OBRAS DE MISERICÓRDIA CORPORAIS E
ESPIRITUAIS
1 INTRODUÇÃO
Fomos criados na misericórdia e para a
misericórdia. Jesus foi claro: “Sede misericordiosos como o Pai celeste é
misericordioso” (Lc 6,36-38).
Sem Misericórdia surgem atitudes que
afetam a harmonia consigo mesmo e com o próximo..
A falta de misericórdia gera uma atitude
negativa, levando a uma insegurança existencial.
Isto
provoca muita vulnerabilidade e leva até a comportamentos indesejáveis,
ocasionados pela impulsividade ou pela incapacidade de conseguir autocontrolar-se e de se ter uma visão menos deturpada de uma
situação que pode e deve ser contornada
Cumpre mostrar o rosto de Deus em todas as
situações da vida, na vivência e testemunho da caridade misericordiosa deste Deus que é amor
infinito.
Isto porque a misericórdia como o amor, deve ser
uma ação viva, contínua, dinâmica e concreta. Eis porque são de suma
importância as obras de misericórdia pelas quais o cristão vive o preceito de
Cristo que o leva a ser misericordioso.
As sete Obras de
misericórdia corporais encontram-se, na sua maioria, numa lista enunciada por
Jesus na descrição do Juízo Final (Mt 25,31-46).
A lista das sete Obras de
misericórdia espirituais tirou-a a Igreja, através dos teólogos, de outros
textos que se encontram ao longo da Bíblia e de atitudes e ensinamentos do
próprio Cristo. Santo Tomás a elas se
refere na Suma Teológica (II-II, q. 32,
a. 2)
As
obras de misericórdia corporais são:
1)Dar de comer a
que tem fome
2) Dar de beber a quem tem sede
3) Dar pousada aos peregrinos
4) Vestir os nus
5) Visitar os enfermos
6) Visitar os presos
7) Enterrar os mortos
As Obras de misericórdia espirituais:
1)Ensinar os
ignorantes
2) Dar bom conselho
3) Corrigir os que erram
4) Perdoar as injúrias
5) Consolar os tristes
6) Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo
7) Rezar a Deus por vivos e mortos
2 AS SETE OBRAS DE MISERICÓRDIA
CORPORAIS
2.1
Dar de comer a quem tem fome.
Jesus preocupou-se com a fome dos que O seguiam. A cena da
multiplicação dos pães é uma das narrativas mais comoventes, Cerca de
cinco mil homens comeram à saciedade naquele lugar deserto.
As obras sociais da Igreja
providenciam então alimento através de promoções como as cestas básicas com
quilos de comida, sopas servidas com muito amor.
Luta contínua para que haja da parte dos governantes políticas que
afastem a causa da fome e a todos os fiéis inocula o senso da partilha.
2.2 Dar de
beber a quem tem sede
Claras
as palavras de Cristo: “Todo aquele que der ainda que seja somente um copo
de água fresca a um destes pequeninos, porque é meu discípulo, em verdade eu
vos digo: não perderá sua recompensa” (Mt 10, 42).
Daí a necessidade do cuidado com água que pode vir
a faltar por causa do desperdício. Em casa as torneiras bem fechadas e o uso
racional do precioso líquido ao tomar o banho, na cozinha, na limpeza da casa.
Usar a vassoura sempre no passeio em frente à moradia e em outros
compartimentos da casa sobretudo na cozinha.
2.3 Dar pousada aos peregrinos.
Sobretudo nos
dias de hoje todo cuidado é pouco no que tange as pessoas desconhecidas, mas
trata-se de receber bem parentes e amigos quando de suas visitas. Incentivar continuamente
as políticas habitacionais e as associações que acolhem os sem teto. Apoio ao
“Lar dos velhinhos” e outras iniciativas que visam minimizar as dificuldades de
quem procura um lugar para morar. Ajudar os
membros da Sociedade de São Vicente de
Paulo
2.4 Vestir
os nus
Jesus
exortou: “Quem tem duas túnicas dê uma ao que não tem” (Lc 3, 11a)
O apóstolo Tiago decoficou magnificamente este preceito: “Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento
cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e
fartai-vos, mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes
aproveitará?”. (Tg 2, 15-17).
Daí a colaboração com os bazares que são feitos junto às Igrejas e com os
Vicentinos que conhecem de perto os mais necessitados. O que estiver inútil no guarda roupa oferecer
a estas entidades beneficentes ou diretamente a quem se conhece e não tem como
bem se vestir.
2.5 Visitar os enfermos
Jesus acolheu, atendeu, socorreu e curou os
doentes. As vezes eram levados a Ele no entardecer (Mc
1,32-34) em outras ocasiões pediam que Ele fosse até a casa do enfermo,
como fez o oficial que solicitou a cura do filho que estava morrendo (Jo,
4, 46-53). Na casa de Pedro, curou sua sogra (Mt 8, 14-15). Sua
mãe, Maria Santíssima, mesmo grávida, andou quilômetros para ajudar e pôr-se a
serviço da idosa Isabel, sua prima, grávida de seis meses.
Esta obra de misericórdia deve ser exercida em casa ou junto dos
parentes e amigos, sobretudo, por ocasião de doenças longas e, às vezes
irreversíveis.
Trata-se também de um trabalho voluntário em hospitais, asilos, e casas
de recuperação terapêutica. Estende-se a uma pastoral urbana que visite e
acompanhe aqueles que, nos grandes centros urbanos vivem a dor de sua
enfermidade na solidão, e no esquecimento. Interessar-se pela pastoral da
saúde.
Estar perto de quem sofre é estar servindo ao próprio Cristo.
Ajudar na compra dos remédios e roupas que se fizerem necessárias.
Amparar com as orações que operam maravilhas. Por incrível que pareça, estava a
redigir este tópico quando o telefone tocou e era uma senhora a pedir para sua
mãe de 95 anos que estava sofrendo com terrível dor de cabeça, sendo que a uma
outra pessoa da família a oração por ela fora por este sacerdote feita resultou
na sua cura.
2.6 Visitar os prisioneiros
Jesus foi também taxativo: “Estava preso e me
visitaste” ( Mt 25,36). É claro que toda prudência é necessária e a visita aos
presidiários nem sempre é conveniente.
Ajudar, porém, aqueles que se entregam à pastoral
carcerária dentro das normas vigentes.
Junto das autoridades se pode influenciar para que
haja um tratamento humano aos que erraram e cumprem pena.
Não se esquecer das famílias dos que estão presos,
pois toda palavra de conforto é saudável em todos os sentidos.
2,7 Enterrar
os mortos
Lemos
no Livro de Tobias que ele “com uma solicitude toda particular, sepultava os defuntos e
os que tinham sido mortos (Tb 1, 20).
Está no Novo Catecismo da Igreja Católica:
“Os corpos dos defuntos devem ser tratados com respeito e caridade, na fé e na
esperança da ressurreição. O enterro dos mortos é uma obra de misericórdia
corporal que honra os filhos de Deus, templos do Espírito Santo” (CIC §
2300).
Ir ao velório de parentes e amigos é
sumamente louvável, além do conforto das palavras as preces diante do falecido
têm valor especial diante de Deus e dos familiares.
Cuidar dos túmulos da própria família e insistir
junto dos governantes para que zelem pelos cemitérios.
3 AS SETE OBRAS DE MISERICÓRDIA ESPIRITUAL
3.1 Ensinar os ignorantes
Interessar-se pela catequese, orientar os que estão no caminho do pecado,
mostrar os valores dogmáticos e morais da Bíblia, dar bom exemplo.
A evangelização é contínua e deve ser feita
criteriosamente, levando a luz do
Evangelho aos que ignoram as maravilhas
de tudo que Deus revelou.
São Paulo alertou: “A palavra de Cristo permaneça em vós com toda sua riqueza,
de sorte que com toda sabedoria possais
instruir e exortar-vos mutuamente.” (Col 3, 16).
Pela oração constante, pela vivência pessoal
da religião e pela ação oportuna se pode tirar da ignorância os que desconhecem
a verdade ou andam pelos caminhos do pecado.
3.2 Dar bom
conselho
Trata-se de imitar a Deus, porque diz o
salmista: “Bendito o Senhor que me aconselha, mesmo de noite a consciência me
admoesta (Sl 16, 7). É um dos sete dons
do Espírito Santo
É
o hábito sobrenatural que perfeiçoa a
virtude da prudência, fazendo-nos julgar pronta e seguramente por uma espécie
de intuição sobrenatural, o que convém dizer aos outros, sobretudo nos casos
dificultosos.
O objetivo é a boa direção das ações do
cristão, orientando a quem precisa.
Grave
omissão é de quem pode e não oferece bons conselhos.
Antes de
falar verificar se o próprio conselheiro vive o que vai dizer ao outro. Depois
invocar as luzes do Espírito Santo.
Falar no momento certo com palavras acertadas
ditas com muito discernimento.
3.3 Corrigir os que erram
Para Santo Agostinho a correção fraterna deve ser mansa e
com caridade. Indica três pontos importantes que devem ser levados em
consideração todas as vezes que nos é necessário corrigir alguém, são eles:
Nunca se corrige alguém
quando estamos perturbados; nunca quando o
outro está perturbado e nunca em
público.
Sempre se inicia a conversa
indicando um ponto positivo da pessoa, palavras de ânimo e incentivo.
lar a verdade num momento importuno é um desastre.
Primeiro se deve rezar, depois aguardar o instante adequado
empregando uma maneira de falar que não figure uma censura, mas o desejo de
realmente ajudar.
Davi
era temente a Deus, desejava de todo o coração segui-lo e amá-lo; porém, era
fraco e cego pelo pecado, por isso, precisou que o profeta Natã viesse corrigi-lo
e lhe mostrar a verdade. Todos nós
necessitamos de um “Natã”, ou seja,
alguém capaz de alertar, exortar e ordenar novamente nossas atitudes para a
vontade de Deus. Todos nós também necessitamos de um coração semelhante ao de
Davi; capaz de reconhecer o erro, arrepender-se e pedir perdão e finalmente
retroceder do caminho que leva para longe de Deus.
3.4 – Perdoar as injúrias
Eis
o ensinamento de Jesus: “Se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai
celeste também vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, também vosso Pai
não vos perdoará.” (Mt 6,
14-15).
São Paulo decodificou bem o que Cristo
doutrinou e escreveu aos Colossenses: “Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente toda
vez que tiverdes queixas contra os outros. Como o Senhor vos perdoou, assim
perdoai também vós” (Col 3, 13).
Este
perdão deve ser constante e sem limites (Mt 18, 21-23).Perdoar de coração leva a esquecer toda injustiça sofrida e a
orar pelo ofensor desejando-lhe tudo de
bom.
Diante de
uma ofensa, de uma agressão, de um ataque o primeiro movimento meramente humano
é cair na defensiva e revidar. Isto ao invés de resolver o problema o agrava,
pois o contra-ataque nada resolve. A
falta de perdão lança numa espiral de erros, numa escalada de contradições.
O perdão
ensinado por Jesus é um ato de libertação interior, não é uma fraqueza, uma
tolice. Ao contrário, é uma prova de que alguém não se deixa dominar pela
maldade que seu adversário lhe proporciona e desfaz o círculo malévolo da
violência, da incompreensão.
O perdão é
sempre um ato criador de harmonia.
Ele
permite recrear a relação que foi destruída. É um veemente apelo para que o mal
não tenha nunca a última palavra, mas dê lugar a um ato de dileção.
Amar
apesar de tudo, acima de tudo, não obstante tudo, apesar da atitude malévola do
próximo. Isto é possível quando se considera constantemente a que ponto Deus
ama a cada um de nós com uma ternura de
Pai, de Amigo, e ama apesar dos pecados cometidos contra Ele.
É preciso sempre se imergir na imensidade de
Sua misericórdia para difundir clemência em todas as circunstâncias por mais
penosas que sejam. Eis aí a chave do perdão.
Quem age
como filho e filha de Deus, andando sob o Seu amor, é possível perdoar. Quem
experimenta o quanto é amado pelo Pai do céu, tem a força insuperável de
anistiar as ofensas alheias.
Como é bom
imitar Jesus que insultado, vilipendiado no alto de uma Cruz indultava seus
ferozes inimigos: “Pai perdoa-lhes eles não sabem o que fazem”.
É sempre necessário analisar a razão última
das atitudes agressivas do próximo, pois isto facilita relevar-lhe o insulto, a
perversidade.
Nunca se
medita demais nas palavras do Pai Nosso: “Perdoai nossas ofensas como nós
perdoamos a quem nos ofendeu
3.5
Consolar os tristes
São Paulo, prisioneiro,
confortava as comunidades em suas tribulações, tristezas e sentia-se confortado
por elas (At 16,40.20,1; 2Cor 2,7; Col 2,2).
Todos
nós passamos por instantes de angustia,
medo, tristeza, desânimo, todos nós devemos superar estes momentos e procurar
consolar os tristes. Terrível a angústia de Jesus no Horto das Oliveiras (Mt
26, 37 ss) e um anjo do céu veio confortá-lo (Lc 22,43).
No contexto atual multiplicam-se as causas de
depressão e é um dever do cristão ser arrimo para com os que sofrem entregues
ao desânimo. Rezar por eles e lhes levar palavras de conforto. Jesus consolou
Marta e Maria ao ensejo da morte de Lázaro (Jo 11,19).
São
Paulo explica qual deve ser a atitude do cristão: “Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a
consolação, que nos conforta em todas as nossas tribulações, para
que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos
consolar os que estão em qualquer angústia!” (2 Cor 1, 3-4).
Eis
o que Ele disse aos Tessalonicenses: “Consolai-vos mutuamente e edificai-vos
uns aos outros.” (1Tes 5, 11). Procurar cada um não ser causa de aborrecimentos para os outros em
casa e em qualquer lugar. Não ser indiferente às tragédias alheias e perceber
sempre o amargor das lágrimas dos sofredores.
3.6 Suportar com paciência as fraquezas do próximo
Este o conselho de São Paulo aos
Tessalonicenses: “Tende paciência para com todos” ( 1 Tes 5,14). Aos Romanos
ele dizia: “Ora, nós que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos que
menos o são” (Rom 15,1)
A prática
da paciência sobrepuja a tudo o mais no
relacionamento diário e é de grande proveito para a vida social. É que a paciência é a arte de
tocar o coração dos que padecem.
A
paciência é a chave que abre as portas do coração do sofredor e leva remédio aos seus males. Donde o imenso
valor da jaculatória: Jesus manso e humilde de coração fazei o meu coração semelhante
ao vosso”.
3.7 Rezar a Deus pelos
vivos e pelos mortos
A oração
do cristão é uma voz poderosa que penetra até o céu e abre os tesouros divinos.
Tal a promessa explícita de Jesus: “Pedi
e recebereis; buscai e achareis; batei e se vos abrirá, porque aquele que pede
recebe e o que procura acha e ao que bate se lhe abrirá” (Mt 7,7).
Aliás, o
divino Redentor não deixou dúvida alguma sobre esta sua assertiva, dado que
também disse: “Tudo que pedirdes em meu
nome, fá-lo-ei, para que o Pai seja glorificado no Filho” (Jô 14,13).
Desta
forma, Cristo empenhou sua palavra e se obrigou na pessoa do Pai a tudo
conceder a quem piedosamente orasse.
Uma prova
do valor da oração mostram os mais significativos edifícios da terra que são os
consagrados às preces dos fiéis, desde as pequenas capelas até os grandes
templos e majestosas catedrais e basílicas nos quais ecoam os mais belos hinos
que são as preces dirigidas ao céu.
A oração é a fonte de todas as bênçãos para a
humanidade e tão importante para o homem como a chuva é necessária às
sementeiras, a água ao peixe e o sol à natureza.
Cumpre
rezar também pelos mortos.
Daí a importância da oração pelas almas do
purgatório. A alma ao sair deste mundo, não estando completamente purificada,
deve expiar durante algum tempo os erros cometidos antes de entrar na glória
eterna.
Se ela
traz algum vestígio de pecado ou porque cometeram faltas leves e não as tenha
expiado suficientemente neste mundo, bem como no caso dos pecados mortais já
perdoados e não reparados nesta trajetória terrena, não pode entrar no céu. Purificam-se
no purgatório e podem ser amparadas pelas orações dos fiéis e pelos sacrifícios
oferecidos a Deus por elas.
Essas
almas têm a graça de Deus e, portanto, a salvação é certa para elas, mas a
justiça divina reclama a purificação total antes da entrada no céu..
O dogma da
comunhão dos santos mostra que se pode, de fato, abreviar as penas dos que
sofrem nesta antecâmara do céu.
Aliás,
todo o mês de novembro é dedicado às almas que lá se encontram. Saibamos, porém,
sufragá-las com nossas orações e sacrifícios
durante todo o ano, pois, se um dia tivermos que por lá passar, Deus fará que
outros se lembrem de nós.
Nunca se
lembra demais a passagem do Segundo Livro dos Macabeus: “Santo e salutar esse pensamento de
orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados" (2 Mc 12, 45).
4. CONCLUSÃO*
* As obras de
misericórdia corporais e espirituais nos ajudam a sermos mais perfeitos
* Praticando as
obras de misericórdia corporais e espirituais o cristão se aprimora
espiritualmente
e ajuda a
construir um mundo melhor
* Pelas obras de
misericórdia corporais e espirituais entramos em comunhão com os vivos e os mortos
*As 14 obras de
misericórdia encontram sua perfeição e seu modelo em Cristo que as ensinou e praticou
(Jo 13,15).
* Os justos do Antigo Testamento e todos os santos do Novo
Testamento as continuamente as exercitaram e através delas chegaram a uma
notável perfeição.