sábado, 14 de setembro de 2013

FIDELIDADE EM TUDO

FIDELIDADE EM TUDO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Notável a orientação dada por Cristo aos seus seguidores: “Quem é fiel nas coisas mínimas é fiel também nas grandes! (Lc 16,10). Trata-se da integridade em tudo. Com efeito, cumpre empregar com sabedoria os bens materiais e, mais ainda, ser fiel aos dons espirituais que Deus a todos concede. Quem vive apenas em função das riquezas, endeusando-as, é levado a se esquecer do Doador de tudo, dado que não se pode servir a dois senhores. Fidelidade, portanto, em usar o que é material e que não tem em si mesmo valor, para também se colocar em situação de uma valorização total dos bens sobrenaturais, tudo fazendo para a glória de Deus. Esta disposição é eminentemente mobilizadora das energias interiores. Com efeito, realizar o trabalho de cada instante com e para o Senhor sem se apegar ao transitório é se colocar em condições de receber as maiores bênçãos do Alto. Jesus foi claro: “Procurai primeiro o reino dos céus e tudo mais vos será acrescentado” (Mt 6,33). É preciso, assim, uma reta intenção em tudo que se pratica. Através de toda a Sagrada Escritura Deus pede a livre escolha do homem entre o bem e o mal, na valorização do espiritual e não do que é temporal, transitório, efêmero. Os Profetas sempre insistiram que o povo inclinasse seu Coração unicamente para Deus e não para os falsos ídolos. É desta maneira que a decrepitude humana se transforma em eterna juventude, a corrupção em incorruptibilidade e, em vez de trevas, brilha a claridade. Assim sendo, quando se analisa a fidelidade de que fala Jesus no Evangelho se verifica que esta virtude está estreitamente ligada à observância exata das mínimas ocupações, mesmo as de menor importância. Pode-se afirmar que a fidelidade às pequenas coisas já é uma grande coisa. É preciso transformar o que está no mundo visível em degraus para se atingir a realidade invisível. Isto se dá, sobretudo para quem cultiva o dom da ciência, recebido de forma intensa no sacramento da crisma. Tal dom qualifica o cristão que então pode se dizer verdadeiramente filho de Deus e não servo das riquezas terrestres. Deste modo, há na vida do batizado tal diligência que o leva a se dedicar a seus deveres cotidianos e a suportar as provações que Deus lhe envia, dando a tudo isto uma aplicação transcendental. É lógico que o fundamento desta fidelidade é a observância radical dos mandamentos através dos quais se encontra a purificação na trajetória neste mundo. Trata-se de se conformar a tudo que é justo, verdadeiro e aceitável diante de Deus, o que conduz à integridade do coração. Esta resulta da correspondência às inspirações divinas que chamam continuamente a tudo realizar com esforço e dedicação. Séria a advertência de São Tiago: “Quem sabe como fazer o bem e não o faz, comete pecado” (Tg 4,1). Nenhuma indiferença espiritual admite o verdadeiro discípulo de Jesus. Quem é fiel em tudo não aceita também altos e baixos na adesão a seu Senhor que exige constância, perseverança. É necessário, assim, retificar logo a conduta quando ocorre o menor desvio. Atinge-se deste modo o ideal proposto por São Paulo tornando-se o cristão apto ”para toda boa obra” (2 Tim 2,21). Vaso de honra é o batizado no qual em todos os seus atos Deus realiza sua obra de salvação, de santificação, irradiando luz em seu derredor. Produz então fruto e fruto que permanece (Jo 15,16). O Evangelho de hoje convida assim a que cada um verifique até onde vai a fidelidade em sua vida. Fiel é que aquele que tem uma consciência limpa através do dom do santo temor do Senhor. É aquele que afasta toda indecisão e inconstância, fazendo tudo que está a seu alcance, correspondendo às graças recebidas a cada instante.  É a docilidade ao Divino Espírito Santo numa maleabilidade que conduz à perfeição. Não obstante as fraquezas humanas é possível, deste modo, conhecer aquela paz que é como um rio remansoso, aquela serenidade como as ondas de um mar tranqüilo (Is 48,18). O final feliz proporcionado pela fidelidade está registrado no Evangelho quando Deus no fim da vida poderá dizer: “Eia, pois, servo bom e fiel, porque foste fiel em pouca coisa eu te confiarei muito mais, entra no gozo do teu Senhor (Mt 25,21). Assim sendo, é preciso não se esquecer o que disse David: “Ditoso aquele que se compraz na lei divina e a medita dia e noite (Sl 1,2). Resulta o que aconselhou o Apóstolo Paulo aos Colossenses: “Qualquer coisa que fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo no nome do Senhor Jesus, dando graças por meio dele a Deus Pai” Atinge-se, desta maneira, a plenitude da fidelidade com todas as suas benéficas consequências. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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