segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

A CONVERSÃO E O REINO DE DEUS


A CONVERSÃO E O REINO DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No início de sua pregação da boa nova neste mundo, começo de seu ministério público, na sua primeira admoestação, antes mesmo de chamar seus primeiros discípulos, Jesus recomenda solenemente: “Convertei-vos, porque está próximo o reino dos céus" (Mt 4,12-23). Esta conversão significa mudança de mentalidade, verificando se a Palavra de Deus tem tido plena aplicação na vida cotidiana de cada um. Existência iluminada pela luz divina que deve ser irradiada por toda parte. Trata-se da libertação das insídias diabólicas e da entrega total ao serviço de Deus na justiça e na santidade. É o reviver no Espírito Santo que leva a repudiar pecados num retorno absoluto às realidades celestes. As primeiras mensagens de Jesus ao iniciar sua evangelização foram assim palavras de arrependimento e purificação do coração. Assim se estará caminhando na luz do Senhor e não nas trevas longe do reino de Deus. É que neste reino não entrarão os orgulhosos, os perversos, os pecadores renitentes. Entretanto, a imagem do Reino do Céu não deve causar temor, mas, sim, o desejo de não o perder através da humildade, do remorso, da mudança de vida, pelo repúdio de toda ação indigna do cristão. É o caminhar nobremente como em pleno dia, agindo sempre na claridade, resplandecendo diante dos outros pelas boas obras. Com efeito, como bem se expressou Elisabeth Leseur, “uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”. Graças aos bons exemplos e as palavras oportunas muitos são os que reencontram o Mestre da Vida que a todos criou para a alegria interior, para a paz da consciência durável e profunda, para um júbilo todo divino. E deste modo que se caminha para o Reino do céu, arrastando muitos para também o conquistar. Trata-se de deixar de lado os falsos ídolos e de se entregar inteiramente a Deus. Isto porque somente Deus é a vida verdadeira. A idolatria dos falsos prazeres, da ambição, do afã de dominar leva à frustração, à tristeza, à decepção. É preciso então se converter para Aquele do qual vem toda autêntica salvação. Cumpre poder dizer o que o salmista asseverou no salmo 26: “O Senhor é minha luz e salvação, de quem eu terei medo? O Senhor é a proteção da minha vida, perante quem eu tremerei? [...] Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver na terra dos viventes”. Assim, será possível proclamar: “Espera no Senhor e tem coragem, espera no Senhor”. Foi de propósito que Jesus iniciou sua pregação na Galileia, bem o símbolo da salvação universal que Deus oferece a todos.  Como salientou São Mateus, “Galileia dos gentios, o povo que jazia nas trevas”, dela fez Jesus o centro da irradiação do Evangelho, indo inicialmente pregar nas suas cidades e nas suas aldeias. O chamamento dos primeiros apóstolos, após lançamento do cerne de suas preleções, tem também um sentido profundo. Com efeito, isto significa que Jesus desde o início de seu apostolado escolheu discípulos que após seu retorno para junto do Pai no dia de sua Ascensão, iriam prosseguir o seu trabalho no tempo e no espaço. Na Galileia nasce assim uma evangelização que caracterizaria sua Igreja séculos afora. Antes, como notou São Mateus Jesus havia deixado Nazaré e fora morar em Cafarnaum uma cidade agitada, cruzamento de várias nações e culturas, de variadas religiões onde imperava a diversidade e a desordem. Nem sempre se observa que foi nesta região que Jesus escolheu os primeiros colaborados, de plano, pescadores de peixes que deveriam se tornar pescadores de homens de todas as raças e línguas. Ele os instruiria e por isto o evangelista diz que aqueles rudes homens simplesmente se puseram a segui-lo. Caminhariam junto com Ele abertos à diversidade, aprendendo que não há maior amor do que dar sua vida pelos que precisam de conversão, como os excluídos da sociedade, os que têm fome de esperança. Conflitos e tensões haveriam de existir no seio de sua Igreja, mas nada deveria impedir a expansão do Evangelho. Inúmeros movimentos evangelizadores se sucederiam através dos tempos.  Deste modo, por exemplo, com o Concílio Vaticano II o notável apostolado dos leigos foi incentivado com todos os seus desdobramentos. Atividades apostólicas que propendem para o grande anseio de Cristo: a extensão e a consolidação do reino de Deus. Todos cooperando para a expansão deste reinado porque todos somos súditos deste soberano Senhor. Para todos há lugar nos mais diversos ramos de apostolado, segundo o carisma próprio de cada um. Assim pela prece, pelo exemplo e pela palavra surgem maravilhosas conversões. É preciso, de fato, que o desejo de Jesus ressoe por toda parte: “Convertei-vos, porque está próximo o reino dos céus”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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