O ENCONTRO DOS
DISCÍPULOS DE EMAÚS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A aparição de Jesus
Ressuscitado aos discípulos de Emaús resultou na restauração da fé daqueles que
estavam desiludidos diante de tudo que acontecera com o Mestre divino. (Lc
24,13-5). Eles não reconheceram Cristo naquele que se pôs a acompanhá-los na
caminhada até a povoação para onde se dirigiam. Todo o episódio apresenta um
comovente modelo de evangelização. Eles mesmos disseram depois: “Não nos ardia
o coração no peito, quando ele nos falava pelo caminho enquanto nos explicava
as Escrituras?”. Receberam uma catequese sobre a fé e a vida do cristão. É que
eles haviam antes seguido Jesus, mas, na verdade, não O tinham verdadeiramente
conhecido. Sua expectativa messiânica os havia cegado tanto que eles tinham enclausurado
Jesus no modelo estreito de um libertador político, chefe de um reino temporal.
Foi-lhes necessária uma explicação exegética, uma releitura das Escrituras
feitas pelo próprio Cristo para lhes abrir o coração à percepção do plano
divino de salvação. Entretanto, foi na refeição na estalagem, no momento da
fração do pão, memorial da vida do
Redentor, partilhado num gesto de amor, que seus olhos se abriram. Refulgiu a
realidade da Palavra divina, a qual já os havia iluminado pelo caminho.
Instante sublime quando o encontro com o Ressuscitado, através de sua Palavra
partilhada e de sua vida fracionada, que provocou a iluminação de sua fé. Isto
animou a esperança deles em um novo reino instaurado pela redenção do Filho de
Deus. Tudo isto foi também fruto do apelo que fizeram àquele peregrino num
gesto grandioso de atenção: “Fica conosco porque entardece e o dia já está em
declínio”. Outra mensagem maravilhosa de Cristo, pois a caridade é condição
para se imergir na Palavra de Deus que deve ser vivida nas ações de cada dia.
Missão cumprida, Jesus desapareceu da vista deles, mas eles estavam
esclarecidos, fortificados e, então imediatamente voltaram para Jerusalém.
Comunicaram o ocorrido aos onze apóstolos que confirmaram: “Realmente o Senhor
ressuscitou e apareceu a Simão”. Cléofas e seu companheiro confirmaram que
tinham reconhecido Jesus ao partir o pão. A experiência que tiveram seria a de milhares
de seguidores do Ressuscitado através dos tempos. Isto no cotidiano de sua vida
cristã, pontilhada de uma série de situações e acontecimentos proporcionados
por Deus, visando a vivência plena da sua Palavra salvadora. Cumpre, de fato,
aos cristãos ter olhos abertos e o coração sincero para estes encontros com
Deus Isto, sobretudo, nos instantes do culto eucarístico, momento solene por
entre o ritmo trepidante da caminhada de cada um neste mundo. Importantíssimos,
portanto, os instantes reservados para as Missas dominicais e também nas
Visitas ao Santíssimo Sacramento. Jesus é, realmente, o companheiro de viagem
rumo à Casa do Pai. Ele sabe escutar as alegrias e sofrimentos, as esperanças e
decepções, a riqueza e a pobreza que constituem a experiência da existência de
cada um. É preciso sempre repetir a súplica dos discípulos de Emaús: “Fica
conosco Senhor” e viver na sua presença santíssima, alimentados com o Pão
Eucarístico. É preciso sentir sempre a presença do divino Redentor que toma a
iniciativa do diálogo. O importante é saber escutá-lo como fizeram os
discípulos de Emaús. Deste modo, o trabalho de cada dia ao invés de ser fonte
de revolta, se torna caminho de redenção. A luz divina entra então na vida do
cristão. Este passa a compreender como é importante estar unido a seu Salvador
nestes encontros pessoais e vivificantes com Ele. Surge a consciência de uma
missão que é anunciar como é bom estar com Jesus num testemunho de vida que
arrasta os indiferentes para uma vida espiritual salutar e beatificante. Daí
surgem a solidariedade, a fraternidade de todos aqueles que estão unidos ao
Ressuscitado. Trata-se de um apelo a uma vida sobrenaturalizada que se abre aos
outros. Cléofas e seu companheiro, instruídos por Jesus e alimentados na fração
do pão, foram relatar aos outros seguidores do Mestre divino tudo que lhes
acontecera, firmando também a fé daqueles que acreditavam que Jesus era o Filho
de Deus. Ser testemunhas de Cristo Ressuscitado eis aí a tarefa sublime do
autentico cristão. * Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário