A MISSÃO UNIVERSAL DO REDENTOR
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A
reação dos ouvintes de Jesus na Sinagoga de Nazaré passou de uma admiração
profunda a um furor virulento, como bem registrou São Lucas (4,21-30).
Inicialmente “todos o elogiavam e admiravam-se das palavras cheia de graça que
saíam de sua boca”. Depois, “se encheram de ira” e Ele foi expulso de sua
cidade. Nenhuma das duas posturas afetou
o Mestre divino que sempre dizia a verdade, apesar de tentarem precipitá-lo
monte abaixo, pois “Jesus passou pelo meio deles, seguia o seu caminho”. Ele
ensinaria a seus discípulos: “Seja o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque
tudo o que passa disto procede do maligno”, ou seja, é sugestão diabólica. (Mt
5,37). Apesar então do fascínio com que seus conterrâneos O escutavam,
apreciando a beleza de suas palavras, Jesus não deixou de recriminar a
incredulidade que pairava no íntimo de seus corações que duvidavam da sua
missão messiânica a qual deveria se estender a todos que verdadeiramente O aceitariam
como o salvador prometido. Os nazarenos simbolizavam os demais judeus que O
perseguiriam e O levariam também para fora da cidade de Jerusalém e O
crucificariam numa lamentável recusa de
sua tarefa redentora. Através dos tempos idênticas são a reações humanas perante o mistério de Jesus. Isto tantas
vezes numa visão estreita, diminuindo a universalidade de sua obra salvífica
que deve se estender a todos e por toda
parte. Ele se manifestou não como o “o filho de José, mas como o “Filho de Deus”,
mas muitos até os que nele creriam colocariam sobre Ele etiquetas ao serviço de
seus interesses pessoais e daí de um lado um rigorismo condenável e de outro
uma laxismo diabólico, distorcendo tantas vezes sua doutrina ou não acatando as
determinações das autoridades de sua Igreja. Surgiriam os rigoristas que não
admitem as reformas necessárias nos diversos contextos e os falsos
progressistas que não se submetem às orientações do papa, dos bispos, dos
Párocos. Em pleno século XXI, por exemplo, há até aqueles que querem de novo a Missa em latim com o celebrante de
costas para os fiéis e não acatam as rubricas do Missal atualizado. O apelo
profético de Jesus seria sempre colocado em questão. Seus verdadeiros
discípulos fariam, eles sim, de seu Evangelho um programa de ação, uma palavra
divina que mobiliza, deixando de lado questiúnculas mesquinhas. Disto é que
resultaria a não aceitação de tudo que o magistério de sua Igreja apresenta
como o autêntico caminho da salvação. Através dos tempos, como aconteceu em
Nazaré, Jesus vai seguindo o seu caminho e é uma grande multidão que passa a
viver a realidade de tudo que Ele ensinou. Ele, como aconteceu em Nazaré seria
perseguido e, em Jerusalém, seria condenado a morrer crucificado, mas,
ressuscitando dos mortos provaria sua divindade, podendo oferecer aos seus
seguidores a vida eterna. Aqueles que se fecham em si mesmos e querem impor seu
próprio modo de ver criticam a Igreja, o Papa, os Bispos, os Padres e desejam
uma religião adaptada a seus moldes mentais. Faltar tantas vezes a compreensão
de Jesus e de seus legítimos representantes. A oposição aos mesmos coloca
muitos na contramão do caminho da salvação. Acontece então a perda da
identidade do autêntico fiel submisso em tudo ao Redentor, distorcendo a
verdade doutrinária ou o ritual do culto litúrgico devido a Deus. Felizmente,
porém, a maioria dos cristãos ostenta a capacidade de se conformar com as.
normas de uma religiosidade iluminada pelas orientações eclesiásticas sem
retrocesso ou avanços condenáveis. Toda tensão,
porém, pode e deve ser contornada e afastada para que se evite sempre cindir a
legítima postura de quem quer, de fato, seguir a Jesus, obediente a seus
representantes. A Igreja sempre remobiliza a história, faz as reformas
necessárias e em tudo procura unicamente a glória de Deus e o bem das almas,
porque Jesus passa sereno pelos séculos e aqueles que fielmente O seguem têm a
luz da vida (Jo 8,12). Estes serão salvos. *
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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