O ENCONTRO COM DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Um tema recorrente na
liturgia, sobretudo com a aproximação do Advento, é a vigilância na preparação
do encontro com Deus, após a trajetória de cada um neste mundo. A parábola das
virgens estultas e das virgens prudentes ilustra bem a reflexão sobre questão
tão importante na existência do cristão (Mt 25,1-13). Trata-se da atenção ativa
no que tange o momento no qual estará decidido o destino de cada um por toda a
eternidade. As virgens imprevidentes não puderam entrar para a festividade do
banquete nupcial. Claro o conselho de São Paulo na Carta aos Tessalonicenses
para que todos sejam sóbrios, revestidos como de couraça, da fé e da caridade,
tendo por elmo a esperança da salvação (1Tes 5,8). O que importa não é saber a
hora em que o Senhor virá, mas se cada um estará ou não apto a acolhê-lo. Jesus inculca a seus seguidores uma
vigilância inteligente e confiante, atitude bem diferente da que tiveram as
virgens descuidadas da parábola narrada pelo Filho de Deus. O amor com que se
deve aguardar o encontro derradeiro com o divino Salvador aparta qualquer
inquietação, mas também impede todo descuido que impede a entrada um dia no banquete que Ele preparou para os
que lhe forem fiéis nesta terra. Daí a necessidade de direcionar bem a
liberdade e de agir com responsabilidade como quem espera confiante a chegada
do grande Rei. Trata-se de fazer
frutificar os dons que Deus concedeu a cada um. Então, amorosamente, o cristão
pratica todas as virtudes por que deseja estar para sempre junto a seu Senhor.
O tempo de vida que Deus concede a cada um é o precioso dom que Ele concede
nesta preparação para o encontro definitivo com Ele. O que não se deve olvidar
é a importância decisiva do instante da morte. Esta é, por assim dizer, o
resultado, a súmula de todas as horas até então vividas nesta terra praticando o bem. Cada ato de fé,
de esperança e de amor a Deus e ao próximo, cada esforço para fazer
ininterruptamente a vontade divina fulgirão naquele momento final para
felicidade de quem foi virtuoso. Para os
bons a morte firmará a relação filial com o Ser Supremo, garantindo-lhe a
salvação eterna. Feliz aquele cuja vida tiver sido uma procura continua para
conhecer e amar a Deus, pois se estará para sempre com Ele. Felizes na hora
derradeira os que tiveram total gratuidade para com o grande Rei que os
receberá para o festim dos eleitos. É de bom alvitre observar ainda que a
Parábola das dez Virgens se desenrola em dois tempos: inicialmente na primeira
parte da noite e daí as lâmpadas para aguardar o esposo e, depois, sua chegada.
O esposo representa Deus. A lâmpada
significa a fé. O óleo simboliza a confiança. De plano, as dez jovens estavam
tranquilas, confiantes. Suas lâmpadas iluminavam. Elas puderam até adormecer. Tudo estava sereno. Eis, porém, que chega o esposo, mas o óleo
havia acabado, bem simbolizando a fé que pode se extinguir. Entretanto, cinco
foram cautelosas e trouxeram suplemento deste óleo consigo, mas cinco tiveram
que ir comprar aquele combustível e ao voltarem encontraram porta fechada. Daí
a grande lição dada por Jesus: “a Vigiai porque não sabeis nem o dia nem a
hora”. Por vezes, o desânimo se torna
insuportável, incompreensível, multiplicam- se as ilusões, os momentos de angústia,
o abandono, o vazio, o temor! Não se pode ficar jamais sem o óleo da esperança
para si e para os outros. Os insensatos
não terão outra chance, adverte Jesus, mostrando que se deve estar sempre
prevenido. Cumpre ter sem cessar uma fé atuante alimentada pelo desejo da vida
eterna e pelas preces contínuas. A
condição para poder participar das delícias eternas é não deixar adormecer as
verdades perenes, pois, elas conduzem à liberdade, deixando sempre Deus agir em
tudo. Cumpre,continuamente, repetir com
o salmista: “Pronto está o meu coração, ó meu Deus, quero entoar e cantar louvores.
[...] Despertai harpa e cítara! Quero acordar a aurora, quero louvar-vos
sempre, ó Senhor! (Sl 56,8-9). Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.
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