segunda-feira, 29 de maio de 2017

RECEBER O ESPÍRITO SANTO

RECEBER O ESPÍRITO SANTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A solenidade de Pentecostes marca o início da difusão do Evangelho por toda a parte. Jesus havia dito aos Apóstolos: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,19-23). No quinquagésimo dia depois da Páscoa, como narra o livro dos Atos dos Apóstolos, “estando reunidos os discípulos no mesmo lugar, apareceram-lhes línguas divididas à maneira de fogo e pousou sobre cada um deles e ficaram todos cheios do Espírito Santo” (Atos 2,1-5). Os apóstolos antes temerosos vão agora levar o Evangelho por toda parte. São desde então impulsionados a proclamar ao mundo as maravilhas de Deus. Levados por um vento forte e iluminados por um fogo divino corajosamente anunciam publicamente que Jesus estava vivo, havia ressuscitado dos mortos. Não têm mais medo de testemunhar Aquele que perseguiram e crucificaram. Por Cristo iriam sacrificar a sua vida. É que o Espirito Santo que os apóstolos receberam era o Espírito da Verdade. Por toda parte haveria de guiar os que ouvissem s Boa Nova, acolhendo a verdade que era o próprio Jesus, o vitorioso sobre a morte. Aos fiéis através dos tempos o Espírito Santo infundiria coragem para que anunciassem onde estivessem tudo que Cristo ensinou e prometeu. Nos contextos históricos mais hostis surgiriam sempre notáveis cristãos que venceriam a inquietação e o medo. São aqueles que abriram as portas de seu coração ao Divino Espírito Santo. São todos aqueles que se tornam mensageiros do Evangelho por entre os desafios de cada época. A docilidade e a maleabilidade aos sete dons do Espírito Divino levam os cristãos a encarnarem o fermento da poderosa palavra de Deus que ilumina e salva. O conselho de São Paulo aos Gálatas ecoa dentro da História da Igreja que todos marchemos “sob a conduta do Espírito” (Gl 5,16). Não basta ter sido batizado ou crismado para que se tenha uma vida verdadeiramente espiritual que influencie o mundo. Receber o Espírito Santo e ser por ele guiado significa acolher cada instante da vida como um dom de Deus, sendo todas as ações aquecidas pelo fogo do amor divino. Apenas assim cada um pode ultrapassar os limites terrenos através de uma espiritualização constante que transforma a própria existência e sobrenaturaliza o mundo. É o que bem expressou Elisabeth Leseur: “Uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro”. Isto se dá quando o cristão vence as injunções mundanas e as fantasias do egocentrismo, do velho homem de que fala São Paulo. Hoje mais do que nunca todo cuidado é pouco diante das mensagens maléficas dos meios de comunicação social eivados de erotismo e maldosamente contradizendo os preceitos de Deus. A luta contra o espírito do mal que impede que se caminhe livremente sob as luzes do Espírito Santo dura a vida inteira. Foi o que ocorreu cm todos os santos, mas eles se apegaram sempre na fortaleza que lhes vinha da graça. A tudo isto se acrescente que saber receber o Espírito Santo é deixar-se envolver pela Verdade que Ele comunica. O mistério divino é revelado. O cristão precisa ser um permanente discípulo do Espírito, deixando-se ensinar por Ele que deseja penetrar todo o ser humano. Nada de recantos reservados para o mundo e suas paixões deletérias. Lá onde não se permite entrar o Espírito Santo reina a perdição. O cristão deve se sentir livre, inteiramente livre para permitir que a luminosidade celeste o envolva inteiramente. Santa Teresa de Ávila que se entregou totalmente a Deus pôde exclamar: “Louvado seja o Senhor que me livrou de mim mesma”. O fiel assim possuído pelo Espirito Divino passa então a testemunhar Jesus onde quer que esteja. Os apóstolos após Pentecostes, repletos do Espírito Santo, logo passaram proclamar as maravilhas de Deus. Antes estavam entregues a um lamentável mutismo, cheios de medo. Recebido o Espírito Santo suas vozes ressoaram por toda a terra. Pela conduta, pela palavra oportuna o cristão é um profeta da verdade que lhe vem ao coração. Trata-se da força divina, ungidos pela qual anunciam aos outros os caminhos da verdade. Três etapas maravilhosas: receber o Espírito Santo, penetrar fundo nas suas mensagens e saber levá-las aos outros. Eis porque sempre, mas sobretudo neste dia de Pentecostes se deve implorar: “Vinde, Espírito Santo, enchei os corações de vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor”. É por meio de cada um que se renovará a face da terra (Sl 104,30). Esta é a missão do verdadeiro cristão. Quando o Espírito Santo habita  no coração deste cristão este sente a necessidade de atuar junto daqueles que resistem à vontade de Deus e se acham longe dos caminhos da salvação eterna. Rezar para que se convertam e mudem de vida. É um apostolado que faz o mundo melhor e menos sujeito às forças do mal. Aquele que caminha sob a conduta do Espírito Santo progride dia a dia e faz os outros caminharem também numa estrada luminosa que conduz para a vivência total do Evangelho. É o ritmo do Espírito Santo que transforma o meio em que se vive. Saibamos viver sob a unção do Espírito de Deus. * Professor no Seminário de  Mariana durante 40 anos.





terça-feira, 23 de maio de 2017

A ASCENSÃO E A PRESENÇA DE JESUS

A ASCENSÃO E A PRESENÇA DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Antes de sua Ascensão ao céu Jesus afirmou aos Apóstolos: “Eis que estou convosco todos os dias até ao fim do mundo” (Mt 28,16-20). É preciso então compreender o mistério da Ascensão tendo em vista duas realidade que poderiam parecer opostas. Indo para junto do Pai Ele deixou fisicamente aqueles pelos quais se sacrificara.  Por outro lado, porém, como Ele mesmo asseverou, espiritualmente sua presença seria de muito maior eficácia. Sua partida não significava que sua missão estava terminada. Não só no Sacramento da Eucaristia Ele seria contemporâneo de todas as gerações cristãs, como também sua obra continuaria através dos tempos por meio dos apóstolos e de seus sucessores. Eis porque sintetizou abertamente a tarefa que a estes incumbia, ou seja, ensinar todas as gentes, batizando-as e ensinando-as a observar tudo que Ele havia determinado. Pelo mundo inteiro deveria ser proclamada a Boa Nova. Esta estava praticamente confinada em Jerusalém e na Galileia e vai agora se expandir primeiramente em todo o Império Romano. O livro Atos dos Apóstolos mostra o trabalho nas primeiras comunidades cristãs, manifestando como a Palavra de Deus ia sendo pregada por toda parte sem perder em nada sua eficácia. Inclusive, em nome de Jesus, milagres extraordinários eram realizados confirmando a missão divina de que estavam revestidos. Estando junto do Pai, Jesus prosseguia assim sua obra salvadora através de seus representantes,  estando presente ativamente em sua Igreja, seu Corpo Místico. Ele enviaria o Espírito Santo e no dia de Pentecostes começaria a história desta Igreja, que receberia assim a força e o poder de seu Fundador. Tornar-se cristão seria crer que Jesus não está ausente em sua vida e que Ele realizaria em cada um as maravilhas que estão registradas nos Evangelhos e nos Atos dos Apóstolos. Ele  presente na existência de seus seguidores, dado que o cristão é outro Cristo. Esta realidade vivida intensamente faria a grandeza de sua Igreja em todas as regiões do mundo. Sua doutrina seria ininterruptamente a luz a iluminar todas as nações. A fé no divino Redentor daria sempre coragem aos fiéis por entre as vicissitudes dos contextos históricos. A certeza da veracidade de tudo que Cristo ensinara e prometera seria a rocha inabalável para firmar o cristianismo século após século. O cristão teria sempre uma abertura para o trabalho evangelizador, convicto de que na outra margem da vida Jesus Ressuscitado o está aguardando. Trata-se da esperança que alumia ontem, hoje, amanhã e sempre o seguidor do Mestre divino. Esta esperança suscitou numerosas expressões da fé, sobretudo nas esculturas de Cristo representado lá na sua glória e também nos magníficos mosaicos das Igrejas bizantinas e nas Catedrais ocidentais. Tudo isto manifestação da fé de um povo que crê que Jesus é quem oferece a verdadeira paz e a doutrina que pode mudar o mundo para melhor. Cristo ressuscitado, o qual no dia da Ascensão foi para junto do Pai, dissipa as dúvidas e leva milhares a um apostolado fecundo numa obra evangelizadora que irá até o fim dos tempos. Foi assim que de pagão o mundo se tornou cristão sob a influência do Evangelho. Notáveis missionários cristianizaram a Europa e depois muitos vieram para a América e também se embrenharam no vasto território africano e na Oceania. Uma obra maravilhosa que prossegue em pleno século XXI apesar da oposição das forças do mal que combatem os valores legados pelo Filho de Deus. A luta continua para tornar o mundo mais fraterno, afastando as abominações dos vícios para que este planeta se transforme num louvor único à glória de Deus.  Se até hoje impera a desigualdade social e os crimes mais hediondos, em compensação há por toda parte, como aconteceu nos séculos passados, milhares de cristãos fervorosos que batalham para que os valores do Evangelho se difundam. Cristãos denodados que se sacrificam pelos irmãos, longe do pernicioso egoísmo. O empenho por uma sociedade vitalmente cristã sempre existiu e existirá, não obstante a atuação das forças do espírito do mal. A festa da Ascenção proporciona ocasião para que se tenha uma visão otimista da história, pois os cristãos continuarão sempre a desenvolver na vida social o senso de liberdade e de fraternidade. Todos conscientes de que é preciso cooperar com o bem comum, visando o aperfeiçoamento e o progresso material e espiritual da humanidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.          




quarta-feira, 17 de maio de 2017

A IGREJA E O EXORCISMO

A IGREJA E O EXORCISMO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Na Instrução sobre o exorcismo, datada de 24 de setembro de 1985, assinada pelo Cardeal Joseph  Ratzinger, o qual seria sucessor do Papa São João Paulo II, está clara a posição da Igreja. Esta Instrução lembra o cânon 1172 do Código de Direito Canônico  que declara que a ninguém é lícito proferir exorcismo sobre pessoas possessas, a não ser que o Ordinário do lugar tenha concedido peculiar e explícita licença para tanto. Determina também que esta licença só pode ser concedida pelo Ordinário do lugar a um presbítero dotado de piedade, sabedoria, prudência e integridade de vida.  Conclui então a Instrução que “destas prescrições, segue-se que não é lícito aos fiéis cristãos utilizar a fórmula de exorcismo contra Satanás e os anjos apóstatas, contida no Rito que foi publicado por ordem do Sumo Pontífice Leão XIII; muito menos lhes é lícito aplicar o texto inteiro deste exorcismo” Pede então que. “os  Bispos tratem de admoestar os fiéis a propósito, desde que haja necessidade”. Acrescenta a referida Instrução  que “pelas mesmas razões, os srs. Bispos são solicitados a que vigiem para que - mesmo nos casos que pareçam revelar algum influxo do diabo, com exclusão da autêntica possessão diabólica - pessoas não devidamente autorizadas não orientem reuniões nas quais se façam orações para obter a expulsão do demônio, orações que diretamente interpelem os demônios ou manifestem o anseio de conhecer a identidade dos mesmos” Entretanto conclui a Instrução que a.” formulação destas normas de modo nenhum deve dissuadir os fiéis de rezar para que, como Jesus nos ensinou, sejam livres do mal (cf. Mt 6,13)” . Na verdade  o  cristão deve sempre se lembrar de que para trunfar do demônio nada melhor do que a frequência aos Sacramentos da Confissão e da Eucaristia e a invocação de Nossa Senhora, dos Anjos e dos Santos, Estas são as armas da luz no combate ao espírito das trevas. Nuca se medita demais sobre as palavras de São Pedro> “Sede sóbrios e vigiai! O vosso adversário o diabo, rodeia-vos como leão que ruge à procura de que devorar. Resisti-lhe firmes na fé” (! Pd 5,8-10). Trata-se de uma fera açulada que é vencida pela mortificação e pelas preces confiantes. Nos momentos de tentação é dizer a Cristo: “Senhor, eu confio em vós”. * Professor no Seminário de Mariana durame 40 anos.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

O PARÁCLITO E OS DISCÍPULOS DE JESUS

O PARÁCLITO E OS DISCÍPULOS DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Para aqueles que verdadeiramente O amam, guardando os seus mandamentos, Jesus fala da vinda do Paráclito, o Confortador, que vem para assisti-los, explicando-lhes, como Espírito da verdade, tudo que Ele ensinou (Jo 14,15-21). É necessário então acolher este Paráclito como hóspede interior, como defensor, reconhecendo nele um Mestre interior. Cabe ao cristão contemplar nele o ator central de sua vida espiritual, protetor de uma fé sólida e esclarecida. Disto resulta a necessidade de escutá-lo, criando espaço que O permita agir em todas as ações cotidianas. Por esta obra do Espírito Santo a vida e a doutrina de Jesus se tornam atuais na existência de cada um. Sem o Paráclito a vida religiosa e espiritual do batizado seria uma mera comemoração de um passado longínquo. Com Ele, porém, tudo se torna atual e novo, realizando-se as promessas das quais é garantia a ressurreição de Cristo. Deste modo, fulge para o seguidor de Jesus a realidade da vida divina. O cristão se torna vitorioso, enraizado no amor de Deus. O fiel percorre então os caminhos traçados por Cristo neles encontrando a paz do coração, apesar das lutas incessantes para a prática das virtudes. O cristão conhece em plenitude a verdadeira liberdade, vivendo com responsabilidade as obrigações resultantes do Batismo e todos os compromissos inerentes à consagração ao Deus Uno e Trino. O fiel sente-se então vivamente aberto para o Infinito e vê crescer dia a dia o desejo de estar sempre mais unido a seu Criador, apesar de seus limites e de suas fraquezas inerentes à contingência humana. Nunca se deixa prender pela desesperança e se firma em Deus no qual encontra força e iluminação. Tudo isto resultado da ação contínua do Espírito da Verdade que, segundo Jesus, o mundo não pode receber porque O desconhece. O verdadeiro cristão O conhece por conviver interiormente com Ele, sobretudo através da prece confiante a qual não o deixa iludir com as falsas promessas dos profetas do erro e dos degradantes vícios e paixões. São Paulo, explica que o cristão vive “não em termos que a sabedoria humana ensina, mas com os conceitos que o Espírito nos ensina [...] O homem carnal não está em condição de perceber o que vem do Espírito de Deus. Isto é loucura para ele. Disto ele não é capaz de compreender nada [...] O homem espiritual, ao contrário, julga tudo, embora ninguém o possa julgar” (1 Cor 2,13-15). É que o fiel dilata sempre o seu coração na dimensão do amor infinito de Deus e usufrui das consolações do Espírito Santo e de todas as dádivas divinas. Trata-se de viver não diante de Deus, mas de viver em Deus e por Deus. São Paulo lembra, porém, que o Espírito Santo vem aos fiéis “com gemidos inexprimíveis” (Rom 8,26), conclamando o seguidor de Jesus a viver em função desta realidade sublime que é o amor de Deus. Aí está o fundamento da esperança cristã na vida eterna. A alma do justo, no momento da morte, ingressa no céu, mas aquele que foi, no tempo, o templo de Deus há de ressuscitar, conforme lembra o mesmo Apóstolo: “Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou dos mortos Cristo Jesus vivificará vossos corpos mortais pelo seu Espírito que habita em vós” (Rom 8,11). É o que se dará na Parusia, ou seja, na volta gloriosa de Jesus, no final dos tempos. A habitação do Espírito Santo na alma resume, deste modo, todos os frutos da Redenção. Trata-se do dom real do Senhor Jesus, o cúmulo de sua bondade, a marca suprema de seu amor.  O divino Espírito Santo opera nos corações uma obra semelhante àquela que Ele realiza no conjunto da Igreja da qual é o sopro vivificador. Ele é a luz venturosa que penetra até o mais íntimo da alma, o Espírito da verdade que forma aí Cristo e revela todas as coisas, porque Ele penetra tudo, até às profundezas mesmas de Deus (1Cor 2,10). Ele faz um transplante admirável, pois troca o coração do cristão pelo coração mesmo de Jesus. Realiza-se a palavra da Escritura na qual Deus assim se expressa: “Colocarei dentro de vós o meu Espírito” (Ex 31,116). Por tudo isto, cumpre então permitir que o Espírito Santo faça esta obra prima de transformação espiritual!  *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 9 de maio de 2017

MELODIA E DOUTRINA

UM GLORIOSO CENTENÁRIO

UM GLORIOSO CENTENÁRIO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A cidade de Viçosa (MG) está em festas comemorando o Centenário do Colégio do Carmo, uma Escola modelar. Através destes cem anos fulgem o talento de seus professores, a santidade de renomadas religiosas carmelitas, o zelo de seus funcionários, a grandeza de milhares de jovens formados dentro da mais atualizada pedagogia de cada contexto histórico deste já longo período repleto de benemerências. Tudo isto patrimônio grandioso de um dos mais notáveis educandários católicos de todos os tempos. Nele avultam e pompeiam os merecimentos e as glórias fúlgidas de uma inigualável formação que sempre ultrapassou as profundas informações humanísticas e científicas transmitidas nas suas salas de aula. Tudo isto marcando profundamente a história da universitária cidade de Viçosa que se ufana de ter no Colégio do Carmo um dos pilares de seu pioneirismo na Educação.  A presença benemérita deste Colégio vive e sobrevive em fastos indestrutíveis, em tradições imortais. Isto porque tem formado pessoas bem orientadas para enfrentar os embates da existência e faz isto com sabedoria. Tais pessoas multiplicam o bem no meio em que atuam. De fato, quem recebe uma orientação que leva ao desenvolvimento cultural e espiritual se torna um farol para seus semelhantes e esta é a auréola deste Colégio numa projeção indelével de sua eficiência. Nos lares, em outras escolas, nas mais diversas profissões, na vida pública e particular um sem número de crianças e jovens idealistas que, tendo haurido a sapiência, a ciência e o espírito carmelitano, tornam-se luzes a iluminar os que se acham em sua órbita. Transmitem então a plenitude da verdade em seu meio ambiente, dinamizando as estruturas nas quais estão inseridas e nelas militam. Não se pode minimizar este fato e muito menos esquecê-lo nesta efeméride, por todos os títulos, luzidia. Trata-se de uma premissa que precisa realmente ser valorizada sob pena de tornar vazia esta comemoração. O que o Colégio do Carmo tem oferecido no engrandecimento da inteligência e no enobrecimento do coração, emoldurando a personalidade de cada um que o tem frequentado, é uma obra digna de todos os encômios. No sorver cotidiano dos ensinamentos, das atitudes, das reações psicológicas e dos comportamentos através das diversas etapas do aprendizado, surgem sempre patriotas, cristãos e cristãs convictos de seu papel na sociedade. Consciências plenificadas no paulatino e constante enriquecimento das qualidades individuais de acordo com o perfil caracterológico próprio. É o que tem sido cultivado por pedagogos competentes e eficientes ao longo destes abençoados decênios. Valores humanos desabrochados em testemunhos pessoais, dignos, serenos, iluminadores. As inteligências sempre receberam nesta Escola centenária um norte que as estimulou na busca da realidade objetiva, numa fuga das ilusões criadas pelos falsos arquitetos de ideias. É deste modo que o Colégio do Carmo tem imunizado a quantos nele têm se matriculado contra a confusão mental e moral, educando pessoas aptas a abraçar os caminhos da autêntica felicidade, corações libertos de perplexidades ocasionadas pelas  aliciações do mal. Oferece critérios seguros  para que cada um  bem se situe no tumulto específico de cada época através do reto uso da liberdade, libertando-se dos prazeres hedonísticos e das concepções materialistas de vida. Mesmo antes do Vaticano II neste Colégio todos os diretores e mestres tiveram consciência de que “a natureza intelectual da pessoa humana se aperfeiçoa e deve ser aperfeiçoada pela sabedoria. Esta atrai de maneira suave a mente do ser humano à procura e ao amor da verdade e do bem. de sabedoria, o ser humano passa das coisas visíveis às invisíveis” (Gaudium et Spes 15). Adite-se que, realmente, a metade deste centenário foi impulsionada sob as diretrizes do Concílio Vaticano II que abriu novas perspectivas que foram aqui aplicadas com raro descortino. Por tudo isto este centenário faz fulgir esperanças para Viçosa e para a Pátria. Mais do que nunca precisamos de anjos tutelares para que a sociedade humana seja cada vez imune à desagregação disseminada pelos arautos de perniciosos erros. Do Colégio do Carmo sempre saíram e sairão profetas de um mundo mais humano e fraterno. Por tudo isto este Centenário está repleto de significado e nele e por causa dele todos se rejubilem, dando graças a Deus porque em Viçosa há este Colégio do Carmo que há cem anos vem irradiando saber e paz para milhares de corações. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos, 

segunda-feira, 8 de maio de 2017

UM GUIA SEGURO

UM GUIA SEGURO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Jesus deveria retornar ao Pai após cumprir sua missão salvadora e Ele prepara os apóstolos para este acontecimento com palavras consoladoras (Jo 14, 1-12). Num verdadeiro discurso de despedida ministra preciosos ensinamentos a seus seguidores em torno do tema de sua volta, enquanto homem, para junto do Pai. Ele iria inclusive preparar para seus seguidores um lugar, mas retornaria solenemente um dia para levá-los consigo. Daí seu autorretrato meditado profundamente através do tempo: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Ele é o Mediador, o Mestre, a fonte da Vida Eterna. Ele é o GPS espiritual de uma multidão que O seguiria através da História, instruídos com uma doutrina jamais superada e infundindo a todos os seus discípulos a plenitude do vigor e da mais profunda alegria. Eis porque ao anunciar sua ida para junto do Pai Ele pôde dizer aos Apóstolos: “Não se perturbe o vosso coração; crede em Deus e crede também em mim”. Crer na linguagem semítica significa ter confiança absoluta em alguém, se engajar na sua palavra. Ora, Jesus é a Palavra de Deus, o Verbo Eterno que se encarnou para vir exatamente ensinar e oferecer uma existência perene no Reino do Pai. Por tudo isto Ele liberta das trevas e se tornou o único guia seguro para levar lá onde todas as aspirações humanas serão totalmente satisfeitas. É preciso então acolhê-lo sem reserva, pois Ele oferece uma estrada luminosa até os páramos perenes na imortalidade venturosa do paraíso.  É que Ele liberta da morte e do pecado. Portanto, os Apóstolos deveriam já conhecer o caminho. Daí ser estranha a alegação de Tomé dizendo que não conheciam este caminho. Esta assertiva ofereceu oportunidade a Jesus para firmar numa sentença fulgurante que ser fiel a Ele é ter a certeza de ir para junto do Pai, porque, sendo Ele Filho de Deus,  Ele é a totalidade da Revelação que faz participar da existência filial que O une ao Pai, na vida de comunhão  da Trindade Santa. Tudo isto é a garantia daquilo que Ele pregou por onde passou, penhor da salvação perene. A seus seguidores Jesus está, portanto, cobrando um ato de fé profunda que os leve a superar os períodos de dúvidas e de incertezas neste caminhar terreno. A seu exemplo, porém, será sempre preciso passar pela Cruz para se obter um dia a ressurreição gloriosa do corpo e da alma. Nossa confiança nele, contudo, não pode se cifrar em palavras, mas deve resplandecer em todas as ações, Trata-se de uma transformação cotidiana, confirmando por toda parte que longe do divino Redentor não há salvação possível. Nada, assim, de perturbação do coração, da inteligência e da afetividade, dado que na Jerusalém celeste Jesus já reservou um lugar para cada um de nós. É certo que há um mundo hostil a ser enfrentado até lá, mas com Cristo seu discípulo será sempre um vencedor de todos os obstáculos. Na Casa do Pai há, pois, uma habitação perpétua, sendo o cristão, neste mundo, a casa de Deus, segundo as palavras de Cristo: “Se alguém me ama, meu Pai o amará, viremos a Ele e faremos nele nossa morada”. O batizado já tem em si o céu, pois, incorporado a Jesus, anda por um caminho seguro, à luz fulgente do Evangelho, já gozando no tempo a vida inefável de Deus.  Deste modo, contemplará um dia na luz divina o abismo das grandezas deste Deus, três vezes santo. Uma união profunda com Jesus é a vereda segura para usufruir a ventura de tudo isto. A verdade que Ele oferece é sólida como uma rocha e nada a pode abalar.    Com a verdade de Jesus se tem a resposta a todas as questões, longe de qualquer relativismo. Nela se pode apoiar em todas as circunstâncias. Deste modo o segredo da vida  do cristão é estar inteiramente imerso no Filho de Deus, que é pão eucarístico, fonte da água viva, guia seguro, modelo e conforto. Ele é a explicação misteriosa e última da história humana e do destino de cada um de nós. Eis porque Ele quer que seus discípulos tenham um coração isento das misérias das paixões insufladas pelos meios de comunicação social. Desta maneira, o mundo compreenderá melhor que para o verdadeiro seguidor de Jesus Ele é o centro de sua alma, sua verdade, sua única alegria, sua vontade, sua felicidade. O amor de Cristo é o inspirador, o grande motor, a forma que leva à virtude e ao bem. Ele é, realmente, o Caminho, a Verdade e a Vida! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

A PORTA DAS OVELHAS

A PORTA DAS OVELHAS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus manifesta-se como o Bom Pastor e, na verdade, sendo ele mesmo a Porta das ovelhas (Jo 10,1-10). Nos campos da Palestina os pastores faziam parte da paisagem cotidiana. À tarde eles reuniam seus rebanhos para colocá-los salvos dos vários perigos noturnos. Pela manhã, eles os conduziam para a pastagem. No salmo 22 já apareciam estas imagens: “O Senhor é meu pastor sobre prados de erva fresca ele me faz repousar, ele me conduz para as águas tranquilas e me faz reviver”. É que Deus conduz o seu povo e dele cuida. Jesus, autêntico Bom Pastor, acrescentou que Ele era a porta do redil, ou seja, Ele é o único medianeiro entre Deus e os homens. Apenas por meio dele se pode entrar no verdadeiro aprisco e ir até o Pai. Tão somente por Ele chega toda a proteção.   Podia, portanto, atestar qual era sua missão neste mundo: “Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância”. Note-se, contudo, que a expressão bíblica “rebanho” não significa um coletivo anônimo. Isto porque para Deus as ovelhas representam um povo e Ele conhece a todos pelo seu nome. .Cada uma de suas ovelhas tem um lugar dentro de seu coração de Pai. Ela ama individualmente, porque cada ser humano é seu filho dileto.  Quando Jesus diz que Ele é a porta, combatia deste modo a maneira de pensar dos fariseus para quem Deus era um Ser longínquo, inacessível. Jesus, entretanto, era a porta que permitia ir até o Ser Supremo e quem entrasse por esta porta estaria salvo. Eis suas palavras: “entrará e sairá e encontrará pastagem”. É que não se trata de uma porta que se fecha brutalmente e aprisiona. Trata-se de uma porta aberta a toda a humanidade, inclusive para as ovelhas desgarradas que desejassem a plenitude da salvação, podendo então encontrar um sentido para sua vida. Era a porta da misericórdia divina. Para Deus cada criatura é um bem precioso. A realidade da imagem da porta usada por Jesus encontra sua realização através dos sacramentos pelos quais o cristão se incorpora nele e por Ele tem acesso ao Pai. Para isto é preciso entrar no dinamismo profundo da vida cristã que é o amor ao Pastor e aos irmãos, que são ovelhas e filhos seus queridos. Aí está a razão pela qual seu autêntico discípulo, tem uma grande missão que é conduzir os que estão fora do redil deste Pastor para que entrem por esta porta salvífica, Muitos infelizmente trilhando os caminhos da perdição vão para longe deste Pastor divino e não encontram a entrada do único redil que oferece a salvação. Diante disto aparece clara a vocação do seguidor de Cristo, isto é, lá onde a Providência o colocou trabalhar por um mundo melhor. Todos dentro do projeto de amor que o Bom Pastor veio anunciar. Jesus quer ser a porta pela qual se passe da tristeza para a alegria, da dúvida para a confiança, do pecado para a virtude. É preciso que o cristão seja, de fato, a voz do Bom Pastor pela palavra e através da vivência plena do Evangelho. Então muitos compreenderão que Jesus é porta para um porvir fulgente almejado por Deus. Um mundo de felicidade e de amor do qual Cristo é já a realidade visível. Ninguém deve se acomodar no seu conforto espiritual, mas cumpre partilhá-lo e proclamá-lo por toda parte. Este é o desafio dos cristãos que devem ser os arautos da esperança, oferendo às gerações futuras a possibilidade de entrar no redil de Deus pela porta que é Cristo. A missão essencial da Igreja é estender o reino de Cristo. A vocação do batizado é ser um apóstolo esclarecido e atuante no mundo nos mais diversos afazeres cotidianos, cooperando com o Bom Pastor. A fecundidade deste apostolado depende da união vital com Cristo, o enviado do Pai.  Esta união com Jesus se dá na Igreja e é alimentada pelos nutrimentos espirituais, sobretudo pela Eucaristia. No atual contexto histórico no qual campeiam os mais graves erros que tendem a arruinar radicalmente a religião e toda a ordem ética, é preciso mais do nunca aprofundar e defender os princípios cristãos e sua aplicação aos problemas atuais. Cabe às ovelhas que do Bom Pastor fazer com que outras ovelhas se tornem capazes de construir a ordem temporal e espiritual. Nada mais eficiente do que participar das obras de caridade, pois deste modo se manifesta a prática da Lei do Amor que deve unir todo o rebanho de Jesus. A misericórdia para com os pobres, os fracos, o socorro mútuo são, de fato, a marca das ovelhas do Bom Pastor. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.