TODO AQUELE QUE SE EXALTA SERÁ HUMILHADO
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
Jesus tomava refeição em casa de um
dos principais fariseus que o havia convidado (Luc 14,1.7-14). Como notam os
exegetas, geralmente, os convidados mais importantes eram os últimos a chegar e
talvez fosse preciso dar o lugar no último momento para um fariseu de renome.
Seja como for, um detalhe não escapou a Jesus, dado que não havia sobre a mesa
pequenos cartões nominativos, e assim cada um ao chegar procurava se assentar
nos melhores lugares, o mais perto possível do senhor da casa. A preocupação
com a questão da honra Cristo a reprovava frequentemente aos escribas e
fariseus, isto é, aos intelectuais e praticantes da sinagoga, sendo que Ele
censuraria o mesmo aos seus apóstolos, isto como uma atitude censurável. O Mestre
divino se aproveitava sempre das circunstâncias para dar uma lição. Trata-se,
no caso, da relação do homem com Deus, do homem convidado com Deus que o convida. O banquete das bodas era, no tempo de Jesus,
uma imagem clássica do Reino de Deus e os ouvintes compreenderam muito bem o
provérbio que conclui a parábola:” Aquele que se eleva será humilhado por Deus!
Aquele que se humilha será exaltado por Deus”! Cada um de nós é um convidado
pelo Criador à sua mesa, portanto à sua intimidade, mas cada um é convidado
entre outros. Ao olhos de Deus há os que são mais dignos não necessariamente os
mais cultos, os mais ricos, os sacerdotes, os religiosos, mas aqueles e aquelas
cuja vida inteira é uma resposta de amor ao seu convite amoroso, aqueles e
aquelas cuja alegria é fazer cada dia a obra do Pai e cujas ações coincidem com o projeto divino
de salvação. Deus conhece os mais merecedores, os mais santos, isto é, os mais
perfeitos, mas não colocou indicativos na mesa para ninguém. Ninguém conhece os
nomes e o mais seguro para cada um é ficar humildemente no último lugar. Isto
não implica nenhuma negligência de nossas responsabilidades como cidadãos e cristãos.
Ser chefe, ser responsável, ser educador, mas sem dureza ou fraqueza é
frequentemente uma maneira autenticamente evangélica de ficar no último lugar.
É, outrossim, uma magnífica escola de humildade e uma ocasião diária de
oferecer a Cristo a participação no seu cuidado de Pastor. Deste modo, cada um
de nós é convidado, chamado, amado. Acontece, porém, que cada um de nós tem que
fazer de sua parte convites e assim o ensinamento de Jesus se multiplica em
novas perspectivas. Cristo, como sábio Mestre, parte sempre da vida concreta. Convidar
é agradável e fácil quando se trata de parentes ou de amigos com os quais
facilmente se convive, mas surgem problemas desde que se trate de modificar
nossos hábitos, ultrapassar mentalidades arraigadas ou ignorar certas barreiras
da vida social. Nossos convites muitas vezes supõem reciprocidade no
acolhimento não tanto pela estreiteza de mente ou avareza, mas pela facilidade
ou porque o horizonte de nosso coração é tocado muito facilmente pelo egoísmo.
Jesus está a nos dizer:” é preciso ir além das categorias, saber deixar a
atmosfera que tu amas, abrir tua vida àqueles que não têm nada a retribuir, nem
serviço nem compreensão, nem amizade nem gratidão”. Cristo quer nos ver imitar
a generosidade do Pai que nos reúne sempre para seu festim, nós os pobres,
pobres de bens materiais ou de recursos culturais, pobres de amizade ou de
esperança, nós os estropiados, feridos nos caminhos da vida e que guarda as cicatrizes
do passado, nós os coxos que após anos de graças vamos a Deus sem ousar
crer no seu amor, nós os cegos que cremos ver e que cremos saber, mas que tropeçamos nas incongruências nossa própria vida e que pretendemos, não
obstante, aprender de Deus por qual caminho devemos seguir. É um dever para nós
deixar transformar por esta generosidade de Deus, por esta largueza do coração divino.
Diante de Deus não há de um lado uma Igreja dos puros, dos lúcidos e
emancipados e de outro lado a Igreja dos enjeitados. Para o festim de Jesus
muitos são os convidados com suas diferenças e suas preferências, mas todos necessitados
de perdão, todos assentados humildemente nos últimos lugares, mas contentes por
fazerem parte do banquete divino. Cumpre portanto compreender as atitudes
surpreendentes propostas no Evangelho de hoje, ou seja, “quando fores convidado
vai te colocar no último lugar”, [...] “quando deres um banquete convida os
pobres, os aleijados, os coxos, os cegos”. Jesus indica, porém, um benefício
futuro: “ser-te-á retribuído na ressurreição dos justo”. Sábias lições a serem
colocas em prática! * Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos.
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