O CRISTO DE
DEUS
Côn. Jose Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus tinha plena consciência de seu mistério e que isto
se tratava de uma questão fundamental para seus seguidores. Então lançou aos
apóstolos esta interrogação: “Vós quem dizeis que eu sou? (Lc 9, 18-24).
Respondeu Pedro:” O Cristo de Deus” Esta questão está verdadeiramente no
coração da existência cristã. É algo principal para os batizados. Cumpre então a cada um saber quem é Jesus para
ele. Responder a esta questão é mais vital, essencial, para um discípulo de
Cristo, pois define sua postura diante da vida e da morte, do bem ou do mal, do
sofrimento e da felicidade. Esta questão
é mais importante do que aquela
de saber quem sou eu, dado que é em Jesus Cristo que que se pode descobrir verdadeiramente
aquele que faz de nós um membro de seu Corpo, aquele a cuja imagem nós fomos criados para sermos filhos de Deus.
Esta verdade é mesmo primeira em relação à da existência de Deus, porque é em
Jesus Cristo que conhecemos verdadeiramente a Deus e Jesus
foi claro: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9b). Jesus, de fato, pergunta a cada
um de nós: “Quem dizeis que eu sou”? Pode se satisfazer com aquela referida por
São Pedro e completá-la pela formulação dada no Evangelho de São Mateus: “Tu és
o Cristo, o Filho de Deus. o Filho do Deus vivo”. A resposta de Pedro é a
primeira expressão da confissão da fé da Igreja. Sob este aspecto ela é também
de sumo valor. Entretanto, ela resta insuficiente pela fato mesmo de sua
objetividade, porque ela deixa escapar a força de uma interpretação pessoal.
Ela pode não engajar em profundidade a maneira pessoal, pois a questão não se trata
de saber, ela requer uma adesão de cada um, um “sim” que supõe uma identidade
tal qual contemplamos na expressão de São Paulo, ou seja, tu és o Cristo de
Deus e, por isto, já não sou eu quem vive, é Ele quem vive em mim. Eis porque
Jesus prosseguiu com o anúncio de sua Paixão, de sua morte e de sua
ressurreição. Não se tratava, portanto, de uma pergunta escolar, porque a resposta
devia impregnar totalmente a existência do cristão no Cristo de Deus até sua
morte na Cruz. O próprio Jesus foi claro: “Aquele que quer vir após mim,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Lc 9, 23-26) A resposta é uma adesão total como
fez Pedro que se sacrificou para deixar claro que Jesus era o Filho de Deus. Pedro martirizado pela sua fé em Cristo, como
que a formulou deste modo: “Senhor tu és aquele que eu quis seguir até o fim”,
até as últimas consequências, ainda que aconteça estar incluida toda sua existência
nesta decisão. Deste modo é que melhor se compreende o sentido da questão posta
por Cristo: “Para vós quem dizeis que eu sou “? Ele é aquele cuja vida dada até
o fim no alto de uma cruz solicita de nossa parte uma resposta que inclui nossa
própria vida a seu exemplo, porque é deste modo que se entrega a própria vida
imersa na vida do Mestre divino, mostrando um amor tão grande quanto o que Ele
nos demonstrou. Isto supõe contemplar seu coração transpassado na Cruz. É aos
pés da Cruz que recebemos esta certeza do amor que livra nossa consciência do
peso de suas faltas. Então se pode fazer brilhar uma confiança absoluta no amor
de Deus por nós, esta certeza que nos
vivifica e nos torna capazes de crer na palavra de Jesus. Para salvar sua vida
o cristão precisa estar disposto a sacrificá-la. Sob o ponto de vista meramente
racional uma tal afirmação pode parecer absurda. Entretanto, ela se torna uma evidência para
aquele que quer, de fato, demonstrar o verdadeiro amor a Jesus. Trata-se do
risco da confiança na fidelidade e no respeito de Cristo até o esquecimento de
si mesmo. Esta verdade não se prova, ela se vive no seguimento daquele que de
fato se ama, na dinâmica de um amor total. Seguir Jesus, o “Cristo de Deus” é
colocar nossa vida inteira sob a luz da sua Palavra e se entregar inteiramente
ao seu espírito de amor. Deste modo é que se torna cada um herdeiro das promessas
do Filho de Deus. É descobrir em Jesus, o “Cristo de Deus”, a própria identidade,
de filho de Deus pelo batismo. Tudo isto pode parecer uma grande exigência, mas
é suave como o desejo de amar que nos conduz então a seguir o Mestre divino em
tudo e por tudo. Jesus está a nos convidar a fazer uma opção vital de suma importância.
Trata-se de uma resposta sincera, vinda lá do interior de cada um de seu
seguidor que verdadeiramente sabe quem Ele, realmente, é. É o olhar interior
que leva a uma união, penetrando-se no seu grandioso mistério. Quem bem compreende
esta verdade conhece a total libertação cristã e se vê imune das artimanhas do
mal, dado que tudo centra na figura excelsa do Redentor. Trata-se da libertação
que é a salvação de Jesus, que é uma relação profunda entre Ele e seu seguidor.
Não se trata de pensar nele, mas de ser, de existir, com Ele. É o que São Paulo
advertiu aos Gálatas: “Vós pertenceis a Cristo” (Gal 3,27). Eis porque
celebramos a Eucaristia para poder entrar mais profundamente no mistério de
Jesus.
*Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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