01
JESUS. MESTRE DA HUMILDADE
Côn. José
Geraldo Vidigal de Carvalho*
Uma refeição oferecida por um dos
principais fariseus foi propícia para que Jesus focalizasse a importância da
humildade (Lc 14,1.7-14). Dois detalhes não lhe tinham escapado. Ele se dirigiu primeiro diretamente aos outros
convidados que, sem cerimônia, foram ocupando os primeiros lugares. Corriam o
risco de irem para o fim da mesa, caso chegassem outros mais dignos de estarem
junto do dono da casa. Deixou então o Mestre divino sua famosa sentença:
“Aquele que por si mesmo se exalta será humilhado, e o que se humilha será
exaltado”. Ao anfitrião, porém, que convidara apenas pessoas importantes,
visando no fundo ser depois retribuído, o ensinamento foi um desinteresse
envolto em humildade. Com efeito, Jesus aconselhou a preferência aos pobres,
aos aleijados, aos coxos, aos cegos, esperando, isto sim, a retribuição de Deus
no banquete da vida eterna. Apenas os corações humildes estão abertos à
gratuidade para com o próximo. Quando se percorre a Bíblia fica claro que a
humildade é o segredo dos amigos de Deus, o segredo do equilíbrio. Por isto bem
se diz que a humildade é a verdade. A verdade daquilo que cada um é e isto já
abre o caminho para o bom relacionamento consigo mesmo, com os outros e com
Deus. Consigo mesmo porque esta virtude leva a reconhecer não apenas as
próprias fraquezas, mas também os dons recebidos de seu Senhor. Foi o que se
deu com a Virgem Maria que pôde dizer no seu hino de ação de graças que o
Criador havia olhado para a pequenez de sua serva, mas também proclamou que o
Todo-poderoso nela fizera grandes coisas. Por isto ela mostrou que Deus eleva
os humildes e deixa os orgulhosos de mãos vazias. Esta virtude leva também ao
bom relacionamento com o próximo, pois o humilde não se julga superior a
ninguém. Por outro lado o humilde nunca traz Deus a seu tribunal humano
mesquinho e não está a querer que o Onipotente aja conforme seus pobres moldes
mentais. O modelo para cada um é o próprio Cristo que pôde aconselhar: “Aprendei
de mim que sou manso e humilde de coração”. São Paulo aos filipenses asseverou
que Jesus "sendo de
condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se
a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E,
sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se
obediente até a morte, e morte de cruz." (Fil 2, 7-8). A humildade é
simplesmente entáo a imitação do divino Mestre. É deste modo que se podem
receber as bênçãos espirituais, sendo imagem do Filho de Deus. Então fica
aberto o caminho para a mais absoluta fraternidade, sobretudo para com os
deserdados da sorte como bem Jesus ressaltou a seu anfitrião. O humilde não se
julga importante querendo para si os primeiros lugares ou apenas se relacionando
com os ricos e poderosos. Ele se reconhece, como disse o papa Francisco, um
pecador perdoado, mas amado por Deus e assim tem diante de si horizontes
extraordinários bem diferentes daquele que Jesus percebeu no banquete para o
qual fora convidado. Neste ágape reinava ambição e vaidade, resultado da falta
de humildade existencial. É esta virtude que faz frutificar a vida do cristão e
então esta dá frutos em abundância lá onde a Providência colocou cada um neste
mundo. Seu lugar na sua família, na sua profissão, na sua comunidade não se
julgando melhor ou maior que os outros. Não se trata apenas de uma questão de
cortesia humana, uma mera questão de saber viver, mas é uma condição para
entrar no banquete do reino eterno. Para isto é que a humildade e o desprendimento
são o fundamento da vida interior, da vida espiritual, do combate contra as
forças do mal, Trata-se de agir na lógica de Jesus e não na dialética do mundo,
apartada toda vã glória e soberba com relação aos outros. Trata-se de fazer a
cada instante que todas as ações estejam de acordo com o projeto de salvação de
um Deus sumamente misericordioso. Apenas ele conhece os mais santos, os que
mais merecem estar junto de seu divino Filho e, a seus olhos, muitas vezes são os
menos aplaudidos pelos homens. Jesus ensina então a não ambicionar os primeiros
lugares Isso não significa deixar de lado as responsabilIDADES de chefe, de
educador, sem dureza, mas também sem fraquezas condenáveis. Tudo feito com
muito amor envolvendo os mais necessitados em comiseração. Tudo isto modifica
as perspectivas meramente egocêntricas. * Professor
no Seminário de Mariana durante 40 aos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário