terça-feira, 2 de julho de 2013

LIÇÕES DA PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO

LIÇÕES DA PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O bom Samaritano da parábola de Jesus agiu de uma maneira eficiente : “Acercando-se do que estava caído no caminho e vendo as feridas, derramou nelas o azeite e vinho; o fez montar na sua própria  cavalgadura, o levou a uma estalagem, e teve cuidado dele. Pela manhã tirou dois dinheiros, e deu-os ao estalajadeiro, e disse-lhe: “Tem cuidado dele, e quanto gastares a mais eu to satisfarei quando voltar”(Lc 10,34-35). Ele tirou do que levava consigo. Não receou os assaltantes que haviam massacrado  aquela vítima, os quais poderiam estar por perto armando outra emboscada. Não se preocupou, de imediato, com seus negócios. Deixou de lado sua comodidade. Gastou de seu dinheiro. Assim é a caridade efetiva, prática, disponível. Não admite omissões nem retardamentos. Deve se estender a todos os seres humanos sem racismos, sem exclusões, sem discriminações. Como é impossível estar com todas as pessoas e em todos os lugares, este amor  pode e deve se manifestar também em primeira instância através das preces pelos enfermos, pela conversão dos pecadores, pelos agonizantes, pelas almas que padecem no purgatório. Em segundo lugar, supõe prontidão real, total disponibilidade,  para ir ao encontro das necessidades alheias seja de quem for, se assim as circunstâncias o exigirem, como foi o caso do bom Samaritano. Além disto, a misericórdia pregada por Cristo nas suas pregações inclui também o perdão das ofensas  e isto deve se estender universalmente a todos e abranger todo tipo de injúria. Jesus em outra ocasião foi bem claro: “Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo, e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, digo-vos: Amai vossos inimigos, fazei o bem a quem vos odeia, e orai pelos que vos perseguem e caluniam, para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus, o qual faz nascer o seu sol sobre bons e maus, e faz cair a chuva sobre justos e injustos” ( Mt 5,43-45). É possível que pelas estradas da vida se encontrem aqueles que procederam injustamente, com traições, difamações, ódio, perseguições. Ótimo campo para a caridade universal que tudo anistia. Não se pode justificar nunca o erro, mas se desculpa sempre aquele que errou. É deste modo que Deus procede com cada um de nós, pois diz o salmista: “Se conservares a lembrança dos delitos, ó Senhor, quem, Senhor, poderá subsistir?” (Sl 130 (129),3). Esta universalidade da caridade é própria, exclusiva do cristianismo. Os filósofos e demais fundadores de religião não vislumbraram esta extraordinária totalidade do amor, com dimensões tão luminosas. A caridade sendo sobrenatural e desinteressada ela tem  como nota esplendente ser sincera. Isto significa que o amor deve jorrar do coração e não dos lábios.  O mundo vive da comédia, da farsa, da dobrez, do fingimento, da insinceridade, da dissimulação, da perfídia. Não assim o fiel seguidor de Jesus Cristo, pois seus sentimentos correspondem às palavras e gestos. Para o verdadeiro cristão os lábios são sempre intérpretes do coração. Aos  Romanos aconselhava Paulo: “O amor seja sem fingimento” (Rm12,9). É que a dileção evangélica brota do íntimo do ser, é uma expansão da própria alma. Consiste a caridade antes de tudo e sobretudo de uma disposição da alma. Se é superficial, epidérmica, artificial não é autêntica e verdadeira. O epígono do Filho de Deus não vive de aparências nem alimenta as usinas da ilusão ludibriando diabolicamente os outros. Para o cristão verdadeiro a sinceridade desabrocha como uma flor, exalando perfume que enleva o próximo e embrandece os ânimos mais impetuosos. É apanágio da caridade ser também efetiva , ou seja, ela deve se traduzir em obras lucipotentes com foram os gestos do bom Samaritano. Na sua primeira carta São João afirmou: “O que tiver bens deste mundo, vendo seu irmão passar necessidade e lhe cerra suas entranhas, como mora nele a caridade de Deus? Filhinhos, amemos não com palavras ou com língua , se com obra e verdade”(I Jo 3,17-18).  De fato, apiedar-se dos sofrimentos alheios é bom, mas melhor ainda é aliviá-los. Cumpre, como ensina São Paulo, “chorar com os que choram” (Rm 12,15), e isto já é uma virtude, mas é preciso ir além, secando as fontes de tais lágrimas. A caridade é efetiva, ativa, produtiva, generosa, pródiga, munificente, magnânima. Não é negativa, é sumamente positiva, pois leva a agir. Passa dos sentimentos e afetos para atos concretos; do coração para os lábios e destes para as mãos que se fazem dadivosas, obsequiosas, doadoras, mimoseadoras. São Tiago declarou: “Se o irmão ou a irmã está desnudos e carecem de alimento cotidiano e algum de vós lhes diz: “Ide em paz,  aquecei-vos e saciai-vos, porém não lhes dando as coisas necessárias ao corpo, de que lhes aproveitará?” (Tg 2,15-17). Grossa trapaça, grande logro, para não se dizer escárnio imperdoável, zombaria condenável. Ao refletir sobre a Parábola do bom Samaritano, cumpre mentalizar todas estas características do autêntico amor ao próximo .* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário