01 A IMPORTÂNCIA DA LEI
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
O
cumprimento dos preceitos de que fala Jesus se aplica à Lei e aos Profetas. (Mt
5,17-37). A Lei estava expressa no Pentateuco e nos Profetas estavam englobados
todos os restantes Livros Sagrados. Cristo afirma que Ele não viera abolir nada,
mas cumprir. Entre abolição e conservação o Mestre divino inculta o cumprimento
integral de tudo. Ele aperfeiçoaria a lei moral, exigindo sua observância em
toda sua plenitude. É o que Ele quis dizer ao afirmar: “Eu, vos digo”, ou seja,
Ele atesta a veracidade de suas palavras e a autoridade com que exigia de seus
seguidores um rigor ainda maior em acatar as prescrições divinas com os
detalhes que Ele proclamava. Tratava-se do ritmo do Evangelho a ser observado
por seus discípulos. Era a novidade que viera trazer para formar na santidade
os que desejassem, de fato, segui-lo. Um novo caminho cristão a ser percorrido,
sendo captado o sentido profundo de suas mensagens. Uma nova via de progresso
espiritual que deveria caracterizar seus epígonos. Para tanto cumpre um ato de
fé em Jesus. Tudo que se acha compendiado no Sermão da Montanha exigiria
tenacidade, radicalidade, transformação, adesão, uma escolha rumo à pratica
perfeita das virtudes. Isto exigiria coragem, destemor. Uma atitude drástica,
profunda, ou seja, não apenas não matar os outros, mas também afastar toda ira,
todo insulto ao próximo, reconciliando com ele antes de fazer a oblação a Deus.
Abolição do adultério a começar dos olhares maliciosos até os desejos impuros
no íntimo do coração. Acrescenta a intrepidez em se mortificar quanto às
vistas, com relação a tudo que é imoral, desonesto. Penitência corporal para
não ceder aos embustes do diabo. Adite-se que Jesus é radical no que tange à
fidelidade matrimonial, condenando abertamente todo tipo de infidelidade.
Ajunta a tudo isto que seu discípulo não deveria nunca jurar em qualquer
hipótese, mas “seja o seu falar sim, sim, não, não”. Tudo implicaria numa
transformação da vida de quem o seguisse, pois “tudo que não passa disto
procede do maligno”. Não é fácil aderir a este programa de vida, mas a história
dos inumeráveis santos elevados ou não às honras do altar demonstra que um sem
números de adeptos do Evangelho fizeram com sabedoria a escolha por Jesus,
afastando-se das veredas tenebrosas do erro, do pecado, dos desvios morais, das
alucinações do mal. Entre o amor, Eros, e a morte, Thanatos, uma vitória da
vida divina e a morte a todas as insinuações satânicas de um mundo perverso que
despreza a Lei e os Profetas, mundo que decreta a abolição daquilo que Cristo veio
aprimorar para a grandeza de seu seguidor. Neste deveria esplender sempre a
verdade em toda sua fulgurância. Jesus oferece todos os meios para o
aperfeiçoamento completo do ser humano. Um horizonte belo diante da renovação
interior. Não se trata de perfeccionismo estéril, condenável, sobre-humano, mas
de um consentimento voluntário na caminhada para a felicidade nesta terra e na
eternidade. Aprovação sincera de toda boa ação dentro das limitações humanas,
pois grande é a luta para triunfar das prevaricações, jamais, porém, cedendo à desesperança
Como observa o Frei Guillaume Dehorter, é preciso estar atento “aos
determinismos físicos, sociológicos e psicológicos que condicionam tantas vezes
a conduta de cada um”. Esta consciência deve servir para a lucidez de cada um e não paralisá-lo.
É preciso, contudo estar alerta contra tudo que acentua estes determinismos,
sobretudo o que chega a cada um pelos meios de comunicação social. Estes quase
sempre fazem a apologia dos procedimentos imorais, exaltando falsos ídolos, um
modo de viver bem diferente daquele traçado pelo Filho de Deus. Olhos fixos, isto sim, naqueles que
testemunham sua fé e resistem às vozes das sibilas do mal. Seguir Jesus cumprindo
tudo que Ele preceituou é encontrar paz, imperturbabilidade e se sentir
realizado. O objetivo de Cristo é realmente o engrandecimento da pessoa humana
no que diz respeito a sua dignidade de filhos e filhas de Deus. Os preceitos
hoje recordados estão a serviço da promoção pessoal de cada um, se tornam um
escudo para sua integridade e sua total liberdade. O cumprimento do que Cristo
propõe ultrapassa o simples respeito da Lei e dos Profetas e de tudo que Ele
detalhou. Sob a luz da fé cada ação do cristão vai além do que Jesus
preceituou, porque se trata da visão mesma do Filho de Deus, pedagogo
inigualável a apontar a beleza da perfeição cristã, a grandeza de ser seu
seguidor. * Professor no seminário de
Mariana durante 40 anos.
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