sábado, 23 de maio de 2020


 RECEBER COM AMOR O ESPÍRITO SANTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Com a solenidade de Pentecostes celebramos o ápice da vida de quem foi batizado. O que era uma promessa de Deus se torna com a vinda do Espírito Santo um aprimoramento, pois a finalidade da existência do seguidor de Cristo é atingir a plenitude da personalidade cristã. São Paulo assim se expressou: “O próprio Espírito atesta com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8,16). Então se pode respirar e viver a bondade e a ternura deste Deus que habita na alma em estado de graça.  Trata-se de viver na luz em comunhão mútua com Ele que é luz (1 Jo 1,7). Criaturas novas iluminadas pela presença divina, “gozando todos de abundância de graça” (Atos 4,33). Cada cristão se torna assim uma carta de Cristo escrita com o Espírito do Deus vivo (2 Cor 3,3), procurando sempre as coisas do alto e não as da terra. Tudo isto resultante da presença de Deus intensamente vivida. Movidos pelo Espírito Santo, mesmo numa cultura como a atual voltada para o exterior, é possível fixar nesta realidade sublime que é ser herdeiros de Deus, coerdeiros de Cristo. Pentecostes então leva cada um a avançar mais longe e mais profundamente no mistério divino. Somos, de fato, preciosos diante de Deus, salvos pela paixão e morte de Cristo e repletos do Espírito Santo. Deste modo, o amor de Deus envolve todos que nele creem e pelo seu Espírito confirma o quanto cada um é valioso perante Ele, destinado à glória e ao esplendor eterno da visão beatífica lá no céu. Cumpre então estar envolvo na ternura e na misericórdia divinas, longe das trevas do erro e de qualquer pecado, pois o Espírito Santo nos atesta que nosso Deus é o Deus três vezes santo, Pai amoroso que tanto nos ama. É preciso, porém, deixar que o Espírito Santo faça em nós o que Ele quiser em nossas vidas, evitando, cuidadosamente, afastar as resistências advindas de um mundo materializado e das insídias diabólicas. Donde então o conselho de São Paulo: “Não extingais o Espírito, não desprezeis as profecias, mas examinai tudo, retendo o que é bom. Conservai-vos longe de toda a aparência do mal”! (Tes 5,19). A fidelidade em seguir as inspirações do Espírito Santo é uma garantia para jamais sucumbir diante do maligno. Saber escutá-lo, pois Ele, continuamente, bate à porta de cada coração para iluminar, vivificar e salvar. Isto é crer na sua força, dando-lhe uma resposta de amor, observando sempre seus apelos para uma vida cada vez mais perfeita diante de Deus. Nas orações individuais ou comunitárias é necessário perceber o que este Deus quer de cada um, o que Ele deseja fazer por nós, em nós e conosco. É a esta sabedoria que o Espírito Santo nos guia. Estar, portanto, atentos à novidade do Espírito em tudo e por tudo na prece ou em qualquer atividade. O Espírito Santo é para a Igreja e os cristãos o Espírito da memória, da lembrança, da continuidade com Jesus. O que Ele nos faz compreender e viver é tudo aquilo que Jesus ensinou. O Paráclito simplesmente, divinamente nos rememora tudo que Jesus fez e pregou da parte do Pai. Entrar na novidade do Espírito é, assim, descobrir progressivamente a dignidade de ser cristão, andando como filhos da luz, captando sempre o que há de eterno nas menores ações cotidianas, porque feitas por amor a um Deus que tanto nos ama. Purificado pelo Espírito Santo, imerso nesta dileção divina o cristão se torna, como desejou Jesus, luz do mundo e sal da terra. Esta se torna então o lugar da misericórdia divina. O coração do cristão cessará de duvidar e temer pelo presente ou pelo futuro, perante suas responsabilidades, porque sentirá sempre junto de si o poder do Espírito Santo a sustentá-lo. O cristão se torna sábio espiritualmente, dado que o Paráclito fará com que ele entenda a linguagem do amor vitorioso. Eis porque é preciso sempre pedir ao Espírito Santo seus sete dons. A sabedoria que leva a degustar a presença de Deus, jamais dele se separando. A inteligência que ajuda a entrar no mistério de Deus e a compreender o essencial da fé, da Palavra divina contida na Bíblia, a distinguir o erro da verdade, levando a uma mudança de vida. A ciência que permite reconhecer Deus na obra da natureza e na história, valorizando todas as dádivas divinas, A fortaleza que conduz à perseverança nas tentações, à coragem de testemunhar por toda parte o Evangelho, tornando cada um vitorioso no combate espiritual, executando do melhor modo os deveres de cada instante. O conselho que dispõe a ver claramente o que é melhor para si e para os outros, em tudo discernindo a vontade de Deus. A piedade que faz entrar na experiência da paternidade divina, aproximando cada um da ternura do Pai que está no céu. O temor que não é o medo de Deus, mas que é possuir o sentido da grandeza do Ser Supremo e temer dele se separar. Saibamos cultivar sempre estes sete dons e seremos cada vez mais santos como santo é o nosso Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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segunda-feira, 18 de maio de 2020


ESTOU 




ESTOU ESTOU CONVOSCO TODOS OS DIAS

                                      Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Antes de sua ascensão ao céu, Jesus confirmou a missão dada aos Apóstolos e assegurou sua duradoura assistência à Igreja, firmando sua infalibilidade (Jo 28, 16-20). Sua partida para junto do Pai não significava que sua obra redentora estava terminada e que não deixaria seus seguidores órfãos. Os onze e seus sucessores deveriam ir pelo mundo proclamando a Boa Nova a todos os povos. Pelo livro dos Atos dos Apóstolos se pode ver como nas primeiras comunidades cristãs não somente a palavra de Deus ia se espalhando, mas também que a mensagem de Cristo não perdia nada de sua eficácia. Sobretudo os apóstolos Pedro e Paulo anunciavam com vigor tudo que Jesus havia ensinado, mas também operavam milagres tão estupendos como os feitos pelo Mestre divino. Curavam os cegos, os coxos e até ressuscitavam mortos. É que Jesus, tendo ido para junto do Pai, embora ausente, permanecia atuante na sua obra salvadora. Verídicas suas palavras: “E eis que eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo”. Ele continuou a agir no coração mesmo de sua Igreja. O mistério de sua Ascensão traz à baila duas realidades que poderiam parecer opostas. De um lado era proveitoso que Ele voltasse para junto o Pai e fosse lá nosso intercessor, mas por outra é de se notar que se tratava de uma ausência aparente, pois Ele foi fisicamente, mas continuou presente espiritualmente de maneira de fato extraordinária, eficaz e poderosa. De junto do Pai Jesus enviou o Espírito Santo e Pentecostes iniciou a história da Igreja através dos tempos. A ordem de Jesus foi não apenas doutrinar todas as gentes, mas ainda “batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, ensinando-as a observar tudo que Ele mandou. Há, assim, um liame profundo entre a Ascensão e o Batismo. O Batismo inaugurou a vida pública de Cristo, a Ascensão foi o limite final. São Pedro deixou isto bem claro ao afirmar, como está nos Atos dos Apóstolos, que tal foi a trajetória de Jesus “a partir do batismo de João até o dia em que do meio de nós foi elevado ao céu” (Atos 1,22). O Batismo pelo qual se multiplicariam seus seguidores é, realmente, uma imersão na vida trinitária. Vida em Deus, vida do Espírito Santo, vida de Jesus que, deste modo, estaria com seus discípulos até a consumação dos tempos. Termos sido batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo não foi um rito mágico, mas o começo de uma marcha com Jesus, colocando nossos passos nos seus passos, mesmo porque no final de nossa passagem por este mundo, na outra margem da vida, Ele está à nossa espera.  Deste modo a Ascensão se torna nosso destino, o fim da caminhada terrena iniciada no nosso batismo. Tal o sentido profundo da vida do cristão viver como Jesus para um dia estar com Ele por toda a eternidade. Eis aí o que Jesus ressalta no dia de sua Ascensão. Ele nos dá o poder de nos tornarmos filhos de Deus, de viver pelo batismo, desde agora e por toda a eternidade, com Ele, unidos ao Pai e ao Espírito Santo. No momento em que Ele deixa esta terra, Ele revela a seus discípulos que um lime definitivo os une com a Trindade Santa, ligação tão forte que nada deverá separar. Nem podemos nos esquecer de que, indo para o Pai no dia de sua Ascensão, Ele se deixou ficar também na Eucaristia. Ele havia dito solenemente: “Quem come  a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”. Deste modo, a solenidade da Ascensão fixa verdades maravilhosas que devem ser a razão de ser do cristão. Resulta uma profunda esperança que lança alegria total no coração de quem ama a Jesus. Esperança que é uma virtude dinâmica, um motor para a perseverança no bem, dilatando o coração no desejo de estar com o Mestre divino após uma vida virtuosa nesta terra. Tudo isto deve ser fixado, tanto mais que se vive numa sociedade triste, sombria, depressiva, repleta de hediondos crimes, exatamente porque para muitos o céu, onde Jesus está a nossa espera, deixou de ser o fim último de todas as atividades. Impressionam desilusões lamentáveis afogadas no álcool, nas drogas, nas ações mais deprimentes. Nada, portanto, mais necessário do que irradiar as mensagens da Ascensão de Jesus para que a luz da fé faça brilhar em todos os corações a certeza de um destino glorioso. Reavivemos, portanto, nossa esperança fagueira: Jesus está à nossa espera lá na Casa do Pai! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.







ECONV

segunda-feira, 11 de maio de 2020


O ESPÍRITO DA VERDADE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Antes de sua Ascensão ao céu Jesus deixou aos apóstolos palavras consoladoras, garantindo-lhes que Ele rogaria ao Pai e Ele lhes daria outro Consolador, o Espírito da Verdade (Jo 14,15-21). O Paráclito confirmaria tudo que Ele ensinou e convenceria o mundo de seus erros. É que o Confortador revelaria sua presença e comunicaria total fidelidade à sua palavra. Podia então afiançar que não os deixaria órfãos. Um adeus assim repleto de consoladoras promessas, enchendo o coração de seus discípulos de confiança e esperança. O critério, porém, do amor que a Ele é devido seria sempre a observância radical dos seus mandamentos, cuja guarda seria a prova da dileção a Ele e disto resultaria o amor do Pai. Admirável, de fato, a presença e a obra do Espírito Santo na comunidade de seus seguidores. Estes seriam criaturas novas através da renovação interior operada pelo Espírito da Verdade. Este levaria os cristãos à plena comunhão com o Amor trinitário, estando presente em cada um de seus fiéis. Este Espírito da Verdade seria sempre o protetor da fé e o pedagogo da vida espiritual do cristão. A grande mensagem, portanto, que Jesus deseja que recebamos é acolher este hóspede interior que não nos deixa jamais sozinhos. É preciso se refugiar nele, nos entreter com Ele como nosso mestre espiritual. Cumpre sempre criar um espaço que permita o Espírito da Verdade agir dentro de cada um de nós. É o que deve acontecer não apenas nos colóquios das orações individuais, mas, sobretudo, através da participação ativa nas Missas dominicais, que comunicam mensagens consoladoras para cada semana. Com efeito, o Espírito da Verdade deseja transformar para melhor a vida de cada cristão. É uma sabedoria celestial saber escutá-lo e agir por Ele. É deste modo que as palavras de Jesus se tornam atuais e sempre novas para cada um e para toda a Igreja. Todas estas considerações já preparam cada um para daqui a quinze dias no glorioso 31 de maio próximo receber nova efusão do Espírito Santo por ocasião da solenidade de Pentecostes. O Espírito da Verdade virá para sanar nossas vulnerabilidades, nossas limitações, os obstáculos que impeçam de ser verdadeiros discípulos de Jesus por meio de um combate corajosos contra toda mediocridade. A luta entre o bem e o mal, entre a fidelidade ou a infidelidade para com Deus dependerá sempre da ajuda continua do Paráclito, do Defensor, do Espírito da Verdade. Ter disto consciência é o que Cristo pede ao anunciar que sobre seus seguidores viria esta força divina. É ela que permitirá caminhar vencendo todas as artimanhas do maligno com coragem, perseverança e continuas vitórias nas veredas do bem e das virtudes. O critério para estar de acordo com o Espírito da Verdade não vem da inteligência, mas da própria consciência através da qual nos fala o Paráclito. A consciência é mais do que um mero saber, é uma luz que leva a crer e esperar.  Daí surge a fidelidade que leva a um progresso interior, a um dinamismo maravilhoso, a um estilo de vida realmente cristão. Este então trabalha continuamente para crescer na própria perfeição, contribuindo para o bem comum, para a felicidade de todos. É a misteriosa comunhão dos santos que se dá. Compreende-se desta forma que “uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”, como bem se expressou Elisabeth Leseur. O Espírito da Verdade lembra continuamente que Jesus veio para a salvação de todos. Cada vez que o cristão se esforça para se tornar mais humano está melhorando toda a humanidade, pois se torna mais próximo de Deus, mais se assemelha a Cristo. Eis aí a obra maravilhosa do Espírito da Verdade. Grande é, portanto, a responsabilidade do cristão. Este deverá ter sempre uma intuição sobrenatural, um olhar novo e positivo a envolver todas as suas atividades, iluminando a todos que se acham em seu derredor. É a realização concreta do que preceituou Jesus: “Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16). Portanto, é através dos acontecimentos de cada hora que os cristãos podem impregnar o mundo com a presença de Deus. É uma resposta aos apelos da fé, permitindo que o Espírito da Verdade trabalhe dentro do coração do discípulo de Jesus.  Nunca plenamente sabemos o bem que fazermos quando fazemos o bem. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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