01 JESUS BATIZOU COM O ESPÍRITO SANTO
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho
São João Batista aconselhou claramente
aos que o escutavam que preparassem o caminho do Senhor, mesmo porque Jesus
batizaria com o Espírito Santo (Mc 1,1-8). Eis porque a fé e a esperança,
intimamente conjugadas, imergiriam o cristão em realidades sublimes. A fé sempre
alimentada na vivência da obra salvadora de Deus e a esperança colocando o batizado
no limite da realização das promessas feitas por Deus que se cumprirão após a
trajetória de cada um neste mundo. É quando se dará o acabamento dos esforços
na luta pela justiça, pela paz e pela verdade pregadas pelo Filho de Deus. É
nesta plenitude do amor de Deus que passaria a viver quem fosse batizado no Espírito
Santo. Tal foi o importante ministério do Batista, dado que Jesus lançaria
neste mundo o germe do Reino de Deus do
qual participaria quem bem se preparasse para cumprir os compromissos batismais.
A presença de Deus e sua obra salvadora no coração de cada fiel, com a força de
notáveis virtudes, constituiriam assim a realidade dessas promessas que terão
seu acabamento após esta vida terrena. Eis aí o cerne glorioso da esperança
cristã que se apoia na certeza da fidelidade divina que paira acima das realidades
terrenas. A primeira etapa da realização das referidas promessas se dá pela
presença de Deus no coração de quem crê e esta presença é o motor do agir do
cristão na própria vida e na sua atuação junto dos outros, constituindo isto a
essência da história do cristianismo. Deste modo, o batizado vive no presente,
mas voltado para o futuro, porque acredita em tudo que o Redentor prometeu. Quem
crê, acolhe então o Natal dentro de si mesmo através de uma vida de penitência
e arrependimento das próprias faltas, como ensinou João Batista. Ele era a voz
que pregava no deserto bem o símbolo de tantas situações que viveriam os
batizados uma vez que é no deserto, isto é, no silêncio interior, que ressoará
sempre este seu apelo: “Preparai o caminho do Senhor”. Eis aí a Boa Nova de
Jesus Cristo, o Filho de Deus que São Marcos desenvolverá no seu livro, cuja
introdução contém tão ricos ensinamentos Não se trata de uma mera filosofia ou de
um determinado programa, mas de um ensinamento profundo que verdadeiramente clareia
e salva. Trata-se do contato amoroso não com um personagem qualquer, mas com
Jesus Cristo e as outras Pessoas da Santíssima Trindade. Assim surge um Rei
envolto não em esplendores terrenos, mas alguém que só será reconhecido por
aquele que estiver revestido da humildade, longe de toda soberba interior, apartado
de qualquer vaidade exterior. Para que tudo isto se concretize nas vicissitudes
da existência de quem foi batizado no Espírito Santo é preciso, além da
comunhão eucarística, o alimento da Palavra revelada, adaptando-se à mesma as
atividades cotidianas, buscando resultados espirituais que fortificam a união
com Deus, levando à prática de sua vontade santíssima. Trata-se da adoração ao
Senhor de tudo em espírito e verdade Eis porque é preciso a tranquilidade
interior para que as luzes divinas envolvam o cristão a fim de que ele reflita
e assimile os recados vindo da Trindade Santa que habita no fundo do coração de
quem se acha em estado de graça. Então há condições para sejam feitos pedidos afim
de solucionar tudo aquilo que é contrário aos desígnios divinos. Os obstáculos
ao crescimento espiritual são afastados. Deus abomina expressões vazias e falsas
promessas. O verdadeiro cristão deve primar no cumprimento do dever cotidiano,
afastando tudo que contradiga qualquer um dos preceitos do Decálogo. É preciso
que Deus, realmente, ocupe toda a vida do batizado que se submete inteiramente
a Ele. Isto no desapego dos bens temporais e rejeitando corajosamente as
vantagens obtidas com fraudes, tendo em mira as mansões eternas e infindas nos
céus. Certo de que a glória presente é
passageira, ilusória e vã, quando endeusada longe da eternidade celeste, obediente
aos preceitos do Senhor, quem foi batizado no Espírito Santo deseja continuamente
em tudo a riqueza, mas lá na pátria verdadeira onde os ladrões não arrombam nem furtam,
nem se desfazem estes bens pela ferrugem ou pela traça. É para lá que deve
tender o
cristão com desejos ardentes e amor profundo, muitas vezes, se voltando para
destino tão maravilhoso. Cumpre refletir sobre tudo isto na caminhada de preparação
até o Presépio. * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.