segunda-feira, 9 de setembro de 2019

A ALEGRIA DO PERDÃO DIVINO


01 A ALEGRIA DO PERDÃO DIVINO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
São Lucas apresenta três parábolas ditas da misericórdia divina (Lc 15,1-32). Elas, com efeito, exprimem o amor misericordioso de Deus que sai à procura do pecador, o qual Ele pacientemente aguarda até uma total mudança de vida. O pensamento de Jesus era inteiramente diferente do modo como os fariseus consideravam os pecadores. Fulgem neste texto a alegria e um banquete festivo. O pastor e a dona de casa se rejubilam por encontrar o que haviam perdido e que ansiosamente buscavam. O júbilo foi tão grande que o partilharam com amigos e vizinhos. O mesmo gaudio há entre os anjos no céu quando surge um pecador arrependido. O pai do filho pródigo organizou um festim, dado que ele, radiante de contentamento, desejou comemorar o retorno daquele que se tinha perdido e, depois, amargamente se arrependera de seus extravios. Jesus ensina que não devem ser abandonados os pecadores que se arrependem, mas cumpre acolhê-los e com eles se alegrar por encontrarem de novo a casa paterna. Eis por que o filho mais velho encarnava a mentalidade dos fariseus e repreendeu o pai por ter dado uma festa no retorno de seu irmão. Na verdade ele não havia abandonado o pai, mas o considerava apenas como seu senhor. Não sabia usufruir da felicidade daquele lar, tanto que o pai teve que lhe explicar que tudo que possuía era também dele. Ele, porém, não tinha uma atitude filial para com seu pai. Cumpria ao filho mais velho rever sua atitude, mesmo porque com relação ao seu irmão que se arrependera o pai se mostrara não como juiz, mas como genitor amoroso. O filho mais velho estava fazendo um julgamento moral e não demonstrando sentimento fraterno com relação a seu irmão e amor filial para com seu progenitor. Porque todos somos filhos do mesmo Pai que está no céu é preciso não só se regozijar com a conversão daqueles que erram e trabalhar para isto, como também é necessário saber gozar a felicidade de estar sempre unidos a este Pai amoroso. A lição de Jesus é clara como está registrado por São Joao: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai. Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constitui para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça. Eu assim vos constitui, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos conceda. O que vos mando é que vos ameis uns aos outros” (Jo 15, 15-17), Era isto que o filho mais velho da parábola precisava entender. Segundo o amor misericordioso do Pai todos somos iguais e precisamos sempre do perdão e da misericórdia divina. Nunca, como o filho mais velho, alguém deve se julgar melhor dos que os outros. Jesus quer que entremos num dinamismo de abertura e de confiança na bondade infinita de Deus, donde uma alegria profunda que deve sempre unir a todos numa fraternidade que se torna apoio para os perseverantes e ocasião de conversão para os extraviados. Coração aberto aos outros e, como o Pai da parábola, saber esperar o momento da conversão dos que erram. Trata-se de uma fonte de generosidade que não cessa de inclinar cada um para o Deus de amor sempre pronto a perdoar. São Pedro Crisólogo falando do filho pródigo mostrou que Ele perdera voluntariamente sua condição de filho, abandonando o lar paterno, mas seu pai não perdera nunca sua missão de pai, O tempo todo ele esperava o momento de lhe dar um indulto cordial. Tanto isto é verdade que o pai não entrou no mérito dos motivos que levaram aquele filho rebelde a retornar. Deu simplesmente ordens para que este filho fosse homenageado. Era um retorno que tocava o coração de seu pai. Eis porque ele o abraçou e beijou com ternura por ser um filho que regressava. Em vez de juiz ele se mostra pai. Jesus quer que tenhamos de Deus a certeza de um amor gratuito pelo qual Ele, o Pai amável, nos ama. Ele não deseja uma abundância de palavras, de profundas escusas, mas um simples gesto de regresso para a casa paterna.  Converter-se à luz desta parábola é entrar na alegria do Pai e aceitar ser amado por Ele, apesar de todas as fraquezas  humanas. Ele quer que saibamos sempre escolher a vida da graça e não a morte do pecado. O que Deus deseja dar a seus filhos, mais do que uma herança como pensava o filho mais velho da parábola, é oferecer a alegria de receber e partilhar com sinceridade seu amor infinito. É neste amor gratuito e incondicional que o cristão pode experimentar a verdadeira alegria que o levará a jamais se apartar do Deus que tanto nos ama. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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