segunda-feira, 19 de outubro de 2020

 

O MAIOR MANDAMENTO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Qual é o maior mandamento da lei foi a questão que, no templo de Jerusalém, apresentaram a Jesus os fariseus (Mt 22.24-40). O Mestre divino foi interrogado na qualidade de Rabi, ou seja, como alguém cuja autoridade se queria averiguar. Ele ofereceu a seus interlocutores uma resposta completa, mostrando que o amor a Deus era o primeiro e o maior mandamento, mas acrescentou que o segundo é semelhante a este, isto é, amar o próximo como a si mesmo. No judaísmo este tema se revestia de uma particular importância, dada a multiplicidade de preceitos da lei. Contavam-se 613, repartidos em 365 proibições e 248 preceitos. Daí a necessidade de separar o essencial do acessório, atingindo o principal mandamento. Ninguém melhor do que Jesus para condensar de uma maneira perfeita toda a fé de Israel, conjugando o amor de Deus e a dileção fraterna Aquele que era a Verdade enunciou um princípio espiritual de ação, uma atitude que deveria ajudar cada um a caminhar na verdadeira via em qualquer situação. Jesus mostrou que o amor em sua plenitude deve abarcar o Criador e todas as suas criaturas. Seguir Jesus Cristo implica uma dupla e radical abertura a Deus, o Pai, e aos irmãos. A resposta dada por Jesus traça uma cruz com uma haste vertical voltada para o céu, o amor do Pai, outra horizontal, o amor ao próximo. Estava claro no Livro do Deuteronômio (6,5): Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito”, mas também estava preceituado no Levítico (19,18):” Tu amarás teu próximo como a ti mesmo” A originalidade de Cristo é que Ele colocou estes dois mandamentos no mesmo plano. Não há dois amores, mas apenas um. A atitude que se tem para com o próximo indica a postura que se tem para com Deus. É deste modo que devia ser todo o passado de Israel, a Lei e os profetas. A Nova Aliança não teria outra exigência senão viver o amor manifestado em Jesus e por Jesus. O evangelista São Mateus frisa claramente que o apelo ao amor é o coração da nova aliança realizada no Filho de Deus Na trajetória do cristão a observância dos mandamentos o deve colocar na rota sagrada deste amor pregado por Jesus. Ser agradável a Deus é observar sua vontade santíssima atendendo sempre a ordem de Cristo de amar o Criador e todos os seres racionais que Ele criou. Deste modo, o apelo à dileção divina e humana não se torna algo vago, indeterminado. Jesus se apresenta a seus seguidores como aqueles que têm fome, que choram, que padecem injustiça e tudo mais que Ele detalhou ao falar do juízo universal (25, 31-46). São João asseverou que se alguém diz que ama a Deus, mas odeia a seu irmão é mentiroso Pois, quem não ama a seu irmão que vê, não pode amar a Deus que não viu (1 Jo 4,20); O próximo é todo aquele que tem necessidade do outro como Jesus deixou claro na parábola do Bom Samaritano. É aquele que  cruza nosso caminho regularmente ou ocasionalmente. Ele não pede senão um pouco de atenção, de ajuda, de reconforto, de justiça, de amor e isto sem exigir nenhum retorno. O próximo é Deus que todos os dias se apresenta sob uma aparência humana. Jesus ligou o amor ao próximo e o amor a Deus, colocando o amor a Deus em primeiro lugar, porque o segundo mandamento é semelhante ao primeiro e não o inverso. Entretanto, este termo semelhante atrai nossa atenção e estabelece uma relação estreita entre os dois aspectos do grande mandamento.  Relação estreita que não pode ser comentada de maneira simplista por declarações categóricas como: “Não há amor de Deus senão no amor ao próximo”. Não se trata de equivalência, mas da maneira de agir da consciência cristã que, a cada passo, manifesta sua dileção a seu Senhor e aos irmãos, sem privilegiar uma ou outra atitude. Os dois mandamentos são semelhantes, ou seja, amar a Deus, o Criador e Redentor do homem, e amor ao ser humano, imagem e similaridade de Deus. São João assim se expressou: “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama é gerado por Deus e conhece a Deus quem não ama não aprendeu a conhecer a Deus, porque Deus é amor ( 1 Jo 4,7). Na prática, porém, distinguimos entre um ato que manifesta nosso amor a Deus e outro que manifesta nossa dileção ao próximo. Em síntese, o certo é que a doutrina de Cristo mostra a seus discípulos o caminho maravilhoso do amor. O autêntico cristão é aquele que sabe amar de maneira incondicional, que acolhe nele a unção magnífica do amor paternal de Deus, origem e termo de toda dileção, e, assim, ama ternamente também o seu semelhante. Trata-se do dom de si mesmo a Deus e do maravilhoso acolhimento aos outros em todas as circunstâncias. “Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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