terça-feira, 27 de dezembro de 2016

ANO NOVO, NOVAS PERSPECTIVAS

ANO NOVO, NOVAS PERSPECTIVAS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O início de um novo ano propicia uma reflexão sobre o bom emprego do tempo. Infelizes aqueles que malbaratam os dias de sua vida, os quais são dons preciosos que Deus lhes concede. O ideal de quem tem bom senso é utilizá-los do melhor modo possível, transformando o momento presente em contínua possibilidade de progresso em todos os aspectos. Para isto é preciso,, antes de tudo, ter consciência de que o tempo passa e a eternidade se aproxima, seja qual for a idade que se tenha. O ser humano nasce não para esse mundo, mas para a situação que não terá fim na outra vida. Entretanto, ser eternamente feliz, ou não, depende do modo como cada um agiu enquanto esteve nesta terra. Daí a importância do agora, dado que nem o passado, nem o futuro nos estão no poder de cada um. É no instante atual que se pode reparar erros cometidos e abrir as portas do céu. Isto através de uma conduta correta e bem de acordo com a vontade divina. É um risco colocar em jogo uma sorte eterna por causa de veleidades passageiras, ilusórias ou, até, pecaminosas. Bem diz o ditado: “Para dia basta sua tarefa”. Esta deve ser realizada dentro dos parâmetros da retidão, da virtude com determinação e coragem. O combate à frivolidade se faz necessária e a fuga da ociosidade é uma questão de fundamental valor. O pensamento de que não se sabe nem o dia, nem a hora em que a morte virá é um saudável meio para um aproveitamento sábio do tempo. Deus exige fidelidade total a Ele e todo cuidado é pouco, pois a vida passa celeremente de uma maneira que escapa ao poder do ser racional. Donde uma atenção ininterrupta para fazer o bem e evitar o mal. Sem agitações, mas na calma o fiel ao fazer o seu exame de consciência no final de cada dia deve examinar se sua caminhada foi ascensional, ou não, rumo à Jerusalém do alto. Outro meio então a ser empregado é uma radical dependência de Deus, evitando tudo que não esteja de acordo com sua vontade santíssima. Sabedor o cristão de sua fraqueza, ele  busca na oração as forças necessárias para avançar na pratica de todas as virtudes. Com sumo discernimento vai cortando tudo que é inútil em seu derredor, sobretudo programas da televisão ou dos outros meios de comunicação social que levam ao esvaziamento interior e acabam conduzindo ao erro e a tudo que contraria Lei de Deus. Trata-se de um combate firme à cegueira espiritual propiciada pelo mundo. Este oferece falsas ideias sobre a santidade a qual precisa ser o ponto de mira de todo cristão, levando a muitos a se julgarem perfeitos, quando, na verdade, estão cheios é de defeitos e estes lhes escampam e se fixam. Daí uma ilusão perniciosa. Eis por que é necessário implorar sempre a iluminação divina para “saber o que é reto”,  como se pede na prece pela qual se invova o Espírito Santo. Este dissipa a cegueira da alma, afasta o orgulho, a sensualidade e outros vícios. Deixar-se guiar pela  luz divina é a maneira certa para enxergar as realidades eternas. Então o cristão não traz os outros à barra de seu tribunal e não se torna juiz nem de sua própria conduta a qual deve estar sempre pautada pela vontade de seu Senhor. Donde a sabedoria de quem sempre pede a Deus para o aclarar por toda parte e em todas as suas ações, para que, depois, possa também iluminar as veredas do próximo. Então, sim, Deus mostra a quem assim procede a magnitude das coisas da eternidade, as quais só são vislumbradas com os clarões celestiais. Portanto, para que o Ano Novo seja feliz tudo deve ser feito sob as inspirações do Divino Espírito Santo que olha para a humildade de seus filhos que compreendem seus desígnios, usando bem os dons que Ele comunica a cada instante aos de boa vontade. Estes saberão sempre distinguir o que fazer para transformar o Ano Novo através de um procedimento fulgurante que conduzirá à eterna bem-aventurança. Durante todo o 2017 é bom recordar do sábio conselho de Rui Barbosa: “Oração e trabalho são os recursos mais poderosos na criação moral do homem. A oração é o íntimo sublimar-se da alma pelo contato com Deus. O trabalho é o inteirar, o desenvolver, o apurar das energias do corpo e do espírito, mediante a ação contínua sobre o mundo onde labutamos”.  Trabalho realizado com eficiência e competência, pois em tudo se está a serviço dos outros* Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

COMO MARIA MEDITAR AS MARAVILHAS DE DEUS

COMO  MARIA MEDITAR AS MARAVILHAS DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Caralho*

No primeiro dia de 2017 o Evangelho nos coloca na companhia de Maria e José e dos pastores que foram pressurosos até Belém encontrando o Menino Jesus reclinado numa manjedoura (Lc 2,16-21). Eles foram fiéis ao anuncio que lhes viera através dos anjos e louvam a Deus.  Maria retinha tudo em seu coração e meditava sobre as maravilhas divinas então realizadas. Belíssima lição para o início de mais um ano na vida de cada um. Na sua munificência o Criador oferece uma nova trajetória na solenidade de Maria, a Mãe do Redentor, o Príncipe da Paz nesta data da Fraternidade Universal. A exemplo de Maria cumpre ponderar a responsabilidade por receber esta dádiva celeste de mais trezentos e sessenta e cinco dias que começam, durante os quais os fiéis são chamados a irradiar a serenidade por toda parte, tocando os corações com uma fé profunda sob a proteção de Maria. Bela missão à qual se deve entregar com denodo para a glória de Deus e bem das almas. Ano por excelência mariano, ressaltando-se, no dia 13 de maio, os cem anos das aparições de Nossa Senhora de Fátima, numa caminhada de perseverança na realização das mensagens de conversão advindas da Cova da Iria. Como outrora Jesus se manifestou aos humildes pastores, Maria o fez a três pobres pastorzinhos mostrando para a humanidade as veredas da justiça que flui do retorno radical para Deus. Adite-se a celebração já tão solenemente preparada dos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora no Rio Paraíba por simples pescadores, mostrando também a predileção do Criado para com os simples, os humildes, os pobres. 300 anos de maravilhosas graças para todo o Brasil, ancorado na força do Evangelho, guiado pela proteção da Virgem Aparecida. Maria já no raiar de 2017 a nos mostrar seu divino Filho e a concitar a todos a um ano de maior progresso espiritual, de mais santidade existencial no cumprimento dos deveres cotidianos, na observância constante dos preceitos do Senhor. Passar estes dias numa fraternidade aberta a todos, num apostolado vibrante para que a salvação oferecida por Cristo não se torne inútil aos que se extraviam do bom caminho por Ele traçado. A exemplo de Maria, dando a Deus uma resposta de amor. Maria convida a todos nós a valorizarmos ao máximo os acontecimentos de 2017 à luz do Evangelho. Se ocorerem as provações enviadas pela Providência divina que ninguém se esqueça de que Deus está sempre no cerne da vida de seus filhos e os ajuda a transformar tudo em méritos para a eternidade. Como bem se expressou São Paulo nada nos pode separar de sua dileção. A confiança na proteção de Maria deve levar a um olhar otimista sobre si mesmo e sobre os outros. Este primeiro de janeiro é um apelo a uma abertura para o futuro que Deus oferece.  Este ano será o que Deus quiser, mas também o que cada um fará colaborando com as graças que Ele oferecerá em abundância aos de boa vontade. Tal o alerta do Apóstolo Paulo: “Nós somos mais do que vencedores por Aquele que tanto nos amou”. Maria e José deram ao Menino o nome de Jesus, que significa o Salvador poderoso em todas as circunstâncias da vida. É preciso nos deixar guiar por Ele, meditando como Maria as maravilhas que há em nosso derredor. Num contexto marcado pela aceleração da História, onde tudo passa rapidamente, será bom refletir a cada dia em nosso coração os acontecimentos de mossa vida. Que nada nos afaste de Deus. Diante de todos está a santa Mãe de Jesus que viveu intensamente sua vocação e executou até o fim sua missão de corredentora da humanidade. Por tudo isto nada melhor do que durante todo este novo ano viver o sábio conselho de São Paulo: “Que vos comporteis de maneira digna da vocação a que fostes chamados, em toda humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos mutuamente com caridade, pressurosos em manter a unidade do espírito mediante o vínculo da paz”. Então, sim, este será um 2017 venturoso para cada um e para todos que estiverem em nosso derredor. Como Maria saibamos meditar as maravilhas de Deus! *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

O VERBO DE DEUS HABITOU ENTRE NÓS

O VERBO DE DEUS HABITOU ENTRE NÓS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O nascimento do Menino Jesus foi uma novidade ímpar dentro dos acontecimentos históricos. Um encontro maravilhoso se deu então. Fulgurou a ternura de Deus para com a humanidade De fato, o anjo que apareceu aos pastores lhes deu a boa nova: “Não temais, pois vos anuncio uma grande alegria para todo o povo. Nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, o Salvador que é o Cristo Senhor”. (Lc 2,11). Foi uma notícia que revolucionou profundamente a História que ficaria dividida como antes ou depois de Cristo. É que aquele Menino anunciado pelo mensageiro divino era o Esperado das nações predito pelos Profetas, Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Príncipe da Paz, o Emanuel, ou seja, o Deus conosco. Seu aparecimento neste mundo criou definitivamente um horizonte novo, definitivo e que nunca mais deixaria de marcar a trajetória humana nesta terra. Com Ele o júbilo e a luz brilharam neste mundo, afastando a tristeza e as trevas para todos que O recebessem através dos tempos com fé e amor. Para os pastores foi um extraordinário encontro (Lc 2,12). Entretanto, no futuro todos os que nele reconhecessem o Filho de Deus salvador O deparariam em todo instante de suas vidas. Isto nas mais variadas circunstâncias, como na Eucaristia, na figura de cada irmão. O inefável encontro dos Pastores com o divino Redentor se multiplicaria para o cristão que estivesse sempre a Ele aderido, nunca dele se afastando. Desde seu nascimento Jesus atrairia uma multidão de todo o mundo, como breve iria acontecer com a visita dos Magos, vindos do oriente. Sua luz atravessaria as fronteiras religiosas e sociais, garantindo aos que Lhe fossem fiéis uma eternidade feliz, dado que Ele veio para abrir as portas do Paraiso perdido. Além de tudo isto, o Natal é uma solenidade que envolve a todos na ternura de Deus que se manifesta no esplendor de uma criancinha deitada numa humilde manjedoura (Jo 1,16).  O Papa Francisco alertou que “não devemos ter medo da bondade, e mesmo da ternura”. É da imensa comiseração divina que o Presépio fala a toda a humanidade. Daí o motivo pelo qual se deve chegar até o Divino Infante envolto na mais total e absoluta confiança. Deus nos amou e habitou entre nós! Eis por que o Papa assim se expressou se referindo a Belém: “É lá que aparece a ternura de Deus, a graça de Deus”. Em Jesus, através de sua humanidade, o Criador toca o coração daquele que crê. Foi o mais maravilhoso estratagema amoroso que o Ser Supremo inventou para nos seduzir, para afastar todas as falsas imagens que dele se possa ter no que tange sua comiseração infinita. Então se compreende o que disse Santa Teresinha de Lisieux num momento de pulcra inspiração: “Eu não posso temer um Deus que se fez por mim tão pequenino. [...] Eu O amo, porque Ele não é senão amor e clemência”. No fundo é esta ternura de Deus a chave do mistério inexprimível do Natal. São João com toda razão pôde escrever: “Deus é amor” (1 Jo 4,8). Dado ter sido tão grande esta dileção divina, que devemos não apenas retribuir este amor, porque “amor com amor se paga”, mas ainda irradiar por toda parte a ternura de nosso Deus, amando-nos uns aos outros. O cristão deve ser por toda parte arauto daquela serenidade anunciada pelos anjos: “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens por Ele amados” (Lc 2,14). É necessário, realmente, penetrar no sentido grandioso do Natal, para que este fato possa  transfigurar nossas vidas, fazendo o mundo mais feliz. Aproximemo-nos de Jesus, mas deixemos também que Ele esteja bem próximo de nós, lá no íntimo de um coração sincero, numa forte adesão a Ele de todo nosso ser. É preciso que nossas opacidades, nossas fraquezas, nossas dubiedades não nos afastem do Natal. Cumpre lembrar sempre que a alegria natalina não é uma conquista humana, mas um dom de Jesus. Assim sendo, “alegremo-nos porque nasceu-nos o Salvador que é o Cristo Senhor”. [...] “O Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós e vimos a sua glória, como a glória do unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade”. Entretanto cumpre que não nos esqueçamos  de que Deus se fez homem para que  os homens fossem mais humanos e para a todos mostrar o caminho da fraternidade que é fonte do júbilo e da paz que caracterizam o seu Natal * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

CONCEPÇÃO VIRGINAL DE JESUS

CONCEPÇÃO VIRGINAL DE JESUS
                                               Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Após a figura de João Batista o Advento nos lança na história de Jesus com a presença de José e de Maria (Mt 1,18-24). São Mateus trata da origem, da ação de Deus quando na plenitude dos tempos, o Verbo Eterno se encarnou e habitou entre os homens. Este Deus é Todo-Poderoso, Senhor dos acontecimentos históricos na existência humana neste mundo. Maria já estava desposada com José e antes de habitarem juntos ela, por ação do Espírito Santo, havia concebido virginalmente Jesus. Ante a perplexidade de São José um anjo vem e o põe a par dos planos salvíficos, pois Jesus salvaria a humanidade de seus pecados. Enorme a felicidade de São José ao escutar as palavras do embaixador divino: “Não temas receber contigo Maria tua esposa, pois o que nela se gerou é obra do Espírito Santo”. Ficara então clara a iniciativa da Providência de Deus. Na sua narrativa São Mateus, no início de seu evangelho, teologicamente explica os fatos e mostra que Jesus veio a ao mundo na linhagem de Davi: “Jacó gerou a José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus que se chama o Cristo” (Mt 1,16). Isto estava plenamente de acordo com a expectativa do povo judeu e acontece por intermédio de São José que adota Jesus legalmente como filho. Ele era o Messias prometido, nascido de uma virgem como havia predito Isaías (Is 7,14) e pertencente à casa de Davi, graças a São José. O nome que este deu ao menino era pleno de sentido, pois Jesus significa o “Senhor que salva”. Era o Salvador que ofereceria uma libertação de ordem moral e espiritual, promovendo a restauração do liame entre o homem e Deus. Na verdade, uma libertação universal que se estenderia a todos os que pela fé se tornariam filhos de Abraão. Era o Emanuel, o “Deus conosco”, Deus presente de modo especial nos acontecimentos futuros. Tal seria a missão do divino Redentor. Ele caminharia com aqueles que Ele redimiria, a saber, os reconciliados com o Pai. Aliás, o próprio Jesus, depois de cumprir sua tarefa salvadora, antes de sua ascensão aos céus, enviou os seus discípulos a todas as nações, lhes disse: “E eis que eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo” (Mt 28,20). Entretanto, se Jesus cumpriu inteiramente seu ministério messiânico, grandes foram as lições que São José legou para os seguidores de Cristo. Como ressaltou São Mateus ele era um homem justo, ou seja, correto, santo. No sentido bíblico, uma pessoa coerente com sua fé, maleável às inspirações divinas, inclinado por isto mesmo a fazer em tudo a vontade de Deus, conformando-se aos seus desígnios. Eis por que logo que o essencial do plano divino lhe foi revelado imediatamente ele recebeu sua esposa. Daí por diante seria o custódio, o guarda de Maria e de Jesus. Como foi dito, devido a ele, Cristo seria legalmente ligado á linhagem de Davi e em Jesus de Nazaré se poderia reconhecer o Cristo de Deus, anunciado pelo profeta Isaías. A exemplo de São José é preciso que todo cristão saiba acolher as iniciativas de Deus sem O transformar para nós num mero satélite e sem O querer a nosso serviço. É o ser humano que deve fazer girar sua vida em função de seu Senhor e estar sempre adaptado a Ele. Muitos querem, por vezes, enquadrar Deus nos seus esquemas mentais. Cumpre deixar este Deus agir na vida de cada um. José seria submetido a outras provações como na fuga para o Egito, na perda do Menino Jesus em Jerusalém, no seu labor humilde e cansativo na sua oficina em Nazaré, mas se apresentou sempre com a mesma discrição e submissão aos intuitos celestes. Inúmeros são aqueles que diante de situações difíceis para si, para a comunidade em que vive, para a Igreja em geral, se desesperam e se revoltam. Intransigentes não esperam a hora de Deus, rezando e fazendo com discrição o que está a seu alcance para solucionar os problemas. Deste modo os conflitos familiares, no setor de trabalho, nos momentos de diversão, seriam mais facilmente superados.  Por vezes não há discernimento dos fatos e solidariedade com os outros. Falta-lhes a maneira de agir de São José. Na preparação para o Natal tudo isto deve ser considerado, operando uma mudança de mentalidade para que frutuosas sejam as graças natalinas. Peçamos então a São José que com Maria nos acompanhe até o Presépio e no dê  a graça de corresponder às inspirações divinas para sermos salvos por Jesus, o Emanuel, o Deus conosco. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

SEDENTARISMO ESPIRITUAL

SEDENTARISMO ESPIRITUAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Grandes são os males do sedentarismo físico, mas pior ainda são os que causam o sedentarismo espiritual.
 Este se cifra numa frágil união com Deus, pois ocasiona muitos desvios psicossomáticos. Aparta, de fato, da prática efetiva das virtudes e então os vícios tendem a aumentar e fica instalada a desordem interior.
O espírito de oração é a fonte de todo vigor espiritual.
 A prece é a elevação da alma a Deus e consiste não apenas em súplicas dentro da promessa de Cristo: “Pedi e recebereis; buscai e achareis; batei e se vos abrirá, porque aquele que pede recebe e o que procura acha e ao que bate se lhe abrirá” (Mt 7,7).
Com efeito, o Mestre divino também havia aconselhado: “Tu, quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está presente em lugar secreto; e teu Pai, que vê o que é secreto, te recompensará” (Mt 6,6).
 Trata-se da tertúlia com o Criador de tudo, a qual confere a disposição de sair do marasmo para espiritualmente crescer.
 O católico valoroso entrega pela manhã a seu Senhor tudo que vai fazer naquele dia e deseja isto realizar para glória divina e bem do próximo.
Passa assim a viver em clima de oração e a humildade envolve sua existência, pois tudo atribui ao Ser Supremo, o qual “resiste aos soberbos, mas aos humildes dá a sua graça” (Tg 4,6).
O sedentarismo fica afastado, sendo que a ordem de Jesus pode ser observada: “Assim brilhe vossa luz diante dos outros, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16).
O serviço ao próximo se torna possível porque tal cristão vê no outro a figura do Filho de Deus e sai sempre de seu comodismo para cumprir, do melhor modo possível, as tarefas cotidianas.
Fulge para ele o que Cristo falou: “Tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos, é a Mim que o fazeis” (Mt 25, 40).
Quem se livra do sedentarismo espiritual entra então em sintonia com o que o divino Redentor ensinou.
Isto porque o sedentarismo impede qualquer ascensão dado que quem  se deixa por ele dominar se instala numa enganosa zona de conforto íntimo. Conforma-se com o que é e aquele que  não avança na perfeição retroage e acaba vítima de sua indolência. Esta o joga nas garras do leão infernal, o qual, como alertou São Pedro, está em derredor dos incautos prestes a devorá-los. Nada mais deletério do que a acomodação, caminho seguro para a degradação.
 Os seguidores de Cristo enfrentam um contínuo combate espiritual, mas sua alma é como o monte Sião que nada pode abalar, exatamente porque não admitem, em hipótese alguma, o sedentarismo espiritual.
Lembram-se de que a vida do cristão neste mundo é uma luta contínua contra os poderes das trevas e estão alertas e nunca ociosos, estagnados.

Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

NENHUM MAIOR QUE JOÃO BATISTA

NENHUM MAIOR QUE JOÃO BATISTA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Admirável o elogio de Jesus ao seu Precursor: “Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não surgiu nenhum maior que João Batista” (Mt 11,14). É certo que Cristo estava se referindo ao Antigo Testamento, mostrando uma máxima dignidade, superior a de todos os outros profetas. João era. de fato. o mensageiro de Deus predito por Malaquias (3,2-3), preparando o caminho do Messias prometido. Ele ocupa um, lugar único na história da salvação. É justamente a grande figura que precede a vinda de Cristo. Como bem observou Orígenes, “até o dia de hoje o espírito e a virtude de João precedem o advento do Senhor Salvador”. Os Evangelistas no-lo apresentam como possuidor de um caráter sem jaça, homem dotado de uma intrepidez inquebrantável. Sua vida austera se tornou um exemplo para preparação do Natal. Ele, realmente, lança uma ultima mensagem de conversão total que significa a aceitação sem restrições do amor de Deus. Viveu continuamente na luz de Cristo, repleto do Espírito Santo desde o seio materno (Lc 1,41). Está então a nos lembrar que cumpre reavivar a chama viva de nossa esperança ao caminharmos rumo ao Presépio. Assim como João manifestou quem era Jesus, não somente em palavras, mas sobretudo através de toda sua vida, também a nós cumpre demonstrar por toda parte a grandeza da obra realizada pelo divino Redentor. Toda a existência de São Joao Batista se deu em função de Cristo. Seu nascimento maravilhoso, filho que era de uma mãe estéril (Lc 1,36), foi um fenômeno que patenteou o poder de Deus. Isto, contudo, não teve outra finalidade senão preparar outro prodígio infinitamente maior que era o surgimento neste mundo do Verbo de Deus Encarnado. João Batista fez esplender a fidelidade de Deus a suas promessas feitas no decurso dos séculos ao longo da história de Israel. O Advento, recordando, toda esta grandeza de São João Batista prepara os fiéis para acolher, revestidos de fé profunda, a graça incomparável da Encarnação. Eis por que já paira uma enorme alegria que brilhará no próximo 25 de dezembro. João Batista foi o enviado de Deus para dar testemunho da luz “para que todos cressem por ele” (Jo 1,7). Não obstante todas estas maravilhas que contemplamos em São João Batista, Jesus asseverou que “o menor no reino dos céus é maior do que ele” (Mt 11,11). O papa emérito Bento XVI, magnificamente explicou o que significa esta sentença de Cristo, afirmando que “o cristão é maior do que João, porque partilha do Reino de Deus que em Jesus se tornou próximo dos homens”. É que no Novo Testamento, dado que pertence a uma ordem superior, o seguidor: de Cristo ultrapassa em dignidade a do próprio Precursor por Ele tão elogiado. Compreende-se então o que proclamou o Papa São Leão Magno: “Reconhece ó cristão a tua dignidade”. É que a vida sobrenatural oferecida por Jesus é um aperfeiçoamento divino do homem. Cabe então ao cristão viver à altura de tão nobre dignidade que o torna maior que o próprio São João Batista. Foi o que aconteceu e continua a ocorrer na história do cristianismo. Não apenas os santos e santas que foram já canonizados, mas inúmeras almas que se santificaram ou na vida consagrada, ou nos lares, ou que nas mais diversas atividades  cultivarem as mais elevadas virtudes, aclamando a grandeza o Reino de Deus. Jovens que vivem sua mocidade na pureza de vida, em busca de um ideal profissional no qual servirão o próximo, muito engrandecendo a sociedade humana. Assim também pais e mães de família fiéis às promessas matrimoniais e que se sacrificam pelos seus filhos e são para eles exemplos fulgurantes. Catequistas denodados e perseverantes a ensinar as crianças os caminhos o bem. Vicentinos e tantos outros engajados nas Obras Sociais a bem dos mais necessitados. Enfim, almas que no silêncio de seu cotidiano vivem unidas a Deus e são  “a luz do mundo e o sal da terra”. São aqueles que, olhando os exemplos de São João Batista, que hoje recordamos, mostram a beleza da missão daquele que o Precursor anunciou o qual estabeleceu na história a cátedra da santidade que leva milhares ao Reino dos céus. Estes discípulos de Jesus superam em dignidade aquele que no Antigo Testamento. foi o maior dos nascidos de mulher, uma vez que o cristão é outro Cristo a iluminar a história da humanidade.  * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.