segunda-feira, 5 de outubro de 2020

 

O BANQUETE NUPCIAL

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A parábola do banquete nupcial (Mt 2,1-14) tem oferecido aos hermeneutas, aos intérpretes da Bíblia, inúmeras interpretações. Aqueles que fazem uma leitura histórica deste texto reconhecem nesta página do Evangelho o drama da aliança no Antigo Testamento. Deus convidou seu povo para entrar em aliança com Ele, partilhando seu amor. Este convite figurado então num chamado para um festim de núpcias, uma união celebrada entre seu Filho e a humanidade. Infelizmente, os homens têm respondido mal a este chamado divino ou com indiferença, ou com desprezo e até com rejeição dos profetas que falaram em nome do Senhor. O plano traçado por Deus entretanto permanece, uma vez que a malquerença e até a hostilidade para com seu próprio filho da parte de alguns permitiu que o convite para aquele banquete nupcial fosse estendido a um grande número de pessoas. Isto se deu na Nova Aliança. Jesus foi claro ao afirmar que Ele veio a este mundo “para que todos tivessem a vida e a tivessem em abundância” (Jo 10,10). Esta ampla abertura das novas núpcias na Nova Aliança foi uma demonstração de afeição sem limites para com toda a humanidade, causa de um imenso júbilo. Tudo isto proporcionando uma gratidão imensa para com este Deus três vezes santo. Imersos nesta alegria os que procuram corresponder a tanta bondade não lhes cabe julgar os ingratos para com o honroso convite divino. Adite-se que o fato de um dos convidados ter entrado no banquete sem a vestimenta apropriada e ter sido expulso e atado de pés e mãos. sendo lançado nas trevas exteriores, é um alerta para o comportamento daqueles que desejam ser fiéis a Jesus Cristo. O rei da parábola condenou severamente o ousado que entrou sem ter traje adequado para aquela celebração. Para os cristãos através dos tempos cabe aqui uma leitura simbólica, ou seja, a vestimenta das núpcias simboliza bem as boas obras realizadas pelos batizados. A graça santificante conservada pelas boas ações cotidianas são indispensáveis para estar no banquete do grande Rei Jesus. Aliás, punição semelhante a desta parábola merece aquele que ousa ir ao banquete eucarístico, comungando em pecado mortal, sem estar em estado de graça. É o alerta de São Paulo a quem vai comungar: “Examine-se, pois, cada qual a si mesmo e assim coma deste pão e beba deste cálice, pois quem come e bebe sem fazer distinção de tal corpo come e bebe a própria condenação” (l1 Cor 11,27-30). Torna-se, de fato, réu ao participar indignamente, não estando em estado de graça. São Jerônimo comenta esta passagem do Evangelho sobre o banquete nupcial dizendo que o traje deste banquete sagrado são as obras realizadas segundo a lei do Evangelho. Trata-se do traje do homem novo. Com razão, o sacerdote antes de iniciar a distribuição do pão eucarístico proclama: “Felizes os convidados para a ceia do Senhor”, ou seja, os que se acham preparados para uma fervorosa comunhão, para participar do banquete de Jesus. O banquete eucarístico nesta terra é o anúncio e uma antecipação do grande festim da eternidade lá na Casa do Pai. A graça santificante supõe que o coração do fiel se acha revestido de ternura, bondade, humildade, doçura, paciência. Pela sua conduta os convidados para este banquete por suas boas obras se ajustam à grandeza deste festim entrando em comunhão com Deus. Eis porque o cristão que se prepara para comungar está numa transformação contínua, transformação exterior e interior. A Eucaristia é um banquete maravilhoso oferecido a todos de boa vontade. A participação digna na Eucaristia, porém, está ligada a uma maneira de viver que torna o cristão apto para compartilhar da mesa eucarística e para entrar um dia no banquete das núpcias eternas. Como falou São Paulo aos Gálatas, “todos quantos em Cristo fostes batizados, de Cristo vos revestistes” (Gal 3,27). Nisto consiste a santificação: (1 Ts 4, 3a). Deste modo esta Parábola do banquete nupcial lembra esta realidade sublime de que o cristão é o homem novo de que fala São Paulo, assim revestido  de Cristo com o qual estará por toda a eternidade, após recebê-lo em comunhão aqui na terra. Isto se formos encontrados “vestidos e não despidos”, como lembra o Apóstolo. (2 Cor 5,3), Este homem novo foi criado segundo Deus na justiça e na santidade da  verdade (Ef 4,22-24). Numerosas lições oferece, deste modo, o Evangelho de hoje. Convidados para as núpcias do Cordeiro o cristão deve consciente e livremente dar uma sábia resposta ao convite de Deus para participar de tão honroso convite da aliança com Ele nesta e na outra vida. Todo descuido trará consequências funestas. Impedindo o acesso aos espaços de tão sublimes banquetes, no tempo e na eternidade. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

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