravilhas. O cristão verdadeiro reconhece sempre sua
fraqueza e atesta o que Jesus declararia: “Sem mim nada podeis fazer”.
Incapacidade total de praticar o bem sem o auxílio divino, sempre olhando para
a Cruz redentora, da qual vem a misericórdia celeste, que supera toda miséria
humana É preciso, contudo, saber viver a misericórdia que vem da Cruz
salvadora, reconhecendo a própria fraqueza para poder degustar a força que
jorra da Trindade Santa. Aí está a razão pela qual quem crê no Crucificado tem
a vida eterna (Jo 3,16). Não se trata de uma realidade vinda não se sabe de onde e em que ela
consiste, nem de uma recompensa vindo coroar meros esforços terrenos. Ela não é
eterna porque duraria indefinitivamente, mas é um favor de Deus que ultrapassa
os limites do homem, penetrando, porém, todas as possibilidades de quem vive em
função da potencialidade de uma Cruz que confere vida eterna. O cristão possui
então uma qualidade de vida que supera a realidade da morte, vencido o “último inimigo”
de que fala São Paulo (1Cor 15,26). Vida
eterna que a sombra da morte não pode paralisar nem inquietar. Jesus, porém, daria
a vida eterna e quem vive e crê nele não morreria jamais (Jo 11,26). Nascer e
receber a vida eterna é uma graça do amor de Jesus crucificado. A misericórdia
e a dileção divinas são ofertas da bondade infinita de Deus, o qual quer que
tenhamos a vida e a tenhamos em abundância (Jo 10,10). Deste modo, a fé conduz
a nossa trajetória humana a uma vida eterna. São João nos lembra:” Nisto consiste
o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos amou e nos enviou
o seu Filho em expiação dos nossos pecados” (1Jo 4,10). Este perdão consiste na
libertação da morte que pairou sobre a humanidade e a paralisou. Da cruz de
Cristo, porém, jorrou a libertação do ser humano. É preciso saber encontrar
nela a total libertação. * Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos.