O FILHO DE DEUS VIVO
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho
Notável
a profissão de fé de Pedro ao proclamar que Jesus era “o Messias, o Filho de
Deus vivo” (Mt 16,13-20). Não obstante tantos milagres realizados, curas
maravilhosas e uma pregação superior a todas as outras até então proferidas,
não havia entre os que O conheciam um consenso sobre quem era Jesus. Uns O
comparavam a personagens famosos como Jeremias ou João Batista, ou ainda a um
grande profeta como Elias. Havia a expectativa da chegada do Messias, mas não
reconheciam em Cristo o desejado das nações. Donde ter merecido Simão Pedro o
elogio do Mestre divino pela brilhante confissão de fé que, aliás, não lhe fora
revelada pela carne e pelo sangue, mas pelo próprio Pai que está nos céus. Tratava-se de uma assertiva superior a um
julgamento meramente humano, provinda do homem questionador, fechado para as
novidades divinas. Ali estava, de fato, o Enviado de Deus que ultrapassava com
sua doutrina as forças proféticas do passado, mais importante que os grandes
personagens que haviam falado em nome do Ser Supremo. Era o Messias em pessoa
e, na verdade, o Filho de Deus vivo. A resposta de fé dada com tanta convicção
pelo Apóstolo resultou numa promessa maravilhosa, a do primado petrino. Claras
as palavras de Cristo: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha
Igreja [...] Dar-te-ei as chaves do
reino dos céus”. Pedro será a rocha de fundação de Sua Igreja, declara
Jesus. Felizes, como Pedro, os que ultrapassam a carne e o sangue e abrem
inteiramente sua inteligência e seu coração à Pessoa divina do Redentor. São
aqueles que depositam nele confiança inabalável e Lhe entregam sem reservas
todas as suas forças. Reconhecem o primado do Papa, sucessor de Pedro na
cátedra de Roma o qual irradia através dos tempos a luz da crença na divindade
de Cristo, preservando de todo erro a doutrina por Ele legada à sua Igrejja. O
verdadeiro seguidor de Cristo passa então a entrar na beatitude de Simão Pedro,
na felicidade dos que confessam a messianidade de Cristo e dele não se apartam,
fazendo-O o centro de toda sua vida. Ele o Ungido, o Consagrado especial que
veio a este mundo para realizar as promessas de salvação de Deus para toda a
humanidade. A revelação de Pedro ressoaria em toda a tradição primitiva da Igreja
que proclamou unanimimente que Jesus de Nazaré era o Messias prometido. Aliás,
o próprio Cristo já havia confirmado isto. O Sumo Sacerdote Lhe tinha colocado
esta questão: “És tu o Messias, o Filho de Deus bendito”? Jesus respondeu: “Eu
O sou” (Mc 14,61 ss). Não, porém, um Messias segundo a concepção judaica de um
chefe político e militar que libertaria Israel da dominação romana, instaurando
o reino de Deus nesta terra. Aos Apóstolos Jesus passou a autêntica noção
messiânica que Ele encarnava e mostrou que o Filho do homem viera para “servir
e dar sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). O Messias era o servidor do
Pai. Tratava-se de uma missão salvadora eterna e não meramente temporal,
destinada não a um só povo, mas para todos que nele acreditassem. Através dos
tempos multiplicariam as opiniões as mais diversas sobre Jesus, o Messias. Para
muitos ele não passaria de um notável mestre, uma grande personalidade, um
milagreiro e não O veriam como o Redentor que veio abrir as portas do Reino dos
Céus para os pobres, os humildes, os mansos, os puros de mente e de corpo. O
próprio Cristo já havia condenado os que O honravam com os lábios, mas tendo o
coração longe dele (Mc 7,6). Segundo Ele são os hipócritas que vivem proferindo
o Seu nome, mas não seguem o que Ele ensinou. Como outrora a seus discípulos
Jesus está a indagar a cada um de nós: “E vós quem dizeis que eu sou”? Ele quer
uma resposta que venha não da carne e do sangue, mas da iluminação interior
nascida de uma autêntica fé. São Paulo
dizia: “Eu só quero conhecer Cristo e Cristo crucificado” (1 Cor 2,2).
Conhecer, isto é, viver o significado de sua tarefa redentora através de tantos
sofrimentos dos quais o fiel deve participar. O importante é o olhar teológico,
reconhecendo Jesus como o Filho de Deus tendo com Ele um relacionamento
profundo numa visão trinitária que leve à salvação obtida por obras e não por
meras palavras. * Professor no Seminário
de Mariana durame 40 anos.
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