segunda-feira, 20 de abril de 2020

O ENCONTRO DOS DISCÍPULOS DE EMAUS


O ENCONTRO DOS DISCÍPULOS DE EMAÚS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A aparição de Jesus Ressuscitado aos discípulos de Emaús resultou na restauração da fé daqueles que estavam desiludidos diante de tudo que acontecera com o Mestre divino. (Lc 24,13-5). Eles não reconheceram Cristo naquele que se pôs a acompanhá-los na caminhada até a povoação para onde se dirigiam. Todo o episódio apresenta um comovente modelo de evangelização. Eles mesmos disseram depois: “Não nos ardia o coração no peito, quando ele nos falava pelo caminho enquanto nos explicava as Escrituras?”. Receberam uma catequese sobre a fé e a vida do cristão. É que eles haviam antes seguido Jesus, mas, na verdade, não O tinham verdadeiramente conhecido. Sua expectativa messiânica os havia cegado tanto que eles tinham enclausurado Jesus no modelo estreito de um libertador político, chefe de um reino temporal. Foi-lhes necessária uma explicação exegética, uma releitura das Escrituras feitas pelo próprio Cristo para lhes abrir o coração à percepção do plano divino de salvação. Entretanto, foi na refeição na estalagem, no momento da fração do pão,  memorial da vida do Redentor, partilhado num gesto de amor, que seus olhos se abriram. Refulgiu a realidade da Palavra divina, a qual já os havia iluminado pelo caminho. Instante sublime quando o encontro com o Ressuscitado, através de sua Palavra partilhada e de sua vida fracionada, que provocou a iluminação de sua fé. Isto animou a esperança deles em um novo reino instaurado pela redenção do Filho de Deus. Tudo isto foi também fruto do apelo que fizeram àquele peregrino num gesto grandioso de atenção: “Fica conosco porque entardece e o dia já está em declínio”. Outra mensagem maravilhosa de Cristo, pois a caridade é condição para se imergir na Palavra de Deus que deve ser vivida nas ações de cada dia. Missão cumprida, Jesus desapareceu da vista deles, mas eles estavam esclarecidos, fortificados e, então imediatamente voltaram para Jerusalém. Comunicaram o ocorrido aos onze apóstolos que confirmaram: “Realmente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão”. Cléofas e seu companheiro confirmaram que tinham reconhecido Jesus ao partir o pão. A experiência que tiveram seria a de milhares de seguidores do Ressuscitado através dos tempos. Isto no cotidiano de sua vida cristã, pontilhada de uma série de situações e acontecimentos proporcionados por Deus, visando a vivência plena da sua Palavra salvadora. Cumpre, de fato, aos cristãos ter olhos abertos e o coração sincero para estes encontros com Deus Isto, sobretudo, nos instantes do culto eucarístico, momento solene por entre o ritmo trepidante da caminhada de cada um neste mundo. Importantíssimos, portanto, os instantes reservados para as Missas dominicais e também nas Visitas ao Santíssimo Sacramento. Jesus é, realmente, o companheiro de viagem rumo à Casa do Pai. Ele sabe escutar as alegrias e sofrimentos, as esperanças e decepções, a riqueza e a pobreza que constituem a experiência da existência de cada um. É preciso sempre repetir a súplica dos discípulos de Emaús: “Fica conosco Senhor” e viver na sua presença santíssima, alimentados com o Pão Eucarístico. É preciso sentir sempre a presença do divino Redentor que toma a iniciativa do diálogo. O importante é saber escutá-lo como fizeram os discípulos de Emaús. Deste modo, o trabalho de cada dia ao invés de ser fonte de revolta, se torna caminho de redenção. A luz divina entra então na vida do cristão. Este passa a compreender como é importante estar unido a seu Salvador nestes encontros pessoais e vivificantes com Ele. Surge a consciência de uma missão que é anunciar como é bom estar com Jesus num testemunho de vida que arrasta os indiferentes para uma vida espiritual salutar e beatificante. Daí surgem a solidariedade, a fraternidade de todos aqueles que estão unidos ao Ressuscitado. Trata-se de um apelo a uma vida sobrenaturalizada que se abre aos outros. Cléofas e seu companheiro, instruídos por Jesus e alimentados na fração do pão, foram relatar aos outros seguidores do Mestre divino tudo que lhes acontecera, firmando também a fé daqueles que acreditavam que Jesus era o Filho de Deus. Ser testemunhas de Cristo Ressuscitado eis aí a tarefa sublime do autentico cristão. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.




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