domingo, 28 de junho de 2020


                               NOTÁVEL APELO DE JESUS
                        Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Bela mensagem de esperança oferece Cristo no Evangelho de hoje: “Vinde a mim vós todos que estais afadigados e sobrecarregados e eu vos aliviarei” (Mt 11,2-30). Notável apelo para todos os que suportam o peso da caminhada na pobreza, no desprezo e nas mais variadas doenças, nas angústias e sofrimentos de toda espécie. Ir até o Divino Salvador é crer nele e depositar dentro de seu coração todas as amarguras, aderindo à sua pessoa divina na mais cabal confiança. Ele tem solução para todas as necessidades. Ele é assaz rico e o amor transborda de sua amável pessoa. Ele é um caminho de libertação, pois tem palavras de vida eterna. Ele oferece então a solução: “Tomai sobre vós o meu jugo”. Quem assim procede se torna forte perante as intempéries da vida. É preciso, contudo, estar ligado a Ele pela prece, pelos sacramentos e no acolhimento de sua palavra e no exercício da caridade. Ele se dispõe a carregar conosco o fardo de nossos erros que nos oprime. Ele quer a todos libertar, livrando de todo e qualquer mal, como das falsidades, das calúnias, das crueldades, das omissões. Jesus deseja que todos vivam felizes na sua companhia, pois nos mostra sempre o caminho de seu amoroso coração. Por intermédio dos sacerdotes Ele oferece, através de uma sincera confissão, o perdão dos pecados. Ele é um Deus libertador. Seu Evangelho é exigente, mas este rigor é a chave de uma superação de si mesmo, de uma felicidade, vivendo uma existência repleta de sentido. Disto resulta, de fato, um florescimento de júbilo interior e a expansão de uma fraternidade beatificante. Ele faz seus seguidores membros de uma mesma família, um povo de irmãos. Todas as vezes que há uma divisão entre estes irmãos é Cristo que é rejeitado, mas, lá onde há união, resplandece a sua presença santificadora. “Vinde a mim”, nos diz Ele, propondo a todos entrarem nos seus sentimentos de paz e harmonia, lançando fora tudo que possa inquietar. Ele afirmou que todas as coisas Lhe foram entregues pelo Pai. Trata-se de um mundo novo, repleto de vida, um dom contínuo de sua munificência. Isto, porém, escapa aos sábios deste mundo, mas é abraçado pelos pequeninos, pelos simples de coração. Portanto, uma nova via, um novo caminho que leva à total liberdade. Maravilhosa a pedagogia do Filho de Deus, que não foi assimilada por escribas e fariseus de seu tempo e não é também aceita por todos os orgulhosos séculos afora. Apenas os pobres de espírito, que aceitam de bom coração a expectativa do Reino estabelecido por Ele, são capazes de usufruir de todas as vantagens que Ele oferece. Estes benefícios espirituais brilham para os que se deixam possuir por Deus e se envolvem nos desígnios de seu amor. Isto captado não por uma cultura materialistas, mas pela ciência do verdadeiro amor, que leva à fidelidade para com Deus e engrandece a alma, conduzindo cada um à superação de si mesmo. Salvação apenas através do Evangelho, inscrita no livro da vida que apenas Deus pode abrir e fechar. Seja então qual for a cultura de cada um ou sua atividade nas mais diversas profissões, a vida do cristão é feita de pequenas coisas, mas todas influenciadas pelo amor a Deus e ao próximo. Quem acata Jesus não despreza o desenvolvimento em geral, nem se entrega à preguiça intelectual. Aos olhos de Cristo, porém, a técnica e qualquer progresso indutor do incremento cultural, social e econômico devem estar ao serviço da fé. Eis porque a Igreja incentiva as pesquisas científicas, pois sabe que elas nunca obscurecerão a obra de Deus. Aos humildes e aos estudiosos de boa vontade, portanto, resplandecerá sempre as luzes divinas, pois a eles o Pai se revela. Estes encontram o repouso, pois o jugo de Jesus é leve e suave.  * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

domingo, 21 de junho de 2020

PEDRO, PEDRA ANGULAR DA IGREJA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na solenidade de hoje, dia do Papa, a liturgia apresenta o Evangelho da confissão de São Pedro (Mt 16,13-19). Trata-se da narrativa de um fato memorável no qual Pedro que se chamava Simão, confessa sua fé na divindade de Cristo. Em Cesareia de Filipe, num local tranquilo. Jesus quis se manifestar mais claramente aos apóstolos e lhe indaga: “Quem dizem os homens que é o Filho do homem?”. Após o relato de seus discípulos Ele foi direto ao perguntar: “E vós quem dizeis que eu sou?” Pedro tomou a palavra e sua resposta, inspirada pelo Espírito Santo, repercutiria através dos tempos: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”. Por estas simples palavras Pedro proclamou a divindade de Cristo e sua fé na Encarnação do Verbo, testemunhando que aquele homem semelhante aos outros era também Deus. Fé admirável daquele que seria proclamado a pedra angular da Igreja de Jesus e que naquele instante iluminava a fé de todos os cristãos na realidade da Encarnação. Jesus declara então que foi o Pai que lhe havia revelado isto e faz a grande promessa que Ele cumpriria após sua Ressurreição; ”Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”.Pedro na sua união com Cristo se torna o fundamento da Igreja para a salvação de todas as nações. Ele que seria o primeiro Papa demonstrava uma fé profunda que seria imitada por São Paulo e que Maria a Mãe de Jesus já havia patenteado, como fiel entre os fiéis. Neste dia do Papa cumpre recordar o que ensina o Catecismo da Igreja: “O Papa, Bispo de Roma e sucessor de São Pedro, "é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade, quer dos Bispos, quer da multidão dos fiéis". Com efeito, o Pontífice Romano, em virtude de seu múnus de Vigário de Cristo e de Pastor de toda a Igreja, possui na Igreja poder pleno, supremo e universal. E ele pode exercer sempre livremente este seu poder. (§882) Através dos tempos os sucessores de Pedro no exercício do magistério ordinário sempre levaram a uma compreensão melhor da revelação em matéria de fé e de costumes, assistidos que são pelo Espírito Santo. A este ensinamento ordinário os fiéis devem “ater-se com religioso obséquio do espírito” (§892) É que “o Pontífice Romano, em virtude de seu múnus de Vigário de Cristo e de Pastor de toda a Igreja, possui na Igreja poder pleno, supremo e universal” (§882). É de notar que o Papa é dotado de infalibilidade “quando, na qualidade de pastor e doutor supremo de todos os fiéis e encarregado de confirmar seus irmãos na fé, proclama, por um ato definitivo, um ponto de doutrina que concerne à fé ou aos costumes”. A infalibilidade que Cristo prometeu à Igreja “reside também no corpo episcopal quando este exerce seu magistério supremo em união com o sucessor de Pedro", sobretudo em um Concílio Ecumênico” (§891). Cumpre então aos cristãos sempre rezar para que o Papa, assistido pelo Espírito Santo, possa sempre exercer sua sublime missão com uma digna transcendência na vida da Igreja. Ele é o fundamento seguro para todos que o amparam com preces contínuas em suas intenções. De Pedro e seus sucessores vem para os discípulos de Cristo o “sentido sobrenatural da fé”, dado que o Espírito Santo os conduz à “plenitude da Verdade”, como bem se expressou São João no seu Evangelho (Jo l6,13). Se é o mesmo Espírito divino que guia o Papa através dos tempos e Jesus declarou formalmente que as portas do inferno não prevaleceriam contra sua Igreja, é preciso total atenção e acatamento às orientações do Sumo Pontífice A caminhada da Igreja rumo à Verdade, não obstante a contradição humana, prossegue, século após século, contando sempre, porém, com a fidelidade de um sem número de cristãos sinceros. Jesus assim se dirigiu ao Pai:” Escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”, ou seja, aos humildes que não levam a seu pobre tribunal o que Ele ensinou e é defendido pelos Papas. Orientados por eles a sã doutrina do Evangelho chega a cada cristão em sua primitiva luminosidade, sem as deturpações dos hereges que se multiplicam numa vã tentativa de contradizer o que o Filho de Deus ensinou. Pedro encontrou dificuldades em ir além das fronteiras de Israel e em abrir as portas da Igreja aos que não eram da descendência de Abraão. Deus, contudo, sempre suscitou missionários, como o Apóstolo Paulo, para levar a Boa Nova por todo o mundo. Nesta evangelização todos os cristãos devem se empenhar. Mensagens luminosas, não há dúvida, deste dia do Papa. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


domingo, 14 de junho de 2020

NÃO TENHAIS MEDO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Animadoras as palavras de Cristo: “Não tenhais medo" (Mt 10,26-33). Não se trata dos temores fugitivos que atordoam a vida todos os dias. O grande receio que o cristão deve vencer é, sobretudo, não testemunhar sua fé e sua união profunda com o divino Salvador. Num contexto histórico no qual se vive muitos, levados pelo respeito humano ou atemorizados por serem julgados ultrapassados diante das ilusórias manifestações do progresso tecnológico, correm o risco de negar por atos e palavras sua fé no Filho de Deus.  Este, porém, havia advertido: “Vós sereis odiados por causa do meu nome” (Mt 10,2). Ele foi perseguido a ponto de morrer crucificado e, portanto, a razão de não se temer o julgamento dos descrentes é que o destino de seu discípulo é imitar o seu Senhor, comprometido em tudo por Ele e com Ele. Se Ele venceu o mundo, apesar de tantos sofrimentos, a coragem deve imunizar seu seguidor contra o medo, triunfando de todas as insídias armadas pelos meios de comunicação social. Trata-se de firmar sua fé não obstante tantos desvios éticos e dogmáticos que marcam a história contemporânea. Notável a afirmação de Jesus no Evangelho de hoje, “não há nada encoberto que não se deva tornar conhecido, nem oculto que não se venha a saber" (v.26). Mais hora, menos hora sempre brilha a luz vitoriosa que o verdadeiro cristão deve irradiar. Por meio de seus autênticos discípulos, que não se dobram perante os erros, Deus por eles, filhos e filhas fiéis a seu Evangelho, pode fazer luzir sempre no mundo o esplendor da verdade. O legítimo cristão é portador deste Deus que revela e assim nada precisa temer das mudanças culturais e históricas, nem das doutrinas contrárias ao que Jesus ensinou. O que se deve temer, Ele asseverou, é o veneno irradiado pelo Maligno através dos canais televisivos, da internet em geral, isto deve ser evitado porque pode levar à morte do corpo e da alma e lançar na geena, local de suplício eterno pelo fogo. Este temor que é inclusive um dos dons do Espírito Santo é o medo de perder a Deus por entre as insídias diabólicas. O santo temor de Deus, no sentido bíblico, é respeito e afeição a tudo que se refere à sabedoria e majestade divinas. Isto se consegue pela obediência filial perante as delicadezas daquele que é Pai amoroso, o qual, segundo Jesus, conta até os cabelos da cabeça de quem lhe é leal. Deve-se, isto sim, temer não perceber a ternura do Pai que está nos céus o qual se interessa pelos filhos que Lhe são devotados. Nada, portanto, de temer os juízos mundanos e o falso esplendor do que contradiz o Evangelho, porque quem é fiel a Deus cantará sempre um hino vitorioso por entre as lutas neste vale de lágrimas. O cristão que tem uma fé profunda confessa continuamente Cristo salvador e por suas ações se declara solidário a Ele em todo tempo e lugar, jamais O traindo. Perseverança sem ceder a nenhuma tentação de impaciência perante o aparente triunfo do mal e a multiplicação de tantas seitas que renegam a verdadeira Igreja de Cristo. Jesus, porém, conta com a lealdade do autentico católico que fica firme, irradiando por toda parte a santidade de vida que flui de sua fidelidade a seu Senhor. Tal é o apelo do Mestre divino a proclamar “Não tenhais medo”. A hostilidade do mundo passa e o cristão estará sempre a repetir: “Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica”, nela deparando todo consolo e amparo que vence qualquer temor que pode paralisar e desnortear. Através dos séculos quantas turbulências têm surgido, mas tudo resta nos arquivos da História, lançadas no passado. A Palavra de Deus, porém, difundida pela Igreja segue seu curso inexorável e, assim, nada a temer. É preciso exorcizar os fantasmas de prognósticos pessimistas e crer sempre no triunfo da verdade, contribuído para que a Palavra de Deus continue por toda parte a iluminar os corações de boa vontade. Esta realidade não é captada pelas câmaras da televisão a endeusar a falsidade e a destacar sempre os crimes e não os atos virtuosos provindos da vivência do Evangelho. É preciso coragem para vencer estes obstáculos, temer, isto sim, as artimanhas do inimigo da salvação eterna de cada um. “Não tenhais medo” nos diz Jesus, isto porque Deus é fiel e firmará sempre quem o ama e teme na esperança e na paz e o testemunhará diante do Pai que está nos céus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

 


domingo, 7 de junho de 2020

Ao ver as multidões Jesus condoeu-se deoas




AO VER AS MULTIDÕES JESUS CONDOEU-SE DELAS.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O Evangelista São Mateus mostrou como Jesus havia se compadecido das multidões porque eram como ovelhas sem pastor. O Mestre divino afirmou em seguida que a messe era grande, mas os trabalhadores poucos. Ele então escolheu doze Apóstolos e lhes deu poderes especiais para sua missão (Mt 9,36-10,8). Estes foram os primeiros enviados de Cristo ao mundo. O Reino de Deus se dilata quando aqueles que creem testemunham por palavras e obras o que Jesus ensinou. É de se notar que o fato de Cristo ter se compadecido das multidões não significa apenas a constatação de uma situação infausta, mas ocorrência que deve levar a atitudes concretas, as quais estimulem seus discípulos a trabalharem com afinco pela expansão do Evangelho. Jesus diante de um povo cansado e abatido não teve palavras de consolo e resignação, mas propôs um modo de ser que deve conduzir a mudanças existenciais. Estas abrem o caminho de uma verdadeira conversão. Isto deve mostrar mentalidades e atitudes eficientes que levem à implantação de um apostolado que conduza à vivência plena dos meios de salvação. Aí está a missão do Redentor, pois Ele afirmou: “Eu vim para que todos tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Eis porque a Igreja oferece tantas atividades pastorais nas quais cada batizado se engaja dentro de seus carismas, de suas disponibilidades. Mesmo porque dentro do lar, nos ambientes de trabalho ou onde quer que esteja o cristão ele pode e deve evangelizar. Tudo isto além da própria ordem de Cristo de rogar ao Pai que envie sempre operários para sua seara. Portanto, Jesus não fez apenas uma verificação de uma situação deplorável que se repetiria através dos tempos, mas fez uma averiguação de que por causa da omissão, descuido ou negligência de seus seguidores muitos não alcançariam a felicidade eterna. Ficam privados dos meios necessários a este fim.   São aquelas ovelhas que deveriam ser tocadas pelo empenho de seus irmãos, mas foram deixadas de lado.  Daí ser necessário aos cristãos, orientados pelos sucessores dos doze apóstolos, reconhecerem sua vocação que é cooperar para que não haja ovelhas sem pastor. Trata-se de uma tarefa sublime que é testemunhar ser Jesus, de fato, “o caminho, a verdade e a vida”. Donde um exame sincero para verificar como temos feito este Jesus conhecido, amado e seguido para que não haja ovelhas desgarradas, cansadas, excluídas.    Anunciar Jesus não é um encargo exclusivo dos Bispos e dos Sacerdotes. Todos os batizados são convidados a trabalhar na vinha do Senhor. Com efeito, as necessidades espirituais de todos os que estão em nossa volta devem nos levar a um infatigável e generoso trabalho apostólico.  É necessário todo o  empenho para que não seja frustrado o desejo de Cristo, afim de que por toda parte se realize a obra da Redenção.   Como nos tempos de Cristo os obreiros são poucos em proporção a esta imensa tarefa.  O Papa São Paulo VI em 1977 dizia: “A responsabilidade da difusão do Evangelho que salva é de todos. De todos os que o receberam”. O dever missionário recai, portanto, sobre todo o Corpo da Igreja. De maneira e em medidas diferentes, é certo, mas todos devemos ser solidários no cumprimento desta obrigação. É deste modo que deve agir através dos tempos o novo Povo de Deus. Trata-se de um empenho espiritual que atravessa os séculos, porque sempre haverá clero e fiéis que respondem com fé à graça deste chamamento especifico. Por conseguinte, cada cristão deve aproveitar os meios de formação que a Igreja por meio dos sucessores dos doze Apóstolos lhe oferece nas circunstâncias concretas nas quais está colocado no seu dia a dia, Clero e fiéis fazem parte do plano de salvação estabelecido por Deus. Trata-se de uma obra divina. Ao escolher os doze Apóstolos, dando-lhes poderes extraordinários, Jesus lançou o germe de sua Igreja. Desde o começo de seu ministério público Ele colocou os fundamentos de sua Instituição. Assim sendo, através do evangelista São Mateus, implicitamente, mostrou a necessidade de uma formação doutrinária e apostólica de todos os batizados para desempenharem sua vocação cristã. Ininterruptamente, porém, todos lembrados de que Ele conta com a cooperação de cada um, porque a messe é sempre grande e os operários são poucos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


segunda-feira, 1 de junho de 2020

eNGAJADOS NA VIDA TRINITÁRIA


ENGAJADOS NA VIDA TRINITÁRIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O Deus no qual nós cremos e que está no coração de nossa fé, não é um Ser solitário, isolado. Uma só natureza, uma só substância, “Aquele que é”, como Ele mesmo revelou a Moisés (Ex 3,14). Na plenitude de seu Ser infinito, porém, a fé nos leva a adorar uma Trindade de pessoas realmente distintas. Distinção real, não meramente fenomenal ou funcional. Como ensina Tertuliano, a monarquia divina permanece indivisível, mas está distribuída entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Esta diversidade não impede a soberana unidade da divindade, pois as três pessoas têm a mesma essência em uma harmonia e identidades perfeitas. Três Centros de Consciência, três Modos de existir, três Hipóstases ontologicamente arroladas e não apenas em plano meramente dinâmico e relacional. Tríade divinal que patenteia o Pai, o Filho e o Espírito Santo eternamente unidos no mesmo nome - Deus, no idêntico poderio e glória, numa inefável reciprocidade de conhecimento e afeição profunda. Mistério sublime: desde toda eternidade o Pai se conhece. Este pensamento é eterno, substancial, é a imagem de toda vida divina igual a sua origem. Eis a segunda pessoa, o Filho, o Verbo eterno. O Pai e o Filho eternamente se amam. Este amor é essencial, intemporal, é o Espírito Santo, Terceira Pessoa, que procede do Pai e do Filho.  Foi Jesus quem nos revelou os segredos do Ser Supremo e empregou uma linguagem tirada do mundo da família (Jo 1,16-18), pois Ele nos falou de seu Pai, Ele o Filho. O Amor eterno que os une desde toda a eternidade é o Espírito Santo. Portanto, embora seja impossível ao ser humano, que é limitado, compreender o mistério do Ser infinito, Jesus nos ofereceu palavras que estão ao alcance da inteligência humana para entender que o nosso Deus é Uno e Trino. Isto nos permite falar de Deus com nossas palavras. Podemos falar com Ele como um Pai, como um Irmão, como um Amigo. Jesus foi mais além ainda ao dizer que o Pai tanto nos amou que sacrificou o próprio Filho que tomara também a natureza humana unida à sua natureza divina e isto porque imenso foi o seu Amor por nós. Voltando, enquanto homem, para junto do Pai nos enviou, como prometera, o divino Espírito Santo. Estamos, assim, engajados na vida trinitária. A Trindade é nossa família! Somos os filhos e filhas bem amados do Pai através do Verbo Eterno todos imersos no Espírito Santo. Fomos batizados em nome das três pessoas e o batismo nos imergiu na comunhão de amor que une as três pessoas divinas. Eis porque sempre traçamos sobre nós o sinal da Cruz em nome destas três Pessoas, expressão viva de nossa dignidade de filhos de Deus, imersos que somos nesta existência trinitária e acreditamos no amor que este Deus tem por nós, como salientou São João na sua primeira carta (1 Jo 4,16). Eis porque o cristão deve reconhecer sua nobreza vivendo santamente na presença deste Deus três vezes santo, convivendo com o dinamismo do amor trinitário. Donde o conselho de São Paulo: "Vivei com alegria. Tendei à perfeição, animai-vos, tende um só coração, vivei em paz e o Deus de amor e da paz estará convosco (2 Cor 13,11). Eis aí a grande mensagem a ser vivida, mesmo porque a fraternidade que deve unir os cristãos é o sinal vivo da unidade divina. Nossa vida interior se alimenta deste movimento entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, nosso Deus misericordioso, cheio de amor e de verdade, segundo a revelação feita por Ele mesmo a Moisés (Ex. 33, 7-11; 34, 5b-9.28). Nem se pode esquecer que na Eucaristia recebemos o Pão vivo que dá a Vida divina, afim de que entremos sempre nesse amor trinitário, para depois podermos, de fato, irradiar este amor, amando os irmãos e irmãs como Jesus nos amou e isto sob as luzes do Espírito de Amor que une as três pessoas divinas. Somos todos convidados a participar do júbilo da Trindade para estarmos em condição de transmitir por toda parte este júbilo espiritual. Adoremos o Pai. Marchemos no desapego do mundo, seguindo Jesus. Abramo-nos às inspirações do Espírito Santo. Seremos deste modo um apelo à fé para todos. Acolhamos assim as graças da misericórdia deste Deus uno e trino que deve fulgurar na nossa vida. Como ensinou São Paulo, Deus é rico em misericórdia. Seremos salvos pela nossa fé confiante, recebendo com amor os dons divinos especialmente o Espírito Santo que reforça o nosso coração e nos permite produzir os verdadeiros frutos de justiça e caridade. Estamos assim celebrando uma história de ternura, a mais bela história de amor de todos os tempos. Na solenidade de hoje, mais do que nunca, deve fluir de nossos corações a secular saudação: “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”! *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.