quarta-feira, 22 de junho de 2011

O SORRISO DE JESUS

O SORRISO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O sorriso é um elemento da comunicação não verbal entre os seres inteligentes. Os animais irracionais não sorriem. Entre os homens ele traduz um sem número de expressões interiores como a alegria, o acolhimento, o humor e, até mesmo, uma ponta de incredulidade. Traduz ainda a condescendência, a ironia, podendo também manifestar desprezo. O sorriso como o olhar reflete a personalidade de cada um. Observe-se, porém, que a maioria dos retratos de todas as épocas que se encontram nos museus apresentam fisionomias sérias. Como o sorriso é fugaz, surge e logo desaparece e, quando se quer manter o sorriso, ele deixa de ser significativo, talvez por isto, ele quase não aparece na arte do retrato. É que o modelo era incapaz de o sustentar durante o tempo em que o artista o retratava. Com a arte fotográfica um campo novo apareceu e se multiplicaram as fotos de pessoas sorrindo, sobretudo vedetes de showbizz, de políticos interessados em agradar seus adeptos, tendo em vista seus votos nas urnas. Entre as obras de arte, porém, célebre ficou o sorriso da Joconda do Museu do Louvre da autoria de Leonardo da Vinci, o qual pintou Lisa Maria Gherardi num momento fugitivo no qual o sorriso se esboça, intrigando os analistas e os cinco milhões de visitantes anuais que visitam o referido museu parisiense. O olhar algo interrogativo e sonhador da Mona Lisa contribui para uma secular admiração. Muitos preferem, porém, do mesmo Leonardo da Vinci o sorriso de Santa Ana que não atrai pelo mistério, mas pela profundidade da meditação interior da qual é reflexo visível. Entretanto, se pode dizer que o sorriso não é um lugar comum na pintura religiosa. A arte dos ícones por mais antigos que sejam é sem sorriso. Um certo respeito religioso pode bem explicar tal fato. Há, contudo um hino grego muito ântico, talvez do século IV que se dirige a Cristo, chamando-O de “Luz sorridente do Pai”, mas das figuras de Jesus o sorriso está ausente. É certo que na Renascença italiana surgiram as pinturas de Maria ou dos anjos sorrindo, como se pode ver no Museu do Louvre. São sorrisos delicados, comedidos, que não fazem escapar um toque ligeiro de tristeza que os envolve. No que tange a Cristo, bem poucas são as representações do mesmo sorrindo. Há uma representação de Jesus sorrindo numa Igreja subterrânea da China, mas se percebe algo forçado, até mesmo espalhafatoso e, de si, não transmite aquela paz que se poderia esperar da mesma (foto 1). Bem diferente é o Cristo sorridente na Cruz que se acha em Navarra, na Abadia de Lérins (foto 2). Este oferece uma verdadeira lição de fé. Mostra que a cruz se leva com a força do amor, na confiança, sob o olhar complacente do Pai. Jesus ensina então que no coração da amargura há lugar para a alegria, a serenidade e a imperturbabilidade. É assim que a cruz pode então se tornar gloriosa. Trata-se de uma experiência na qual o Redentor convida seu seguidor a deixar para trás o que freia o progresso espiritual e impede a adesão à vontade divina. A cruz é um caminho para a autêntica liberdade. Aliás, o próprio Cristo aconselhou: “Tu quando jejuais não andeis tristes como os hipócritas, os quais desfiguram o rosto para mostrarem aos homens que jejuam” (Mt 6, 16). É preciso, de fato, ser adulto na fé. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

Foto 1 Foto 2

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