ALERTAS DE JESUS SOBRE O REINO DE DEUS
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No
Evangelho de São Lucas o sermão da Montanha é apresentado numa síntese na qual
são retratados aqueles aos quais pertence o reino de Deus e aqueles que dele
são excluídos, (Lc 5,17. 20-26) Quatro bem-aventuranças às quais se contrapõem
quatro maldições, alertas de Jesus a seus seguidores. É fixada a bem-aventurança dos pobres,
daqueles que choram, dos que têm fome e daqueles que são perseguidos. A estas
quatro classes paralelamente surgem quatro execrações, introduzidas pelas
palavras “Ai de vós”. A exposição de São Lucas é mais abrupta, sintética,
abreviada que as de São Mateus. Trata-se de uma exposição direta sobre quem é
agradável a Deus, ou seja, os pobres, os deserdados, os sofredores, os que
padecem fome, os desprezados. São situações concretas nas quais, porém, devem
sentir a presença amorosa de seu Senhor, que nestas ocasiões dolorosas
transforma os espinhos da vida em pérolas para a eternidade. Por mais atrozes que
sejam as aflições o fato de se estar imerso em Deus disto jorra felicidade.
Deus é o amigo íntimo dos que sofrem e sabem valorizar as amarguras. Não se
trata de uma vã consolação, mas de viver uma realidade que transforma a própria
vida e faz olhar os irmãos padecentes à luz de uma fé profunda. Infelizes são
os ricos que colocam na riqueza todo o seu bem, os que endeusam os prazeres de
uma lauta mesa, aqueles que só procuram apenas delícias mundanas e os louvores
humanos. Isto contrastando com a prática das virtudes apenas valorizando o que
é passageiro. Ai de vós os ricos, não pelo fato de serem ricos, pois Jesus teve
amigos entre pessoas que eram afortunadas como Mateus e Zaqueu, Marta e Maria,
mas porque nada mais esperam de Deus e se entregam a uma segurança meramente
material. Os ricos a que Jesus se refere são aqueles que não dão espaço para
Deus, não se abrem àquela esperança de uma ventura total que somente o Criador
pode oferecer. Felizes, ao contrário, os pobres porque deles a riqueza é o
reino do amor do Ser Infinito. Cristo não disse que feliz é a miséria, porque a
miséria é um mal que deve ser eliminada, mas bem-aventurada é a pobreza que
abre o coração aos dons divinos, sendo a fonte da verdadeira alegria. Ai
daqueles que estão fartos, apreciando com avidez o que a vida pode oferecer e
não têm mais fome das coisas eternas que Deus oferece a quem O ama. São aqueles
que estão contentes com o imediato e se deixam possuir pelos bens materiais e
não aspiram mais por uma vida autenticamente cristã, aberta e generosa para os
outros. Felizes, isto sim, os que aspiram pelas realidades espirituais e delas
têm fome e sede. De fato, infelizes aqueles que se instalam no bem estar
terreno, no egoísmo, fixados em si mesmo, porque na hora das provações não
encontrarão os que verdadeiramente os possa consolar. Bem-aventurados, porém,
os que sabem chorar com que os que choram porque haverão de rir na luz que vem
de Deus, quando o sorriso do Todo-poderoso triunfa de todos os medos. Então se
degustará a alegria dos corações livres, o júbilo dos que amam e sabem ser
amados. Ai daqueles que se tornam profetas das veleidades, abandonando as
exigências do Reino de Deus, acatando todas as falsas doutrinas. Felizes,
contudo, aqueles que por causa de Jesus é detestado, rejeitado, marginalizado.
Neste caso se terá o júbilo que só o divino Redentor pode oferecer, uma
recompensa para os que Lhe são fiéis apesar de todas as turbulências Portanto,
o discípulo de Jesus pode ser feliz ou não, dependendo da aceitação de sua
proposta de bem-aventurança ou de infelicidade. Ser seu discípulo é andar pelo
caminho da ventura que Ele propõe, palavra que suscita o desejo de viver as
realidades espirituais que geram para si e para os outros a verdadeira
liberdade, palavra que abre o Reino de Deus. Cumpre sair de uma lógica
puramente humana para entrar na lógica de Jesus e nela se encontrará a
verdadeira felicidade. * Professor no
Seminário de Mariana durante 40 anos.
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