O BANQUETE NUPCIAL
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A parábola do banquete nupcial (Mt 2,1-14) tem
oferecido aos hermeneutas, aos intérpretes da Bíblia, inúmeras interpretações. Aqueles
que fazem uma leitura histórica deste texto reconhecem nesta página do
Evangelho o drama da aliança no Antigo Testamento. Deus convidou seu povo para
entrar em aliança com Ele, partilhando seu amor. Este convite figurado então
num chamado para um festim de núpcias, uma união celebrada entre seu Filho e a
humanidade. Infelizmente, os homens têm respondido mal a este chamado divino ou
com indiferença, ou com desprezo e até com rejeição dos profetas que falaram em
nome do Senhor. O plano traçado por Deus entretanto permanece, uma vez que a
malquerença e até a hostilidade para com seu próprio filho da parte de alguns
permitiu que o convite para aquele banquete nupcial fosse estendido a um grande
número de pessoas. Isto se deu na Nova Aliança. Jesus foi claro ao afirmar que
Ele veio a este mundo “para que todos tivessem a vida e a tivessem em
abundância” (Jo 10,10). Esta ampla abertura das novas núpcias na Nova Aliança
foi uma demonstração de afeição sem limites para com toda a humanidade, causa
de um imenso júbilo. Tudo isto proporcionando uma gratidão imensa para com este
Deus três vezes santo. Imersos nesta alegria os que procuram corresponder a
tanta bondade não lhes cabe julgar os ingratos para com o honroso convite divino.
Adite-se que o fato de um dos convidados ter entrado no banquete sem a
vestimenta apropriada e ter sido expulso e atado de pés e mãos. sendo lançado
nas trevas exteriores, é um alerta para o comportamento daqueles que desejam
ser fiéis a Jesus Cristo. O rei da parábola condenou severamente o ousado que
entrou sem ter traje adequado para aquela celebração. Para os cristãos através
dos tempos cabe aqui uma leitura simbólica, ou seja, a vestimenta das núpcias simboliza
bem as boas obras realizadas pelos batizados. A graça santificante conservada
pelas boas ações cotidianas são indispensáveis para estar no banquete do grande
Rei Jesus. Aliás, punição semelhante a desta parábola merece aquele que ousa ir
ao banquete eucarístico, comungando em pecado mortal, sem estar em estado de
graça. É o alerta de São Paulo a quem vai comungar: “Examine-se, pois, cada qual
a si mesmo e assim coma deste pão e beba deste cálice, pois quem come e bebe sem
fazer distinção de tal corpo come e bebe a própria condenação” (l1 Cor
11,27-30). Torna-se, de fato, réu ao participar indignamente, não estando em
estado de graça. São Jerônimo comenta esta passagem do Evangelho sobre o
banquete nupcial dizendo que o traje deste banquete sagrado são as obras
realizadas segundo a lei do Evangelho. Trata-se do traje do homem novo. Com
razão, o sacerdote antes de iniciar a distribuição do pão eucarístico proclama:
“Felizes os convidados para a ceia do Senhor”, ou seja, os que se acham
preparados para uma fervorosa comunhão, para participar do banquete de Jesus. O banquete eucarístico nesta terra é
o anúncio e uma antecipação do grande festim da eternidade lá na Casa do Pai. A
graça santificante supõe que o coração do fiel se acha revestido de ternura, bondade,
humildade, doçura, paciência. Pela sua conduta os convidados para este banquete
por suas boas obras se ajustam à grandeza deste festim entrando em comunhão com
Deus. Eis porque o cristão que se prepara para comungar está numa transformação
contínua, transformação exterior e interior. A Eucaristia é um banquete maravilhoso
oferecido a todos de boa vontade. A participação digna na Eucaristia, porém,
está ligada a uma maneira de viver que torna o cristão apto para compartilhar
da mesa eucarística e para entrar um dia no banquete das núpcias eternas. Como
falou São Paulo aos Gálatas, “todos quantos em Cristo fostes batizados, de Cristo vos
revestistes” (Gal 3,27). Nisto consiste a santificação: (1 Ts 4, 3a). Deste modo esta Parábola do banquete
nupcial lembra esta realidade sublime de que o cristão é o homem novo de que
fala São Paulo, assim revestido de
Cristo com o qual estará por toda a eternidade, após recebê-lo em comunhão aqui
na terra. Isto se formos encontrados “vestidos e não despidos”, como lembra o
Apóstolo. (2 Cor 5,3), Este homem novo foi criado segundo Deus na justiça e na
santidade da verdade (Ef 4,22-24).
Numerosas lições oferece, deste modo, o Evangelho de hoje. Convidados para as
núpcias do Cordeiro o cristão deve consciente e livremente dar uma sábia resposta
ao convite de Deus para participar de tão honroso convite da aliança com Ele nesta
e na outra vida. Todo descuido trará consequências funestas. Impedindo o acesso
aos espaços de tão sublimes banquetes, no tempo e na eternidade. *Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
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