MINHA ALMA GLORIFICA O SENHOR
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Com
grande confiança os fiéis se prostram reverentes ante a Mãe de Jesus elevada de
corpo e alma para o céu, lá onde ela está a repetir o seu hino: “Minha alma
glorifica o Senhor, exulta meu espírito em Deus meu Salvador” (Lc 19-56). Súplicas
lhe são dirigidas ante as incertezas do futuro e tantas desgraças que grassam
no contexto atual. O Papa Pio XII ao proclamar dia primeiro de novembro de 1950
dogma de fé esta verdade declarou: “Esta festa não lembra somente que o corpo
inanimado da Virgem Maria não sofreu nenhuma corrupção, mas também que ela
triunfou da morte e que ela foi glorificada no céu a exemplo de seu filho único
Jesus Cristo”. A Igreja propõe então a todos os discípulos de Jesus não apenas
que, já na Casa do Pai, continua o poder de intercessão de Maria, mas outrossim
que esta mulher de fé extraordinária está
associada à salvação de todos. Na
vitória de Maria sobre a morte está incluído o triunfo sobre todas as potências
do mal. Invocada, ela vem ao encontro de seus filhos ainda peregrinos neste
mundo para ajudá-los a chegar à Jerusalém celeste, escapando das insídias do
demônio. Ela deixou um exemplo mostrando que a fidelidade a Deus é essencial
para a salvação de cada um. Foi o que muito bem lembrou o Papa São João Paulo
II na encíclica Redemptoris Mater –
Mãe do Redentor: “Como é grande, como é heroica a obediência da fé da qual
Maria deu prova face aos decretos insondáveis de Deus. Por esta fé, ela está
unida perfeitamente a Cristo em seu despojamento” (n. 18). O cristão chegará
até o céu se firme for também sua fé que o leve a evitar tudo que impede este
ideal que deve nortear todos os seus passos neste mundo. Perante o conflito
entre a fidelidade à vontade de Deus e as paixões violentas, Maria apresenta
Jesus como o único caminho para a eternidade feliz. A obediência da fé de Maria
patenteia a abertura para a humildade e todas as virtudes que na sua existência
admiravelmente floresceram. No seu cântico o “Magnificat” ela não exalta a
riqueza, a soberba e o poder. Ela coloca em relevo a pobreza de espírito, os
humildes, aqueles famintos a quem Deus alimenta. Este Deus sempre vitorioso
sobre as forças da morte e da destruição. Ele quer um coração aberto à salvação
espiritual para participar da maravilha da comunhão com sua vontade como
aconteceu com a Virgem Santa. Ela a ostentar sempre uma fidelidade radical que
a elevou até o céu. Lá contemplamos a realidade última da existência humana. Maria
de corpo e alma na beatitude eterna ajuda a cada um a vencer as tragédias deste
exílio terreno, triunfando da angústia existencial, da depressão, do desespero.
Com efeito, ela quer que seus filhos mentalizem o que expressou São Paulo
acerca da felicidade eterna, a saber, “o que nenhum olho viu, nem o ouvido
escutou, nem passou pelo pensamento humano o que Deus preparou para aqueles que
o amam” (1 Cor 2,9). Eis o que deve dar ânimo a seus devotos na pugna diária
contra os embustes do demônio. A Mãe de Jesus está no céu, junta de Deus não
isolada, mas unida à imensa multidão daqueles e daquelas que formam o Corpo Místico
de Cristo. Uma multidão de batizados e de todos aqueles que, não tendo conhecido
o Deus verdadeiro, são, contudo, artesãos da justiça e da paz, semeadores do
verdadeiro amor. Eis aí verdades que a festa da Assunção relembra e que
precisam continuamente ilunção de Maria aos
céus vem então nos falar da beleza das realidades sobrenaturais. Beleza de
Cristo Ressuscitado que recebe com pompa e solenidade sua Mãe em seu Reino.
Beleza de Maria no seu total despojamento das ilusões terrenas, envolta, porém,
na plenitude das graças divinas. Beleza de cada cristão que um dia entrará na
glória sem fim da Casa do Pai, amparado que foi nesta terra por Aquela que, com
Jesus, venceu todas as energias do mal e se apresenta diante nós, bela como a luz,
radiante como sol, coroada de doze estrelas, aclamada por toda corte celeste,
envolvendo a todos na mais reluzente esperança. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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