terça-feira, 30 de julho de 2013

PERSEVERANÇA E CONFIANÇA NA ORAÇÃO

PERSEVERANÇA E CONFIANÇA NA ORAÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
 Jesus Cristo ministrou a seus discípulos uma aula sobre a oração. (Lc 11,1-13). Na verdade, ele atendeu a um pedido: “Senhor, ensina-nos a orar”. A maneira como os discípulos viam Jesus absorvido na prece, sem dúvida, suscitou neles o secreto desejo de ter parte na vida profunda do Mestre. Queriam, eles também, gozar do verdadeiro repouso do contato com Deus. Aspiravam a consolação para seu coração. Desejavam luz para suas vidas. Admirável a pedagogia de Cristo. Ofereceu uma fórmula que seria repetida através dos tempos e receberia o título de “oração dominical”, porque ensinada pelo próprio Senhor. Duas partes bem distintas, ou seja, a glorificação de Deus e a maneira de ser daquele que crê. O ser humano precisa do pão material e espiritual para poder subsistir; deve perdoar, imitando o Ser Supremo e nunca sucumbir às tentações. Em seguida, como se fosse um comunicador do terceiro milênio, é Cristo admiravelmente suscinto, pois sintetiza seu ensinamento na perseverança e na confiança. Isto através de uma parábola didaticamente exposta na qual estas duas condições, que devem caracterizar o orante, claramente rebrilham. Pedir, procurar, bater insistentemente na porta daquele que é o Todo-poderoso Senhor. Afiança Jesus,  então, que o objetivo será colimado, pois “todo aquele que pede, recebe e quem procura, encontra; e ao que bate, abrir-se-á a porta”. Embora Ele centre a atenção na súplica, cumpre se ater que o fiel se dirige não a um Deus inteiramente alheio à sua criatura, mas a um Pai extremoso que deve ser sempre o referencial primordial de autêntica prece. Já no Antigo Testamento, ao invocar o auxilio divino nos assaltos dos inimigos assim se expressa o salmista: “Elevai-vos, ó Deus, acima dos céus, e em toda a terra derramai a vossa glória!” (Sl 57,6).  É de todo interesse para o ser humano, criado, contingente, que a glorificação divina seja uma realidade fulgente, pois somente dentro de seu reino é que existe paz, felicidade. Longe dele apenas trevas e ignomínia. Deste modo, os pedidos têm como objetivo a libertação daquele que se abre ao mistério mesmo da pessoa do Pai. Dá-se então uma verdadeira iniciação à relação íntima entre o homem e Deus, o finito e o Infinito, o que está no tempo e Aquele que é Eterno. Em virtude, porém, da repetição, muitas vezes mecânica do início desta prece ensinada pelo Redentor, não se passa a viver no interior desta afinidade filial e não se dá a devida atenção às necessidades essenciais para as quais incidem os pedidos seguintes. Perfeito, porém, o ensinamento de Cristo, pois quem entende o sentido profundo da prece não se dirige a um Ente abstrato, nem anda em busca de interesses pessoais. Quer o perdão divino, deseja viver no amor que perdoa sempre e quer estar longe, bem longe, de tudo que desagrada ao seu Senhor, porque longe dele não há ventura possível. Então, ao se dirigir ao Todo-poderoso a alma do orante deve querer se adequar à vontade divina e que seus pedidos  estão envolvidos inteiramente pela reversibilidade do amor. Desta maneira, “o Pai celeste dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem”. Unido a Deus que é Pai e aos irmãos a quem se perdoa, surge, de fato, o lugar interior do encontro de cada um com o Espírito e a alteridade se faz unidade. O modo como Jesus ensinou a orar permite o fiel entrar com tudo que ele é e por tudo que ele faz na sinergia com o ato criador e iluminador da Sabedoria divina. Aquele que se deixa possuir pelo amor a Deus e ao próximo tudo alcança de Deus, porque a obra mesma do Espírito Santo se exerce por excelência na efusão do perdão e da vitória sobre as tentações do maligno. Como estas fazem parte do combate e o vitorioso é que será coroado, cumpre rezar com perseverança e confiança, porque a tentação é uma passagem pela crise, uma experiência de julgamento e nunca se pode deixar que o inimigo cante vitória. Deste modo o que se pede a Deus é que a  força de gravitação ou de atração da ação do tentador seja transmutada em força ascensional, devido ao dinamismo que se obtém da graça de Deus que deve ser assim continuamente solicitada e com aquela certeza que tinha São Paulo: “Eu tudo posso naquele que é a minha fortaleza” (Fp 4,13). Deste modo, a oração que Jesus ensinou, levando conscientemente, a entrar no mistério da filiação divina e na realidade das verdadeiras necessidades humanas coloca o fiel em condições de tudo pedir a Deus e alcançar, porque todo pedido estará enquadrado dentro do ensinamento do Mestre divino. Daí a necessidade óbvia da perserverança e da confiança na oração que se torna a chave que abre todos os tesouros do Pai celeste. É assim que a prece dá ao instante terrestre seu peso de  um valor sem medidas. A perseverança e a confiança  não atravessam o tempo, mas faz o tempo parar por assim dizer perante a eternidade do Ser Supremo que tudo concede àqueles que sabe pedir como Jesus ensinou. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

A PRECE QUE JESUS ENSINOU

A PRECE QUE JESUS ENSINOU
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Um dos discípulos pediu a Jesus que os ensinsse a rezar [Lc 11,1-13], O Mestre imediatamente atendeu o pedido. Na prece ensinada por Ele se percebe claramente que Deus quer ser considerado como Pai amoroso. O homem deve assim se dirigir filialmente a Ele. Gesto grandioso do Ser Supremo, Ele o Absoluto, a considerar como filhos as suas criaturas finitas, limitadas. Diante de tamanha generosidade necessário assim se faz pedir que seu nome seja santificado nas atividades humanas. Isto significa a honra que Lhe deve chegar  como fruto do reconhecimento de sua grandeza. Trata-se de sua realidade divina fulgindo continuamente nos atos humanos.  Os homens santificam o nome do Pai como o santificam os anjos no mais alto dos céus. Deus deve, portanto, ter o seu nome glorificado na terra pelos seguidores de Jesus os quais ostentam na sua existência a luminosidade do Todo-poderoso Senhor. Com efeito, vendo as boas obras dos que crêem, outros podem render honras ao Pai celeste [Mt 5,16]. Seu reino precisa, de fato, se estender por toda parte, eis o que se suplica em seguida. .O reinado do Pai consiste no ato pelo qual Ele atua no mundo e pelo qual Ele o governa. A providencia paterna inegável precisa ser reconhecida e que suba  junto de seu trono todo o louvor, quer nos momentos favoráveis, quer nas horas dolorosas. Entende-se, desta maneira, que o reino de Deus inclui uma escolha livre de cada um que necessita compreender os planos salvadores da sabedoria deste Pai. Disto resulta a conformidade com o projeto divino individual e o atinente ao processo universal. Vivem-se deste modo as oito beatitudes proclamadas por Cristo no sermão da montanha. Tal atitude conduz a um abandono total aos desígnios celestes, Um SIM absoluto que representa a entrega cabal a este Pai, sapiente e desejoso da felicidade dos que nele confiam. Que o reino de Deus venha e que todos os homens e mulheres acolham suas diretrizes em suas vidas. Assim nesta terra se realiza o acatamento afirmador de um Bem eterno  a ser possuído em plenitude na Jerusalém do alto. Trata-se de uma entrega filial ao Absoluto, acreditando-se na Sua misericórdia. Isto envolve a profundeza da alma imersa no seu Criador. Esta passa a contemplar por toda parte os sinais de Deus, apesar dos riscos da caminhada terrestre. O batizado se revela cada vez mais maleável perante as mensagens paternas. Reconhece sua insuficiência e vai se transfigurando num filho que acata e respeita o Pai celeste. Percebe-se Sua assistência ininterrupta. Ficam afastados o desespero, a fobia, a inquietude. Passam a imperar a serenidade, a imperturbabilidade. Entretanto, como tudo isto depende de coragem, combate por causa da fraqueza humana, se suplica o alimento cotidiano para o corpo e sobretudo  para a alma. Este vem a ser a Palavra de Deus que ilumina a mente e a Eucaristia que fortifica a vontade. Cumpre, contudo, pedir anistia pelos pecados. Esta clemência divina, entretanto, se acha condicionada ao perdão  global dado ao próximo. Pedagogo inigualável, Jesus mostra também ser preciso suplicar ao Pai que livre seu filho dos embustes do demônio e de suas invectivas. Por tudo isto cumpre se evite rezar maquinalmente a prece que Cristo ensinou. O significado de cada termo precisa ser penetrado para se obter o que se suplica ao Pai celeste. Por tudo isto quem profere atenciosamente o Pai Nosso recebe uma verdadeira torrente de luzes. Esta prece mede a autenticidade e a legitimidade  da suplica pessoal e litúrgica do batizado. Leva ao verdadeiro dialogo com Deus. Envolve silenciosamente na união com Cristo, O ser humano se repleta de luzes e se percebe envolto na paz e na alegria dos mistérios insondáveis do Pai celeste.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

terça-feira, 2 de julho de 2013

COMO ESCUTAR A PALAVRA DE DEU´S

02 COMO ESCUTAR A PALAVRA DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Segundo Santo Agostinho, “escutar a palavra de Deus é como se alimentar de Cristo”. Ele explicava que há duas mesas na Igreja: a mesa da Eucaristia e a mesa da Palavra. Com isto ele patenteava que a Palavra de Deus é um alimento espiritual. Quem bem se nutria desta refeição santificadora era Maria, a irmã de Marta e Lázaro, elogiada por Jesus pelo fato de O escutar atentamente, deixando todos os outros afazeres (Lc 10,38-42). Aliás, o próprio Cristo aconselharia: “Procurai, antes de tudo o reino de Deus e tudo mais vos será dado em acréscimo” (Mt 6,33). Portanto, estar atento à Palavra constitui a melhor parte da vida do batizado. Ao deixar Deus entrar na mente pela sua Palavra, meditando-a profundamente e fazendo dela a força e o sustentáculo de cada instante o cristão age menos pela emoção, mas solidificado em profundas raízes espirituais. Isto porque há então uma conexão admirável dos esforços humanos com o pensamento divino e se colhe um fruto tanto mais saboroso, quanto maior for a docilidade em se acatar as inspirações celestes advindas da Palavra. A grande questão é saber discernir a voz de Deus da voz humana. Ele fala a cada um de maneira diferente. Faz ressoar a sua Palavra por meio de outras pessoas; por meio dos acontecimentos tão repletos dos gestos divinos; das provações de cada hora; mas, sobretudo, é claro, pela Escritura Sagrada ouvida na Liturgia que é o lugar privilegiado no qual Deus se faz ouvir; e, ainda, na conversa pessoal com ele numa leitura bíblica individual. Tanto isto é verdade que a mesma passagem da Bíblia cada vez que é refletida traz novas mensagens para a alma de acordo com suas necessidades naquele momento. O citado Santo Agostinho lia e relia muitas vezes certos trechos da Bíblia para que pudesse entender o que Deus lhe queria comunicar. Quem assim procede percebe a reciprocidade da parte do Espírito Santo que exige uma persistência em querer discernir sua luz que ilumina, guia e salva. Desenvolve-se desta maneira uma amizade pessoal com Deus, a capacidade de perceber as minúcias de seus recados, que, muitas vezes, parecem interpelações que cumpre sejam analisadas. Elas dizem a respeito a nós mesmos, aos que estão em nosso derredor e à nossa relação com Ele. Por tudo isto, cumpre que se viva na presença de Deus que quer falar a cada um a cada instante num colóquio repleto de luzes, mas tantas vezes exigente, provocador, requerendo sempre um esforço maior em busca da própria santificação e da do próximo. Com efeito, o ato de escutar a Palavra que gera a fé é não só a escuta da palavra escrita, mas também a escuta da palavra interior pronunciada pelo Espírito Santo no íntimo da consciência. Isto supõe evidentemente empenho existencial que envolva todas as potencialidades humanas, uma vez que é Deus que quer agir em cada um e com cada um. No Evangelho Cristo compara a sua palavra a uma semente que produz mais ou menos abundantemente de acordo com a qualidade do terreno. Esta palavra segundo a Carta aos Hebreus é como a “espada de dois gumes” que “penetra até dividir alma e espírito, junturas e medulas. Ela julga as disposições e as intenções do coração” (Hb 4,12). Eis por que sempre que ouvida com humildade ela é transformante, operando uma cristificação radical. Donde ser necessária sempre a atitude de Maria que disse ao Anjo: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). O efeito da Palavra divina depende, assim, do empenho de cada um sempre aberto ao diálogo com o Criador. É preciso deixar que a Palavra se apodere inteiramente do coração que vai assim ao encontro com as realidades divinas, ou seja, ao diálogo inefável da dileção profunda na qual se responde sinceramente a Deus que fala e que exige uma atitude contemplativa como ocorria com Maria, a irmã de Marta.  * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.




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LIÇÕES DA PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO

LIÇÕES DA PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O bom Samaritano da parábola de Jesus agiu de uma maneira eficiente : “Acercando-se do que estava caído no caminho e vendo as feridas, derramou nelas o azeite e vinho; o fez montar na sua própria  cavalgadura, o levou a uma estalagem, e teve cuidado dele. Pela manhã tirou dois dinheiros, e deu-os ao estalajadeiro, e disse-lhe: “Tem cuidado dele, e quanto gastares a mais eu to satisfarei quando voltar”(Lc 10,34-35). Ele tirou do que levava consigo. Não receou os assaltantes que haviam massacrado  aquela vítima, os quais poderiam estar por perto armando outra emboscada. Não se preocupou, de imediato, com seus negócios. Deixou de lado sua comodidade. Gastou de seu dinheiro. Assim é a caridade efetiva, prática, disponível. Não admite omissões nem retardamentos. Deve se estender a todos os seres humanos sem racismos, sem exclusões, sem discriminações. Como é impossível estar com todas as pessoas e em todos os lugares, este amor  pode e deve se manifestar também em primeira instância através das preces pelos enfermos, pela conversão dos pecadores, pelos agonizantes, pelas almas que padecem no purgatório. Em segundo lugar, supõe prontidão real, total disponibilidade,  para ir ao encontro das necessidades alheias seja de quem for, se assim as circunstâncias o exigirem, como foi o caso do bom Samaritano. Além disto, a misericórdia pregada por Cristo nas suas pregações inclui também o perdão das ofensas  e isto deve se estender universalmente a todos e abranger todo tipo de injúria. Jesus em outra ocasião foi bem claro: “Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo, e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, digo-vos: Amai vossos inimigos, fazei o bem a quem vos odeia, e orai pelos que vos perseguem e caluniam, para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus, o qual faz nascer o seu sol sobre bons e maus, e faz cair a chuva sobre justos e injustos” ( Mt 5,43-45). É possível que pelas estradas da vida se encontrem aqueles que procederam injustamente, com traições, difamações, ódio, perseguições. Ótimo campo para a caridade universal que tudo anistia. Não se pode justificar nunca o erro, mas se desculpa sempre aquele que errou. É deste modo que Deus procede com cada um de nós, pois diz o salmista: “Se conservares a lembrança dos delitos, ó Senhor, quem, Senhor, poderá subsistir?” (Sl 130 (129),3). Esta universalidade da caridade é própria, exclusiva do cristianismo. Os filósofos e demais fundadores de religião não vislumbraram esta extraordinária totalidade do amor, com dimensões tão luminosas. A caridade sendo sobrenatural e desinteressada ela tem  como nota esplendente ser sincera. Isto significa que o amor deve jorrar do coração e não dos lábios.  O mundo vive da comédia, da farsa, da dobrez, do fingimento, da insinceridade, da dissimulação, da perfídia. Não assim o fiel seguidor de Jesus Cristo, pois seus sentimentos correspondem às palavras e gestos. Para o verdadeiro cristão os lábios são sempre intérpretes do coração. Aos  Romanos aconselhava Paulo: “O amor seja sem fingimento” (Rm12,9). É que a dileção evangélica brota do íntimo do ser, é uma expansão da própria alma. Consiste a caridade antes de tudo e sobretudo de uma disposição da alma. Se é superficial, epidérmica, artificial não é autêntica e verdadeira. O epígono do Filho de Deus não vive de aparências nem alimenta as usinas da ilusão ludibriando diabolicamente os outros. Para o cristão verdadeiro a sinceridade desabrocha como uma flor, exalando perfume que enleva o próximo e embrandece os ânimos mais impetuosos. É apanágio da caridade ser também efetiva , ou seja, ela deve se traduzir em obras lucipotentes com foram os gestos do bom Samaritano. Na sua primeira carta São João afirmou: “O que tiver bens deste mundo, vendo seu irmão passar necessidade e lhe cerra suas entranhas, como mora nele a caridade de Deus? Filhinhos, amemos não com palavras ou com língua , se com obra e verdade”(I Jo 3,17-18).  De fato, apiedar-se dos sofrimentos alheios é bom, mas melhor ainda é aliviá-los. Cumpre, como ensina São Paulo, “chorar com os que choram” (Rm 12,15), e isto já é uma virtude, mas é preciso ir além, secando as fontes de tais lágrimas. A caridade é efetiva, ativa, produtiva, generosa, pródiga, munificente, magnânima. Não é negativa, é sumamente positiva, pois leva a agir. Passa dos sentimentos e afetos para atos concretos; do coração para os lábios e destes para as mãos que se fazem dadivosas, obsequiosas, doadoras, mimoseadoras. São Tiago declarou: “Se o irmão ou a irmã está desnudos e carecem de alimento cotidiano e algum de vós lhes diz: “Ide em paz,  aquecei-vos e saciai-vos, porém não lhes dando as coisas necessárias ao corpo, de que lhes aproveitará?” (Tg 2,15-17). Grossa trapaça, grande logro, para não se dizer escárnio imperdoável, zombaria condenável. Ao refletir sobre a Parábola do bom Samaritano, cumpre mentalizar todas estas características do autêntico amor ao próximo .* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

REZAR PELAS VOCAÇÕES

REZAR PELAS VOCAÇÕES
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A determinação de Jesus foi clara: “Pedi ao dono da messe que mande operários para a colheita”  (Lc 10,2). Uma questão, porém, se pode levantar: “Porque pedir pelas vocações e, sobretudo, pelas vocações sacerdotais”? Há muitos cristãos que julgam que isto está ultrapassado, julgando, com certa arrogância, que isto é problema de Deus. Outros, se tornam céticos, declarando que após tantos anos de súplicas poucos são os candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa em geral. Concluem que se trata de uma prece sem sentido. Quem aprofunda, contudo, a reflexão sobre a ordem dada por Cristo logo percebe que não se trata de uma mera opção orar para que numerosas sejam as vocações. Quem esclarece esta questão de maneira muito sábia é Santo Agostinho. Na sua Carta a Proba, notável dama romana,  membro da ilustre família dos Probos, ele mostra que Deus sabe o que nos é necessário antes que o peçamos a Ele. Portanto, Ele não quer ser informado do nosso desejo, que Ele não pode, evidentemente, ignorar. O que Ele visa é que nosso anseio se excite pela prece e nós sejamos capazes de acolher o que Ele se dispõe a nos conceder. Em outras palavras, Deus deseja que nos mergulhemos em nosso pedido e recebamos verdadeiramente como um dom o que Ele vai outorgar. Nem sempre se reflete naquilo que São Paulo escreveu aos Efésios, afirmando que Deus foi quem “a alguns constituiu apóstolos; a outros profetas; a outros evangelistas e a outros  pastores e doutores, para tornar os santos aptos a cumprirem o seu ministério, para a edificação do corpo de Cristo, até chegarmos todos juntamente à unidade da fé,  ao pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem perfeito, até alcançarmos a medida da plena estatura de Cristo” (Ef 4,11-13). Hoje, felizmente, se multiplicam aqueles que se dizem jovens leigos consagrados,  irradiando o Evangelho pelo exemplo e pelas orações os quais são o sustentáculo daqueles que lutam na linha de frente para que as almas se salvem vivendo num engajamento total  como acontece com os padres diocesanos ou religiosos ou com as Religiosas das mais diversas Congregações. Tudo isto é um dom de Deus que deve ser insistentemente solicitado. Entretanto a existência dos que são ordenados sacerdotes ou ingressam na vida inteiramente consagrada se trata de uma aventura  espiritual a ser sustentada pela prece dentro da comunhão dos santos. Mais as comunidades cristãs se apaixonam por Cristo, por seu Evangelho e pela urgência da evangelização, mais tais comunidades se deixam possuir pela audácia, pela força e pela convicção de pedir a Deus operários para sua messe. Que se multipliquem os servidores da graça de Deus é um santo, necessário e constante augúrio dos que verdadeiramente desejam que o Reino do Senhor se estenda por toda parte. É necessário que se entre na visão espiritual e evangélica da Igreja. É ptrvido, além de tudo isto, deter atenção ao que Jesus disse  aos setenta e dois discípulos; “Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos”. Cumpre então pensar também que a vocação cristão é a vocação de todos os batizados e, se estes forem autênticos cristãos o número de lobos diminuirá e eles mesmos os bons discípulos de Cristo ajudarão na expansão do Reino de Deus, mesmo porque todo batizado participa do múnus sacerdotal do Filho de Deus. Não há, deste modo, um exclusivismo de preces apenas para os padres, os religiosos e as religiosas. Estes últimos têm um chamado especial, que não elimina a ação apostólica dos demais fiéis. Quanto mais todo cristão penetra fundo no mistério da morte e da ressurreição de Jesus tanto melhor fica o mundo. Deste modo, a oração pelas vocações sacerdotais e religiosas deve incluir também a prece para que haja sempre cristãos autênticos que os auxiliem na implantação do bem nesta terra. São os diversos ministérios na Igreja: o celibato e o casamento, o ministério leigo e o ministério ordenado, os institutos seculares e  os institutos religiosos de vida contemplativa ou de vida apostólica. Eis porque se deve rezar também pela conversão dos que se dizem católicos e não o são na prática. Se todos os católicos fossem realmente fiéis o mundo seria muito diferente. É que na Igreja a vocação de uns sustenta a vocação dos outros. Eis a razão pela qual a prece pelas vocações  é para que a existência na graça  divina em plenitude seja vivida  por todos os cristãos. Aí entra, então, decisivamente a prece pelas vocações sacerdotais e religiosas para que haja aqueles que animam as comunidades e se tornam o fermento na massa, segundo a bela comparação de Cristo. A resposta ao apelo de Jesus deve abrir, alargar, aprofundar a vocação especial daqueles que se consagram a Deus de modo especial, graças às preces recomendadas por Cristo no Evangelho. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.



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