A
PORTA DAS OVELHAS
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Jesus
manifesta-se como o Bom Pastor e, na verdade, sendo ele mesmo a Porta das
ovelhas (Jo 10,1-10). Nos campos da Palestina os pastores faziam parte da
paisagem cotidiana. À tarde eles reuniam seus rebanhos para colocá-los salvos dos
vários perigos noturnos. Pela manhã, eles os conduziam para a pastagem. No salmo
22 já apareciam estas imagens: “O Senhor é meu pastor sobre prados de erva
fresca ele me faz repousar, ele me conduz para as águas tranquilas e me faz
reviver”. É que Deus conduz o seu povo e dele cuida. Jesus, autêntico Bom
Pastor, acrescentou que Ele era a porta do redil, ou seja, Ele é o único
medianeiro entre Deus e os homens. Apenas por meio dele se pode entrar no
verdadeiro aprisco e ir até o Pai. Tão somente por Ele chega toda a
proteção. Podia, portanto, atestar qual
era sua missão neste mundo: “Eu vim para que tenham a vida e a tenham em
abundância”. Note-se, contudo, que a expressão bíblica “rebanho” não significa
um coletivo anônimo. Isto porque para Deus as ovelhas representam um povo e Ele
conhece a todos pelo seu nome. .Cada uma de suas ovelhas tem um lugar dentro de
seu coração de Pai. Ela ama individualmente, porque cada ser humano é seu filho
dileto. Quando Jesus diz que Ele é a
porta, combatia deste modo a maneira de pensar dos fariseus para quem Deus era
um Ser longínquo, inacessível. Jesus, entretanto, era a porta que permitia ir
até o Ser Supremo e quem entrasse por esta porta estaria salvo. Eis suas
palavras: “entrará e sairá e encontrará pastagem”. É que não se trata de uma
porta que se fecha brutalmente e aprisiona. Trata-se de uma porta aberta a toda
a humanidade, inclusive para as ovelhas desgarradas que desejassem a plenitude
da salvação, podendo então encontrar um sentido para sua vida. Era a porta da misericórdia
divina. Para Deus cada criatura é um bem precioso. A realidade da imagem da
porta usada por Jesus encontra sua realização através dos sacramentos pelos
quais o cristão se incorpora nele e por Ele tem acesso ao Pai. Para isto é preciso
entrar no dinamismo profundo da vida cristã que é o amor ao Pastor e aos irmãos,
que são ovelhas e filhos seus queridos. Aí está a razão pela qual seu autêntico
discípulo, tem uma grande missão que é conduzir os que estão fora do redil
deste Pastor para que entrem por esta porta salvífica, Muitos infelizmente
trilhando os caminhos da perdição vão para longe deste Pastor divino e não
encontram a entrada do único redil que oferece a salvação. Diante disto aparece
clara a vocação do seguidor de Cristo, isto é, lá onde a Providência o colocou
trabalhar por um mundo melhor. Todos dentro do projeto de amor que o Bom Pastor
veio anunciar. Jesus quer ser a porta pela qual se passe da tristeza para a
alegria, da dúvida para a confiança, do pecado para a virtude. É preciso que o
cristão seja, de fato, a voz do Bom Pastor pela palavra e através da vivência
plena do Evangelho. Então muitos compreenderão que Jesus é porta para um porvir
fulgente almejado por Deus. Um mundo de felicidade e de amor do qual Cristo é
já a realidade visível. Ninguém deve se acomodar no seu conforto espiritual,
mas cumpre partilhá-lo e proclamá-lo por toda parte. Este é o desafio dos
cristãos que devem ser os arautos da esperança, oferendo às gerações futuras a
possibilidade de entrar no redil de Deus pela porta que é Cristo. A missão essencial
da Igreja é estender o reino de Cristo. A vocação do batizado é ser um apóstolo
esclarecido e atuante no mundo nos mais diversos afazeres cotidianos,
cooperando com o Bom Pastor. A fecundidade deste apostolado depende da união
vital com Cristo, o enviado do Pai. Esta
união com Jesus se dá na Igreja e é alimentada pelos nutrimentos espirituais,
sobretudo pela Eucaristia. No atual contexto histórico no qual campeiam os mais
graves erros que tendem a arruinar radicalmente a religião e toda a ordem
ética, é preciso mais do nunca aprofundar e defender os princípios cristãos e
sua aplicação aos problemas atuais. Cabe às ovelhas que do Bom Pastor fazer com
que outras ovelhas se tornem capazes de construir a ordem temporal e espiritual.
Nada mais eficiente do que participar das obras de caridade, pois deste modo se
manifesta a prática da Lei do Amor que deve unir todo o rebanho de Jesus. A
misericórdia para com os pobres, os fracos, o socorro mútuo são, de fato, a
marca das ovelhas do Bom Pastor. *
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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