segunda-feira, 29 de julho de 2019

A VERDADEIRA CONCEPÇÃO DA VIDA HUMANA


01 A VERDADEIRA CONCEPÇÃO DA VIDA HUMANA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Um dos preciosos ensinamentos de Jesus foi registrado por São Lucas: “Guardai-vos de toda cobiça porque a vida de alguém não está na abundância de seus haveres” (Lc 13,12-21). Com relação aos bens materiais é preciso, de fato, que o seguidor de Cristo evite dois extremos: uma espiritualização exagerada e o viver extremamente devotado aos bens, valores e prazeres terrenos, o que agride sua dimensão espiritual. Trata-se de perceber com sabedoria a relação entre a conquista do céu e os bens desta terra. A parábola do rico insensato ilustra com precisão o ensinamento do Mestre divino, concluindo que equivoca lamentavelmente “quem entesoura para si e não é rico em relação a Deus”. O ser humano autêntico que vive em função de seu Criador vale mais do que aquele que possui todas as riquezas deste mundo. Infeliz, realmente, quem se limita apenas ao horizonte terrestre sem o liame vivo com Deus e sua palavra de vida eterna.  O cristão sem depreciar as realidades terrestres, engajado no mundo em que vive, está sempre voltado para as realidades além-mundo. Para viver desse modo sabiamente é preciso rogar a Deus: “Ensina-nos a contar os nossos dias” (Sl 90,12). Assim se evita a cupidez, a ganância, valorizando apenas o necessário para a vida, sem legitimar o supérfluo não imprescindível para uma vida digna de um autêntico batizado. Este foge continuamente da idolatria do dinheiro a qual leva a desejos ilimitados, fazendo esquecer as realidades celestes e, nesta terra, olvidando as necessidades dos outros. Tudo para si como bem ilustra a parábola do homem insensato que não refletia que a vida passa e nada se leva para a eternidade, a não ser o uso sensato dos benefícios materiais. Note-se que Jesus não disse que o dinheiro e as riquezas são maus e inúteis, mas condenou, isto sim, o apego exagerado aos mesmos. Fazer bons investimentos a fim de ter o que é preciso para a manutenção da própria vida e para ajudar os outros não é em si algo condenável. Não se pode é deixar levar pela ilusão da estabilidade e da segurança naquilo que é passageiro, porque a vida passa com o tempo e o principal é aumentar os méritos para o céu. Há, realmente, duas maneiras de conceber nossa existência, ou seja, considerando que tudo termina com a vida terrestre ou considerando que esta vida é apenas uma etapa para a vida eterna. Diante desta alternativa todos devem se posicionar é a magna lição  do Mestre divino. Cumpre haver uma coerência total entre o que se crê e o que se vive. Eis, portanto, um ledo engano daqueles que só pensam em se enriquecer mais e mais ou aproveitar ao máximo dos prazeres não cuidando de seu crescimento espiritual. Luta contínua contra todo e qualquer pecado. O referencial deve ser o que acontece além-morte, sendo a passagem por esta terra uma preparação para o encontro definitivo com Deus. Sublime é o destino do ser humano que deve, isto sim, ajuntar um tesouro lá na casa do Pai. Trata-se da verdadeira sabedoria de que fala São Paulo na sua primeira carta aos Coríntios: “É, de fato, de sabedoria que nós falamos entre os perfeitos, não, porém, da sabedoria deste mundo, nem dos príncipes deste mundo, que são reduzidos à impotência, mas falamos da sabedoria de Deus, envolta em arcano, sabedoria escondida que, antes dos séculos, Deus já havia destinado para a nossa glória” (1Cor 12, 6-8). Concita então que “ressuscitados com Cristo procuremos as realidade do alto e não as da terra” (Col 3,1). A lembrança da aurora eterna deve iluminar o cotidiano da vida do cristão e isto através das horas que passam e não voltam mais. De Deus é que vem toda iluminação perfeita. Eis porque o segredo da existência humana  é o amor deste Deus do qual viemos e para o qual caminhamos.  Este amor leva, não há dúvida, a usar de tudo que o Criador oferece vivendo cada um somente para Ele. Deste modo, se aguarda amorosamente o dia eterno junto do Pai. É o verdadeiro amor que leva a julgar a maneira de utilizar os bens terrenos. Esta capacidade de amar e de ser amado por Deus é que dá sentido e o valor à vida de cada um, ciente de que o resto é ilusório, com a morte nada de material se leva para a outra vida. Endeusar os bens materiais é, portanto, uma insensatez. Eles devem servir para a própria subsistência, para o sustendo dos familiares, para o progresso da comunidade na qual se vive. O que não se pode é perder de vista o objetivo final de toda vida humana. Os bens materiais a serviço de todos e jamais a escravidão aos mesmos, o que levaria a uma ruina no que tange o mundo futuro. Ruina porque no final da vida se verá com tristeza o mau emprego das coisas recebidas de Deus, as quais deveriam ter contribuído para o bem próprio e do próximo.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


segunda-feira, 22 de julho de 2019

O DIAPASÃO DA PRECE DO CRISTÃO


O DIAPASÃO DA PRECE DO CRISTÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No declive do monte das Oliveiras, após mais um momento de oração, um dos discípulos pediu: “Senhor, ensina-nos a orar” (Lc 11,1-13). A prece fazia parte da vida de Jesus e isto, por certo, impressionava seus seguidores. Ao responder, o Mestre divino legou aquela que seria a mais bela e popular oração dos cristãos. Sem marcas de egocentrismo o pensamento logo se volta para Deus que é Pai, pedindo que seu nome seja santificado, que seu reino venha até nós e que sua vontade seja totalmente feita. A Ele se dirigem depois súplicas comunitárias: o pão cotidiano solicitado para todos, requerendo o perdão dos pecados, com a condição de se anistiar todos os ofensores. Adite-se um pedido final imprescindível: “Não nos deixes cair em tentação” O ser humano está sempre sujeito às invectivas do demônio ou de si mesmo ao se expor às aliciações contrárias aos preceitos de seu Senhor. Vencê-las é essencial para que se atinja a santidade existencial e Jesus deixaria esta ordem: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Fica então aberto o caminho da purificação, alicerçada numa total confiança no Pai que levará sempre quem O implora a triunfar dos males físicos e morais. Tudo isto oferece motivações para que com atenção, fervor e convicção seja rezada prece tão preciosa, que não é um monólogo, mas uma terna conversa com Deus Eis porque a postura de quem a recita deve ser de absolutas fé e sinceridade. Trata-se de uma prece que envolve todo o ser humano, ou seja, o sentido de Deus, seu nome, sua glória, seu reino e nossas necessidades fundamentais, a saber, o pão espiritual e material, necessário para a subsistência; incluindo também nossas relações com o próximo, isto é, o perdão, que é fonte de paz e harmonia. É todo o ser humano que fica higienizado. Este processo de purificação realiza-se através da perseverança na recitação atenta das palavras desta prece. Eis porque não deve ser proferida automaticamente, mas degustada, absorvendo a profundidade das verdades que ela encerra, desejando tudo que nela se solicita a Deus. Quem reza esta oração composta pelo próprio Filho de Deus se lança numa aventura de familiaridade com o Senhor Onipotente e com os outros. Trata-se de uma intimidade que vai além das palavras, impregnando a vida de cada um com a certeza da grandeza do Pai, cujo reino deve se estender por toda parte, Ele que oferece o pão cotidiano, perdoa os pecados, leva a anistiar os ofensores e não deixa tal orante cair nas garras de satanás. Deste modo, todas as outras orações ganham sentido profundo e oferece ao Espírito Santo oportunidade para transformação de cada um rumo à própria santificação. Jesus ensinou a ver Deus como Pai, o Criador, o Senhor do espaço e do tempo, Ele que deve dirigir o destino de cada um.  Pai que oferece segurança absoluta e que merece ser tratado com sumo respeito e ternura. Daí a certeza de que somos amados por Ele tais como nós somos, apesar das fraquezas humanas e por isto se pede a Ele: “Perdoa-nos os nossos pecados”. Ao pedir “venha o teu reino” isto significa que se almeja que o plano de amor deste Deus, que é Pai, realize entre todos os homens seu projeto de salvação. É preciso ainda notar que ao impetrar a Deus que seu nome seja glorificado se mentaliza que sua glória externa depende dos que nele creem e que o mundo fica melhor quando milhares de fiéis por toda parte estão num clamor universal pela grandeza do Ser Supremo que merece toda honra. Deste modo a prece que foi composta pelo Mestre divino visa o reconhecimento da irrestrita exaltação de Deus a quem o ser criado deve inteiramente se submeter. Além disto, ela vem em socorro das necessidades espirituais e materiais, abrangendo todos os bens necessários à glória divina e à subsistência de cada um. Até a última petição desta oração tem uma amplitude maravilhosa: “Não nos deixes cair em tentação”, isto é, que Deus guarde cada um das seduções das forças diabólicas contra os sagrados mandamentos, das atrações do poder, do prazer desregrado, da ambição. Rezar com fervor esta oração é estar em especial diálogo com Deus, dilatando o coração para o bem, voltado cada um inteiramente para Aquele que deve ser louvado e que, poderoso, pode salvar de todos os males. * Professor no Seminário de Mariana durante40 anos.




segunda-feira, 15 de julho de 2019

IMITAR O BOM SAMARITANO


IMITAR O BOM SAMARITANO
Côn. José Geraldo Vidigal de Caralho*
A parábola do bom samaritano é, sem dúvida, uma das passagens mais preciosas da Bíblia (Lc 10,25-37). Evoca a beleza e o poder do amor que devem prevalecer em todas as circunstâncias, vendo até num estrangeiro uma pessoa digna de toda a compaixão. Revela a essência mesma do grande mandamento: “Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo” (Mc 12,28-34). Cumpre, de fato, ultrapassar todas as barreiras para, na medida do possível, socorrer quem precisa de um auxílio oportuno imediato. Nesta parábola Jesus ilustra a supremacia da caridade acima de todas as convenções sociais e pessoais. O sacerdote e o levita eram bem os representantes religiosos do judaísmo e os judeus consideravam como próximo apenas os parentes, os correligionários, os compatriotas, com exclusão total dos gentios. Jesus visava ensinar então que todos até mesmo os inimigos merecem cabal consideração. Os seres humanos são chamados a formar nele um só corpo. Por isto Jesus apresentou como modelo um samaritano, dado que os samaritanos eram considerados como hostis aos judeus e por eles detestados. Foi, contudo, um samaritano que teve compaixão daquele que jazia por terra, despojado e coberto de feridas, abandonado meio morto. Mostrou comiseração e não foi indiferente e insensível perante o padecimento do desamparado. Sua atitude revelava um apelo à solidariedade com os sofredores. Era assim que deviam proceder os discípulos de Jesus não agindo como o sacerdote e o levita judeus. Os seguidores de Cristo não poderiam ser espectadores mudos, indiferentes diante dos males alheios. A insensibilidade é pior do que a hostilidade, porque o indiferente perante as desgraças alheias, ignora os sofredores como se eles não existissem. Foi o que manifestaram aqueles. que passaram e ignoraram uma pessoa humana padecente. O bom samaritano patenteou o verdadeiro sentido da compaixão. Multiplicou inclusive os gestos de caridade, não apenas procurando sanar as feridas, mas levando aquele estrangeiro a uma estalagem e assumindo todas as despesas da assistência que lhe seria dada. Toda uma série de ações decorrentes da comiseração e da bondade de seu coração. Jesus deixou claro como deviam proceder os que se chamariam cristãos, os quais precisariam multiplicar, dentro de suas possibilidades, a ajuda afetiva e efetiva ao próximo. Ele era o verdadeiro Bom Samaritano que não hesitou tomar nossa humanidade para nos oferecer a salvação, sacrificando-se por nós até à morte e morte de cruz. Como Mestre admirável com esta parábola ensinou o verdadeiro sentido da misericórdia, da comunhão com os outros. Todos os seus discípulos repletos de generosidade e de ternura, perdoando uns aos outros como Ele mesmo perdoou no alto de sua cruz aos que o maltrataram tão cruelmente: “Pai perdoai-lhes eles não sabem o que fazem”! Segundo o Papa Bento XVI Jesus universalizou o conceito de próximo que deve ser objeto de ações concretas. Não se trata de um amor genérico e abstrato, mas requer um engajamento real aqui e agora. Lembrava então este Papa que no juízo final (Mt 25,31-46) o amor ao próximo se torna o critério para a decisão definitiva concernente ao valor ou o não-valor de uma vida humana. Jesus se identifica com aqueles que estão sofrendo, ou seja, os que têm fome ou sede, os estrangeiros, os doentes, os prisioneiros, os nus. Todas as vezes que alguém os amparou foi a Ele que foi feito este gesto de caridade. Eis o critério supremo para se alcançar a vida eterna. Por isto a procura da felicidade perene consiste na prática do amor fraterno. Eis aí um caminho não só desejável, mas possível a todos. Cumpre ter olhos para ver as feridas que fazem o outro sofrer e trabalhar na medida da possibilidade de cada para oferecer uma ajuda oportuna. Cumpre também então que se evite sempre não ser um espinho a mais na existência alheia. O samaritano da parábola de Jesus não se esquivou, mas socorreu logo quem jazia à beira do caminho. A todos os seus seguidores Jesus aconselhou então a fazer sempre o mesmo, agindo como aquele samaritano  caridoso. Este não se esquivou, mas foi até àquele que jazia inerte por terra e assumiu todos os cuidados que aquele sofredor deveria receber, demonstrando um amor realmente atuante. A caridade tem sua lógica que não se limita a soluções paliativas. Muitas vezes não será à beira de um caminho que se deparará com alguém que sofre, mas tantas vezes são aqueles que estão sob o mesmo teto, os próximos mais próximos que precisam de uma palavra de alento, de atenção, de gestos de paciência. Este é o caminho do verdadeiro cristão cônscio de suas responsabilidades e solidariedades. Cumpre pedir ao divino Samaritano que abra nossos olhos para amparar os que se acham feridos, angustiados. Eles precisam ser amados e amparados, porque neles se verá sempre a figura de Jesus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

Oração e ação


ORAÇÃO E AÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
O episódio ocorrido em Betânia onde moravam Maria e Marta leva a uma reflexão sobre a oração e a atuação nos afazeres diários (Luc 10,33-42). Cumpre conciliar os momentos dedicados à prece e aos trabalhos cotidianos. Maria estava escutando Jesus, se imergindo na Palavra de Deus, e Marta agindo, preparando a refeição para o ilustre hóspede. Entre os discípulos de Jesus uns são mais sensíveis aos bens espirituais e outros aos bens materiais. É preciso saber harmonizar uma e outra atitude. Jesus ao dizer a Marta que “Maria tinha escolhido a melhor parte, esta não lhe será tirada”, mostrava que a oração era superior à ação. Jesus, aliás, nas suas pregações sempre prescreveu uma caridade ativa. Célebre sua advertência: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor entrará no reino dos céus, mas o que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Aos apóstolos, aos ouvintes, cada qual segundo o seu estado e profissão, Ele ensinou que é preciso cumprir os deveres que Deus lhes impõe enquanto durar a vida, pois com a morte cessa o tempo favorável para conquista da felicidade eterna. Ele repreendeu Marta, não pelo fato de que ela estava trabalhando, mas porque estava agitada. Há uma diferença enorme entre agir e se agitar. Como também não fazer nada não é rezar e menos ainda ser um contemplativo. Muitos ficam de tal modo envoltos nas tarefas a serem feitas que não encontram momentos de oração e acontece, igualmente, que há aqueles que não sabendo bem controlar o tempo descuram o cumprimento do dever de cada dia. O segredo do bem viver é transformar as menores ações em atos de amor a Deus e ao próximo. Assim sendo, nos instantes reservados à prece se pode tranquilamente usufruir a presença divina. Jesus mostrou a Marta que ela estava inquieta e confusa com muitas coisas, imersa num materialismo insensato, tornando-se escrava de sua ocupação. Escapava-lhe o sentido de seu serviço e, agitada, ela perdia a alegria de poder servir a Jesus, tendo a paz interior. A maioria das distrações na oração vêm da preocupação com as coisas materiais. A prece e os afazeres não se opõem, mas bem compreendidos levam à fuga de toda mediocridade na oração e na ação. O verdadeiro cristão não pode definir o tempo da oração como uma simples inatividade, como não deve fazer da ação uma agitamento desnecessário. Para conseguir este equilíbrio a prioridade como salientou Jesus com relação a Maria é a escuta da Palavra, das inspirações divinas advindas da oração. Desta é que fluem a sabedoria e a força necessárias para bem realizar as tarefas diárias. Muitas vezes pode ocorrer que a inquietação pela organização do trabalho leva a se perder o seu valor intrínseco. Com efeito, não se pode esquecer de que qualquer atividade em si é um serviço prestado ao próprio Mestre divino que disse: “O que fizerdes ao menor de vossos irmãos, foi a mim que o fizestes”. Portanto, continuamente se pode haurir os benefícios de tudo que se faz vendo no próximo a figura de Cristo. Neste caso não se age como Marta submersa na amplidão dos deveres. É preciso como Maria parar para verificar o que Deus realmente quer e lhe solicitar a energia necessária para bem agir. Nunca se valoriza demais o tempo que se reserva à oração individual ou comunitária que deve ser uma pausa no meio da agitação cotidiana. Portanto, não se pode opor simplesmente uma Maria orante a uma Marta ativa; uma Maria piedosa a uma Marta agitada; uma Maria concentrada na oração a uma Marta dispersiva nos afazeres. Esta diferença entre as duas irmãs é também marcada pela postura delas perante Jesus.  Marta está preocupada em agradar o hóspede divino com uma multidão ações, enquanto Maria se liga a Jesus pela escuta. Marta recebeu Jesus, mas não O escutava. Maria O escutando, mostra a atitude da discípula atenciosa e cortês. Marta queria que sua irmã a ajudasse e se esquecia de que ela estava prestando uma grande homenagem a Jesus ouvindo-O e assimilando sua palavra. Marta. esperava que, diante da censura que ela fazia à irmã, que Jesus ordenasse que esta fosse ajudá-la. Sua resposta não foi o que Marta desejava, pois e           Ele não se deixou manipular. Não respondeu ao pedido de Marta, mas expôs uma prioridade entre as ações de ambas, louvando a atitude de Maria. Mostrou a Marta que a perfeição dos atos humanos não consiste na multiplicação dos mesmos. De fato, verdadeira ação, impregnada de amor ao próximo deve ser feita sempre numa união íntima com Deus, pois assim esta ação não se opõe à oração como pensava Marta. É que a prece é em si mesma uma ação na qual se apreende o verdadeiro serviço aos outros. Apenas quem reza como Maria pode fazer suas ações inteiramente agradáveis a Deus e úteis ao próximo, porque envoltas no mais profundo espírito fraternal. Sejamos laboriosos como Marta, mas tudo fazendo como Maria à luz da presença do Mestre divino. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 1 de julho de 2019


OPERÁRIOS PARA A MESSE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Através dos tempos ecoam as palavras de Jesus sobre a carência de operários e de operárias para a sua seara: “A messe é abundante, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para sua messe”. Ante a necessidade imperiosa da evangelização e a falta de operários o Mestre divino aponta uma solução que é o pedido a Deus feito com insistência e perseverança. Orar pelas vocações sacerdotais, religiosas e de leigos devotados à catequese e a outras atividades pastorais, visando a expansão do Evangelho. Trata-se de solicitar ao Senhor Onipotente que numerosos sejam os que, fascinados pelo Verbo de Deus, se entreguem a um trabalho constante pela difusão da Verdade que guia e regenera. Prece confiante desejando a gloria de Deus e o bem das almas. Empenho perseverante a favor do projeto universal da salvação daqueles pelos quais Cristo se sacrificou. A ordem do Mestre divino é sumamente pedagógica, porque quem eleva aos céus preces ardentes pelo crescimento do trabalho evangelizador, na medida de suas possibilidades, também tudo fará para tão nobre causa. Todo batizado deve ser um apóstolo pela palavra, pelo exemplo e na insistência contida na oração que Jesus ensinou: “Venha a nós o vosso reino”. Diante da penúria do número de sacerdotes pedir para que Deus faça crescer o desejo do serviço numa vida inteiramente devotada à evangelização é estar consciente de que esta missão específica é imprescindível. A desproporção entre a imensidade do trabalho missionário coordenado pelos bispos e padres não deve causar pânico, dado que pelas orações elevadas até o trono divino nunca faltarão pessoas disponíveis que se entreguem a tarefa tão necessária. Assim sendo, a oração pelas vocações sacerdotais não pode nunca ser um momento passageiro, apenas um anelo vazio, mas deve ser uma dimensão da prece da Igreja que comunitariamente implora vocações ao Senhor da messe. Isto porque o apostolado dos leigos se conjuga com o desempenho daqueles que se devotam unicamente à expansão da Palavra divina, sobretudo através do culto eucarístico. Isto é tanto mais necessário no contexto histórico atual, diante das sociedades pluralistas a exigirem sempre novas estratégias pastorais e a ajuda persistente dos fiéis neste empenho evangelizador da Igreja. Cada batizado então com suas forças, fraquezas e convicções faz parte do grande exército de Cristo Redentor da humanidade. É que muitas vezes lá onde há necessidade do anúncio do Evangelho em determinados momentos será a ação oportuna de quem vive o seu batismo que poderá trazer os que se acham longe da Igreja para encontrarem o caminho da fé. A obra de Deus é complexa, aparentemente acima das forças humanas, mas maravilhosamente age por toda a parte. Comunidades de irmãos e irmãs atentos uns aos outros, anunciadores infatigáveis do Evangelho e do mesmo Espírito de amor que deseja o bem espiritual de todos que estão à sua volta. Operários da Messe repletos de otimismo, levando a paz por toda parte. A paz messiânica que cada um recebeu no seu batismo e no sacramento da crisma, irradiando a alegria do coração, assegurando a todos o amor e a misericórdia do Senhor. É assim que o Reino de Deus se revela presente no meio das comunidades. Trabalho exigente, mas marcado pela certeza da felicidade de ser servos de Deus na dilatação da verdade e do bem. Ação preciosa de cada um de acordo com os carismas recebidos do céu pode transformar, libertar os que se deixam enganar pelas ilusões terrenas. Como dizia Elizabeth Leseur, “nós não sabemos o bem que fazemos quando fazemos o bem”. É que Deus multiplica os efeitos de toda boa ação. Nada, portanto, mais necessário do que cultivar a seremidade dentro de si mesmo para desejá-la efetivamente aos outros como ordenou Jesus: “Paz a esta casa”.  Eis aí a valia do apostolado orientado nas Paróquias pelos Párocos que têm a graça específica de guiar o rebanho de Cristo, ajudados por outros sacerdotes seus colaboradores e pelos s cristãos devotados à causa do Evangelho. O Papa São Paulo VI no Decreto Apostolicam Actuositatem sobre o apostolado dos leigos assim se expressou: “Os nossos tempos, porém, não exigem um menor zelo dos leigos; mais ainda, as condições atuais exigem deles absolutamente um apostolado cada vez mais intenso e mais universal. Com efeito, o aumento crescente da população, o progresso da ciência e da técnica, as relações mais estreitas entre os homens, não só dilataram imenso os campos do apostolado dos leigos, em grande parte acessíveis só a eles, mas também suscitaram novos problemas que reclamam a sua atenção interessada e o seu esforço.”. O Evangelho de hoje vem então recordar a responsabilidade de todos, clero e fieis, diante do serviço da evangelização. É belo ser apóstolo. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.