segunda-feira, 30 de novembro de 2020

 

01 JESUS BATIZOU COM O ESPÍRITO SANTO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

São João Batista aconselhou claramente aos que o escutavam que preparassem o caminho do Senhor, mesmo porque Jesus batizaria com o Espírito Santo (Mc 1,1-8). Eis porque a fé e a esperança, intimamente conjugadas, imergiriam o cristão em realidades sublimes. A fé sempre alimentada na vivência da obra salvadora de Deus e a esperança colocando o batizado no limite da realização das promessas feitas por Deus que se cumprirão após a trajetória de cada um neste mundo. É quando se dará o acabamento dos esforços na luta pela justiça, pela paz e pela verdade pregadas pelo Filho de Deus. É nesta plenitude do amor de Deus que passaria a viver quem fosse batizado no Espírito Santo. Tal foi o importante ministério do Batista, dado que Jesus lançaria neste mundo   o germe do Reino de Deus do qual participaria quem bem se preparasse para cumprir os compromissos batismais. A presença de Deus e sua obra salvadora no coração de cada fiel, com a força de notáveis virtudes, constituiriam assim a realidade dessas promessas que terão seu acabamento após esta vida terrena. Eis aí o cerne glorioso da esperança cristã que se apoia na certeza da fidelidade divina que paira acima das realidades terrenas. A primeira etapa da realização das referidas promessas se dá pela presença de Deus no coração de quem crê e esta presença é o motor do agir do cristão na própria vida e na sua atuação junto dos outros, constituindo isto a essência da história do cristianismo. Deste modo, o batizado vive no presente, mas voltado para o futuro, porque acredita em tudo que o Redentor prometeu. Quem crê, acolhe então o Natal dentro de si mesmo através de uma vida de penitência e arrependimento das próprias faltas, como ensinou João Batista. Ele era a voz que pregava no deserto bem o símbolo de tantas situações que viveriam os batizados uma vez que é no deserto, isto é, no silêncio interior, que ressoará sempre este seu apelo: “Preparai o caminho do Senhor”. Eis aí a Boa Nova de Jesus Cristo, o Filho de Deus que São Marcos desenvolverá no seu livro, cuja introdução contém tão ricos ensinamentos Não se trata de uma mera filosofia ou de um determinado programa, mas de um ensinamento profundo que verdadeiramente clareia e salva. Trata-se do contato amoroso não com um personagem qualquer, mas com Jesus Cristo e as outras Pessoas da Santíssima Trindade. Assim surge um Rei envolto não em esplendores terrenos, mas alguém que só será reconhecido por aquele que estiver revestido da humildade, longe de toda soberba interior, apartado de qualquer vaidade exterior. Para que tudo isto se concretize nas vicissitudes da existência de quem foi batizado no Espírito Santo é preciso, além da comunhão eucarística, o alimento da Palavra revelada, adaptando-se à mesma as atividades cotidianas, buscando resultados espirituais que fortificam a união com Deus, levando à prática de sua vontade santíssima. Trata-se da adoração ao Senhor de tudo em espírito e verdade Eis porque é preciso a tranquilidade interior para que as luzes divinas envolvam o cristão a fim de que ele reflita e assimile os recados vindo da Trindade Santa que habita no fundo do coração de quem se acha em estado de graça. Então há condições para sejam feitos pedidos afim de solucionar tudo aquilo que é contrário aos desígnios divinos. Os obstáculos ao crescimento espiritual são afastados. Deus abomina expressões vazias e falsas promessas. O verdadeiro cristão deve primar no cumprimento do dever cotidiano, afastando tudo que contradiga qualquer um dos preceitos do Decálogo. É preciso que Deus, realmente, ocupe toda a vida do batizado que se submete inteiramente a Ele. Isto no desapego dos bens temporais e rejeitando corajosamente as vantagens obtidas com fraudes, tendo em mira as mansões eternas e infindas nos céus.  Certo de que a glória presente é passageira, ilusória e vã, quando endeusada longe da eternidade celeste, obediente aos preceitos do Senhor, quem foi batizado no Espírito Santo deseja continuamente em tudo a riqueza, mas lá na pátria verdadeira onde os ladrões não arrombam nem furtam, nem se desfazem estes bens pela ferrugem ou pela traça. É para lá que deve tender o cristão com desejos ardentes e amor profundo, muitas vezes, se voltando para destino tão maravilhoso. Cumpre refletir sobre tudo isto na caminhada de preparação até o Presépio. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Estai atentos! Vigiai e orai!

 

ESTAI ATENTOS! VIGIAI E ORAI.

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Com o Advento um novo ano litúrgico começa e a Igreja convida a todos os fiéis a bem se prepararem para a solenidade do Natal. Nesta época na qual reina no atual contexto social, nas instituições e até nas famílias e comunidades católicas o temor, a apreensão ocasionada pela pandemia e outros males, viver profundamente a alegria pela comemoração da vinda do Filho de Deus a esta terra, é renovar a fé, indo ao encontro de uma nova esperança. Esta esperança tem um nome sublime: Jesus. Ele fará cada um caminhar sem desfalecimentos no seu aprimoramento pessoal, contribuindo a fim de que o mundo seja melhor para todos. Enorme responsabilidade, porque Deus vem com graças especiais ao encontro dos que se imergirem na mística cristã deste período litúrgico e daí o alerta: “Estai atentos! Vigiai e orai”.  É que as inspirações divinas deverão ser captadas e a vigilância é imprescindível, vivida, porém, numa união ainda mais profunda com este Deus que se fez homem e habitou entre nós. Isto para a todos chamar afim de participarem da natureza divina. Donde ser necessária total disponibilidade para corresponder a tão maravilhosa vocação. Vigilância para que os corações não endureçam, não estejam inertes, mas aptos a cor. responderem aos chamados divinos. Trata-se de percorrer com mais fervor o caminho da santidade através dos sofrimentos de cada hora, do trabalho humilde e da prece constante. O Advento leva assim o cristão a um reencontro especial com seu Senhor no coração mesmo de sua história pessoal. Estar de sobreaviso para que cada um possa passar frutuosamente estes dias abençoados do Advento, como insistia São Paulo: na sobriedade, revestidos da couraça da fé e da caridade, do capacete da esperança da salvação que Jesus veio trazer para os que O receberem com amor. As forças humanas, as intelectuais como as biológicas, são sempre insuficientes, donde a precisão da energia divina que cumpre seja pedida com persistência. À impotência humana vem o poder do Todo-poderoso Senhor que deve ser confiadamente aguardado. A oração confirma a insignificância do ser humano e robustece, porém, sua fé. As calamidades dos fenômenos da natureza exigem, mais do que nunca atenção e oração. Jesus veio, vem e virá são as três certezas que o tempo do Advento nos recordará. Ele veio, porque desceu do céu e se encarnou no seio da Virgem Maria, abolindo maravilhosamente toda distância entre o Criador e suas criaturas, lançando seus apelos no interior de cada um que procurar seguir seus caminhos, ajustando-se à Sua vontade longe da borrasca do pecado; Trata-se do dinamismo divino que varre para longe as misérias e fraquezas humanas. Ele veio e vem até os corações de boa vontade, oferecendo sua amizade, seu corpo e sangue, todas as riquezas celestiais. Faz conhecer os dons divinos, as delicadezas de seu amor redentor que transfiguram o coração humano. Tudo isto se dá na medida em que cada um vive coerentemente tudo que Ele veio ensinar para conseguir a vida eterna.   Ele veio na humildade, vem na intimidade de cada coração e virá um dia na sua glória. Esta glória outra coisa não é senão sua união com o Pai, a densidade da vida e da felicidade que Ele oferece como Segunda Pessoa da Trindade Santa.   Vivendo santamente o Advento, virá o grande dia prometido por ]esus que é fiel com quem lhe foi fiel nesta terra  e o verá face a face. Daí a importância da vigilância e da oração.tão insistidas por Jesus. Ele deseja que estejamos alertas. Eis aí disposição essencial do verdadeiro cristão que compreende o significado do Advento, que entende o que quer dizer verdadeiramente estar atento. Não estar a dormir, nem estar adormecido, mas cauteloso, consciente do bom aproveitamento deste tempo de graças especiais, voltado unicamente para Deus e não para as futilidades terrenas.  Longe, portanto, das preocupações mundanas, de sonhos mirabolantes, da dispersão, de uma passividade deletéria. Que se afastem as inquietações, as preocupações estéreis, as obsessões malignas. O amor de Deus deve mais do que numa reinar, porque Jesus que chega é salvador amoroso que quer recompensar e não punir.  Velar é se voltar inteiramente para Deus, desejando ardentemente sua manifestação   amorosa, pois Ele é o salvador misericordioso. Daí a prática cuidadosa de toda justiça com alegria, seguindo mais perfeitamente os caminhos do Senhor que vem. É preciso sentir a ausência daquele que ansiosamente se espera. Trata-se da sede espiritual de quem crê e aguarda o grande Rei * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

 

CRISTO, REI DO UNIVERSO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Ecoam neste domingo especiais louvores a Cristo Rei do Universo. Como lemos no Evangelho de São Mateus, o Filho do homem voltará a esta terra em sua gloria para o juízo universal (Mt 25,31-40) Dada a impetuosidade das forças do mal, sobretudo no atual contexto histórico, nada mais necessário do que meditar sobre esta intervenção do poder do Redentor da humanidade. De uma maneira ainda mais cruel, seres humanos são massacrados, as inteligências são asfixiadas com os erros mais absurdos e a mentira campeia através dos meios de comunicação social e. até. se popularizou a expressão “fake news” – notícias falsas. Nada, portanto, mais necessário do que implorar a vinda do Senhor do céu e da terra para dar rumos mais justos por entre tantas calamidades, para que a justiça reine por toda parte. Cumpre, entretanto, que cada um se examine até onde é culpado nestes transtornos atuais. A certeza, porém, de que todos e tudo que praticaram, um dia, serão submetidos ao julgamento de Deus, é um poderoso alerta. Cristo, o Crucificado que ressuscitou imortal e impassível, no juízo final, separará os bons e os maus. A vitória será daquele amor que raiou no alto de uma cruz, fato glorioso bem assim sintetizado por São Paulo: "Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna." (Jo 3,16). No decorrer da história há os que trilham o caminho do bem, ou seja, os que seguem os preceitos estabelecidos pelo Criador, e aqueles que aderem àquilo que a esta vontade divina se opõe. A liberdade de cada um é sempre respeitada pelo Senhor de tudo. São, contudo, duas sendas opostas. No dia a dia do ser humano nesta terra muitas vezes se percebe que a fronteira do bem e do mal passa dentro de si, tanto que a própria Bíblia afirma que o coração do homem é duplo. Segundo São Tiago, “aquele que hesita é semelhante à uma onda do mar, batida pelo vento. Portanto, não pense tal homem que receberá do Senhor coisa alguma, irresoluto como é e volúvel em todo o seu operar” (Tg 1,8). Na hora da morte, contudo, o proceder de cada um estará definido pois ou foi inteiramente bom ou completamente mau. Por isto, no julgamento final haverá apenas duas categorias, pois os bons receberão as promessas do Reino e os outros o fogo eterno. A responsabilidade pessoal fica definida ao se deixar este mundo. A Bíblia emprega uma linguagem concreta e fala do fogo eterno “preparado para o demônio e seus anjos”. Mensagem direta que deve ser bem assimilada por aquele que crê na vida eterna, pois o julgamento divino será com relação ao bem ou ao mal que se praticou. O juízo será sobre os atos e não é meramente conceptual, pois o Evangelho de hoje focaliza como se agiu diante dos pequenos, dos fracos, dos famintos, dos sedentos, dos sofredores em geral, com os quais Jesus se identificou. O que cada um fez ao menor dos irmãos é a Cristo que foi feito. Quem socorreu o próximo não por uma generosidade interesseira, mas gratuitamente, por verdadeira caridade, receberá o faustoso convite: “Vinde benditos de meu Pai, recebei em herança o Reino preparado para vós desde a criação do mundo”. O mesmo não ocorrerá com quem não teve compaixão para com os outros. Desde modo, a solenidade de Cristo Rei deve levar a todos os seus súditos a uma revisão do modo como tem tratado seu semelhante, dado que se trata de uma recompensa ou de uma condenação por toda a eternidade. Na sua primeira Carta São João deixou esta séria advertência: “Não amemos por palavras nem com a língua, mas por obras e em verdade. Por este sinal saberemos que somos da verdade” (1Jn 3,1). Cristo Rei é, como foi dito, a revelação do Deus de amor, aquele que mostrou que o verdadeiro amor está em Deus. Entrarão em seu reino apenas aqueles que viveram em função desta dileção concretizada em atos que ampararam nesta terra os mais necessitados. Diante de seu tribunal seremos examinados sobre como amamos os indigentes, vendo neles sua figura salvadora. Todo serviço ao próximo que teve a marca da caridade foi passaporte para o céu. Deixemo-nos então penetrar pelo poder de Cristo Rei, tão próximo de nós em nossos irmãos e estaremos conscientes de nossa responsabilidade nesta nossa trajetória terrena. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

                                                                                

 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

 

O ENCONTRO COM DEUS

                                              Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

 Um tema recorrente na liturgia, sobretudo com a aproximação do Advento, é a vigilância na preparação do encontro com Deus, após a trajetória de cada um neste mundo. A parábola das virgens estultas e das virgens prudentes ilustra bem a reflexão sobre questão tão importante na existência do cristão (Mt 25,1-13). Trata-se da atenção ativa no que tange o momento no qual estará decidido o destino de cada um por toda a eternidade. As virgens imprevidentes não puderam entrar para a festividade do banquete nupcial. Claro o conselho de São Paulo na Carta aos Tessalonicenses para que todos sejam sóbrios, revestidos como de couraça, da fé e da caridade, tendo por elmo a esperança da salvação (1Tes 5,8). O que importa não é saber a hora em que o Senhor virá, mas se cada um estará ou não apto a acolhê-lo.  Jesus inculca a seus seguidores uma vigilância inteligente e confiante, atitude bem diferente da que tiveram as virgens descuidadas da parábola narrada pelo Filho de Deus. O amor com que se deve aguardar o encontro derradeiro com o divino Salvador aparta qualquer inquietação, mas também impede todo descuido que impede a entrada  um dia no banquete que Ele preparou para os que lhe forem fiéis nesta terra. Daí a necessidade de direcionar bem a liberdade e de agir com responsabilidade como quem espera confiante a chegada do grande Rei.   Trata-se de fazer frutificar os dons que Deus concedeu a cada um. Então, amorosamente, o cristão pratica todas as virtudes por que deseja estar para sempre junto a seu Senhor. O tempo de vida que Deus concede a cada um é o precioso dom que Ele concede nesta preparação para o encontro definitivo com Ele. O que não se deve olvidar é a importância decisiva do instante da morte. Esta é, por assim dizer, o resultado, a súmula de todas as horas até então vividas  nesta terra praticando o bem. Cada ato de fé, de esperança e de amor a Deus e ao próximo, cada esforço para fazer ininterruptamente a vontade divina fulgirão naquele momento final para felicidade de quem foi virtuoso.  Para os bons a morte firmará a relação filial com o Ser Supremo, garantindo-lhe a salvação eterna. Feliz aquele cuja vida tiver sido uma procura continua para conhecer e amar a Deus, pois se estará para sempre com Ele. Felizes na hora derradeira os que tiveram total gratuidade para com o grande Rei que os receberá para o festim dos eleitos. É de bom alvitre observar ainda que a Parábola das dez Virgens se desenrola em dois tempos: inicialmente na primeira parte da noite e daí as lâmpadas para aguardar o esposo e, depois, sua chegada. O esposo representa Deus.  A lâmpada significa a fé. O óleo simboliza a confiança. De plano, as dez jovens estavam tranquilas, confiantes. Suas lâmpadas iluminavam. Elas puderam até adormecer.  Tudo estava sereno.  Eis, porém, que chega o esposo, mas o óleo havia acabado, bem simbolizando a fé que pode se extinguir. Entretanto, cinco foram cautelosas e trouxeram suplemento deste óleo consigo, mas cinco tiveram que ir comprar aquele combustível e ao voltarem encontraram porta fechada. Daí a grande lição dada por Jesus: “a Vigiai porque não sabeis nem o dia nem a hora”.  Por vezes, o desânimo se torna insuportável, incompreensível, multiplicam- se as ilusões, os momentos de angústia, o abandono, o vazio, o temor! Não se pode ficar jamais sem o óleo da esperança para si e para os outros.  Os insensatos não terão outra chance, adverte Jesus, mostrando que se deve estar sempre prevenido. Cumpre ter sem cessar uma fé atuante alimentada pelo desejo da vida eterna e pelas preces contínuas.  A condição para poder participar das delícias eternas é não deixar adormecer as verdades perenes, pois, elas conduzem à liberdade, deixando sempre Deus agir em tudo.   Cumpre,continuamente, repetir com o salmista: “Pronto está o meu coração, ó meu Deus, quero entoar e cantar louvores. [...] Despertai harpa e cítara! Quero acordar a aurora, quero louvar-vos sempre, ó Senhor! (Sl 56,8-9). Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.