segunda-feira, 30 de julho de 2018

ASLIMENTO PARA A V IDA ETERNA



ALIMENTO PARA A VIDA ETERNA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Após a multiplicação dos pães, quando a multidão saiu à procura de Jesus, Ele teve a oportunidade de falar sobre a teologia eucarística, afirmando: “que o pão de Deus é o que desce do céu e dá a vida ao mundo” (Jo 6,24-35). Tratava-se do “alimento que dura para a vida eterna”. Esse somente Ele poderia dar, pois “o pão de Deus é o que desce do céu e oferece a vida ao mundo”. Eis porque haveria a necessidade imperiosa de acreditar nele que fora enviado pelo Pai. Seria preciso uma fé profunda nele, fé enraizada no coração daquele que crê ser Ele o Filho do Eterno, o verdadeiro pão de Deus. Deste modo, Jesus levava seus ouvintes a penetrarem na sua pessoa divina e em seu mistério. Ele não seria apenas um maravilhoso ideal de homem, dado a seus irmãos e irmãs, não somente o Galileu a narrar parábolas que encantariam através dos tempos. Ele era, na verdade, aquele que o Pai “marcou com o seu sinal”. Ele unicamente quem podia dar “o alimento que permanece para a vida eterna”, conferindo aos homens o poder de atravessar a morte, uma vez que era o Filho Unigênito do Pai e com Ele o senhor da vida. Exige então uma confiança absoluta nele. Como outrora os ouvintes de Jesus pelos séculos afora inúmeros seriam os que pediriam a Jesus milagres como alicerce suplementar para crer em suas palavras e na sua missão divina. Provas suplementares não obstante a clareza de suas mensagens e as obras que realizara. Naquela oportunidade Jesus explicou a passagem do Êxodo com relação ao pão vindo do céu, ensinando que apenas o Pai, e não Moisés, dá o pão que permanece para a vida eterna. Jesus, então, mostra com clareza que Ele era este verdadeiro pão da vida. Isso porque sua palavra alimenta a fé de seu seguidor, firma sua esperança e porque Ele, somente Ele, é a revelação do Pai, que sacia no homem a fome de amar e ser amado. Na véspera de sua Paixão ao instituir o sacramento da Eucaristia rebrilharia para a humanidade a realidade sublime do que Ele acabava de falar. Não se tratava mais do maná perecível, mas do verdadeiro pão da nova Aliança dado aos que se dispusessem a nele crer. Não mais seria necessária uma escalada de prodígios, cumpria crer nele e usufruir das maravilhas de sua presença entre os seus seguidores, alimentados com o pão eucarístico. Uma prece deveria sempre ser dirigida a Jesus, a mesma registrada no Evangelho de hoje: “Senhor, dá-nos sempre deste pão”. É preciso então viver uma transformação que torne cada um capaz de nele acreditar, de segui-lo, para recebê-lo com ardente fé, podendo ser livre para viver a verdadeira vida transmitida pela união com Ele à hora da comunhão eucarística. É um engajamento operado por Deus, gerando uma situação que torna o fiel apto não para uma vida interminável neste mundo, mas para uma vida perene na eternidade. Isto o maná oferecido no tempo de Moisés não era capaz de operacionalizar. Ele o pão vivo descido do céu é que conferiria uma qualidade de vida que ultrapassaria os limites terrenos, vencida inteiramente a morte, porque transformação absoluta do ser humano. Jesus mais tarde dirá: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”. O fiel assim unido a Ele, alimentado por Ele, é conduzido por Ele. Eis aí o efeito sublime de uma comunhão bem feita, preparada por um coração desapegado do pecado e das mazelas humanas. Este percebe sempre em si a plenitude do gozo eterno. Cristo sempre se manifestou um realista e suas palavras não foram lançadas às nuvens, mas realizam plenamente o que significam. Jesus vai sempre muito além dos ilusórios anseios humanos. Felizes os que fazem a experiência plena do contato com o Pão da Vida. O momento da comunhão é um instante de fato privilegiado que cumpre seja degustado na totalidade rica e complexa de uma fé profunda.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

40 anos gloriosos do JUC


QUARENTA ANOS GLORIOSOS DO JUC
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A Paróquia de Santa Rita de Cássia após 1960 viu florescer os Grupos de Jovens de acordo com as orientações do Pároco Pe. Carlos dos Reis Baêta Braga que indicou o Diretor Espiritual, nomeado em 1975 por Dom Oscar de Oliveira. Com o crescimento da comunidade de Santo Antônio nela surgiu em 1978 o “Grupo Jovens Unidos em Cristo”, haurindo as experiências do GJV (Grupo Jovem de Viçosa) e do GGJ (Grupo de Gente Jovem). Foi um renovado e louvável esforço, partido dos próprios jovens em busca de ideais nobres, proporcionando crescimento espiritual àqueles que buscam valores perenes. Através das reuniões semanais, altamente formativas, raiou sempre uma influência recíproca, apurando-se o senso crítico diante dos desvios éticos que acometem a mocidade hodierna. Iluminados pelas orações e bons exemplos a grande meta passou sempre a ser a fidelidade a Cristo, afastando as ilusões enganosas dos meios de comunicação social. Um apostolado magnífico tem desde então afastado a muitos dos caminhos dos vícios. Disto resultando também um grande progresso nos estudos, visando servir os outros nas diversas profissões. Quarenta anos depois são inúmeros os profissionais competentes que frequentaram o JUC, os quais se distinguem nas mais variadas atividades em todos os lugares onde as exercem com rara proficiência. Adite-se que o JUC têm formado inúmeros casais, esposos exemplares, nos quais brilham a fidelidade matrimonial e uma admirável educação ministrada aos filhos. Nestes quatro decênios para atingir seus objetivos o JUC já promoveu vários encontros de formação denominados “Tobias” durante três dias de reflexões. Este evento nasceu da inspiração dada por Deus por ocasião da coordenação de  Ernando José Leite  no ano de 2000. Além disto, várias tardes de louvor aos domingos têm sido realizadas. Já foram promovidos também seis dias de reflexão sob o tema “Eu encontrei o Cristo”, com excelentes resultados de afervoramento religioso, além de vinte outros encontros de um dia aos domingos, abordando temas como o Amor de Deus, o Espírito Santo, os Sacramentos, a devoção a Maria, As equipes que coordenam estes trabalhos se preparam através de muita oração e os palestrista são convidados após aprovação do Diretor Espiritual. O JUC torna-se assim um centro de espiritualização cujas repercussões são inestimáveis. Durante a semana cada membro do JUC por toda parte é um apóstolo cuja conduta deixa luminosas mensagens. Lançado em agosto de 2012 com as bênçãos do Pároco Pe. Paulo Dionê Quintão, o jornal “Juventude Conectada” foi um projeto oportuno do JUC, tornando-se um órgão de informação e integração da Comunidade de Santo Antônio com tiragem mensal de mil exemplares.  Tudo isto a serviço da evangelização. Entre os fatos marcantes destes quarenta anos cumpre ressaltar que o JUC teve a glória de ver dois de seus membros ordenados sacerdotes: o Pe. Geraldo Dionísio, atualmente em Rio Bananal/ES e o Pe. Alex Martins de Freitas, que desde 18 de outubro de 2014 tem exercido sua missão em Granada/Abre Campo. Além disto, já se acham no Seminário em Mariana Robson Cunha Chagas e Lucas Santiago Gonçalves que foram membros ativos do JUC. Adite-se que Weliton Luís Santana, que participa da Comunidade Palavra Viva, está na França como leigo consagrado celibatário em missão em Avignon.  É preciso então render muitas graças a Deus e augurar ao JUC numerosos anos de vida para o bem da juventude e de toda comunidade de Santo Antônio. * Diretor Espiritual do JUC

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segunda-feira, 23 de julho de 2018

A MISERICÓRDIA DE JESUS


MISERICÓRDIA A DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Diante da multidão que viera ter com Ele do outro lado do mar da Galileia Jesus disse a Filipe: “Onde compremos pães para que esses tenham o que comer?” (Jo 6,1-15). As soluções humanas eram precárias e deu-se então a multiplicação dos pães e dos peixes. Uma primeira reflexão que esse episódio oferece é que a religião de Cristo não um vago idealismo, um espiritualismo desencarnado. Há no cristianismo uma estreita relação entre Deus e todo o ser humano, corpo e espírito. Através do alimento oferecido por Jesus a quase cinco mil pessoas o divino Redentor mostrou a atenção para com a vida. A Ele não agrada nunca a fome de sua criatura. Deseja sempre uma existência venturosa por meio do uso adequado dos bens terrestres. Infelizmente nem todos sabem bem se aproveitar de tudo que o Criador lhes oferece, além do problema mundial de multidões em tantas regiões que morrem por não ter o que comer. É um desafio para todos os cristãos o desenvolvimento solidário. A Igreja nunca ficou indiferente perante aqueles que não têm um mínimo que é necessário para a manutenção da vida, ou seja, multidão de famintos constituída por crianças, mulheres, idosos, imigrantes, desempregados. Admirável a solicitude dos cristãos de todos os tempos testemunhando a seus irmãos necessitados o amor de Cristo dentro da lógica do Evangelho. Seguidores de Cristo sempre lutando contra a desigualdade social, fruto da ambição dos poderosos. Felizmente, as obras sociais tão numerosas em todas as Paróquias fazem eco a esta ação misericordiosa e cada um de nós deve colaborar neste esforço para que atender aos mais carentes. Trata-se da força da partilha numa ação caritativa inteligente por intermédio daqueles que se organizam como fazem, por exemplo, os Vicentinos, para ir de encontro aos mais necessitados que precisam restaurar sua saúde, sua dignidade, sua vida. As obras sociais oferecem uma maneira de um doar consequente, ou seja, doação para aqueles que, realmente, passam por dificuldades e não se entregam à indolência. Trata-se de fazer o impossível com o possível de cada um, inclusive evitando gastos supérfluos para poder ajudar os outros. Deus quer ter necessidade de cada um de nós para agir em benefício do próximo. Ele não dispensa nunca a mediação humana e o menor dos gestos de caridade ajudam a transformar a comunidade na qual se vive. No episódio da multiplicação dos pães e dos peixes percebe-se a fecundidade da partilha.  Diz o Evangelista que Jesus tomou cinco pães e dois peixes e os multiplicou para todos que ali se achavam e todos ficaram saciados. A cooperação com as obras sociais da Igreja não apenas permitem a muitos restaurar suas forças físicas, mas também engrandece a quem faz para isto suas ofertas generosas. É o que bem exprime do axioma: “Há mais alegria em ofertar do que em receber”. A partilha não é somente uma exigência vital para o próximo, mas o único caminho de uma fecundidade pessoal e coletiva, comunitária. Por isto nem se pode esquecer também o significado eucarístico do episódio do Evangelho de hoje. Jesus operou um grande milagre saciando a fome daquela multidão que se reunira em torno dele. Entretanto muito mais admirável através dos tempos é a multiplicação de seu corpo, sangue, alma e divindade através da Eucaristia visando saciar a fome espiritual de seus seguidores. Ele afirmaria: “Eu sou o pão da vida, Quem come deste pão viverá eternamente”. O que Ele afiançou se deu na última ceia, quando, tomando o pão em suas mãos deu esta ordem aos apóstolos e a todos os seus seguidores: “Tomai e comei, isto é o meu corpo”. Para os males espirituais, para a caminhada rumo à vida eterna o cristão se sustenta com este alimento celestial. Cumpre então a cada um ter fome de Deus. A Eucaristia é o pão para esta jornada terrestre rumo à Jerusalém celeste. Cumpre mentalizar o que diz um dos mais belos cânticos eucarísticos: “Se o homem deseja viver feliz, não deixe de ouvir o que a Igreja diz: procure sempre se aproximar do Deus feito pão para nos salvar. Quem come este pão sempre viverá, pois Deus nos convida a ressuscitar. Oh! Vinde todos, comei também o pão que encerra o sumo bem” * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

O ESTILO DOS EVANGELIZADORES


O  ESTILO DOS EVANGELIZADORES
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
O cerne das palavras de Jesus ao dar missão aos doze apóstolos deve ser entendido no seu sentido mais profundo de uma metodologia admirável (Mc 6,7-11). Ele queria que a vida dos que Ele enviava se modelasse de acordo com a palavra que eles anunciassem. O programa de ação de seus evangelizadores não estaria sujeito a um mero formalismo, como caminhar trazendo consigo um bordão, mas deveria ser entendido na significação mais ampla.  São ordens de uma densidade imensa, dado que eram baseadas em maravilhosas diretrizes. Inculcavam confiança absoluta na Providência divina de quem viria tudo que fosse necessário para a atividade missionária, donde o desapego dos bens materiais, de tudo que fosse supérfluo. Eram uma mensagem para o sucesso espiritual de uma missão sublime. Jesus queria que o pregador da boa nova não estivesse envolto em nenhum interesse pessoal. Seria com estes ingredientes que os pregadores do Evangelho expulsariam demônios e curariam enfermos. É, deste modo, que através dos tempos continuariam a agir os evangelizadores, a saber, os papas, os bispos, os padres, os catequistas, os pais, os educadores os intercessores. Todos eles a expulsarem os demônios dos vícios, dos pecados mais abomináveis a curarem através da Palavra divina as enfermidades do corpo e da alma, irradiando paz e amor. Os esposos sendo testemunhas da aliança de Deus, todos os cristãos procurando serem outros Cristos, iluminando o contexto social em que vivem. Ao enviar os apóstolos dois a dois Jesus mostrava o valor do trabalho missionário em equipe, visando efeitos espirituais. Jesus inoculava também um intenso espírito de pobreza, condição para o êxito apostólico. Nem todo mundo aceitaria o projeto de Deus, a aventura de ser cristão em profundidade, mas eles se condenariam por não aceitar as mensagens divinas. Eis aí o paradoxo cristão, dado que a Palavra de Deus respeita sempre a liberdade humana. Por causa da infidelidade muitos correriam o risco da alienação ao dar preferência às ilusões terrenas de onde surge a oposição ao Evangelho. Deus oferece sempre a felicidade e a verdadeira alegria, mas muitos, como o Filho Pródigo, as desprezam e preferem o pó das iniquidades que se voltarão conta eles mesmos, fruto das misérias de suas devassidões. Sem a correspondência às oportunidades oferecidas por Deus faltará sempre a muitos o elã que o Espírito Santo imprime na vida dos que recebem, ouvem e praticam as inspirações que Ele oferece através das pregações evangelizadoras. Donde o cuidado que se deve ter em não confundir certeza com indolência espiritual, fé e infantilismo religioso, confiança filial e abandono das obrigações próprias de cada um. Uma reinvenção errônea da Palavra de Deus causa todo tipo de desgraça bem alertado por Cristo, resultando o desprezo da graça advinda da pregação profética. Esta pregação emana do exemplo e da palavra de cada cristão que é um ser humano chamado e enviado aos outros. Trata-se do apelo contínuo à conversão, pois tal é a missão do evangelizador: fazer um apelo à interiorização da Palavra divina. Então, a ação de satanás é impedida e se instala uma nova arte de viver mais próximo de Deus, mesmo porque a ação final nunca é do evangelizador, mas provém de Cristo Ressuscitado que envia todo cristão para obra de tão transcendental importância que é a salvação para todos, missão conferida a todo batizado que participa do múnus profético do Redentor. Grande, portanto, a responsabilidade de cada cristão que deve anunciar o Evangelho onde quer que viva. Com a graça de Deus o cristão pode e deve tirar os outros da esfera do mal e do pecado, atraindo o pecador para o bem. Donde ser imprescindível a coerência de vida para que o bem possa se irradiar. O programa de evangelização traçado por Cristo foi vivido intensamente pelo Apóstolo Paulo que assim se expressou: “Ai de mim se eu não evangelizar”.  É por isto que ele se colocou inteiramente a serviço de seus irmãos e à causa da evangelização. Ele se fez escravo de todos para salvar a todos (1 Cor 9, 19-23). A seu exemplo os evangelizadores, incluídos, é claro, os catequistas, devem ter uma grande dileção para com seu público alvo. O Apóstolo falava até num certo ciúme que havia em seu coração com relação a todos que orientava e guiava (2 Cor ll,2).  A este apostolado ele consagrava todas as suas forças de sua rica personalidade. Tornou-se, realmente, um exemplo para todos os evangelizadores. Isto vinha de sua paixão por Cristo que Ele desejava fazer conhecido e amado. A ele estava sempre profundamente ligado. São João Crisóstomo afirmou: que o coração de Paulo era o coração de Cristo. Imitando este apóstolo todos que se dedicam à evangelização realizarão inteiramente o programa pastoral traçado por Jesus no Evangelho de hoje. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.