terça-feira, 13 de outubro de 2020

 

01 A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR E A DEUS O QUE É DE DEUS.

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Este precioso ensinamento de Jesus se tornou um lema para seus seguidores (Mt 22,15-21). Entretanto, nem sempre se penetra fundo no seu significado. Esta fórmula não visa, de plano, determinar uma linha de demarcação entre o temporal e o espiritual e, menos ainda, justificar os que querem restringir o aspecto religioso à estrita esfera da vida privada. É preciso analisar o contexto no qual  Jesus a proferiu. Ele percebera bem as más intenções de seus interlocutores, os quais não procuravam uma solução para uma questão que os preocupava e, menos ainda, estavam em busca da verdade. Eles tentavam armar uma cilada da qual Jesus não pudesse escapar. Uma resposta afirmativa tê-lo-ia tornado mal visto pelo povo que o julgaria partidário do opressor  estrangeiro; se negativa  tê-lo- ia  feito  passar por rebelde  e agitador contra a autoridade do César romano. Fulgiu, porém, a sabedoria do Mestre divino que lhes pede uma peça da moeda do tributo. A moeda era o sinal por excelência da autoridade, pois cunhar a moeda era um direito do poder político. Os fariseus aceitavam a moeda romana, pois eles a tinham consigo e a mostraram a Jesus.  Viviam, portanto, dentro do jogo econômico dirigido pelo ocupante, aceitando assim sua soberania inclusive o imposto por ele estabelecido. Jesus patenteia então a incoerência de seus interlocutores. Que então dessem a Cesar o que era de César e a Deus o que era de Deus. Jesus, porém, se serviu daquele episódio para ministrar uma lição espiritual profunda, abrindo o espírito deles ao que estava na Bíblia. Foi por isto que Ele perguntou de quem era a efigie que estava na moeda. Era a imagem da autoridade suprema do Império romano que tinha sobre os judeus um evidente poder político. Entretanto, focalizando este aspecto da imagem, Cristo queria que se pensassse em uma outra imagem. Quem trazia a moeda com a imagem de César que lhe desse o que lhe era devido. No entanto, aqueles que acreditavam em Deus trazem em si a imagem de Deus e a Deus cumpre Lhe dar o que Lhe é devido. Nas primeiraspáginas da Bíblia, lemos que Deus disse: “Façamos o homem a nossa imagem e semelhança” [...] “Deus criou o homem a sua imagem, a imagem de Deus Ele o criou, homem e mulher os criou”. Mediante estas palavras a máxima de Jesus ganhou um esplendor peculiar. Os fariseus levantavam uma questão econômica, mas o principal, porém, era o significado espiritual que Jesus ressaltou, ou seja, dar a Deus o que é de Deus. Para viver, acatamos as normas do jogo da economia, mas isto não é tudo em nossa vida. Cumpre estar atentos às exigências da vida espiritual. A presença de Deus, por vezes, é facilmente esquecida, porque se trata de uma presença discreta. Deus não se impõe, Ele se propõe. Somos chamados a viver em comunhão com Ele. Se o dinheiro que traz a marca da autoridade política lembrava os deveres políticos como o  pagamento dos impostos, a pessoa humana traz, contudo,a marca da imagem divina, devendo se voltar continuamente para o seu Criador. Esta volta para Aquele que marcou em nosso coração sua imagem se dá não somente no fim de nossa trajetória terrena.  O importante é reconhecer a presença de Deus em nossa vida cotidiana, como ensinam os grandes teólogos. Eis por que é preciso viver na presença divina, já que o ser humano é criado à imagem de Deus. Ao Estado pagamos cada dia, direta ou indiretamente, impostos, mas nossa relação com Deus deve também ser ininterrupta. A pressão espiritual do Senhor sobre seus fiéis é claramente menos forte que a coação fiscal do Estado, mas cabe ao fiel, usando sua liberdade, voltar-se sempre para o seu Senhor, consagrando-Lhe com fervor tempo reservado à oração e se dirigindo a Ele com fervorosas invocações durante todo o dia. Marcado com o selo do Espírito, durante toda a vida, o fiel deve ser uma oferenda contínua ao seu Senhor  e estar no serviço ao  próximo, vendo nele a imagem de  Cristo. Além disto, o engajamento nas diversas pastorais é outra meneira de dar a Deus o que é de Deus. Trata-se de organizar sabiamente a vida espiritual. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

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