OS NAZARENOS CONTRA JESUS
Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Jesus quando falava a seus conterrâneos na
Sinagoga de Nazaré “todos o elogiavam e admiravam-se das palavras cheias de
graça que saíam de sua boca” (Luc 4,21). Depois, porém, eis que aqueles mesmos
que se encantavam com o Mestre divino, o qual lhes ensinava, tiveram uma reação
inteiramente diferente, pois “se encheram de ira, e, erguendo-se lançaram-no
fora da cidade e levaram-no até à beira do monte sobre o qual estava construída
a sua cidade, a fim de o precipitarem” (v.28). Ao entusiasmo seguiu-se um
insano furor. É que enquanto Jesus se revelava como o Messias do qual falara
Isaías seus concidadãos se orgulhavam por ser Ele nazareno. De Nazaré, portanto
é que saíra o Redentor prometido por Deus, estabelecendo uma nova ordem social
de paz, de justiça e liberdade. Jesus,
contudo, não era um demagogo e a sinceridade sempre pautaria sua pregação. São
Lucas registrou como aqueles seus ouvintes diziam entre si: “Não é este o Filho
de José?” (v.22). Isto revelava certa incredulidade na messianidade de Cristo
e, por certo, quereriam que Ele fizesse ali algum milagre como operara em
outros lugares, como em Cafarnaum. No íntimo colocavam deste modo em dúvida sua missão, além de revelarem uma
inveja das outras cidades nas quais
Jesus fizera prodígios. Sua resposta foi taxativa: “Nenhum profeta é bem
recebido em sua terra” (v.24). Ao citar como procederam com os pagãos Elias perante a viúva que era de Sarepta de
Sidônia e Eliseu diante de Naamâ que era sírio, o humor dos nazarenos mudou
inteiramente e foram tomados de ira contra Jesus. Portanto, nada do que falava
o profeta Isaías, cujo texto Cristo havia lido, não ocorreria em Nazaré. Os
Nazarenos, como bem observou o Pe.Rodolfo da Abadia de Hautterive na Suíça,
simbolizavam os judeus que perseguiriam a Igreja primitiva a qual devia sofrer
como Jesus a recusa de seus compatriotas. Além disto, através dos tempos muitos
que se dizem cristãos quereriam que Jesus estivesse unicamente a serviço de
seus interesses e se comportariam com arrogância, exigindo dele favores que em
nada ajudam à própria salvação e ao bem comum. A doutrina de Cristo deve, isto
sim, ser uma palavra que mobilize inteiramente seu seguidor rumo à perfeição.
Note-se que perante a atitude dos nazarenos, como relatou são Lucas, “Jesus
passou no meio deles e seguiu o seu caminho” (v.30). Cristo sempre escapará aos
projetos humanos que não visam a glória de Deus e o bem das almas. A salvação da
humanidade que Ele viera operar não teria fronteiras e era mais vasta que os
pequenos horizontes individuais, interesses restritos daqueles que não se
interessassem em levar aos outros sua mensagem de paz e consolo. Por certo
Jesus deve ter ficado triste diante do desprezo de seus conterrâneos. Aliás,
fica sempre triste perante os que não O veem como o redentor de todos. Os
Nazarenos O queriam só para eles e não tinham ideia de que Ele viera também
para os pagãos como fizeram Elias e Elizeu. Os Nazarenos não penetraram fundo
no mistério da salvação que Ele trouxera ao mundo. O cristão não pode ficar
nunca encantoado no seu pequeno mundo, no seu círculo limitado de amigos. O
fato ocorrido em Nazaré é um convite a que se sai da rotina, da indiferença, do
comodismo para levar com entusiasmo o Evangelho onde cada um vive, trabalha e
atua. Interesse pelos pobres, pelos necessitados. Irradiação da caridade que
deve produzir bondade, doçura, amabilidade, serviços, alegria, paz, compaixão e
paciência. O egoísmo dos Nazarenos os levou a querer precipitar Jesus monte abaixo,
jogando-o no precipício, fora da cidade. Mais tarde Jesus seria crucificado em
Jerusalém também fora da cidade e lá no alto da cruz estaria escrito “Jesus
Nazareno, Rei dos Judeus”. Ele não seria apenas o soberano de Nazaré, mas o
Redentor dos judeus e de todos os povos. O erro dos nazarenos foi se
maravilharem com as palavras que na sua Sinagoga Jesus proferia, mas não indo além
fazendo um ato de fé completo na sua messianidade. Através dos tempos Cristo
seria expulso de tantas cidades, de tantos corações, mas continuaria sempre a
ser o Messias salvador de milhares de almas. Os milagres de sua bondade se
multiplicariam por toda parte. Não basta, portanto, apenas admirar Jesus, mas é
preciso crer firmemente na sua missão salvífica. * Professor no Seminário de Mariana
durante 40 anos.
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