quinta-feira, 18 de agosto de 2022

 

TODO AQUELE QUE SE EXALTA SERÁ HUMILHADO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Jesus tomava refeição em casa de um dos principais fariseus que o havia convidado (Luc 14,1.7-14). Como notam os exegetas, geralmente, os convidados mais importantes eram os últimos a chegar e talvez fosse preciso dar o lugar no último momento para um fariseu de renome. Seja como for, um detalhe não escapou a Jesus, dado que não havia sobre a mesa pequenos cartões nominativos, e assim cada um ao chegar procurava se assentar nos melhores lugares, o mais perto possível do senhor da casa. A preocupação com a questão da honra Cristo a reprovava frequentemente aos escribas e fariseus, isto é, aos intelectuais e praticantes da sinagoga, sendo que Ele censuraria o mesmo aos seus apóstolos, isto como uma atitude censurável. O Mestre divino se aproveitava sempre das circunstâncias para dar uma lição. Trata-se, no caso, da relação do homem com Deus, do homem convidado com Deus que o convida.  O banquete das bodas era, no tempo de Jesus, uma imagem clássica do Reino de Deus e os ouvintes compreenderam muito bem o provérbio que conclui a parábola:” Aquele que se eleva será humilhado por Deus! Aquele que se humilha será exaltado por Deus”! Cada um de nós é um convidado pelo Criador à sua mesa, portanto à sua intimidade, mas cada um é convidado entre outros. Ao olhos de Deus há os que são mais dignos não necessariamente os mais cultos, os mais ricos, os sacerdotes, os religiosos, mas aqueles e aquelas cuja vida inteira é uma resposta de amor ao seu convite amoroso, aqueles e aquelas cuja alegria é fazer cada dia a obra do Pai   e cujas ações coincidem com o projeto divino de salvação. Deus conhece os mais merecedores, os mais santos, isto é, os mais perfeitos, mas não colocou indicativos na mesa para ninguém. Ninguém conhece os nomes e o mais seguro para cada um é ficar humildemente no último lugar. Isto não implica nenhuma negligência de nossas responsabilidades como cidadãos e cristãos. Ser chefe, ser responsável, ser educador, mas sem dureza ou fraqueza é frequentemente uma maneira autenticamente evangélica de ficar no último lugar. É, outrossim, uma magnífica escola de humildade e uma ocasião diária de oferecer a Cristo a participação no seu cuidado de Pastor. Deste modo, cada um de nós é convidado, chamado, amado. Acontece, porém, que cada um de nós tem que fazer de sua parte convites e assim o ensinamento de Jesus se multiplica em novas perspectivas. Cristo, como sábio Mestre, parte sempre da vida concreta. Convidar é agradável e fácil quando se trata de parentes ou de amigos com os quais facilmente se convive, mas surgem problemas desde que se trate de modificar nossos hábitos, ultrapassar mentalidades arraigadas ou ignorar certas barreiras da vida social. Nossos convites muitas vezes supõem reciprocidade no acolhimento não tanto pela estreiteza de mente ou avareza, mas pela facilidade ou porque o horizonte de nosso coração é tocado muito facilmente pelo egoísmo. Jesus está a nos dizer:” é preciso ir além das categorias, saber deixar a atmosfera que tu amas, abrir tua vida àqueles que não têm nada a retribuir, nem serviço nem compreensão, nem amizade nem gratidão”. Cristo quer nos ver imitar a generosidade do Pai que nos reúne sempre para seu festim, nós os pobres, pobres de bens materiais ou de recursos culturais, pobres de amizade ou de esperança, nós os estropiados, feridos nos caminhos da vida e que guarda  as cicatrizes  do passado, nós os coxos que após anos de graças vamos a Deus sem ousar crer no seu amor, nós os cegos que cremos  ver e que cremos saber, mas   que  tropeçamos  nas incongruências  nossa própria vida e que pretendemos, não obstante, aprender de Deus por qual caminho devemos seguir. É um dever para nós deixar transformar por esta generosidade de Deus, por esta largueza do coração divino. Diante de Deus não há de um lado uma Igreja dos puros, dos lúcidos e emancipados e de outro lado a Igreja dos enjeitados. Para o festim de Jesus muitos são os convidados com suas diferenças e suas preferências, mas todos necessitados de perdão, todos assentados humildemente nos últimos lugares, mas contentes por fazerem parte do banquete divino. Cumpre portanto compreender as atitudes surpreendentes propostas no Evangelho de hoje, ou seja, “quando fores convidado vai te colocar no último lugar”, [...] “quando deres um banquete convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos”. Jesus indica, porém, um benefício futuro: “ser-te-á retribuído na ressurreição dos justo”. Sábias lições a serem colocas em prática! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

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