O MAIOR
MANDAMENTO
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Qual é o maior mandamento da
lei foi a questão que, no templo de Jerusalém, apresentaram a Jesus os fariseus
(Mt 22.24-40). O Mestre divino foi interrogado na qualidade de Rabi, ou seja,
como alguém cuja autoridade se queria averiguar. Ele ofereceu a seus
interlocutores uma resposta completa, mostrando que o amor a Deus era o
primeiro e o maior mandamento, mas acrescentou que o segundo é semelhante a
este, isto é, amar o próximo como a si mesmo. No judaísmo este tema se revestia
de uma particular importância, dada a multiplicidade de preceitos da lei.
Contavam-se 613, repartidos em 365 proibições e 248 preceitos. Daí a
necessidade de separar o essencial do acessório, atingindo o principal mandamento.
Ninguém melhor do que Jesus para condensar de uma maneira perfeita toda a fé de
Israel, conjugando o amor de Deus e a dileção fraterna Aquele que era a Verdade
enunciou um princípio espiritual de ação, uma atitude que deveria ajudar cada
um a caminhar na verdadeira via em qualquer situação. Jesus mostrou que o amor
em sua plenitude deve abarcar o Criador e todas as suas criaturas. Seguir Jesus
Cristo implica uma dupla e radical abertura a Deus, o Pai, e aos irmãos. A
resposta dada por Jesus traça uma cruz com uma haste vertical voltada para o
céu, o amor do Pai, outra horizontal, o amor ao próximo. Estava
claro no Livro do Deuteronômio (6,5): Amarás o Senhor teu Deus de todo teu
coração, de toda tua alma e de todo teu espírito”, mas também estava
preceituado no Levítico (19,18):” Tu amarás teu próximo como a ti mesmo” A originalidade
de Cristo é que Ele colocou estes dois mandamentos no mesmo plano. Não há dois
amores, mas apenas um. A atitude que se tem para com o próximo indica a postura
que se tem para com Deus. É deste modo que devia
ser todo o passado de Israel, a Lei e os profetas. A Nova Aliança não teria outra exigência
senão viver o amor manifestado em Jesus e por Jesus. O evangelista São Mateus
frisa claramente que o apelo ao amor é o coração da nova aliança realizada no
Filho de Deus Na trajetória do cristão a observância dos mandamentos o deve colocar
na rota sagrada deste amor pregado por Jesus. Ser agradável a Deus é observar
sua vontade santíssima atendendo sempre a ordem de Cristo de amar o Criador e
todos os seres racionais que Ele criou. Deste modo, o apelo à dileção divina e
humana não se torna algo vago, indeterminado. Jesus se apresenta a seus seguidores
como aqueles que têm fome, que choram, que padecem injustiça e tudo mais que
Ele detalhou ao falar do juízo universal (25, 31-46). São João asseverou que se
alguém diz que ama a Deus, mas odeia a seu irmão é mentiroso Pois, quem não ama
a seu irmão que vê, não pode amar a Deus que não viu (1 Jo 4,20); O próximo é
todo aquele que tem necessidade do outro como Jesus deixou claro na parábola do
Bom Samaritano. É aquele que cruza nosso
caminho regularmente ou ocasionalmente. Ele não pede senão um pouco de atenção,
de ajuda, de reconforto, de justiça, de amor e isto sem exigir nenhum retorno.
O próximo é Deus que todos os dias se apresenta sob uma aparência humana. Jesus
ligou o amor ao próximo e o amor a Deus, colocando o amor a Deus em primeiro
lugar, porque o segundo mandamento é semelhante ao primeiro e não o inverso.
Entretanto, este termo semelhante atrai
nossa atenção e estabelece uma relação estreita entre os dois aspectos do
grande mandamento. Relação estreita que
não pode ser comentada de maneira simplista por declarações categóricas como:
“Não há amor de Deus senão no amor ao próximo”. Não se trata de equivalência,
mas da maneira de agir da consciência cristã que, a cada passo, manifesta sua
dileção a seu Senhor e aos irmãos, sem privilegiar uma ou outra atitude. Os
dois mandamentos são semelhantes, ou seja, amar a Deus, o Criador e Redentor do
homem, e amor ao ser humano, imagem e similaridade de Deus. São João assim se
expressou: “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e
todo aquele que ama é gerado por Deus e conhece a Deus quem não ama não aprendeu
a conhecer a Deus, porque Deus é amor ( 1 Jo 4,7). Na prática, porém, distinguimos entre um ato
que manifesta nosso amor a Deus e outro que manifesta nossa dileção ao próximo.
Em síntese, o certo é que a doutrina de Cristo mostra a seus discípulos o
caminho maravilhoso do amor. O autêntico cristão é aquele que sabe amar de maneira
incondicional, que acolhe nele a unção magnífica do amor paternal de Deus, origem
e termo de toda dileção, e, assim, ama ternamente também o seu semelhante.
Trata-se do dom de si mesmo a Deus e do maravilhoso acolhimento aos outros em
todas as circunstâncias. “Professor no Seminário de
Mariana durante 40 anos.
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