IMPORTÃNCIA
DA VIGILÂNCIA
Côn. José
Geraldo Vidigal de Carvalho*
A
vigilância é um termo recorrente na pregação de Cristo. Seus alertas são imperativos: “Felizes
daqueles servos que o senhor, à chegada, encontrar vigilantes [ ... ] Estai
preparados, vós, porque na hora em que menos pensais o Filho do homem
chega” (Lc 12,32-48). É preciso penetrar fundo no sentido desta advertência:
“Estai preparados”. É imperioso então que o cristão esteja atento para
reconhecer sempre os sinais que Deus continuamente lhe envia. Trata-se, através
do dom do conselho, de saber interpretar os diversos acontecimentos da vida. Isto
se dá quando, evitando a dispersão, o seguidor de Cristo vai cumprindo
fielmente suas obrigações cotidianas. Olhos fixos no encontro final com o Filho
de Deus ao deixar um dia este mundo para penetrar na eternidade. Bem executar
suas tarefas diárias, vivendo na presença de Deus, é estar seguindo a
recomendação do Mestre divino. Este advertiu ainda: ”A quem muito foi dado,
muito será exigido, e àquele a quem muito se entregou muito mais se pedirá”.
Enorme, portanto, a responsabilidade de cada um que deverá prestar um dia
contas dos dons recebidos. A consciência de ser muito agraciado deve levar o
seguidor de Cristo a um esforço constante, envolto, porém, numa absoluta
confiança na misericórdia divina. È através de cada um de nós que Deus
prossegue sua obra nesse mundo. No final da existência do cristão nesta terra
haverá o reencontro com Cristo que colocará o selo de Deus em toda a obra que
seu discípulo realizou nesta terra com esforço e muito amor. Ninguém
pessoalmente sabe quando isto se dará, pois a morte de cada um é o fato mais
certo, mas também o mais incerto quanto ao tempo e a hora. Eis porque Jesus
quer que cada um passe seus dias como quem O está esperando no momento que,
desde toda eternidade, está marcado no livro da vida. Há duas maneiras
basilares para aguardar a vinda do Filho do Homem, ou seja, para quem não tem
fé se abre o caminho do desespero e da angústia, para quem crê a esperança mais
fagueira o envolve e, ativamente, vai preparando o encontro com Aquele que virá
para recompensar tudo de bom que foi feito. Eis por que o verdadeiro cristão
vive numa vigilância contínua. Daí o valor do alerta hoje recordado. Isto leva
a uma supervalorização do tempo num crescimento ininterrupto da santidade
pessoal. Pouco importa o lugar no qual a Providência divina colocou o seguidor
de Cristo com suas tarefas específicas, com seus deveres próprios de sua
vocação. O essencial é que, quando Ele
vier, o possa encontrar atento, vigilante, multiplicando as boas obras, frutos
de uma fé profunda, nunca se perdendo o gosto de viver e tudo realizando sob o
olhar de Deus, num nível de honestidade tal que na hora de se deixar esta terra
se possa ouvir do Mestre divino: “Eia, servo fiel, entra no gozo de teu
Senhor”. Isto, de fato, não importa o instante, seja a meia noite, ou pela
manhã, ou durante o dia, ou ao entardecer, pois o importante é que se esteja lá
onde se deverá estar para bem O acolher. Deste modo a medida da nossa
fidelidade será a medida de nossa felicidade, pois Jesus chegará e passará para
nos levar por toda a eternidade para a
Casa do Pai. Neste mundo o cristão já possui na fé e pela fé a realidade
esplêndida do mistério de Deus. Entretanto na medida em que ele se apoia no seu
Criador e não conta senão com Ele é que esta fé cresce e ilumina toda sua vida,
colocando-o em estado de sábia vigilância. Esta faz então dar frutos na
realidade de sua vida, na espera de seu Senhor. Deste modo, o céu se torna uma
realidade viva, fundamental e não algo longe como uma miragem. Jesus nos
convida então a nos abandonar à Providência divina, possuindo uma confiança
sempre maior. Animadoras suas palavras: “Não
tenhais receio, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o
Reino”. É lá que deve estar centrada a vida do cristão, mesmo porque Jesus foi
claro: “Onde está o vosso tesouro, aí está o vosso coração”. Estes são novos
ingredientes para sermos vigilantes. Esta vigilância atenta tão bem cantada nos
salmos: “Aguarda minha alma o Senhor, mais que as sentinelas a aurora, espere
Israel o Senhor, porque no Senhor está a misericórdia” (Sl 129,5-7) [...]
“Consumiram- me os olhos à espera do meu Deus” (Sl 68,4). É que a esperança é
um aguardar seguro da glória futura. Assim, é essencial a vigilância contínua
para que não se percam os bens eternos. Esta vigilância chama cada um à responsabilidade de uma vida inteiramente
cristã, longe de tudo que desagrada e Deus e compromete a salvação eterna.* Professor no Seminário de Mariana durante 40
anos.
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