segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

\OVALOR DAS BOAS OBRAS


O VALOR DAS BOAS OBRAS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Notável a sentença de Jesus: “O homem de bem, do bom tesouro do seu coração,tira coisas boas” (Lc 39-45). Antes, numa bela comparação, Ele havia afirmado que a “arvore se conhece pelo próprio fruto”. Daí o valor das boas obras. Nenhuma importância, de fato, têm as palavras se não são seguidas pelas ações virtuosas. De nada adianta se dizer cristão se não se pratica o que o Mestre divino ensinou. Eis porque Ele alertou: ¨Nisto será glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim vos demonstrareis meus discípulos” (Jo 15,8). São Paulo então aconselhou aos Gálatas: “Enquanto temos tempo, façamos o bem” (Gl 6,10). É isto que significa tirar a trave do próprio olho para ajudar o irmão a lançar fora o cisco que se acha no olho dele. Cumpre ser um autêntico discípulo de Jesus para poder irradiar o bem que flui lá do íntimo do coração que se assemelha ao coração de Cristo. Não basta prestar atenção ao que se faz, mas o importante é cultivar sempre o que se deve ser, dado que uma boa árvore não produz frutos maus. Isto porque os frutos resultam da qualidade, da bondade, da força, da saúde, da vitalidade da árvore. A evangelização se torna eficiente justamente quando os evangelizadores primam pela santidade de vida, pelo bom exemplo. Daí a busca ininterrupta da perfeição cristã em vista a um apostolado eficiente, frutuoso. Trata-se de estabelecer uma base sólida de onde possa raiar o bem na vida das pessoas com as quais se vive. O cultivo da vida interior é condição basilar para o progresso do Evangelho. Ser plenamente cristão para fazer que todos sejam também seguidores de Cristo, dando frutos opimos. Eis porque é preciso sempre verificar as próprias ações fazendo o diagnostico do estado da própria alma, para não se tornar um servo inútil ou até prejudicial à causa do Reino de Deus. Na carta a Tito São Paulo descreve o cristão exemplar: que é “irrepreensível, amigo do bem, sóbrio, honesto, moderado, saudável na fé, na caridade, na paciência e no sofrimento, hospitaleiro. moderado, justo, santo, equilibrado, ligado à verdadeira palavra tal como está na Bíblia, para poder exortar segundo a sã doutrina e refutar os contraditores”. Ei aí o que é ser uma boa árvore. Na carta aos Romanos o mesmo Apóstolo Paulo enumera os maus frutos, como “injustiça, perversidade, cupidez, malícia, homicídio, inveja, discórdia, malignidade, calúnia, arrogância, rebeldia para com os pais, deslealdade, falta de caridade, e de misericórdia” (Rm 1, 25-32).  São os péssimos frutos de uma má árvore. Não basta, de fato, ter boas ideias, boas intenções para ser uma boa árvore no jardim do Senhor. É necessário ter consciência do valor imenso dos atos diante de Deus e dos homens. Deve haver  uma unidade indissolúvel em o ser e o agir do verdadeiro cristão  O que cada um é no seu interior não pode estar dissociado do que ele é no exterior, ou seja, no seu modo de agir. Trata-se de uma exigência da vida evangélica. O modelo foi o próprio Cristo no qual não houve nenhuma distância entre o que Ele ensinou e o que Ele praticou. Jesus fez o que ele disse e disse o que ele fez. É isto o que Ele espera  de seu discípulo. Portanto, unidade perfeita  entre o nosso ser, nossas palavras e nossos atos, abolida toda e qualquer incoerência. É preciso praticar sempre o bem e não desfalecer, perseverando sem cessar. Nunca se reflete demais nas palavras de São Tiago: “ Mostra-me a tua fé sem as obras, que eu, por meio das minhas obras mostrar-te-ei a fé” (Tg 2,18). A fé, realmente, sem as boas obras é morta. É necessário estar atentos, mesmo porque o fundo da natureza humana é bom, cada um é capaz de produzir bons frutos. Entretanto, por força das aliciações do inimigo, pela influência perversa dos meios de comunicação social, pelos horrorosos crimes que se multiplicam e são enfaticamente divulgados pela mídia sensacionalista, o cristão corre o risco de desfalecer e pode, infelizmente, aderir ao mal, admitindo o erro e tomando posições frontalmente contrastantes ao que Jesus ensinou e praticou. Todo cuidado é pouco, pois como advertiu São Pedro, o demônio como um leão a rugir anda em derredor do seguidor de Cristo, prestes a devorá-lo (1 Pd 5,8) . É urgente sempre resistir com a potência de uma fé profunda que levará  a  se praticar o bem e a evitar o mal, valorizando sempre as boas obras. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

SEDE MISERICORDIOSOS


SEDE MISERICORDIOSOS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Fomos criados na misericórdia e para a misericórdia. Jesus foi claro: “Sede misericordiosos como o Pai celeste é misericordioso” (Lc 6,36-38).  Sem Misericórdia surgem atitudes que afetam a harmonia consigo mesmo e com o próximo. A falta de misericórdia gera uma atitude negativa, levando a uma insegurança existencial. Isto provoca muita vulnerabilidade e leva até a comportamentos indesejáveis, ocasionados pela impulsividade ou pela incapacidade de conseguir autocontrolar-se e de se ter uma visão menos deturpada de uma situação que pode e deve ser contornada Cumpre mostrar o rosto de Deus em todas as situações da vida, na vivência e testemunho da caridade misericordiosa deste Deus que é amor infinito. Isto porque a misericórdia como o amor, deve ser uma ação viva, contínua, dinâmica e concreta. Eis porque são de suma importância as obras de misericórdia pelas quais o cristão vive o preceito de Cristo que o leva a ser misericordioso.  As sete Obras de misericórdia corporais encontram-se, na sua maioria, numa lista enunciada por Jesus na descrição do Juízo Final (Mt 25,31-46). A classificação das sete Obras de misericórdia espirituais tirou-a a Igreja, através dos teólogos, de outros textos que se encontram ao longo da Bíblia e de atitudes e ensinamentos do próprio Cristo.  Santo Tomás a elas se refere na Suma Teológica (II-II, q. 32, a. 2) A primeiras sete obras de misericórdia corporais é dar de comer a quem tem fome. Jesus preocupou-se com a fome dos que O seguiam. A cena da multiplicação dos pães é uma das narrativas mais comoventes, Cerca de cinco mil homens comeram à saciedade naquele lugar deserto. As obras sociais da Igreja providenciam alimento através de promoções como as cestas básicas com quilos de comida, sopas servidas com muito amor. É preciso uma luta contínua para que haja da parte dos governantes políticas que afastem a causa da fome e todos os fiéis devem ter o senso da partilha. Em seguida, dar de beber a quem tem sede. Em nossos dias há a necessidade do cuidado com a água que pode vir a faltar por causa do desperdício. Em casa as torneiras bem fechadas e o uso racional do precioso líquido ao tomar o banho, na cozinha, na limpeza da casa. Usar a vassoura sempre no passeio em frente à moradia e em outros compartimentos da casa, sobretudo na cozinha. Em terceiro lugar, dar pousada aos peregrinos. Sobretudo nos dias de hoje todo cuidado é pouco no que tange as pessoas desconhecidas, mas trata-se de receber bem parentes e amigos quando de suas visitas. Incentivar continuamente as políticas habitacionais e as associações que acolhem os sem teto. Apoio ao “Lar dos velhinhos” e outras iniciativas que visam minimizar as dificuldades de quem procura um lugar para morar. É preciso ainda vestir os nus. Jesus exortou: “Quem tem duas túnicas dê uma ao que não tem” (Lc 3, 11a) Daí a colaboração com os bazares que são feitos junto às Igrejas e com os Vicentinos que conhecem de perto os mais necessitados. O que estiver inútil no guarda roupa oferecer a estas entidades beneficentes ou diretamente a quem se conhece e não tem como bem se vestir. Em quinto lugar visitar os enfermos. Jesus acolheu, socorreu e curou os doentes. Esta obra de misericórdia deve ser exercida em casa ou junto dos parentes e amigos, sobretudo, por ocasião de doenças longas e, às vezes irreversíveis. Trata-se do interesse pela pastoral da saúde. Estar perto de quem sofre é estar servindo ao próprio Cristo. Ajudar na compra de remédios. Em sexto lugar, visitar os prisioneiros. Jesus foi também taxativo: “Estava preso e me visitaste” (Mt 25,36). É claro que toda prudência é necessária e a visita aos presidiários nem sempre é conveniente.  Ajudar, porém, aqueles que se entregam à pastoral carcerária dentro das normas vigentes. Junto das autoridades pode-se influenciar para que haja um tratamento humano aos que erraram e cumprem pena. Finalmente a sétima obra de misericórdia corporal é enterrar os mortos. Está no Novo Catecismo da Igreja Católica: “Os corpos dos defuntos devem ser tratados com respeito e caridade, na fé e na esperança da ressurreição. O enterro dos mortos é uma obra de misericórdia corporal que honra os filhos de Deus, templos do Espírito Santo” (CIC § 2300). Ir ao velório de parentes e amigos é sumamente louvável, além do conforto das palavras as preces diante do falecido têm valor especial diante de Deus e dos familiares. Cuidar dos túmulos da própria família e insistir junto dos governantes para que zelem pelos cemitérios. Importantíssimas também as sete obas de misericórdia espiritual. É preciso um exame de consciência para ver se as temos praticado: Ensinar os ignorantes, dar bom conselho, corrigir os que erram,  perdoar as injúrias, consolar os tristes, sofrer com paciência as fraquezas do próximo e rezar pelos vivos e mortos. Pratiquemos tudo isto e estaremos obedecendo a ordem de Jesus: “Sede misericordiosos” * Professor no seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

 

 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

MACUMBA E FEITIÇARIA


MACUMBA E FEITIÇARIA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Quem tem fé e confia em Deus não teme macumba, feitiço, magia , bruxaria, mandinga, despachos e outras tolices.

A consulta aos horóscopos  e às  benzedeiras,  a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e da sorte e tudo que esconde uma vontade de poder sobre o tempo, sobre a história e sobre os homens, numa crença ingênua em poderes ocultos, demonstra ignorância religiosa e cultural. 

O Catecismo da Igreja Católica no parágrafo 2116 é claro: “Essas práticas contradizem a honra e o respeito que, unidos ao amoroso temor devemos exclusivamente a Deus”.

Recorrer a tais métodos é pecado que se torna ainda mais grave quando se deseja prejudicar o próximo usando tais atitudes.

 Todo recurso ao charlatanismo e indigno do cristão demonstrando falta de fé e de inteligência.

O autêntico seguidor de Cristo nunca se deixa, além disto, levar por qualquer tipo de superstição.

 Ao cristão verdadeiro e praticante a ele basta Deus e os meios que Cristo por sua Igreja lhe oferece.

Longe do autêntico discípulo de Jesus inclusive atribuir  uma importância mágica a certas praticas religiosas, o que demonstraria profunda ignorância teológica.

O cristão confia todos os seus problemas a Deus e repete confiante: “O Senhor é meu pastor nada me há de faltar” (Sl 22).

 O  fruto da oração confiante é o reconforto, a calma, a alegria de viver, a intuição da sabedoria divina.

São Gregório de Nissa  numa de suas homilias mostrou que quem  corre para Deus se torna maior e mais alto do que é em sua pequenez pois graças superabundantes jorram para quem sabe orar com confiança e perseverança. 

 Está no livro de Habacuc: “O justo viverá pela sua fidelidade” (Hb 2,3). Esta tudo obtém do Todo-Poderoso Senhor.

O cristão, porém, sabe que Deus não é um mero distribuidor de graças e a prece não tem um caráter mágico. O critério divino é aquilo que convém à vida eterna de cada um. Com efeito, Jesus afirmou que “o Pai celeste  dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem”.

É este Espírito Divino que leva á adesão à vontade de Deus que quer a salvação daqueles que a Ele se dirigem.

Jesus na língua aramaica significa “Deus salva” e tudo que se solicita ao céu deve estar de acordo com este plano salvífico. O certo é que quem em Deus confia nada tem a temer.

 Reza confiante no Senhor: “Sede para mim qual rocha de refúgio, cidadela defensiva onde me possa salvar” (Sl 30,3).

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

ALERTAS DE JESUS SOBRE O REINO DE DEUS


ALERTAS DE JESUS SOBRE O REINO DE DEUS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

No Evangelho de São Lucas o sermão da Montanha é apresentado numa síntese na qual são retratados aqueles aos quais pertence o reino de Deus e aqueles que dele são excluídos, (Lc 5,17. 20-26) Quatro bem-aventuranças às quais se contrapõem quatro maldições, alertas de Jesus a seus seguidores.  É fixada a bem-aventurança dos pobres, daqueles que choram, dos que têm fome e daqueles que são perseguidos. A estas quatro classes paralelamente surgem quatro execrações, introduzidas pelas palavras “Ai de vós”. A exposição de São Lucas é mais abrupta, sintética, abreviada que as de São Mateus. Trata-se de uma exposição direta sobre quem é agradável a Deus, ou seja, os pobres, os deserdados, os sofredores, os que padecem fome, os desprezados. São situações concretas nas quais, porém, devem sentir a presença amorosa de seu Senhor, que nestas ocasiões dolorosas transforma os espinhos da vida em pérolas para a eternidade. Por mais atrozes que sejam as aflições o fato de se estar imerso em Deus disto jorra felicidade. Deus é o amigo íntimo dos que sofrem e sabem valorizar as amarguras. Não se trata de uma vã consolação, mas de viver uma realidade que transforma a própria vida e faz olhar os irmãos padecentes à luz de uma fé profunda. Infelizes são os ricos que colocam na riqueza todo o seu bem, os que endeusam os prazeres de uma lauta mesa, aqueles que só procuram apenas delícias mundanas e os louvores humanos. Isto contrastando com a prática das virtudes apenas valorizando o que é passageiro. Ai de vós os ricos, não pelo fato de serem ricos, pois Jesus teve amigos entre pessoas que eram afortunadas como Mateus e Zaqueu, Marta e Maria, mas porque nada mais esperam de Deus e se entregam a uma segurança meramente material. Os ricos a que Jesus se refere são aqueles que não dão espaço para Deus, não se abrem àquela esperança de uma ventura total que somente o Criador pode oferecer. Felizes, ao contrário, os pobres porque deles a riqueza é o reino do amor do Ser Infinito. Cristo não disse que feliz é a miséria, porque a miséria é um mal que deve ser eliminada, mas bem-aventurada é a pobreza que abre o coração aos dons divinos, sendo a fonte da verdadeira alegria. Ai daqueles que estão fartos, apreciando com avidez o que a vida pode oferecer e não têm mais fome das coisas eternas que Deus oferece a quem O ama. São aqueles que estão contentes com o imediato e se deixam possuir pelos bens materiais e não aspiram mais por uma vida autenticamente cristã, aberta e generosa para os outros. Felizes, isto sim, os que aspiram pelas realidades espirituais e delas têm fome e sede. De fato, infelizes aqueles que se instalam no bem estar terreno, no egoísmo, fixados em si mesmo, porque na hora das provações não encontrarão os que verdadeiramente os possa consolar. Bem-aventurados, porém, os que sabem chorar com que os que choram porque haverão de rir na luz que vem de Deus, quando o sorriso do Todo-poderoso triunfa de todos os medos. Então se degustará a alegria dos corações livres, o júbilo dos que amam e sabem ser amados. Ai daqueles que se tornam profetas das veleidades, abandonando as exigências do Reino de Deus, acatando todas as falsas doutrinas. Felizes, contudo, aqueles que por causa de Jesus é detestado, rejeitado, marginalizado. Neste caso se terá o júbilo que só o divino Redentor pode oferecer, uma recompensa para os que Lhe são fiéis apesar de todas as turbulências Portanto, o discípulo de Jesus pode ser feliz ou não, dependendo da aceitação de sua proposta de bem-aventurança ou de infelicidade. Ser seu discípulo é andar pelo caminho da ventura que Ele propõe, palavra que suscita o desejo de viver as realidades espirituais que geram para si e para os outros a verdadeira liberdade, palavra que abre o Reino de Deus. Cumpre sair de uma lógica puramente humana para entrar na lógica de Jesus e nela se encontrará a verdadeira felicidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

AS LIÇÕES DA PESCA MILAGROSA


01 AS LIÇÕES DA PESCA MILAGROSA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Numerosos ensinamentos fluem do que ocorreu às margens do lago de Genesaré na Galileia (Lc 5,1-11).

Era o início da vida púbica de Jesus que pregava à multidão sequiosa por ouvir a pulava de Deus. Para

surpresa de Simão, pescador experimentado que havia tentado durante a noite uma boa pesca sem nada

conseguir, Cristo lhe dá uma ondem estranha. Com efeito, esta contrariava não só os esforços até então

empregados, como também vinha de encontro ao cansaço daqueles pescadores que  iriam lavar as redes

para depois descansar. Notável a atitude de Simão ao  asseverar a Jesus: “Porque tu o dizes, lançarei as

redes”. Admirável confiança, advinda de uma fé profunda, pois  grande  foi  a quantidade de peixes que

apanharam, apesar das circunstâncias  desfavoráveis.  Isto mostra  que  seja qual for a situação na qual

alguém se encontre, por mais inverossímil  que possa parecer,  da obediência às ordens divinas só pode

resultar  fatos maravilhosos. Fé, confiança e obediência  levam  sempre  o seguidor   do Mestre divino a

resultados extraordinários. No decorrer da vida do cristão  ocorrem  acontecimentos, por vezes, de fato

inexplicáveis que fogem à compreensão humana tão limitada. É quando a prática das virtudes conduz à

aceitação   humilde  dos  desígnios divinos por causa do abandono  filial nas mãos de Deus  no qual  se

acredita e confia  e a quem  se obedece sem  tergiversação  como fez  Simão Pedro.  É o Todo-poderoso

quem conhece o que é melhor então para cada um. Momento algum  é  tarde para  Deus onisciente  que

vem experimentar quem nele crê, mesmo nos momentos de fadiga ou de desânimo. Simão Pedro estava

intimamente  persuadido ser  inútil naquele momento  procurar  águas mais profundas,  mas mais forte

que  todas  as  evidências,  mais segura que todas  as dúvidas,  mais  imperiosa  do  que  sua fadiga era

 a palavra de Jesus, Deste modo, os limites do bom senso meramente  humano iriam  ser ultrapassados

 e a pesca superaria todas as suas expectativas, pois  ali estava o  poderoso  Rabi da Galileia.  Quando

Deus age numa vida, tudo se torna  possível,  desde que,  por mais difícil  que seja, tudo se entrega nas

suas mãos onipotentes.   Após a milagrosa pesca,  Simão Pedro perante  a  majestade  divina  de  Jesus

exclamou: “Afaste-te de mim Senhor, porque ou um homem pecador!”.  Era um  ato de adoração, mas

ao qual  ele deveria ter ajuntado o amor.  Simão  imaginava  que era  preciso  que o homem indigno se

 afastasse de Deus, embora o Onipotente queira estar sempre junto de suas  criaturas. O estupor tinha

tomado  conta dele e de seus companheiros Tiago e João. Jesus então lhes confia uma missão  sublime

 e diz a Simão  Pedro:  “Não tenhas medo,  doravante  ficarás a pescar homens”!  São Lucas  encerrou

a narrativa desta pesca milagrosa dizendo: “E, depois de conduzirem os barcos para a terra, deixaram

tudo para O seguirem”. Eram eles os primeiros discípulos. Passariam a serem pescadores  de homens.

Muitas vezes, como aconteceu com Simão Pedro, o  medo  se apossa  de quem se  aproxima de Jesus,

receio da grandeza da missão que Deus quer  confiar  a cada um,  agindo  nele e  por ele,  temor   da

grandeza divina que ofusca  a pequenez  humana, pavor de não corresponder  ao chamado de   Deus.

Apenas o  amor  pode  afastar   estes  temores e curar  qualquer  pusilanimidade. Os apóstolos então

deixaram tudo para seguirem  a Jesus e isto foi um gesto de amor. Portanto, o essencial na    vida do

cristão é deixar  Cristo o conduzir ainda que seja para alto mar, até onde Ele quiser, amando-o tanto

quanto Ele nos ama. A pesca, as conversões que serão obtidas se darão na hora de Deus. O chamado

de Jesus será sempre um momento de mudança radical como aconteceu com Pedro, Tiago e João, hora

de uma iluminação. O certo é que o Mestre divino não dispensa nenhum de seus seguidores da tarefa

da evangelização, da pesca de irmãos e irmãs para o Reino de Deus. Este Deus ilumina sempre as

inteligências e move os corações de seus fiéis. A primeira impressão será sempre cada um se perceber

pecador como Simão Pedro, mas a força da graça o moverá rumo a uma missão grandiosa, pois  para

Deus nada é impossível e se compreenderá sempre que é belo ser apóstolo, pescador de almas. 

*Professor no Seminário de mariana durante 40 anos.