segunda-feira, 28 de setembro de 2020

 

CRISTO, PEDRA ANGULAR, BELA E SÓLIDA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Com a parábola dos vinhateiros homicidas Jesus ofereceu uma síntese da história da Antiga e da Nova Aliança (Mt  23,33-43). A Israel sua vinha escolhida e bem amada, Deus enviou profetas que não foram bem recebidos. Nos últimos tempos, numa nova expressão de misericórdia e de manifestação de compaixão, mandou seu próprio Filho, o verdadeiro herdeiro das promessas feitas a Abraão. Jesus, o Verbo Encarnado, confirmou sua missão e inclusive anunciou   qual seria o seu destino, sendo que Ele seria lançado fora da vinha e da cidade, lá onde seria morto por seus inimigos. Eis porque os Sacerdotes e os Fariseus logo decodificaram esta parábola. De fato, eles teriam uma enorme responsabilidade no suplício e na morte do Filho de Deus. Entretanto, uma das frases de Jesus vem merecendo peculiar atenção através dos tempos, a saber, a passagem do salmo l18 por Ele citada: “A pedra que os construtores rejeitaram se tornou a pedra angular”. É que muitos através dos tempos deliberadamente ou por ignorância desprezaram esta pedra que é Jesus Cristo. Isto ocorreu ou por não quererem aceitar os valores que Ele pregou ou por recusarem as perspectivas que Ele ofereceu, ou por não acatarem as exigências que Ele estabeleceu concernentes aos direitos de Deus e os deveres do ser humano. Mesmo não se podendo cientificamente negar a figura singular de Jesus de Nazaré, nem sua influência através dos séculos, sua mensagem é deixada de lado como uma pedra inútil, tudo se fazendo para apagar sua influência. Jesus é apenas arrolado, muitas vezes, entre os fundadores de uma nova religião. Muitos de seus seguidores têm sido privados de liberdade ou sua Igreja desqualificada através de campanhas caluniosas. Uns tudo fazendo para apagar sua influência, outros perseguindo seus seguidores e, entre eles, inúmeros a não acatarem em plenitude seus ensinamentos. Toda uma maquinação diabólica para marginalizá-lo, para rejeitar Jesus, Salvador do mundo. Trata-se de uma diabólica desestabilização da fé. Não obstante tudo isto, Jesus permanece como a pedra angular bela e sólida. Ele a verdadeira esperança da salvação da humanidade. Através dos tempos, porém, há também uma multidão a produzir frutos para a vida eterna. Isto, afirmou Jesus, “é uma maravilha a nossos olhos”, porque “é obra do Senhor Deus”. Esta reflexão sobre a parábola dos vinhateiros homicidas deve conscientizar os que querem dar bons frutos a serem pedras vivas na construção do reino de Deus, fugindo de toda e qualquer infidelidade às inspirações do divino Espírito Santo. Trata-se desta certeza dos que pertencem à vinha daquele senhor, o novo Israel, que realmente, frutifica. Este novo Israel é a Igreja na qual todos os povos encontram a salvação. É que se trata de uma fé que não é individualista, fechada, mas que é preciso comunicar a quantos não a possuem. Os que pertencem à vinha do Senhor formam uma comunidade apostólica que sabe que é edificada sobre a pedra angular, eminentemente missionária. Ela deve então atrair pela força e pela beleza do Ressuscitado, por palavras, gestos, ações os que não acatam plenamente, que não aceitam plenamente o Enviado do Pai e, assim, não pertencem a sua vinha. É de se notar que quem tem Jesus como a pedra angular, jamais a rejeitando, possui o Evangelho no qual se encontra a solução de todos os problemas. Na parábola de hoje Jesus espera ser considerado como esta pedra angular através do reconhecimento da soberania divina sobre todos os atos dos que lhe pertencem e que sabem que é Ele quem sustenta realmente a história de cada um que diz pertencer à sua vinha.  Entretanto, um outro critério para saber se o Mestre divino é a luz de sua existência, é verificar se, em tudo, sempre, Deus é o referencial de todos os seus atos e, assim, ininterrupta é a ação de graças por tudo que dele se recebe. Então verdadeiramente se poderá adorar o Redentor, alegrando-se, não obstante a indigência espiritual de cada um, pois o culto devido a Deus estará purificado. Deste modo é que se vive por Ele, com Ele e nele e sua vontade estará realizada em cada um. Jesus sendo assim a pedra angular da vida do cristão que estará dando frutos opimos para a eternidade e, um dia, entrará no Reino que para todos Ele abriu. A graça de Deus vem sempre socorrer o bom que persevera e o pecador arrependido que deixa a humildade reinar dentro de si. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.           

 

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

 

ARREPENDER-SE PARA CRER

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A parábola dos dois filhos é concisa, mas deixa claro quão abominável é a falsidade e como é digno de louvor o arrependimento que leva à boa ação (Mt 21,28-32). De fato, não basta dizer “sim” a Deus,  ou “Jesus eu te amo’, ou ainda “Senhor, eu creio em ti”, para entrar no Reino de Deus. É preciso obedecer às ordens de Deus, colocando sempre em prática a vontade divina. Não são suficientes belas palavras, ou meras práticas religiosas externas, destituídas, entretanto, de sinceridade. É necessário um amor vivo, traduzido em gestos concretos. Um dos filhos da parábola disse que não iria trabalhar na vinha do pai, mas se arrependeu e foi. Aderiu à vontade do pai, ao contrário do irmão que falou em obedecer a ordem recebida, mas não obedeceu. É o que acontece com cada um diante dos desejos de Deus, que conhece cada coração humano e sabe suas resistências, seus problemas interiores, suas fobias, suas indecisões. O que conta, porém, é a deliberação final, fruto de um arrependimento sincero que leva a aderir ao que Deus preceitua, adesão plena de afeição. Trata-se da verdadeira conversão de vida, vinda do fundo do coração. A vida do verdadeiro cristão deve estar sempre de acordo com o que quer o seu Senhor, desejo manifestado em seus ensinamentos. A arrogância do primeiro filho deve sempre ser banida, mas seu arrependimento demonstra que a bondade reinava em seu coração. Isto o   levou a um comportamento dentro de uma lógica de valor universal. Numa mesma situação os dois irmãos reagiram de maneira inteiramente diferente, A verdadeira conversão que brilhou na atitude do  primeiro irmão patenteia que a autêntica conversão se realiza unicamente por atos concretos e não por palavras. Jesus falou claramente: “Não é dizendo ‘Senhor, Senhor!’ que se entrará no Reino dos céus, mas fazendo a vontade de meu Pai que está nos céus”(Mt 7,21). Foi o que aconteceu com tantos publicanos que se converteram, como São Mateus, e tantas pecadoras, que mudaram de vida, como Madalena. Por tudo isto, esta parábola deve levar, seja quem for que se diz cristão, a verificar sempre qual tem sido sua atitude no seu relacionamento com Deus. De fato, ou se age desobedecendo como o primeiro filho ou como o segundo que se arrependeu e foi trabalhar na vinha do seu pai. Há necessidade de lutar sempre para que se manifeste em nós o que há de melhor no fundo do coração e jamais perseverar no erro. Não obstante as falhas, a pequenez de cada, um, Deus nos olha e nos diz como o   pai aos dois filhos: “ide para a vinha”. Esta ordem é dada  com doçura, com misericórdia, porque é o coração que Deus perscruta. Nunca é tarde para ser evangelizador na vinha do Senhor e, em tudo, fazer a sua vontade. Dizer sim e agir, ver e crer, Nada de simplesmente prometer, mesmo porque nunca é tarde para acertar a própria vida com o desejo de Deus que quer uma existência santa e virtuosa, estando sempre cada um num processo de conversão. Tal vai ser a surpresa no juízo final quando estarão no reino de Deus aqueles que se arrependeram e tiveram coragem de mudar de vida, reparando, enquanto tiveram tempo, seus erros e extravios. Como mostra a parábola de hoje Jesus deixa patente a exortação ao arrependimento. É preciso captar o que é justo, compreender, discernir, mas isto não basta. Algo mais é necessário, ou seja, sempre uma radical mudança de vida, isto é, pensar corretamente e agir em consequência. Deve haver a primazia dos atos sobre as palavras, da prática da fé sobre o conhecimento da verdade. Nada pior na vida do cristão do que promessas feitas a Deus e não cumpridas. Jesus foi taxativo: “A glória de meu Pai é que deis muito fruto” (Jo 15,8). Durante sua vida nesta terra o cristão diz tantas vezes “sim” a Deus, como na sua profissão de fé através do batismo, do sacramento da crisma, na recepção dos outros sacramentos, ou estando a serviço dos irmãos e irmãs ao assumir uma atividade  específica  nos seus afazeres de cada dia. Seja como for, é sempre tudo isto um trabalho na vinha do Senhor. Ele espera sempre de cada um fidelidade e perseverança. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

 

OS OPERÁRIOS DA VINHA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalh*

É bastante intrigante a parábola dos trabalhadores da vinha, por muitos exegetas denominada os operários da undécima hora (Mt 20, 1-16). Com efeito, o lógico seria, à primeira vista, trabalhar mais para ganhar mais e foi o que reclamaram aqueles que foram contratados pela manhã e, no entanto, receberam o mesmo que os obreiros que trabalharam menos tempo. Aos primeiros o proprietário fixa um dinheiro por dia. Aos seguintes, ele diz simplesmente: “Eu vos darei o que é justo”. Aos últimos ele lhes propõe o trabalho, mas não lhes promete nada, pois deviam simplesmente confiar no contratante.É preciso, porém, penetrar o significado desta narrativa assim pormenorizada por Jesus. Deve-se ver inicialmente nesta parábola a ilustração de uma situação que se vivia no tempo de Jesus e era destinada, inicialmente, aos judeus.  Foram, porém, os gentios os que a abraçaram, enquanto que o povo judeu no seu conjunto recusava recebê-la. Entretanto, a mensagem evangélica consistia na realização das promessas seculares das quais era Israel o povo depositário. Os últimos passavam a primeiros e os primeiros a ultimos beneficiários do Reino. É de se notar que a reclamação dos trabalhadores não foi quanto a ordem do pagamento, ou seja, os últimos recebendo primeiro, mas quanto a desigualdade da quantia que foi paga. É que Jesus queria chamar a atenção sobre o apelo feito a Israel que devia preparar-se para receber o dom supremo anunciado ´pelo Evangelho e isto não aconteceu. Este foi o momento em que Israel perdeu seu primeiro lugar. Quando Jesus pregava a Boa Nova a situação tinha por parte dos judeus inteiramente mudado, como aliás várias vezes o divino Mestre salientou na sua pregação. Isto ficava claro na maneira como Ele se dirigia aos mestres da Lei. O cerne, portanto, da parábola era ser desigual o salário diante de serviços tão desiguais. Ter conhecido Jesus durante sua existência terrestre foi sem utilidade para os que se haviam tornado “artesãos da iniquidade”. Jesus deixará patente esta explicação: “Não é aquele que me diz Senhor, Senhor que entrará no Reino céus, mas sim o que faz a vontade do meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Eis aí a grande lição desta narrativa.  Isso bem sintetizado também nesta sentença lapidar do Evangelho de hoje: “Os últimos serão os primeiros e os primeiros os últimos”. A pregação de Jesus não seria bem entendida por aqueles que estivessem dominados por preconceitos e paixões. Os corações deveriam sempre estar abertos para receber as mensagens divinas. A advertência de Deus foi clara “Meus pensamentos não são os vossos pensamentos e nem os meus caminhos são os vossos caminhos” (Is. 55,8). É preciso ter o coração aberto para receber as surpresas de Deus. Nem sempre o ser humano compreenderá, de imediato, a lógica da ação divina. Na sua perplexidade falta muitas vezes por parte dos seguidores de Cristo a humildade para se adequar à vontade do Senhor de tudo. Seja como for, esta parábola dos operários da vinha mostra a essência do pensamento de Jesus sobre a salvaçáo dos que não pertenciam ao povo judeu.  Como foi dito, fica bem claro que o contrato do trabalho e seu pagamento não infligiram a estrita justiça. Nem mesmo esta estrita justiça foi violada pelo fato do contratante da parábola ter mostrado liberalidade para oom os chamados por último. Ele tinha todo o direito   de fazer o que ele quisesse com o que lhe pertencia, como habilmente se defendeu o dono da vinha. Sua liberalidade o levou além do que ele devia pagar aos últimos contratados. Eis aí a grande mensagem desta parábola:  Deus é justo, é misericordioso, nele nós podemos sempre inteiramente confiar!  E assim que Deus age porque Ele é bom e ama suas criaturas que nele confiam.  É assim que Deus age, porque sua benevolência nâo se opõe à sua justiça, mas a ultrapassa. Jesus mostra que Deus ostenta sua ternura perante a miséria humana. Davi então já aconselhava proclamar agradecimentos ao Senhor de tudo: “Dai graças a Deus, pois eterno é o seu amor” (Sl 107,1) Ele é um Deus de desvelo, lento em irar-se e rico em bondade e fidelidade. Felizes os que nele esperam, pois Ele terá piedade deles como se expressou o profeta Isaias (Is 30,18). Sua ternura é sem limites: “Eterna é a sua misericórdia” (Sl 136). É isto que Jesus quis inculcar através da parábola dos operários da vinha. Nele, portanto, confiemos sempre, porque Ele é o Sumo Sacerdote poderoso e misericordioso (Hb 2,17) * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

 PERDOAR SEMPRE

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

1.      O Apóstolo Pedro fez a Jesus uma indagação concreta: “Senhor, se meu irmão pecar contra mim, quantas vezes lhe devo perdoar? Até sete vezes”? (Mt 18,21-35). O Mestre divino respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete, ou seja, indefinidamente. Tratava-se de uma falta cometida por uma pessoa próxima e não de uma reconciliação numa situação comunitária. Referia-se a um fato concreto, pessoal.  Era uma questão não teórica, mas um fato real, causado por alguém próximo do ofendido As faltas e os pecados das pessoas com as quais se tem maior ligação, as quais mais se amam, ferem muito mais do que as injúrias e ofensas em geral recebidas no dia a dia. Neste caso é mais difícil administrar o ressentimento. Trata-se então de uma relação mais íntima que ficou conturbada. O apóstolo Pedro acrescentou algo na sua interrogação, ou seja, quantas vezes neste caso se deveria perdoar. Jesus respondeu de uma maneira definitiva, dizendo que não há limites, pois deve-se perdoar sempre. O fundamento deste limite ao perdão Jesus o justifica de maneira indireta narrando a parábola do servo sem misericórdia. Contrastante a atitude do rei que perdoa quem lhe devia uma alta quantia e a perversa atitude de quem fora perdoado pequena soma com relação ao companheiro que pouco lhe devia, encarcerando-o até que pagasse o que devia. Ao tomar conhecimento desta ímpia atitude o senhor   recriminou esta ímpia maneira de agir e o entregou aos algozes até que pagasse tudo. Jesus lançou então seu notável ensinamento: “Assim vos fará também o meu Pai celeste se não vos perdoardes de coração um ao outro”. Deste modo, como Deus perdoa sempre a cada um   suas faltas, do mesmo modo, devemos anistiar o próximo Aquele que recusa perdoar o outro sai do universo do perdão sem limites de Deus. É a consciência do perdão recebido que torna o pecador arrependido capaz de perdoar também o ofensor. Um cristão não pode se dizer discípulo de Jesus se não pratica o perdão à maneira de Deus. Raiva, cólera, furor, ira, eis aí atitudes abomináveis nas quais muitos de obstinam. É após perdoar o irmão ou a irmã pelo mal que fizeram é que se deve suplicar a Deus a clemência, reconhecendo que não há proporção alguma entre o mal praticado pelo próximo e a injúria feita ao Senhor Todo-poderoso. Donde a sublimidade do verdadeiro indulto, pois este será sempre uma atitude humana, superficial, uma sombra diante da absolvição divina. Portanto, perdoar é ir além de tudo que é do homem, ultrapassando a miséria da estreiteza de um ser limitado, imitando a imensidão da generosidade do Criador. Deste modo o homem vai além de si mesmo e passa a realizar o que está na oração que Jesus nos ensinou: “Perdoai nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, portanto, em qualquer circunstância. Um perdão constante, perfeito, sem limites, sempre repetido. Isto é possível se a graça de Deus acompanha sem cessar o verdadeiro discípulo de Jesus, Deve-se então concluir que o perdão é uma atitude vital, na existência cotidiana do cristão. Trata-se de um dos pilares da perfeição cristã. É algo essencial para o verdadeiro discípulo de Cristo. É a mais bela e sublime atitude oferecida pelo Evangelho. Trata-se do tesouro do cristianismo. É um imperativo ao qual nunca se deve eximir quem se diz seguidor doo Filho de Deus. Nem se deve esquecer que a misericórdia e o perdão levam a uma notável capacidade de amadurecimento pessoal. Quando uma pessoa perdoa, ela amadurece e se aperfeiçoa psicológica e espiritualmente. Na medida que alguém guarda rancor, ira, sua vida espiritual e psicológica fica enormemente debilitada. O perdão é o meio necessário para se atingir a paz do coração. Isto implica o abandono do ressentimento e do rancor para com quem nos ofendeu, a renúncia a qualquer tipo de vingança; o esforço para responder o ofensor com bondade, generosidade e amor; rezando por todos os que nos tenham feito algum mal. Jesus quis mostrar que o amor de Deus deve ser imitado e é sem limites.  São Pedro queria uma limitação no gesto do perdão, quando não há cálculos mesquinhos a fazer. Os grandes santos ao se imergirem no braseiro ardente do Coração de Jesus aprenderam dele a amar plenamente, fazendo a experiência luminosa da infinita dileção do Mestre divino. Saibamos multiplicar o perdão e estaremos dando provas de que estamos sempre imitando o Coração de Jesus que é um abismo de amor. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

2.       SOBRE A SANTA MISSA NO TENPO DA PANDEMIA

3.       Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

4.   Com relação a esta indagação  "como nos preparar e portar para missa virtualmente e se a participação só é válida se acompanhada em tempo real”, cumpre, de fato, fazer uma distinção

5.      O Catecismo da Igreja Católica no   §1372 mostra como Santo Agostinho resumiu admiravelmente a doutrina que nos incita a uma participação cada vez mais completa no sacrifício de nosso Redentor, que celebramos na Eucaristia: “Esta cidade remida toda inteira, isto é, a assembleia e a sociedade dos santos, é oferecida a Deus como um sacrifício universal pelo Sumo Sacerdote que, sob a forma de escravo, chegou a ponto de oferecer-se por nós em sua paixão, para fazer de nós o corpo de uma Cabeça tão grande. (...) Este é o sacrifício dos cristãos: "Em muitos, ser um só corpo em Cristo" (Rm 12,5). E este sacrifício, a Igreja não cessa de reproduzi-lo no sacramento do altar bem conhecido pelos fiéis, onde se vê que naquilo que oferece, se oferece a si mesma” Portanto, qualquer modo como se participa da Santa Missa deve ser feito com a máxima fé numa postura digna do mais importante dos exercícios de piedade.

6.     É óbvio que a Missa transmitida pelos meios de comunicação social é válida, embora para o cumprimento do preceito da Missa dominical ou dos dias santos de guarda haja necessidade da presença do fiel na mesma.   São dois aspectos diferentes. Embora o sacrifício do Redentor tenha valor infinito, a capacidade receptora do fiel é limitada e varia conforme o seu grau de fervor. Deste modo, a cada Missa que participa, mais fervores celestes ele usufrui. Sendo a Missa o melhor culto a Deus e a renovação mística do Calvário, ela é a manifestação máxima do louvor à divindade.

Tirar dos dez mil e oitenta minutos de cada semana cerca de quarenta minutos para cultuar a Deus não é muito. Seria mesquinhez pensar o contrário. Esta reflexão tem levado inúmeros católicos a voltarem a cumprir com o seu dever de participar da Missa inteira nos domingos e festas de guarda, o que voltará, por certo, a acontecer assim que passar a pandemia. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos