01 A INDISSOLUBILIDADE DO MATRIMÔNIO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No
que tange ao matrimônio o projeto de Deus é indiscutivelmente possível e Jesus
foi taxativo ao dizer: “O que o Deus uniu o homem não separe” (Mc 10,2-16) As
primeiras páginas da Bíblia apresentam a narrativa da criação na qual aparece
claro o plano divino. Esse funda tudo no
amor da união do homem e da mulher, chamados a se dar um ao outro na mais
perfeita igualdade. Adão maravilhado ao olhar pela primeira vez Eva exclamou:
“Eis o osso de meus ossos e a carne da minha carne” (Gên 2,13). A Sagrada
Escritura prossegue concluindo: “O homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá a
sua mulher e os dois formam uma só carne” (Gên 2,24). O matrimônio, portanto, é
de sua natureza mesma indissolúvel. Cristo vindo a este mundo confirmou esta
verdade. Explicou a razão pela qual Moisés havia permitido escrever o ato de
divórcio e repudiar, estabelecendo esta norma não contestando o projeto de
Deus, mas por causa da dureza do coração humano. Cristo viera restabelecer o
projeto de Deus e confirmou: “Todo o que repudiar sua mulher e casar com outra,
comete adultério contra ela; e se uma mulher repudia o seu marido e casa com
outro, comete adultério” (Mc 10, 11-13). Deus não pode se enganar e nem nos
enganar. Donde ser indispensável a sua presença no lar onde homem e mulher se
unem pelo sagrado vínculo de um sacramento. No laço matrimonial há três
vontades que devem se interagir: o homem, a mulher e Deus. É esta presença do
Criador no seio da família que prende, definitivamente, dois corações. Ele deve
estar sempre no centro do projeto conjugal. Na visão divina o laço do amor que
une o homem e a mulher ultrapassa o plano afetivo, sensível, emocional. Ele
quer que os esposos estejam unidos por um amor Ágape, que é baseado na vontade de amar, de se dar para o bem um do
outro, superando todas as dificuldades que tendam a fragilizar essa dileção.
Esse amor, fundamentado no dom de si mesmo, é um amor que vem de Deus o qual é Ele
mesmo sua única fonte. São João na sua primeira carta dirá: ”Deus é amor” (1 Jo
4, 16-21). Quando Jesus empregou a expressão “o que Deus uniu o homem não
separe”, Ele mostrou que só um amor vindo do coração divino pode unir
duravelmente um homem e uma mulher. Eis porque o casal humano através da prece
haure na fonte divina a água viva que fará crescer dia a dia sua unidade.
Graças a serem obtidas também através da Sagrada Família, Jesus, Maria e José, que
iluminam os cônjuges na visão clarividente do plano de um amor que Deus quer
prevaleça por toda a eternidade. São José e Maria se tornaram mestres da
humildade e da paciência para que jamais seja maculado o verdadeiro sentido da
dileção conjugal, sobretudo no contexto atual no qual tanto se fala de amor e
este é tantas vezes renegado. Pela influência maléfica dos meios de comunicação
social abrem-se feridas e dores que martirizam pai, mãe e filhos, envolvendo-os
em horripilos problemas matrimoniais, afetando a exigência evangélica da
unidade e da fidelidade. Cumpre sempre uma preparação cuidadosa para aqueles
que vão convolar núpcias, afim de que estejam plenamente cônscios de suas
responsabilidades como marido e esposa. Àqueles que estão casados é preciso
todo amparo e orientação para que jamais um lar seja destruído pelas invectivas
do inimigo. É preciso que o casal viva continuamente a dimensão espiritual de
seu matrimônio. Homem e mulher são na sua casa imagem viva do Deus Uno que os
uniu e os quer unidos para sempre. Para Deus nada é impossível e, por isso
mesmo, são milhares de cônjuges que vivem sua união, não obstante todos os
percalços, que os levam por vezes às raias do heroísmo. O Espírito Santo presente
no lar pode transformar continuamente um amor humano que é limitado no amor
imenso, ilimitado de Deus. Isso se manifesta em inúmeras circunstâncias,
sobretudo quando um sabe imediatamente perdoar o outro, tendo consciência de
que somente Deus é perfeito. Jesus, que restabeleceu a grandeza do vínculo
matrimonial ensina a dialogar, a desculpar, a ultrapassar as barreiras das
fraquezas humanas. A família cristã patenteia então valores fundamentais para
que haja uma sociedade justa e durável que é a base da grandeza de um povo. * Professor no Seminário de Mariana durante
40 anos.
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