01 JESUS, MESTRE DOS APÓSTOLOS.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
O
episódio envolvendo os filhos de Zebedeu mostrou como Jesus era, de fato, um
primoroso formador de seus discípulos (Mc 10,35-45). Tiago e João ambicionando
um lugar privilegiado quando o Mestre estivesse na sua glória e, depois, a
indignação dos dez outros apóstolos diante desta fútil pretensão. Ambas as
posturas revelavam uma ambição desmedida. Admirável a conduta de Jesus,
verdadeiramente um exímio pedagogo. Com efeito, Ele não perde a paciência
perante atitudes tão mesquinhas, mas, calmamente, dá explicações e ministra
novos profundos ensinamentos. A Tiago e João Ele esclarece o futuro e mostra a
realidade do presente. Quanto ao porvir os dois O seguirão no caminho do
sofrimento e terão que passar pela morte quando chegasse sua hora. Todos os
seus verdadeiros seguidores deveriam a seu exemplo beber o cálice das amarguras,
mas estariam caminhando nas pegadas de um Ressuscitado. Quanto aos lugares de
honra era um segredo de Deus. Haverá surpresas. Os critérios divinos não são
como os dos homens neste mundo no que diz respeito a ocupar os primeiros
lugares. Aquele que tudo conhece com
sabedoria discerne as obras de cada um na sua passagem por esta terra. O Ser
onisciente não se engana nunca e somente Ele pode com toda a retidão julgar as
ações tão complexas dos seres humanos. Dadas as explicações aos filhos de
Zebedeu, perante a irritação dos outros apóstolos, para todos eles uma norma
luminosa: “Quem quiser entre vós ser o primeiro, seja submisso a todos”. Apelou
então para o exemplo que Ele mesmo dava: “O próprio Filho do homem não veio
para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”.
Assim deveriam proceder todos os seus discípulos. Nada de querer reinar sobre os destinos dos
outros, sobre seus corações, criando um mundo em torno de seu próprio eu. Jesus
condena todos os falsos valores e proclama a nobreza do serviço ao próximo em
todas as circunstâncias. Ser servidor de
todos, eis o ideal que Ele estabelece como norma de vida. Não se trata de
abolir responsabilidade de chefia inerente às tarefas específicas assumidas,
mas de colocar ao serviço do próximo os dons recebidos de Deus, levando os
subordinados a quererem cumprir os seus deveres sem imposição, agindo sempre com
habilidade e coerência. Deste modo é que se deve abordar cada ser humano como
digno de ser amado e ser servido, seja ele quem for, vendo nele a figura de Jesus.
Este dirá: “O que fizerdes ao menor de vossos irmãos, foi a mim que o
fizestes”. Eis o fundamento da lei do serviço. Os santos compreenderam plenamente esta
mensagem e executaram com primor todas as suas tarefas como verdadeiros
servidores dos irmãos e irmãs. A verdadeira grandeza do cristão se manifesta
nos mínimos obséquios ao próximo, sobretudo ao próximo mais próximo de cada um
que é aquele com o qual se convive em casa sob o mesmo teto. Encontra-se ainda no
cuidado com os enfermos e pessoas idosas e no desvelo para com todos que passam
necessidade. Nem se pode esquecer que um dos mais valiosos serviços a serem
prestados é a oração feita nas intenções daqueles que precisam de conversão,
oferecendo também por eles sacrifícios que operam maravilhas. É preciso que cada
um esteja consciente do que disse São Paulo: “Deus quer que todos os homens
sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (I Tm 2,4). Esse é um serviço
no qual todo batizado deve estar engajado, pois participa do múnus salvífico do
Redentor, situado no coração mesmo de sua missão salvadora. Era esse espírito
novo que Jesus incutia aos apóstolos, revertendo suas expectativas de distinção
e dominação. Isto é tanto mais necessário em nossos dias, dado que se vive num
contexto de competição acirrada. É o sucesso que se quer obter a qualquer preço
nos setores sociais, financeiros, profissionais em detrimento da eficiência nas
atividades de cada hora e da reta intenção de tudo fazer para glória de Deus e
bem dos outros. A Igreja e toda a sociedade se tornam mais belas e humanas
quando todos se esforçam por encarnar na sua vida a lei do serviço como Cristo doutrinou.
É um objetivo, marca fundamental do discípulo de Jesus. É essa realidade que
leva os jovens a se entregarem a um estudo profícuo para serem profissionais
competentes nas suas áreas de atuação. Conduz a todos os cristãos a empregarem
todos os esforços para melhor ajudar os outros nas mínimas tarefas de cada hora
e isso nas mais variadas funções, tudo realizado no mais fulgente amor fraternal.
Ai a obrigação de todo batizado que caminha na alheta de Jesus. Todos unidos no
amor através do serviço uns dos outros. Tudo isso ajuda a
vencer o egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, impedindo a
perniciosa forma de superioridade que dominava os apóstolos, os quais só
pensavam nos seus próprios interesses. Receberam magnífica lição de Jesus que,
de fato, viera a esta terra para servir e não ser servido. * Professor no Seminário de Mariana durante 40
anos.
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