segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

GUIADOS POR UMA ESTRELA


 

GUIADOS POR UMA ESTRELA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A solenidade da Epifania mostra o divino Redentor a se revelar a todas as nações pagãs chamadas também elas a integrar o único povo messiânico. Admirável a atitude daqueles sábios que, tendo visto uma nova estrela deixaram seu país, seu conforto, suas riquezas, interpretando naquele astro um sinal de uma manifestação de Deus. Sem conhecerem as Escrituras e os tesouros da revelação bíblica, corajosamente partiram rumo a algo desconhecido, patenteando uma total disponibilidade na busca da verdade atinente ao Ser Supremo. Este, de fato, através de diversos meios chama a todos para o júbilo do encontro com sua presença. Aqueles estudiosos da ciência dos astros, astrônomos perspicazes, receberam um impulso de uma estrela usada pelo Espírito da Verdade que os levaria a uma pobre casa de um carpinteiro, onde estava uma criancinha com Maria sua mãe. Com a visita dos magos, porém, reascendeu o ânimo perverso do tirano Herodes que logo intentou assassinar aquele que salvaria não apenas o povo de Israel, mas toda a humanidade.  Herodes o cruel, temeroso pelo seu poder, forçaria a fuga da Sagrada Família para o Egito.  Felizes, contudo, foram os Magos que com perseverança chegaram até o Redentor. Pela fé descobriram sob a aparência de um menino a majestade daquele que era o Deus feito homem e lhe ofereceram ouro. Prestaram também suas homenagens bem simbolizadas no incenso e anteviram as perseguições que sofreria representadas na mirra. Decodificaram magnificamente o significado teológico daquele encontro. Eis porque avisados em sonho, não mais por uma estrela, mas por um anjo, não regressaram a Herodes e retornaram por outro caminho para sua terra. Deixaram, entretanto, a magna lição de que a salvação que aquela criança ofereceria seria universal e eles abriam o caminho de todos aqueles que se converteriam. Através deles era igualmente o mundo da ciência que se colocava em marcha para Cristo, o Messias. Este mais tarde, elevado na Cruz atrairia a Ele inúmeros seguidores de todas as raças e nações, iluminando-os com a luz do Evangelho. O conteúdo messiânico de todos estes fatos envolvendo a visita dos Magos ficou bem ressaltado pela referência que os grão-sacerdotes e os escribas do povo haviam relatado a Herodes atinente à profecia de Miquéias (Miq 5,1-3). Esse predissera que seria de Belém que sairia um Príncipe que haveria de reger o povo de Israel. A chegada dos Magos em Belém marcou o cumprimento das promessas da antiga aliança e, ao mesmo tempo, anunciou a missão de Cristo, o Pastor do Povo de Deus, Aquele que traria a paz a todo o mundo. Entre muitos judeus reinaria a descrença com relação ao mistério de Jesus, como foi o caso do ambicioso Herodes. Os escribas conheciam a fundo as Escrituras e nelas as profecias messiânicas, mas não captaram sua realização naquele instante histórico. Para muitos Cristo seria sempre um sinal de contradição. Quanto a nós é preciso que penetremos fundo nas mensagens da Epifania, vendo nela uma catequese bíblica sobre o papel que Jesus deve exercer em nossas vidas e tal é o seu apelo, ou seja, que tenhamos uma fé adulta como tiveram os Magos, Maria e José. Estes foram os notáveis atores do episódio hoje recordado, protagonistas de uma atitude de fé e de muito amor ao divino Infante. Cumpre aceitar a esperança que vem a este mundo através da pobreza do Filho de Deus. Os Magos não se acomodaram quando perderam o contato com a estrela. Com efeito, procuraram, indagaram, se alegraram com o reaparecimento do sinal celeste e tiveram o júbilo de um final feliz de todos os seus esforços. Jesus recém-nascido oferecia ensinamentos de desapego de bens materiais, de humildade e, um dia, lá no Calvário seria reconhecido como Rei dos Judeus.  Além disto, milhares por toda parte em todos os séculos viveriam em função dele, praticando seus ensinamentos.  Maria e José que receberam os Magos continuam através dos tempos a recepcionar os que acatam Jesus como seu Salvador, abrindo a inteligência e o coração dos que procuram com sinceridade o sentido mais profundo do mistério redentor. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

JESUS SUBMISSO A MARIA E JOSÉ


JESUS SUBMISSO A MARIA E A JOSÉ

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Após o reencontro de Jesus no templo de Jerusalém, Ele voltou para Nazaré e era submisso a Maria e a José (Luc 2,41-52). A Sagrada Família proporciona, como belo jardim onde florescem as flores das mais excelsas virtudes, exemplos atualíssimos para os que constituem um lar cristão. Este deve ser o reflexo da casa de Nazaré onde viveu Jesus e que apresenta lições magníficas de eficácia prática profundamente formativa.  Lá se deu uma vida doméstica consagrada com notáveis virtudes. Esta solenidade vem então lembrar aos pais sua missão de educadores, imitando a Maria e a José a quem Jesus, enquanto homem, obedecia inteiramente.  Como registrou São Lucas, junto de seus pais “Jesus crescia em sabedoria, estatura e em graça diante de Deus e dos homens”. É certo que Ele possuía a plenitude da ciência, sabedoria infinita que era, mas no exterior demonstrava a cada dia um desenvolvimento do qual seus pais eram instrumentos visíveis. O ideal de todos os pais é que seus filhos cresçam sempre buscando a perfeição. Grande a responsabilidade paterna e materna nesta missão sublime. Hoje, felizmente, os pais estão cada vez mais conscientes de que devem se empenhar para dar aos filhos sábio itinerário sem omissões que poderiam ser fatais. Filhos e filhas esperam um influxo benéfico do pai e da mãe e é deste modo que a família pode atingir sua finalidade. Nas caravanas que iam até o templo em Jerusalém os filhos caminhavam no grupo do pai ou da mãe. Voltando da Cidade Santa, após um dia de viagem, ao darem falta do Menino Jesus, imediatamente José e Maria voltaram a Jerusalém, envoltos em grande aflição. Enorme era o amor que devotavam a Jesus. O amor dos pais é compatível com suaves admoestações, por isso Maria indagou a seu filho: “Porque procedeste assim conosco”. O verdadeiro amor supõe muita abnegação, mas exclui toda rigidez ou condescendência condenáveis, procurando sempre o equilíbrio educacional. Jesus voltou para o seu lar em Nazaré no qual conheceria seu desenvolvimento humano numa família humana até iniciar sua tarefa de pregador do Evangelho. Entretanto, já com doze anos, Jesus manifestou sua vontade própria e revelou a José e a Maria que íntima era sua união com o Pai que está no céu, justificando sua atitude junto dos doutores da Lei. Sua submissão a José e a Maria em Nazaré foi, porém, um exemplo definitivo para todos os filhos que devem obediência e respeito a seus país. A Sagrada Família foi no pleno sentido da palavra uma comunidade de três pessoas que tinham uma fé profunda na qual brilhava a união com a Santíssima Trindade e o serviço ao próximo. José e Jesus trabalhando numa carpintaria, Maria devotada aos afazeres domésticos. As famílias cristãs através dos tempos viveriam também de uma fé profunda, na oração e no serviço de cada um a seus membros e à comunidade na qual estariam inseridas. Isto como garantia de união e estabilidade. Nenhum assalto do espírito infernal pode então levar à traição e à ausência de paz dentro do lar. Este é o caminho traçado por Jesus, Maria e José, caminho da graça divina e de um profundo amor humano. A peculiaridade da família cristã é descobrir e desenvolver o amor mesmo de Deus que deve envolver num mesmo liame pais e filhos. Isto vivido no cotidiano de suas vidas sob a proteção de Deus. Maria e José não realizavam nada de extraordinário, mas estavam sempre abertos à obra maravilhosa de Deus na sua vida transcorrida em função de Jesus. Acima de toda e qualquer realidade espiritual o sacramento do matrimônio, que estabelece laços indestrutíveis, torna pais e filhos abertos à vontade divina. Comunidade de vida e de amor, a família cristã testemunha a aliança fiel e fecunda da humanidade com o seu Criador, o Deus, Trindade Una e Santa. Torna-se assim uma escola de santidade na qual resplandece a paciência, a tolerância, o perdão cordial. Nunca se exaltam demais os valores familiares, pois a família é o santuário do amor, da vida e da fé. Lugar sagrado no qual a dignidade de cada um de seus membros é respeitada, porque aí todas as virtudes são cultivadas.  Eis porque a família é por excelência a fonte viva da evangelização. Aí tanto para os filhos como para os pais se desenvolve uma vida espiritual que se irradia por toda parte. É que a aliança fiel e fecunda dos esposos, o acolhimento sem condições de um e do outro, envolvendo os filhos num exemplo frutuosíssimo, leva ao crescimento social e político para o bem comum. Tudo isto apesar das dificuldades, das tentações de um mundo alheio aos valores do Evangelho. A mensagem da Família de Nazaré é que os pais e filhos se eduquem no amor e vivam do amor em todas as circunstâncias.  Obra profética para dissipar as ilusões dos falsos amores e das falsas doutrinas. Missão divinaa  da Família cristã que deve, realmente, reproduzir a grandeza da Família de Nazaré. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

 

 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

FELIZ AQUELA QUE ACREDITOU


01 FELIZ É AQUELA QUE ACREDITOU
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Próximos do Natal os textos da liturgia fixam neste domingo a atenção sobre duas futuras mães: Maria e sua prima Isabel. Para Deus nada é impossível. Uma mulher idosa e estéril a conceber João Batista e uma jovem Virgem esperando em seu seio o Messias prometido. Ambas sintetizam toda a história da salvação. Isabel representando os longos séculos de preparação para o maior acontecimento da história humana e Maria, a Imaculada, anunciando a Igreja de Jesus.  Quer Isabel, quer Maria tinham em comum as esperanças da humanidade e percebiam que sua maternidade estava inserida inteiramente nos planos divinos.  Ambas testemunhavam a importância das crianças que traziam em seu ventre. Um era filho de Zacarias e o outro era filho do próprio Deus concebido do Espírito Santo. Na visita feita por Maria à mãe do Precursor ela e Isabel trocam cumprimentos repletos de profundos conceitos teológicos. Isabel se torna notável teóloga ao exclamar: Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?” Ela inclusive assim se expressou: “Feliz aquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor” (Lc 1,39-45). Neste extraordinário elogio está mensagem realmente preciosa para os fiéis de todos os tempos, visando uma comemoração frutuosa do nascimento do divino Salvador. Toda a felicidade de Maria, realmente, se enraizava na fé. Mais tarde o próprio Jesus confirmará esta verdade, quando do meio da multidão que O cercava alguém exclamou: “Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os seios que te alimentaram”. Mas Jesus replicou: “Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a observam” (Lc 11,27-28). Foi o que ocorreu, sobretudo, com sua Mãe e é o que sempre se dá com todos que fundamentam sua vida na promessa redentora de Deus. É esta fé que conduz até o Presépio para contemplar naquele Menino o próprio Filho de Deus que se fez homem para redimir a todos que nele acreditassem e O amassem. Esta certeza é que engrandece o seguidor de Cristo e faz lançar pelo mundo através dos tempos as luzes da boa nova nas comunidades, nas famílias, nos corações que buscam os valores que ultrapassam as ilusões terrenas. Fé inabalável como a de Maria que está a lembrar a todos que o Senhor está perto, pois em cada comemoração de seu nascimento transbordam as graças que jorraram um dia lá em Belém numa renovação admirável do grande mistério. Maria quer então que cada coração se deixe tocar pelo autêntico sentido do Natal, penetrando fundo no significado deste acontecimento maravilhoso. Ela, a cheia de graças, esteve ininterruptamente inserida no caminho da fé em Deus ao qual submetia toda sua existência. Ela se tornou mãe de Deus no seu corpo trazendo Jesus, mas ela, mais ainda, O tinha no seu coração por meio de sua fé admirável. Deste modo, pôde se tornar o canal que o Criador escolheu para manifestar ao mundo seu amor misericordioso. Ela almeja que todos que comemorarão o Natal de seu divino filho se entreguem a Ele com confiança, acolhendo os apelos para uma vivência plena de seus ensinamentos, indo além da exploração comercial desta solenidade. Maria está hoje a nos lembrar  que a comemoração Natal é um dos momentos chaves na história pessoal de cada um que abre o seu coração para que nele receber Jesus. Felizes os que já se prepararam e vão se preparar para uma fervorosa comunhão no glorioso vinte e cinco de dezembro. No seio de Maria Cristo se tornou nosso irmão, o Emanuel, o Deus conosco. Natal é o dia da vitória da divina misericórdia sobre o pecado e todas as suas funestas consequências. Reaviva em todos o desejo de uma vida melhor, livre das escravidões satânicas, dos rancores e dos medos. Hoje escutamos a voz maternal de Maria que apela cada um para se colocar no caminho da santidade existencial oferecida por Jesus. Ela está a convidar: “Vinde todos à fonte da paz e da verdadeira alegria”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

ENSINAMENTOS DE JOÃO BATISTA


02 ENSINAMENTOS DE JOÃO BATISTA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Aos que interrogavam João Batista sobre o que deviam fazer para produzir frutos condignos de arrependimento foram ministrados preciosos ensinamentos (Luc 3,10-18). Pregador exímio, o Precursor de Cristo, mostrava como se preparar urgentemente para receber o divino Redentor. Foi claro e objetivo. A todos em geral recomendava a partilha generosa com os necessitados. Aos coletores de impostos mostrava a necessidade do equilíbrio não exigindo mais do que a lei preceituava. Aos soldados recomendava a fuga da violência, da difamação e da ambição desmesurada. Orientações sábias com relação ao ter e ao poder e que patenteavam um dos aspectos da espiritualidade daquele que era a voz que clamava por uma preparação condigna da chegada do Messias prometido. Honestidade e generosidade eram imprescindíveis para receber através de Cristo o batismo com o Espírito Santo e com o fogo. Além disto, fazia fulgir uma humildade profunda ao afirmar que não era digno de desatar as correias das sandálias daquele que era o Salvador da humanidade. Fidelidade absoluta à missão da qual estava investido nos planos admiráveis de Deus. São todas estas eminentes virtudes que por meio de João Batista o Advento vem recordar para os fiéis através de todos os tempos, condições para desfrutar as graças natalinas. Esforço corajoso apesar das provas, das incertezas pessoais, familiares, comunitárias. Um alerta para superar as incompreensões e até, o desprezo do próximo, mas tendo cada um em mira se aprimorar espiritualmente para com alegria acolher de maneira especial a Jesus na comemoração de seu natalício. Raios de esperanças luminosas, júbilo profundo que devem envolver os que desejam honrar o Menino Deus no seu Presépio. Este é um tempo propício para uma imersão na confiança absoluta no amor daquele que se encarnou para remir os que O acatassem e seguissem. Apesar das inquietudes existenciais inerentes a este exílio terreno necessário se faz saborear a paz que se irradia lá de Belém, por que o Filho de Deus se faz semelhante a nós movido pelo grande amor com que desde toda a eternidade envolveu suas criaturas racionais. Diante da afirmativa de João Batista mostrando que o Salvador tem na mão a pá para limpar a sua eira e recolher o trigo no seu celeiro, por força desta certeza, é preciso lançar para longe os pensamentos negativos, as tristezas e todas as recordações mórbidas do passado que possam paralisar e desvitalizar a grandeza do reencontro feliz com o Menino Jesus. Eis porque este é um tempo para uma revisão otimista da vida pessoal, porque não basta passar pelo Natal, dado que o Natal necessita ser vivido em plenitude com reflexos brilhantes na própria existência. É esta capacidade de ação a qual cada um tem dentro de si que leva a uma ascensão ano após ano junto da manjedoura. O cristão então avança na inteligência de sua vida, num desenvolvimento contínuo, progresso que inclui uma interação amorosa na comunidade em que vive. João Batista está a mostrar que o seguidor de Jesus pode e deve querer se impor um renovado modo de conviver consigo e com os outros. O Natal passa deste modo a ser um renascimento pessoal, pois a vinda de um Deus a esta terra exige uma renovação contínua dos corações. Tudo isto dentro das limitações naturais do ser humano, o qual, contudo, não pode se entregar a qualquer tipo de mediocridade. A questão é saber explorar a disponibilidade interior, correspondendo às inspirações da graça, bem empregando o tempo num esforço ininterrupto para alcançar a própria santificação. Tarefa complexa, mas indispensável, triunfando o seguidor de Cristo de qualquer resquício de desânimo. Os ensinamentos de João Batista conduzem a um agir constante, discernindo cada um os meios necessários na busca da perfeição. Jesus preceituará: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito”. O Advento oferece ocasião para todas estas reflexões, motivando a adesão aos valores que o Batista salientou: crescimento na solidariedade, na integridade, na compreensão, na humildade. O fundamento de tudo é a fé na Encarnação do Verbo de Deus que impede o cristão de ser palha a ser queimada no fogo inextinguível. Mensagens concretas que conduzem ao domínio do possível da parte de cada em mais uma semana do Advento. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

PREPARAR O CAMINHO DO SNHOR


PREPARAR O CAMIMHO DO SENHOR

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

No segundo domingo do Advento a liturgia vem nos lembrar que “no deserto fez-se ouvir a palavra de Deus a João, filho de Zacarias” (Lc 3,1-6). Antes de mostrar a mensagem do Precursor o evangelista apresenta o momento histórico em que isto deu. Os dados são importantes porque patenteiam a situação política e religiosa na qual irão repercutir os ensinamentos de João e depois os de Jesus. Quer na Galileia, quer em Jerusalém notava-se um surto de nacionalismo. Esse era duramente reprimido pelas autoridades de então. Os filhos de Israel estavam sob o jugo de Roma, sem vislumbrarem uma libertação em curto prazo, colocavam sua esperança unicamente em Deus. Isto intensificava a fé dos diversos grupos religiosos, salientando-se a comunidade que guardava o espírito ascético dos essênios. Surge neste contexto a figura de João Batista, que, vindo do deserto, começou a pregar na região do Jordão. Aí ele batizava os que em grande número chegavam para escutá-lo. Havia um ritual de purificação moral que preparava já a ablução radical que o Messias haveria de propiciar, batismo no Espírito Santo que somente Ele podia oferecer. O cerne da pregação do Batista era a conversão, passando cada um da vida do pecado para total adesão a Deus. Breve o Reino messiânico seria instalado neste mundo. João trazia à tona o vulto do profeta Isaias que no final do exílio da Babilônia fizera ecoar ondas de esperança e afastamento completo dos vícios e paixões desregradas: “Preparai o caminho do Senhor” (Is 40,3). Era uma condição basilar para que raiasse a verdadeira liberdade do povo de Deus. Veredas deviam ser aplainadas, vales preenchidos, montes e colinas abaixados, vias tortuosas endireitadas e as escabrosas precisavam se tornar planas. Este programa de vida espiritual, apropriado para acolher o Libertador, deveria ser em todos os tempos o modo como se preparar para a recepção renovada de todas as graças daquele que ofereceria a completa redenção aos seus seguidores. Como o Advento é esta preparação para a comemoração do Natal do Filho de Deus o roteiro joanino é um vigoroso clamor para uma completa renovação espiritual. O ponto de reparo são os dez mandamentos, caminhos indispensáveis rumo ao Presépio. Os vales da depressão e do desalento a serem preenchidos pela certeza do poder salvífico de Jesus no qual se deve depositar toda a confiança. As montanhas do orgulho precisam ser demolidas. Tudo isso operado com muita sinceridade a fazerem as atitudes censuráveis retificadas e as ações pedregosas dulcificadas por um intenso amor a Deus e ao próximo.  Eis aí um itinerário para que o Natal seja abençoado e ponto de partida para uma total renovação da história pessoal de cada um. Uma palavra resume o que precisa ser realizado de plano: metanoia, ou mudança essencial de pensamento ou de todo o ser numa transformação espiritual completa, absoluta.  Jesus vem, Ele não deixa nunca de vir, desde que seu seguidor se disponha a melhorar sempre sua conduta, abrindo todos os espaços de seu coração através desta higienização interior, numa sincera revisão de vida. Trata-se do progresso na caminhada da salvação pessoal e de toda a comunidade. Afastamento total de tudo que é indigno de um cristão é o ideal a ser vivificado nesta jornada até o Presépio. A palavra de Deus foi dirigida a João Batista no deserto antes dele iniciar sua pregação. Durante o Advento é preciso parar, sair um pouco do bulício do mundo para receber a palavra divina que levará a todas as mudanças necessárias. Momentos de silêncio para cada um poder examinar o que precisa alterar nas suas relações com Deus. Criar um clima de disponibilidade, para deixar a luz divina entrar no ritmo do apelo a uma santidade consistente, desatando as cadeias de qualquer pecado. Então esta palavra de Deus será recebida, guiará e produzirá muitos frutos pessoais e coletivos. Cumpre deixar Deus intervir decisivamente na história de cada um. Trata-se então de oferecer a Ele todas as fraquezas, todas as aflições para que Jesus possa realmente vir até o íntimo do coração de seu seguidor. Ele retificará tudo que estiver errado. Nada, portanto, de desalento, mas, isto sim, procurar um repouso salutar que ofereça espaço ao Deus que salva e redime, desejando ardentemente sua presença, sua redenção a ser revivida em mais um Natal que se aproxima. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

VELAR E ORAR EM TODO O TEMPO


VELAR E ORAR EM TODO O TEMPO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No início do Advento ressoa a advertência de Jesus ao falar sobre o fim do mundo: “Velai, pois, orando em todo o tempo [...] para que possais estar firmes na presença do Filho do homem” (Luc 21, 25-28. 34-36). Iluminados pela graça divina cumpre aos cristãos abrir seus corações à inteligência do mistério das vindas do Salvador a esta terra no Natal e na consumação dos séculos. Advento é então um tempo especial que leva cada um a escapar de tudo que possa impedir a recepção das graças desses dois fatos extraordinários. Preparar-se para a comemoração do nascimento do Redentor da humanidade e de seu retorno no julgamento derradeiro com muito amor no coração. São João da Cruz asseverou que no termo da existência cada um será julgado pelo amor. Donde ser necessária vigilância e oração imersas na dileção divina. É o amor às realidades sobrenaturais que impedirá o torpor espiritual e dará continuamente condições para uma revisão de vida.  O Advento consiste então em olhar no silêncio de preces fervorosas o próprio coração para retirar as obscuridades dissimuladas no interior de si mesmo. Desta maneira o cristão se torna atento escutando na oração a voz de Deus e passa a ver como tudo que o mundo oferece é irremediavelmente limitado. É que para se chegar junto do Presépio será urgente restaurar uma visão realista dos bens que passam para se fixar naquilo que é eterno.  A prece oferece, de fato, este desejo de receber a plenitude das bênçãos do Natal e a vigilância para estar de pé junto de Cristo que, um dia, retornará não numa pobre manjedoura, mas com todo poder e majestade. Desta maneira, a precariedade humana pode ser vencida a fim de conhecer a libertação dos que compreenderam o significado da redenção que Cristo a todos veio oferecer. Indo até o Menino Jesus no seu Natal, renovados por Ele, se poderá chegar até Ele no julgamento final, dado que não se cessou nunca de aguardá-lo durante esta peregrinação terrena. No fim do mundo aquele que esteve no mundo, sem ser do mundo, deparará com uma vitória gratificante repleta de esplendor. Eis porque no início do novo ano litúrgico, neste primeiro domingo do Advento, a Igreja apresenta um texto do Evangelho realmente apocalíptico. A descrição feita por Cristo longe, porém, de causar assombro, gerando pânico, envolve em esperanças fagueiras. Quem viver com Jesus, restaurando suas forças espirituais em cada Natal, nada terá a temer quando ele se manifestar como Juiz dos vivos e dos mortos. Eis aí o resultado feliz da vigilância e da oração. O amor gratuito e infinito de Deus sustenta a expectativa daquilo que Ele reserva aos que lhe forem fiéis na trajetória terrena. Trata-se da espera de um Reino eterno na mais absoluta felicidade que será alcançada com as maravilhosas dádivas com os quais o Senhor cumula ininterruptamente a todos. A Palavra revelada por Deus esclarece a vida humana no seu cotidiano, levando o fiel a se imergir neste conhecimento de Deus que é amor. O homem foi criado por este amor e no amor divino é recreado. Entretanto, este Deus respeita sempre a liberdade de sua criatura racional. É livremente que se  vai até o Presépio para um dia estar sereno na parusia do Filho de Deus, que virá consumar a história dos homens. O anelo da parusia se torna assim um elemento importante na vida cristã, Os seguidores de Cristo são, deste modo, parte da humanidade que aguarda sempre o dia daquele que veio e  que vem sem cessar, progressivamente, na marcha irreversível dos acontecimentos pessoais e universais. A ida ao Presépio e o desejo do retorno de Jesus no fim do mundo caracterizam o combate da fé, sustentado cada um pela graça obtida na vigilância e na prece ardente. Nesta peleja espiritual não falta nunca a proteção divina para os que têm um coração sincero e atento. A manifestação de Deus no mistério de Jesus é um processo inteiramente interior, solidificando o cristão todos os dias até o juízo universal. Com ele cada um tem força e vigor para enfrentar as lutas cotidianas e nunca desfalecer. Mensagens sublimes que iluminam as quatro semanas que preparam a grande solenidade do Natal e fortalece a certeza de que, no retorno glorioso de Jesus, cada um estará firme, vitorioso, de pé, diante dele, dado que, vigilante e religioso, esteve sempre unido a Ele. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

A REALEZA DO REI DO UNIVERSO


01 A REALEZA DO REI DO UNIVERSO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No tribunal no qual foi julgado Jesus proclamou solenemente sua realeza ao responder à indagação se Ele era, de fato, rei. Declarou claramente a Pilatos: ”Tu o disseste eu sou rei” (Jo 18, 33-37).  A essência de sua missão régia era “dar testemunho da verdade”. Esta verdade era Ele mesmo e, portanto, acatá-lo seria receber uma verdadeira consistência espiritual para dilatar seu reinado através dos tempos. Deste vigor interior de seu seguidor viriam as luzes para pensar corretamente e a coragem de agir segundo seus ensinamentos. De fato, Ele é rei que instila nos corações a energia para irradiar a bondade e a misericórdia. Em torno dele surgiriam sempre novos modos de relações entre os seres humanos hauridas no amor de seu divino coração. Seu reino seria então um reino de fraternidade e de paz, numa luta constante contra o mal. Trata-se do combate às causas permanentes de violências e de ódio que são a injustiça, a miséria, a dominação ou a exploração, a corrupção ou a exclusão social. Com Ele seus súditos deveriam sempre ser sinais de seu amor, construtores de seu Reino, dado que Ele é o vencedor do mal e da morte. Esta sempre foi e será a missão do cristão: dar ao mundo a verdadeira imagem de Cristo Rei. Ele um soberano que se colocou inteiramente ao serviço dos homens, criados à semelhança do Pai. É sendo humilde e serviçal aos outros que seu discípulo entra no grande movimento dos desígnios do amor divino numa abertura para acolher a irrupção de Deus na história, desenvolvendo uma atitude de atenção e cordialidade para com todos. Quem realmente pertence a Cristo Rei ajuda o próximo nas inquietudes da vida, a ter confiança no dia a dia através da paciência e da perseverança que devem ser distintivos de quem se submete a este Rei. Realiza-se deste modo a comunhão no imenso movimento de amor que pulsa dentro do Reino de Cristo. Na solenidade de hoje se pode perceber ao vivo a união de todos os batizados em torno de seu Soberano e Senhor. Com Ele será sempre possível dominar as forças do mal não sendo o cristão cúmplice das iniquidades que campeiam no mundo. A mensagem da solenidade de Cristo Rei se torna então uma mensagem de otimismo porque aos que creem é comunicada a tarefa de dilatar a vitória do bem e da verdade. Para indicar o caminho do justo a Bíblia usa a imagem dos opostos, ou seja, o caminho de Deus e o caminho do perverso, daquele que não se submete ao Reino divino. São duas vias opostas. Neste mundo se vive nas fronteiras da luz e das trevas e aí reside a responsabilidade dos que pertencem a Cristo Rei que é difundir a claridade, afastando as sombras do erro e do pecado. Cumpre fazer prevalecer a radicalidade da verdade que deve se sobrepor à ausência da compaixão e misericórdia. O seguidor de Cristo Rei projeta sua luz no futuro da história da humanidade e de sua história pessoal. As misérias do mundo presente com seus horrores passarão. Raiará o dia no qual Cristo Rei vencerá todas as potências infernais. Assim sendo, no coração da humanidade, o seguidor deste Rei imortal dos séculos se enche de esperanças porque chamado por Cristo a participar de sua obra de salvação na vida familiar, profissional, social, vigilante para jamais trair seu soberano senhor. É que a fé invisível que habita o coração do súdito de Cristo Rei ilumina a sociedade, mesmo porque a força do bem é superior a todas as invectivas do mal. Desse modo, a festa de Cristo Rei deve levar a todos a entrar no mistério de Jesus do qual se quer ser discípulo fiel e sincero. A lição a reter então nesta festa, recordando que Cristo é o Rei do Universo, é que não se pode duvidar da importância dos esforços pessoais para levar por toda parte a verdadeira visão do império da virtude sobre todos os erros, sendo cada um o sinal indissociável da santidade que faz ver a presença de Jesus onde quer que o cristão esteja. Isto de modo especial manifestando o interesse pelos pobres, pelos mais necessitados num contínuo serviço ao próximo.  É desse modo que se faz Jesus seja conhecido por toda parte, visto como o Rei perfeito que tem o poder de transformar seus seguidores à sua imagem, se estes, de fato, correspondem a suas intervenções dentro de seus corações. Foi o que aconteceu com os santos, com aqueles que já se acham no Reino dos céus e que continuam a convidar os seus devotos a imitá-los. Para eles Cristo foi o Rei de suas inteligências e O receberam com toda a submissão, numa obediência total da fé. Aqui na terra Ele se tornara para os bons o Rei de suas vontades pela impulsão e inspirações que sempre lhes ofereceu, inflamando seus sentimentos para as mais nobres ações. Por tudo isto aqueles que já se acham no Reino do Céu, neste mundo, O tiveram sempre como Rei de seus corações, imersos no seu imenso amor. Portanto, saibamos também nós imitá-los e com eles estaremos com Cristo Rei por toda a eternidade.  . * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.








segunda-feira, 12 de novembro de 2018

OBRAS DE MISERICÓRDIA CORPORAIS E ESPIRITUAIS


OBRAS DE MISERICÓRDIA CORPORAIS E ESPIRITUAIS
1 INTRODUÇÃO
Fomos criados na misericórdia e para a misericórdia. Jesus foi claro: “Sede misericordiosos como o Pai celeste é misericordioso” (Lc 6,36-38).
Sem Misericórdia surgem atitudes  que  afetam a harmonia consigo mesmo e  com o próximo..
A falta de misericórdia gera uma atitude negativa, levando a uma insegurança existencial.
Isto provoca muita vulnerabilidade e leva até a comportamentos indesejáveis, ocasionados pela impulsividade ou pela incapacidade de conseguir  autocontrolar-se  e de se ter uma visão menos deturpada de uma situação que pode e deve ser contornada
Cumpre mostrar o rosto de Deus em todas as situações da vida, na vivência e testemunho da caridade  misericordiosa deste Deus que é amor infinito.
Isto porque a misericórdia como o amor, deve ser uma ação viva, contínua, dinâmica e concreta. Eis porque são de suma importância as obras de misericórdia pelas quais o cristão vive o preceito de Cristo que o leva a ser misericordioso.
As  sete Obras de misericórdia corporais encontram-se, na sua maioria, numa lista enunciada por Jesus na descrição do Juízo Final (Mt 25,31-46).
 A lista das sete Obras de misericórdia espirituais tirou-a a Igreja, através dos teólogos, de outros textos que se encontram ao longo da Bíblia e de atitudes e ensinamentos do próprio Cristo.  Santo Tomás a elas se refere na Suma Teológica (II-II, q. 32, a. 2)

As obras de misericórdia corporais são:
1)Dar de comer a que tem fome
2) Dar de beber a quem tem sede
3) Dar pousada aos peregrinos
4) Vestir os nus
5) Visitar os enfermos
6) Visitar os presos
7) Enterrar os mortos
As Obras de misericórdia espirituais:
1)Ensinar os ignorantes
2) Dar bom conselho
3) Corrigir os que erram
4) Perdoar as injúrias
5) Consolar os tristes
6) Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo
7) Rezar a Deus por vivos e mortos
2 AS SETE OBRAS DE MISERICÓRDIA CORPORAIS
 2.1  Dar de comer a quem tem fome.
Jesus preocupou-se  com a fome dos que O seguiam. A cena da multiplicação dos pães é uma das narrativas mais comoventes, Cerca de cinco mil homens comeram à saciedade naquele lugar deserto.
 As obras sociais da Igreja providenciam então alimento através de promoções como as cestas básicas com quilos de comida, sopas servidas com muito amor.
Luta contínua para que haja da parte dos governantes políticas que afastem a causa da fome e a todos os fiéis inocula o senso da partilha.
 2.2  Dar de beber a quem tem sede
            Claras as palavras de Cristo: “Todo aquele que der ainda que seja somente um copo de água fresca a um destes pequeninos, porque é meu discípulo, em verdade eu vos digo: não perderá sua recompensa”  (Mt 10, 42).
Daí a necessidade do cuidado com água que pode vir a faltar por causa do desperdício. Em casa as torneiras bem fechadas e o uso racional do precioso líquido ao tomar o banho, na cozinha, na limpeza da casa. Usar a vassoura sempre no passeio em frente à moradia e em outros compartimentos da casa sobretudo na cozinha.

 2.3  Dar pousada aos peregrinos.
Sobretudo nos dias de hoje todo cuidado é pouco no que tange as pessoas desconhecidas, mas trata-se de receber bem parentes e amigos quando de suas visitas. Incentivar continuamente as políticas habitacionais e as associações que acolhem os sem teto. Apoio ao “Lar dos velhinhos” e outras iniciativas que visam minimizar as dificuldades de quem procura um lugar para morar.  Ajudar os membros  da Sociedade de São Vicente de Paulo
2.4 Vestir os nus
Jesus exortou: “Quem tem duas túnicas dê uma ao que não tem” (Lc 3, 11a) O apóstolo Tiago  decoficou magnificamente este preceito: “Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano,  e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará?”. (Tg 2, 15-17). Daí a colaboração com os bazares que são feitos junto às Igrejas e com os Vicentinos que conhecem de perto os mais necessitados. O      que estiver inútil no guarda roupa oferecer a estas entidades beneficentes ou diretamente a quem se conhece e não tem como bem se vestir.
2.5  Visitar os enfermos
  Jesus acolheu, atendeu, socorreu e curou os doentes. As  vezes eram levados a Ele no entardecer  (Mc 1,32-34) em outras ocasiões pediam que Ele fosse até a casa do enfermo, como fez o oficial que solicitou a cura do filho que estava morrendo (Jo, 4, 46-53). Na casa de Pedro, curou sua sogra (Mt 8, 14-15). Sua mãe, Maria Santíssima, mesmo grávida, andou quilômetros para ajudar e pôr-se a serviço da idosa Isabel, sua prima, grávida de seis meses.
Esta obra de misericórdia deve ser exercida em casa ou junto dos parentes e amigos, sobretudo, por ocasião de doenças longas e, às vezes irreversíveis.
Trata-se também de um trabalho voluntário em hospitais, asilos, e casas de recuperação terapêutica. Estende-se a uma pastoral urbana que visite e acompanhe aqueles que, nos grandes centros urbanos vivem a dor de sua enfermidade na solidão, e no esquecimento. Interessar-se pela pastoral da saúde.
Estar perto de quem sofre é estar servindo ao próprio Cristo.
Ajudar na compra dos remédios e roupas que se fizerem necessárias. Amparar com as orações que operam maravilhas. Por incrível que pareça, estava a redigir este tópico quando o telefone tocou e era uma senhora a pedir para sua mãe de 95 anos que estava sofrendo com terrível dor de cabeça, sendo que a uma outra pessoa da família a oração por ela fora por este sacerdote feita resultou na sua cura.
 2.6 Visitar os prisioneiros
Jesus foi também taxativo: “Estava preso e me visitaste” ( Mt 25,36). É claro que toda prudência é necessária e a visita aos presidiários nem sempre é conveniente.
Ajudar, porém, aqueles que se entregam à pastoral carcerária dentro das normas vigentes.
Junto das autoridades se pode influenciar para que haja um tratamento humano aos que erraram e cumprem pena.
Não se esquecer das famílias dos que estão presos, pois toda palavra de conforto é saudável em todos os sentidos.
            2,7 Enterrar os mortos
Lemos no Livro de Tobias que ele “com uma solicitude toda particular, sepultava os defuntos e os que tinham sido mortos (Tb 1, 20).
 Está no Novo Catecismo da Igreja Católica: “Os corpos dos defuntos devem ser tratados com respeito e caridade, na fé e na esperança da ressurreição. O enterro dos mortos é uma obra de misericórdia corporal que honra os filhos de Deus, templos do Espírito Santo” (CIC § 2300).
Ir ao velório de parentes e amigos é sumamente louvável, além do conforto das palavras as preces diante do falecido têm valor especial diante de Deus e dos familiares.
Cuidar dos túmulos da própria família e insistir junto dos governantes para que zelem pelos cemitérios.

 3 AS SETE OBRAS DE MISERICÓRDIA ESPIRITUAL
3.1 Ensinar os ignorantes
Interessar-se pela catequese, orientar os que estão no caminho do pecado, mostrar os valores dogmáticos e morais da Bíblia, dar bom exemplo.
A evangelização é contínua e deve ser feita criteriosamente, levando  a luz do Evangelho  aos que ignoram as maravilhas de tudo que Deus revelou.
São Paulo alertou: “A palavra de Cristo permaneça em vós com toda sua riqueza, de sorte que com toda sabedoria possais instruir e exortar-vos mutuamente.” (Col 3, 16).
 Pela oração constante, pela vivência pessoal da religião e pela ação oportuna se pode tirar da ignorância os que desconhecem a verdade ou andam pelos caminhos do pecado.
3.2 Dar bom conselho
  Trata-se de imitar a Deus, porque diz o salmista: “Bendito o Senhor que me aconselha, mesmo de noite a consciência me admoesta (Sl 16, 7). É  um dos sete dons do Espírito Santo
É o hábito sobrenatural que perfeiçoa a virtude da prudência, fazendo-nos julgar pronta e seguramente por uma espécie de intuição sobrenatural, o que convém  dizer aos outros, sobretudo nos casos dificultosos.
 O objetivo é a boa direção das ações do cristão, orientando a quem precisa.
Grave omissão é de quem pode e não oferece bons conselhos.
Antes de falar verificar se o próprio conselheiro vive o que vai dizer ao outro. Depois invocar as luzes do Espírito Santo.
 Falar no momento certo com palavras acertadas ditas com muito discernimento.
3.3 Corrigir os que erram
Para Santo Agostinho a correção fraterna deve ser mansa e com caridade. Indica três pontos importantes que devem ser levados em consideração todas as vezes que nos é necessário corrigir alguém, são eles: 
 Nunca se corrige alguém quando estamos perturbados; nunca quando o outro está perturbado e nunca em público.
 Sempre se inicia a conversa indicando um ponto positivo da pessoa, palavras de ânimo e incentivo.
lar a verdade num momento importuno é um desastre.
Primeiro se deve rezar, depois aguardar o instante adequado empregando uma maneira de falar que não figure uma censura, mas o desejo de realmente ajudar. 
Davi era temente a Deus, desejava de todo o coração segui-lo e amá-lo; porém, era fraco e cego pelo pecado, por isso, precisou que o profeta Natã viesse corrigi-lo e  lhe mostrar a verdade. Todos nós necessitamos de um “Natã”, ou seja, alguém capaz de alertar, exortar e ordenar novamente nossas atitudes para a vontade de Deus. Todos nós também necessitamos de um coração semelhante ao de Davi; capaz de reconhecer o erro, arrepender-se e pedir perdão e finalmente retroceder do caminho que leva para longe de Deus.
3.4 – Perdoar as injúrias
Eis o ensinamento de Jesus: “Se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, também vosso Pai  não vos perdoará.” (Mt  6, 14-15).
 São Paulo decodificou bem o que Cristo doutrinou e escreveu aos Colossenses: “Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente toda vez que tiverdes queixas contra os outros. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai  também vós” (Col 3, 13).
 Este perdão deve ser constante e sem limites (Mt 18, 21-23).Perdoar de coração  leva a esquecer toda injustiça sofrida e a orar pelo ofensor  desejando-lhe tudo de bom.
Diante de uma ofensa, de uma agressão, de um ataque o primeiro movimento meramente humano é cair na defensiva e revidar. Isto ao invés de resolver o problema o agrava, pois o contra-ataque nada  resolve. A falta de perdão lança numa espiral de erros, numa escalada de contradições.
O perdão ensinado por Jesus é um ato de libertação interior, não é uma fraqueza, uma tolice. Ao contrário, é uma prova de que alguém não se deixa dominar pela maldade que seu adversário lhe proporciona e desfaz o círculo malévolo da violência, da incompreensão.
O perdão é sempre um ato criador de harmonia.
Ele permite recrear a relação que foi destruída. É um veemente apelo para que o mal não tenha nunca a última palavra, mas dê lugar a um ato de dileção.
Amar apesar de tudo, acima de tudo, não obstante tudo, apesar da atitude malévola do próximo. Isto é possível quando se considera constantemente a que ponto Deus ama a cada um de nós com uma  ternura de Pai, de Amigo, e ama apesar dos pecados cometidos contra Ele.
 É preciso sempre se imergir na imensidade de Sua misericórdia para difundir clemência em todas as circunstâncias por mais penosas que sejam. Eis aí a chave do perdão.
Quem age como filho e filha de Deus, andando sob o Seu amor, é possível perdoar. Quem experimenta o quanto é amado pelo Pai do céu, tem a força insuperável de anistiar as ofensas alheias.
Como é bom imitar Jesus que insultado, vilipendiado no alto de uma Cruz indultava seus ferozes inimigos: “Pai perdoa-lhes eles não sabem o que fazem”.
 É sempre necessário analisar a razão última das atitudes agressivas do próximo, pois isto facilita relevar-lhe o insulto, a perversidade.
Nunca se medita demais nas palavras do Pai Nosso: “Perdoai nossas ofensas como nós perdoamos a quem nos ofendeu
            3.5 Consolar os tristes
São Paulo, prisioneiro, confortava as comunidades em suas tribulações, tristezas e sentia-se confortado por elas (At 16,40.20,1; 2Cor 2,7; Col 2,2). 
Todos nós passamos  por instantes de angustia, medo, tristeza, desânimo, todos nós devemos superar estes momentos e procurar consolar os tristes. Terrível a angústia de Jesus no Horto das Oliveiras (Mt 26, 37 ss) e um anjo do céu veio confortá-lo (Lc 22,43).
 No contexto atual multiplicam-se as causas de depressão e é um dever do cristão ser arrimo para com os que sofrem entregues ao desânimo. Rezar por eles e lhes levar palavras de conforto. Jesus consolou Marta e Maria ao ensejo da morte de Lázaro (Jo 11,19).
São Paulo explica qual deve ser a atitude do cristão: “Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação,  que nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia!” (2 Cor 1, 3-4).
Eis o que Ele disse aos Tessalonicenses: “Consolai-vos mutuamente e edificai-vos uns aos outros.” (1Tes 5, 11). Procurar cada um não ser causa de aborrecimentos para os outros em casa e em qualquer lugar. Não ser indiferente às tragédias alheias e perceber sempre o amargor das lágrimas dos sofredores.
3.6  Suportar com paciência as  fraquezas do próximo
Este o conselho de São  Paulo aos Tessalonicenses: “Tende paciência para com todos” ( 1 Tes 5,14). Aos Romanos ele dizia: “Ora, nós que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos que menos o são” (Rom 15,1)
A prática da paciência  sobrepuja a tudo o mais no relacionamento diário e é de grande proveito para  a vida social. É que a paciência é a arte de tocar o coração  dos que padecem.
A paciência é a chave que abre as portas do coração do sofredor  e leva remédio aos seus males. Donde o imenso valor da jaculatória: Jesus manso e humilde de coração fazei o meu coração semelhante ao vosso”.
3.7 Rezar  a Deus pelos vivos e pelos mortos
A oração do cristão é uma voz poderosa que penetra até o céu e abre os tesouros divinos. Tal a promessa explícita de Jesus: “Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei e se vos abrirá, porque aquele que pede recebe e o que procura acha e ao que bate se lhe abrirá” (Mt 7,7).
Aliás, o divino Redentor não deixou dúvida alguma sobre esta sua assertiva, dado que também disse: “Tudo que pedirdes em meu nome, fá-lo-ei, para que o Pai seja glorificado no Filho” (Jô 14,13).
Desta forma, Cristo empenhou sua palavra e se obrigou na pessoa do Pai a tudo conceder a quem piedosamente orasse.
Uma prova do valor da oração mostram os mais significativos edifícios da terra que são os consagrados às preces dos fiéis, desde as pequenas capelas até os grandes templos e majestosas catedrais e basílicas nos quais ecoam os mais belos hinos que são as preces dirigidas ao céu.
  A oração é a fonte de todas as bênçãos para a humanidade e tão importante para o homem como a chuva é necessária às sementeiras, a água ao peixe e o sol à natureza.
Cumpre rezar também pelos mortos.
 Daí a importância da oração pelas almas do purgatório. A alma ao sair deste mundo, não estando completamente purificada, deve expiar durante algum tempo os erros cometidos antes de entrar na glória eterna.
Se ela traz algum vestígio de pecado ou porque cometeram faltas leves e não as tenha expiado suficientemente neste mundo, bem como no caso dos pecados mortais já perdoados e não reparados nesta trajetória terrena, não pode entrar no céu. Purificam-se no purgatório e podem ser amparadas pelas orações dos fiéis e pelos sacrifícios oferecidos a Deus por elas.
Essas almas têm a graça de Deus e, portanto, a salvação é certa para elas, mas a justiça divina reclama a purificação total antes da entrada no céu..
O dogma da comunhão dos santos mostra que se pode, de fato, abreviar as penas dos que sofrem nesta antecâmara do céu.
Aliás, todo o mês de novembro é dedicado às almas que lá se encontram. Saibamos, porém, sufragá-las com nossas orações  e sacrifícios durante todo o ano, pois, se um dia tivermos que por lá passar, Deus fará que outros se lembrem de nós.
Nunca se lembra demais a passagem do Segundo Livro dos Macabeus: “Santo e salutar esse pensamento de orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados" (2 Mc 12, 45).

4. CONCLUSÃO*
* As obras de misericórdia corporais e espirituais nos ajudam a sermos mais perfeitos
* Praticando as obras de misericórdia corporais e espirituais o cristão se aprimora espiritualmente
e ajuda a construir um mundo melhor
* Pelas obras de misericórdia corporais e espirituais entramos em comunhão com os vivos e os             mortos
 *As 14 obras de misericórdia encontram sua perfeição e seu modelo em Cristo que as ensinou e praticou (Jo 13,15).
* Os justos do Antigo Testamento e todos os santos do Novo Testamento as continuamente as exercitaram e através delas chegaram a uma notável perfeição.