segunda-feira, 29 de outubro de 2018

AS OITO BEM-AVENTURANÇAS


01 AS OITO BEM-AVENTURANÇAS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
As Bem-aventuranças são o retrato falado daqueles que já gozam da visão beatífica (Mt 5,1-12). Proclamadas por Cristo, trazem à tona o que se acha os salmos. São passagens do Antigo Testamento que também mostram quem são os santos. O primeiro salmo apregoa: “Bem-aventurado o homem que se compraz na lei do Senhor” (Sl 1,1). O salmo 111 nos diz: “Bem-aventurado aquele que teme o Senhor e ama inteiramente sua vontade” (Sl 111, l). No salmo 36 está escrito: “Os mansos possuirão a terra e gozarão de uma abundante paz” (Sl 36,11). O salmo 106 afirma que Deus cumula de bens os que têm fome (Sl 106,9). Assim começa o salmo 118: Bem-aventurados os homens íntegros em seus caminhos, os que marcham seguindo a lei do Senhor. Felizes os que guardam suas exigências, eles O procuram de todo coração” (Sl 118, 1-2). Jesus convida então a todos a receber estas mensagens do Salmista, especificando, porém, para seus seguidores quem são aqueles que, de fato são bem-aventurados, pois nunca se separam do amor de Deus e do próximo. O seguidor de Cristo deve possuir pobreza de coração, ou seja, o desapego das coisas materiais e ter muita mansidão dentro de si. É preciso que chore pelos pecados cometidos e lamente as misérias morais que campeiam mundo afora. Cumpre ainda, seja misericordioso e tenha fome e sede de justiça para viver integralmente a pureza de mente e de corpo. É necessário que passe pela perseguição por causa de Cristo, jamais cedendo ao erro, seja ele qual for. Além disto, quem é destinado ao céu deve construir nesta terra a paz para si, para os outros, afim de que tenha paz com Deus. É deste modo que os cristãos podem se tornar santos, isto é, não pessoas perfeitas, porque somente Deus é perfeito, mas são fiéis que se esforçam por seguir o roteiro da felicidade que Jesus traçou nas oito Bem-aventuranças. Trata-se de procurar sempre se ajustar à vontade de Deus, vivendo em tudo as promessas batismais, renunciando sempre a satanás e a qualquer pecado. Como explica o Catecismo da Igreja Católica, as Bem-aventuranças traçam a imagem de Cristo, exprimindo a vocação do cristão ligado à glória da Paixão e Ressurreição do Redentor. Aqueles que já se acham lá no céu iluminaram nesta terra suas ações e atitudes, deixando exemplos magníficos. Nas sendas das Bem-aventuranças se viram sustentados nas tribulações, vivificados pela esperança da recompensa eterna. Quem os imita neste mundo já alcançam nesta vida a felicidade que Deus colocou no coração do ser humano. Isto porque a santidade deve ser a característica do cristão, dado que este precisa acolher a Cristo, deixando-o sempre. agir nele. É certo que na Casa do Pai há muitos que foram até grandes pecadores como São Dimas, Santo Agostinho, Santa Margarida de Cortona, mas eles se arrependeram sinceramente de suas faltas, de seus desvios, se converteram e receberam o perdão de Deus. Procuraram reparar os erros cometidos, sendo depois leais perante o Senhor Onipotente. Acreditaram no poder purificador do sangue de Jesus e foram por ele lavados. Imenso cortejo de todos que, embora tenham trilhado caminhos tortuosos, reconheceram seus erros e mudaram de vida.  Glorificamos também na solenidade de hoje tantos parentes e amigos que já se acham junto de Deus e são agora nossos intercessores e nos aguardam para uma ventura sem fim. Eles souberam degustar já na terra o gozo do céu, correspondendo às graças que Deus nunca nega a quem O teme e ama. Estão eles a nos recordar a necessidade de que Jesus seja, realmente, a verdade da vida de cada um. Assim esta festa que estamos celebrando é um convite a mais para a renúncia a si mesmo, às falsas seguranças que o mundo oferece, ao rompimento com todas as falsas doutrinas veiculadas pelos meios de comunicação social, as quais entravam as exigências do Evangelho. Coragem para romper a rede do egoísmo e do individualismo que limitam a participação ativa no crescimento da comunidade na qual se vive. Abandono de tudo que anula o espírito das Bem-aventuranças, pois na outra margem da vida Jesus está à espera de todos que andaram no caminho da santidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

JESUS, MESTRE DOS APÓSTOLOS


01 JESUS, MESTRE DOS APÓSTOLOS.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
O episódio envolvendo os filhos de Zebedeu mostrou como Jesus era, de fato, um primoroso formador de seus discípulos (Mc 10,35-45). Tiago e João ambicionando um lugar privilegiado quando o Mestre estivesse na sua glória e, depois, a indignação dos dez outros apóstolos diante desta fútil pretensão. Ambas as posturas revelavam uma ambição desmedida. Admirável a conduta de Jesus, verdadeiramente um exímio pedagogo. Com efeito, Ele não perde a paciência perante atitudes tão mesquinhas, mas, calmamente, dá explicações e ministra novos profundos ensinamentos. A Tiago e João Ele esclarece o futuro e mostra a realidade do presente. Quanto ao porvir os dois O seguirão no caminho do sofrimento e terão que passar pela morte quando chegasse sua hora. Todos os seus verdadeiros seguidores deveriam a seu exemplo beber o cálice das amarguras, mas estariam caminhando nas pegadas de um Ressuscitado. Quanto aos lugares de honra era um segredo de Deus. Haverá surpresas. Os critérios divinos não são como os dos homens neste mundo no que diz respeito a ocupar os primeiros lugares.  Aquele que tudo conhece com sabedoria discerne as obras de cada um na sua passagem por esta terra. O Ser onisciente não se engana nunca e somente Ele pode com toda a retidão julgar as ações tão complexas dos seres humanos. Dadas as explicações aos filhos de Zebedeu, perante a irritação dos outros apóstolos, para todos eles uma norma luminosa: “Quem quiser entre vós ser o primeiro, seja submisso a todos”. Apelou então para o exemplo que Ele mesmo dava: “O próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”. Assim deveriam proceder todos os seus discípulos.  Nada de querer reinar sobre os destinos dos outros, sobre seus corações, criando um mundo em torno de seu próprio eu. Jesus condena todos os falsos valores e proclama a nobreza do serviço ao próximo em todas as circunstâncias.  Ser servidor de todos, eis o ideal que Ele estabelece como norma de vida. Não se trata de abolir responsabilidade de chefia inerente às tarefas específicas assumidas, mas de colocar ao serviço do próximo os dons recebidos de Deus, levando os subordinados a quererem cumprir os seus deveres sem imposição, agindo sempre com habilidade e coerência. Deste modo é que se deve abordar cada ser humano como digno de ser amado e ser servido, seja ele quem for, vendo nele a figura de Jesus. Este dirá: “O que fizerdes ao menor de vossos irmãos, foi a mim que o fizestes”. Eis o fundamento da lei do serviço.  Os santos compreenderam plenamente esta mensagem e executaram com primor todas as suas tarefas como verdadeiros servidores dos irmãos e irmãs. A verdadeira grandeza do cristão se manifesta nos mínimos obséquios ao próximo, sobretudo ao próximo mais próximo de cada um que é aquele com o qual se convive em casa sob o mesmo teto. Encontra-se ainda no cuidado com os enfermos e pessoas idosas e no desvelo para com todos que passam necessidade. Nem se pode esquecer que um dos mais valiosos serviços a serem prestados é a oração feita nas intenções daqueles que precisam de conversão, oferecendo também por eles sacrifícios que operam maravilhas. É preciso que cada um esteja consciente do que disse São Paulo: “Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (I Tm 2,4). Esse é um serviço no qual todo batizado deve estar engajado, pois participa do múnus salvífico do Redentor, situado no coração mesmo de sua missão salvadora. Era esse espírito novo que Jesus incutia aos apóstolos, revertendo suas expectativas de distinção e dominação. Isto é tanto mais necessário em nossos dias, dado que se vive num contexto de competição acirrada. É o sucesso que se quer obter a qualquer preço nos setores sociais, financeiros, profissionais em detrimento da eficiência nas atividades de cada hora e da reta intenção de tudo fazer para glória de Deus e bem dos outros. A Igreja e toda a sociedade se tornam mais belas e humanas quando todos se esforçam por encarnar na sua vida a lei do serviço como Cristo doutrinou. É um objetivo, marca fundamental do discípulo de Jesus. É essa realidade que leva os jovens a se entregarem a um estudo profícuo para serem profissionais competentes nas suas áreas de atuação. Conduz a todos os cristãos a empregarem todos os esforços para melhor ajudar os outros nas mínimas tarefas de cada hora e isso nas mais variadas funções, tudo realizado no mais fulgente amor fraternal. Ai a obrigação de todo batizado que caminha na alheta de Jesus. Todos unidos no amor através do serviço uns dos outros.  Tudo isso ajuda a vencer o egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, impedindo a perniciosa forma de superioridade que dominava os apóstolos, os quais só pensavam nos seus próprios interesses. Receberam magnífica lição de Jesus que, de fato, viera a esta terra para servir e não ser servido. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

COMO OBTER A VIDA ETERNA


01 COMO OBTER A VIDA ETERNA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Eis a questão que um jovem rico apresentou a Jesus: “Que devo fazer para obter a vida eterna?” (Mc 10, 17-2). Ele observava os mandamentos, mas, no seu caso específico, cumpria-lhe se desfazer de seus bens, vendendo-os e dando tudo aos pobres. O Apóstolo Pedro por sua vez disse a Jesus que eles, os apóstolos, tinham deixado tudo para O seguirem.  Cristo lhes afiançou uma grande recompensa nesta vida, apesar dos sofrimentos, e no futuro a vida eterna (Mc 10 27-30). O cerne da mensagem de Cristo, válida para todos os cristãos, contida nessas suas respostas era o desapego dos bens materiais. Ele não estava estabelecendo norma universal para todos que O seguissem. Não queria dizer que cada fiel teria o mesmo apelo e a mesma vocação. Com efeito, a relação do cristão quanto às riquezas, à família, à sociedade variaria segundo sua missão dada por Deus. Uma é a vocação daqueles que fazem votos de pobreza absoluta; outra a de um chefe de família e do profissional nas mais diversas profissões. A todos seria indistintamente necessário não endeusar a riqueza, os bens materiais em si mesmos. O Concílio Vaticano II ensinou com razão que a vocação à santidade é universal e que ela pode se realizar seja qual for a situação de cada um neste mundo.  Está claro no capítulo quinto da Constituição sobre a Igreja promulgada em 1964: “Todos os fiéis, portanto, se santificarão mais cada dia na sua condição, nos deveres de seu estado ou nas circunstâncias de sua vida [...] com a condição de tudo acolher com fé da mão do Pai celeste e de cooperar com a vontade divina, manifestando a todos no cumprimento de sua tarefa temporal o amor com que Deus amou o mundo”. O apelo de Jesus ao desapego e à radicalidade exigida do homem rico e dos apóstolos tratava-se de um ideal que não podia se separar da vocação particular que o próprio Deus confiaria a cada um neste mundo e nas circunstâncias peculiares do exercício desta vocação. O principal seria nunca endeusar a fortuna ou qualquer bem material. Grande a responsabilidade com que a vocação pessoal deve ser exercida, mas tendo sempre o foco na vida eterna a ser alcançada com as boas obras, na observância total dos dez mandamentos. A todos, porém, ele, diz “Vem e segue-me”, seja qual for a vocação de cada um. Deveria em qualquer caso haver uma observância total, sem exceção, de tudo que Ele ensinou como condição para entrar na vida eterna. É preciso que o seguidor de Cristo examine sempre como tem sido fiel ao Evangelho, tomando a cruz de cada dia e seguindo os passos do Mestre divino. O cristão deve ser realista, vivendo em plenitude o ideal estabelecido pelo Filho de Deus, cuidando seriamente de sua salvação eterna. Todos conscientes de que tudo passa neste mundo e não se deve apegar a nada que é passageiro e transitório. Cumprir com os deveres de cada dia com muito amor a Deus e ao próximo numa visão espiritual consistente, numa evangelização constante por palavras e ações. Cuidar da própria salvação eterna aqui e agora. Agir com sabedoria cristã em tudo e examinar se as intenções são sempre retas no pensar, no falar e no agir. Ser incondicionalmente cristão sem restrições, afastando tudo que impeça seguir de fato a Cristo. Seguir continuamente as boas inspirações do Espírito Santo que levam ao aperfeiçoamento espiritual. Por vezes precisamos nos desinstalar de nossos hábitos meramente humanos e modificar o sistema de vida por causa dos bens futuros. É preciso ao cristão viver intensamente as oito Bem-aventuranças e todos os conselhos legados por Jesus no Evangelho. É imprescindível muitas vezes a mortificação diante de um conforto inútil, de exigências tolas de uma cultura moldada pelos meios de comunicação social. Ter independência da manipulação da mídia para ater-se a um esquema santificador que valoriza a existência de cada um para a eternidade. Coração aberto para as misérias do próximo sem jamais fechá-lo para as inspirações vindas de Deus.  Jesus dirá que o caminho que leva à vida eterna é estreito, isento de ilusões terrenas, de prazeres condenáveis e de uma autonomia desenfreada. A todos, portanto, é possível ser santos, pois Jesus afirmou: “Para Deus nada é impossível”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

CRER EM DEUS


CRER EM DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Deus é o próprio Ser subsistente por si mesmo, o qual, como falou São Paulo no Areópago de Atenas, “criou o Universo e tudo que nele se encontra” (Atos 17,24). Todas as criaturas são seres contingentes, ou seja, existem, mas poderiam não existir. Dotado de inteligência o ser humano acredita que Deus existe através da fé. Segundo o Catecismo da Igreja, “a fé é uma adesão pessoal do homem inteiro a Deus, que se revela. Ela inclui uma adesão da inteligência e da vontade à revelação que Deus fez de si mesmo por suas ações e palavras” (173). Pela Filosofia o homem também pode chegar a professar a existência de Deus, como, por exemplo, através das cinco vias expostas por Tomás de Aquino. É necessário estar sempre de acordo com Deus, podendo repetir com Davi: “Todos os dias haverei de bendizer-vos, hei de louvar o vosso nome para sempre” (Sl 144,1). Davi oferece a razão desta atitude: “Grande é o Senhor e muito digno de louvores e ninguém pode medir sua grandeza” (Idem, ibidem). O Profeta Amós assim cantou este poder divino: “Ei-lo o que forma o trovão e cria o vento, que derrama torrentes de água sobre os campos, que caminha sobre as alturas da terra; Senhor, Deus dos exércitos, é o seu nome” (Amós, 4,13). Deus oferece aos homens um tesouro que é o universo. Uma pobre ciência humana faz tudo para afastar Deus e filósofos ateus em vão tentaram e tentam negar sua existência, mas, como dizia Pascal, Ele “se oculta e se deixa ver”. Isto porque como diz a Bíblia: “Narram os céus a glória de Deus e o firmamento apregoa as obras de suas mãos” (Sl 19 2). Eis porque os que creem procuram união com Ele, como o sábio Pe. Sertillanges que assim se expressou: “Uno-me espiritualmente a Ele e procuro a coincidência de meu espírito com Seu espírito, de meu querer com Seu querer, de meu repouso beatífico com Seu eterno e beatífico repouso”. Dá o motivo pelo qual se deve assim proceder: “Representá-lo como é, acima de toda a medida e de toda comparação, tão íntimo quanto imenso, eis a verdadeira humildade. eis a sabedoria”. Disso resulta poder captar sempre os sinais divinos quer na alegria, quer na tristeza, pois Ele está sempre a cobrir o ser humano com sua mão paternal e tem poder para transformar o mal em bem. Acontecimentos exteriores são meios eventuais de advertências divinas das quais se devem tirar lições preciosas. Muito bem se expressou Jó: “Se recebemos de Deus as coisas boas, porque não vamos aceitar também as provações?” (Jo 2,10).  Isto numa imperturbável aceitação, com a mesma serenidade, quer nos momentos de regozijo, quer nos instantes das dores, demonstrando o cristão um apego confiante nele e pleno despego de si mesmo. Como explicou São Paulo, “sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus que são chamados segundo o seu propósito (Rm 8, 22). Deus sabe o que faz e nem sempre o ser humano tem capacidade de interpretar os acontecimentos. Assim, por exemplo, José que foi vendido por seus irmãos como escravo, depois se tornou governante do Egito para salvar não somente seus irmãos que agiram tão perversamente, mas ainda toda a casa de Israel da destruição. a ousadia humana muitas vezes pretende trazer Deus a seu tribunal e tal atitude em face do Infinito é de uma infantilidade lamentável, para não se dizer de uma estupidez sem limites. Cumpre sempre confiar na Providência divina e jamais deixar aflorar queixas pueris. Para evitar tais dispares a solução é saber escutar o Espírito Santo, evitando a loucura de julgar Deus. O Apóstolo Paulo escreveu: “Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo ou a espada? [...] Mas em todas essas coisas somos nós mais que vencedores graças àquele que nos amou” (Rm 815-38). Deus é fiel, justo e sábio e é preciso viver do sopro de seu Espírito, meditando sobre a obra de suas mãos para poder avançar livre e confiante rumo à eternidade. Lá, como está no Livro do Apocalipse, “Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 12,4). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

A INDISSOLUBILIDADE DO MARIMÔNIO


01 A INDISSOLUBILIDADE DO MATRIMÔNIO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No que tange ao matrimônio o projeto de Deus é indiscutivelmente possível e Jesus foi taxativo ao dizer: “O que o Deus uniu o homem não separe” (Mc 10,2-16) As primeiras páginas da Bíblia apresentam a narrativa da criação na qual aparece claro o plano divino.  Esse funda tudo no amor da união do homem e da mulher, chamados a se dar um ao outro na mais perfeita igualdade. Adão maravilhado ao olhar pela primeira vez Eva exclamou: “Eis o osso de meus ossos e a carne da minha carne” (Gên 2,13). A Sagrada Escritura prossegue concluindo: “O homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher e os dois formam uma só carne” (Gên 2,24). O matrimônio, portanto, é de sua natureza mesma indissolúvel. Cristo vindo a este mundo confirmou esta verdade. Explicou a razão pela qual Moisés havia permitido escrever o ato de divórcio e repudiar, estabelecendo esta norma não contestando o projeto de Deus, mas por causa da dureza do coração humano. Cristo viera restabelecer o projeto de Deus e confirmou: “Todo o que repudiar sua mulher e casar com outra, comete adultério contra ela; e se uma mulher repudia o seu marido e casa com outro, comete adultério” (Mc 10, 11-13). Deus não pode se enganar e nem nos enganar. Donde ser indispensável a sua presença no lar onde homem e mulher se unem pelo sagrado vínculo de um sacramento. No laço matrimonial há três vontades que devem se interagir: o homem, a mulher e Deus. É esta presença do Criador no seio da família que prende, definitivamente, dois corações. Ele deve estar sempre no centro do projeto conjugal. Na visão divina o laço do amor que une o homem e a mulher ultrapassa o plano afetivo, sensível, emocional. Ele quer que os esposos estejam unidos por um amor Ágape, que é baseado na vontade de amar, de se dar para o bem um do outro, superando todas as dificuldades que tendam a fragilizar essa dileção. Esse amor, fundamentado no dom de si mesmo, é um amor que vem de Deus o qual é Ele mesmo sua única fonte. São João na sua primeira carta dirá: ”Deus é amor” (1 Jo 4, 16-21). Quando Jesus empregou a expressão “o que Deus uniu o homem não separe”, Ele mostrou que só um amor vindo do coração divino pode unir duravelmente um homem e uma mulher. Eis porque o casal humano através da prece haure na fonte divina a água viva que fará crescer dia a dia sua unidade. Graças a serem obtidas também através da Sagrada Família, Jesus, Maria e José, que iluminam os cônjuges na visão clarividente do plano de um amor que Deus quer prevaleça por toda a eternidade. São José e Maria se tornaram mestres da humildade e da paciência para que jamais seja maculado o verdadeiro sentido da dileção conjugal, sobretudo no contexto atual no qual tanto se fala de amor e este é tantas vezes renegado. Pela influência maléfica dos meios de comunicação social abrem-se feridas e dores que martirizam pai, mãe e filhos, envolvendo-os em horripilos problemas matrimoniais, afetando a exigência evangélica da unidade e da fidelidade. Cumpre sempre uma preparação cuidadosa para aqueles que vão convolar núpcias, afim de que estejam plenamente cônscios de suas responsabilidades como marido e esposa. Àqueles que estão casados é preciso todo amparo e orientação para que jamais um lar seja destruído pelas invectivas do inimigo. É preciso que o casal viva continuamente a dimensão espiritual de seu matrimônio. Homem e mulher são na sua casa imagem viva do Deus Uno que os uniu e os quer unidos para sempre. Para Deus nada é impossível e, por isso mesmo, são milhares de cônjuges que vivem sua união, não obstante todos os percalços, que os levam por vezes às raias do heroísmo. O Espírito Santo presente no lar pode transformar continuamente um amor humano que é limitado no amor imenso, ilimitado de Deus. Isso se manifesta em inúmeras circunstâncias, sobretudo quando um sabe imediatamente perdoar o outro, tendo consciência de que somente Deus é perfeito. Jesus, que restabeleceu a grandeza do vínculo matrimonial ensina a dialogar, a desculpar, a ultrapassar as barreiras das fraquezas humanas. A família cristã patenteia então valores fundamentais para que haja uma sociedade justa e durável que é a base da grandeza de um povo. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.