01 COMO OBTER A VIDA ETERNA
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Eis
a questão que um jovem rico apresentou a Jesus: “Que devo fazer para obter a
vida eterna?” (Mc 10, 17-2). Ele observava os mandamentos, mas, no seu caso
específico, cumpria-lhe se desfazer de seus bens, vendendo-os e dando tudo aos
pobres. O Apóstolo Pedro por sua vez disse a Jesus que eles, os apóstolos,
tinham deixado tudo para O seguirem. Cristo
lhes afiançou uma grande recompensa nesta vida, apesar dos sofrimentos, e no
futuro a vida eterna (Mc 10 27-30). O cerne da mensagem de Cristo, válida para
todos os cristãos, contida nessas suas respostas era o desapego dos bens
materiais. Ele não estava estabelecendo norma universal para todos que O
seguissem. Não queria dizer que cada fiel teria o mesmo apelo e a mesma
vocação. Com efeito, a relação do cristão quanto às riquezas, à família, à
sociedade variaria segundo sua missão dada por Deus. Uma é a vocação daqueles
que fazem votos de pobreza absoluta; outra a de um chefe de família e do
profissional nas mais diversas profissões. A todos seria indistintamente
necessário não endeusar a riqueza, os bens materiais em si mesmos. O Concílio
Vaticano II ensinou com razão que a vocação à santidade é universal e que ela
pode se realizar seja qual for a situação de cada um neste mundo. Está claro no capítulo quinto da Constituição
sobre a Igreja promulgada em 1964: “Todos os fiéis, portanto, se santificarão
mais cada dia na sua condição, nos deveres de seu estado ou nas circunstâncias
de sua vida [...] com a condição de tudo acolher com fé da mão do Pai celeste e
de cooperar com a vontade divina, manifestando a todos no cumprimento de sua
tarefa temporal o amor com que Deus amou o mundo”. O apelo de Jesus ao desapego
e à radicalidade exigida do homem rico e dos apóstolos tratava-se de um ideal
que não podia se separar da vocação particular que o próprio Deus confiaria a
cada um neste mundo e nas circunstâncias peculiares do exercício desta vocação.
O principal seria nunca endeusar a fortuna ou qualquer bem material. Grande a
responsabilidade com que a vocação pessoal deve ser exercida, mas tendo sempre
o foco na vida eterna a ser alcançada com as boas obras, na observância total
dos dez mandamentos. A todos, porém, ele, diz “Vem e segue-me”, seja qual for a
vocação de cada um. Deveria em qualquer caso haver uma observância total, sem
exceção, de tudo que Ele ensinou como condição para entrar na vida eterna. É
preciso que o seguidor de Cristo examine sempre como tem sido fiel ao
Evangelho, tomando a cruz de cada dia e seguindo os passos do Mestre divino. O
cristão deve ser realista, vivendo em plenitude o ideal estabelecido pelo Filho
de Deus, cuidando seriamente de sua salvação eterna. Todos conscientes de que
tudo passa neste mundo e não se deve apegar a nada que é passageiro e
transitório. Cumprir com os deveres de cada dia com muito amor a Deus e ao próximo
numa visão espiritual consistente, numa evangelização constante por palavras e
ações. Cuidar da própria salvação eterna aqui e agora. Agir com sabedoria cristã
em tudo e examinar se as intenções são sempre retas no pensar, no falar e no
agir. Ser incondicionalmente cristão sem restrições, afastando tudo que impeça
seguir de fato a Cristo. Seguir continuamente as boas inspirações do Espírito
Santo que levam ao aperfeiçoamento espiritual. Por vezes precisamos nos
desinstalar de nossos hábitos meramente humanos e modificar o sistema de vida
por causa dos bens futuros. É preciso ao cristão viver intensamente as oito
Bem-aventuranças e todos os conselhos legados por Jesus no Evangelho. É
imprescindível muitas vezes a mortificação diante de um conforto inútil, de
exigências tolas de uma cultura moldada pelos meios de comunicação social. Ter independência
da manipulação da mídia para ater-se a um esquema santificador que valoriza a
existência de cada um para a eternidade. Coração aberto para as misérias do
próximo sem jamais fechá-lo para as inspirações vindas de Deus. Jesus dirá que o caminho que leva à vida
eterna é estreito, isento de ilusões terrenas, de prazeres condenáveis e de uma
autonomia desenfreada. A todos, portanto, é possível ser santos, pois Jesus
afirmou: “Para Deus nada é impossível”. *
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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