PERFEITOS COMO O PAI CELESTE
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A seus
seguidores Jesus propôs um ideal sublime para o qual todos precisam tender sem
esmorecimento. Claras foram as suas palavras: “Sede perfeitos como é perfeito
vosso Pai celeste” (Mt 5, 38-48).
Trata-se da busca incessante da santidade existencial, vencendo cada um com
galhardia as dificuldades naturais a criaturas humanas contingentes, finitas,
limitadas. Estas sem a graça divina nada
de bom podem realizar nesta trajetória terrena. Ao dar a referida ordem o
Mestre divino acentuou a singularidade filial dos seres humanos que, em
consequência, tendo consciência desta filiação, devem se sentir irmãos. Aí o
fundamento de toda fraternidade para com o próximo. Eis aí a maneira de ver e
agir que Jesus propõe a seus discípulos que devem viver na mais absoluta
fraternidade. Donde a razão de ser de sua determinação peremptória: “Amai
vossos inimigos e rogai pelos que vos perseguem, para serdes verdadeiramente
filhos do vosso Pai que está nos céus”. Cumpre imitar a imensa bondade deste
Deus “que faz nascer o sol sobre maus e bons e chover sobre justos e injustos”.
Quem assim procede acumula méritos para o céu que é o destino de todos os que
praticam em plenitude a caridade. Jesus deu exemplo deste amor fraterno que
inclui os inimigos. Condenado injustamente à morte ignominiosa da Cruz, Ele
rogou ao Pai pelos seus torturadores: “Pai perdoa-lhes porque não sabem o que
fazem” (Lc 23,34). Este modo de proceder multiplica através dos tempos gestos
magníficos a anistiarem os opressores, os perseguidores. Uma multidão que na alheta
do Filho de Deus perdoa de coração seus malfeitores. Neles o verdadeiro cristão
reconhece sempre irmãos e irmãs a serem indultados. Neles contemplam a
dignidade de filhos e filhas de Deus. É que há em todo o ser humano, mesmo no
pior dos inimigos, um valor, uma presença universal do Pai celeste que conduz
acima de todos os condicionamentos de ofensas, inclusive de raça, ideologia,
religião, ultrapassando todas as barreiras que possam impedir um amor generoso.
É a esta atitude que deve levar uma fé profunda integrada no pensamento
maravilhoso de Jesus cujo ensinamento ultrapassou a legislação mosaica. É esta
fé que permite compreender o que o Mestre divino quis ensinar. Esta fé induz a
viver em harmonia com todos. As atitudes dos seus discípulos devem ter uma tonalidade
dignificante que apaga o ódio e toda e qualquer queixa de uns para com os
outros. O Deus ao qual Jesus manda imitar é um Deus misericordioso, bondoso,
sempre pronto a ajudar os que a Ele se ligam. Este Deus prioriza sempre a
ternura, a compreensão. O cristão tem então a missão de espalhar por toda parte
este amor divino pelo qual se deve agir em favor dos irmãos e irmãs. Todos os
gestos do cristão precisam ser o reflexo do desvelo do Pai celeste. Mesmo vivendo
num contexto agressivo como o atual o comportamento dos seguidores de Jesus
precisa ser diferente num mundo tão hostil e violento. Cumpre não se deixar
envolver pela mentalidade de hostilidade que os meios de comunicação social
apresentam, incitando vingança e represálias de toda sorte. Cumpre priorizar
menos nossos interesses pessoais, mas dar lugar aos interesses daqueles que são
menos favorecidos que nós. É preciso agir mais com o coração do que com uma
razão deturpada e desumana. É através dos bons sentimentos que Deus age em cada
um e pelas atitudes gentis, cordiais é que o cristão se aproxima da perfeição
divina. O apelo de Jesus é então que se integrem no amor de Deus todos os
nossos comportamentos cotidianos, unida nossa vontade à vontade santíssima do
Pai que está nos céus. Este Pai provoca sempre atitudes altruístas pelas quais
Ele se faz presente nas relações mútuas dos verdadeiros cristãos. É deste modo
que se contribui para que a sociedade evolua harmoniosamente dentro dos parâmetros
indicados por Jesus em seu Evangelho. *
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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