quinta-feira, 31 de agosto de 2023

A CORREÇÃO FRATERNA Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Entre as normas sobre a correção fraterna (Mt 18, 15-20) Jesus assim se expressou: “Se teu irmão cometer alguma falta contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele. Se te ouvir, terás ganho o teu irmão”. Fez uma promessa admirável: “Ademais em verdade vos digo que se dois de vós sobre a terra concordarem acerca de qualquer coisa que tiverem a pedir, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus. Porque, onde estão dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. Como bem se expressou São João “Deus é amor” (1 Jo 4,8). São Paulo mostrou que o cumprimento perfeito da lei é este amor”. Eis porque se deve corrigir os que erram e rezar sempre também comunitariamente. Trata-se de procurar o cumprimento perfeito da vida espiritual, da participação total no mistério de Deus imergido na sua dileção divina. Quando se percorre o Antigo e o Novo Testamentos se percebe que o Senhor se revela sempre como o amor, desejando fazer aliança com os homens para os envolver na sua ternura. Tudo isto porque a afeição divina se concretiza no seu desejo de oferecer a todos a salvação, abrindo-lhes as portas do paraíso. Cumpre corresponder aos desígnios divinos, amando-O e aos outros, entrando assim no seu projeto de salvação e comunhão na vida divina. Muito frequentemente se entende o amor exclusivamente no domínio da afetividade, mas é preciso ultrapassar os sentimentos e o manifestar concretamente em obras de conversão do próximo, visando sempre sua salvação eterna e a observância dos sagrados mandamentos de sua Lei. Amar para Deus significa querer e agir no interesse dos irmãos, porque Deus quer o bem de todos, sua felicidade e a conquista de um lugar lá no céu. Amar para Deus é salvar! Crescer sempre no amor a Deus e no amor fraternal, tomando consciência de seu apelo à vida divina e de seu desejo de que todos dela participem. Eis porque o verdadeiro amor pelos nossos irmãos nos leva a uma corresponsabilidade para seu bem, o que se manifesta pelo interesse pelos outros e pela prece em comum que nos conduz ao cerne do amor verdadeiro que é Deus. Assim sendo, amar à maneira de Deus não se dá certamente no fato de não ter sentimentos por tal ou tal pessoa. O amor se verifica numa vontade traduzida em obra para o bem, a felicidade, o interesse vital do próximo. Trata-se do que São João da Cruz chama união das vontades, para que Deus esteja, de fato, junto de nós no momento de nossas preces comunitárias. Nós nos amamos não para partilhar narcisamente belos sentimentos, mas para crescermos juntos no amor verdadeiro. Portanto, a nossa corresponsabilidade e nossa solidariedade na marcha para nossa salvação e na do próximo necessita de uma profunda atitude teológica que vai acima de qualquer sentimento humano. Ter sempre em mente o bem de nossos irmãos, empenhando-nos para seu bem, sua salvação sem querer manipular os outros. É assim que se deve viver a correção fraterna. Nunca se deve esquecer que as faltas alheias dependem da natureza do ato cometido, da consciência e da intenção daquele que as comete. Eis porque é preciso entrar em diálogo com quem erra para saber suas intenções, a maneira como viveu os acontecimentos, antes e o acusar. Não se deve julgar os outros com base na própria subjetividade. Ninguém deve se julgar proprietário da verdade. Deve-se, portanto, por isto mesmo, se pedir as luzes divinas. Tudo isto se aplica no relacionamento dos irmãos da mesma fé, nos diversos grupos paroquiais, nas comunidades nas quais se exerce alguma atividade de apostolado, nos locais de trabalho, tendo sempre em vista que cada um de seus membros são filhos de Deus, capazes de acolher a luz divina e de entender suas inspirações. Em tudo se deve ser um caminho para o amor a Deus. A correção fraterna é uma prática que não é fácil e demanda discrição, paciência, para que se evitem julgamentos apressados, mas que se impeça sempre comportamentos errôneos que podem escandalizar. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 19 de agosto de 2023

FELIZ AQUELA QUE ACREDITOU: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho Duas mulheres se saúdam no limiar da Nova A:liança: uma já idosa, a outra ainda muito jovem. Elas resumem toda a história santa. Com efeito, em Isabel se perfilam longos anos de preparação e Maria, fulgurante, sem mancha, anuncia a Igreja de Jesus (Lc 1,39-56). Elas têm em comum sua esperança e sua maternidade, mas sobretudo o fato que sua maternidade as introduzem no plano de Deus e que seus filhos são filhos do impossível, pois Isabel era estéril e Maria havia decidido ficar virgem. Ambas testemunham em sua carne que nada é impossível para Deus, mas que diferença entre as duas crianças que elas trazem no seu ventre! Uma por milagre é o filho de Zacarias, a outra, também miraculosamente, é o próprio Filho de Deus. É entretanto Maria que saúda, primeiramente, ela a serva que trazia em si o Servidor. Entretanto desde que o som de sua voz chegou a Isabel, ela sente seu menino estremecer no seu seio. Não há em si nada de extraordinário para uma mãe que está no seu sexto mês de gravidez, mas o Espírito Santo que faz irrupção nela lhe revela o simbolismo deste movimento do menino no momento mesmo da chegada de Maria. Isabel, num grande brado, anuncia que o Espírito vem de lhe revelar e sua exclamação é uma dupla bênção: “Bendita és tu entre as mulheres. Bendito é o fruto de teu ventre!” Ela compreendeu numa revelação repentina, o tempo de um brado. Imediatamente ela se situa no seu verdadeiro lugar, a mais velha, se apequena diante da jovem mãe do Messias: “Como me é dado que venha mim a Mãe de meu Senhor?” Ela ajunta em seguida:” Meu Filho compreendeu antes de mim, pois que em mim, ele exultou de alegria quando tu te aproximaste portadora do Messias”. Assim o face a face das duas mães não mencionou senão o encontro invisível das duas crianças. Jesus reveste sua mãe de sua dignidade de rainha e João desperta sua mãe para o acolhimento do mistério das obras de Deus. Para anunciar ao mundo que a desgraça de Eva estava para sempre riscada da memória, o Espírito Santo quis que o primeiro diálogo a esperança do mundo fosse aquele de duas mães grávidas, imagens perfeitas da espera da felicidade. É sobre esta nota de felicidade que acaba a saudação de Isabel:” Bem-aventurada aquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor”. A beatitude de Maria se enraíza na fé em Jesus, ele mesmo, a proclamará solenemente no dia em que uma mulher na multidão, elevará a voz para lhe dizer: “Ditosa a mulher que te trouxe e alimentou”. Jesus responderá apresentando a nuança essencial: “Tu queres dizer: a mulher que acolhe a palavra e que a guarda”! É a felicidade de todos aqueles que edificaram sua vida sobre a promessa de Deus. Todos nós temos necessidade que a Igreja nos traga esta certeza: haverá um cumprimento daquilo que foi dito da parte do Senhor e Cristo, invisivelmente, está em vias de crescer no mundo, na nossa comunidade. Tudo se cumprirá segundo a promessa: Cristo veio, Ele vem e Ele virá. Veio na humildade, vem na intimidade e pela Eucaristia, Ele virá na imensa claridade de sua glória. Mas porquê a fé é difícil, porque a esperança ecoa mui rapidamente em nosso coração, Maria hoje vem nos visitar da parte de Deus para nos redizer: “Tu não sabes como o Senhor está próximo?” Cabe a nós saber captar o que Deus faz. A nós cabe redizer a surpresa de Isabel: “Donde me vem esta felicidade que venha a mim a Mãe de meu Senhor”! Também cumpre compreender quantos mistérios Maria trouxe em seu coração. Nenhum porém, a revoltou nem a afastou de Deus. Cumpre então a cada um de nós meditar, orar, se abandonar nas mão de seu Senhor. Avida de Maria é uma vida de fé e de confiança na Palavra de Deus, uma vida de esperança na vitória do Amor sobre o mal, uma vida de caridade na qual o amor comandava todas as suas ações como no dia de sua visita a Isabel. Foi assim que os “sim” sucessivos de Maria mudaram o curso da humanidade. Maria soube sabiamente responder aos mistérios do Reino de Deus. Acolhendo sem reserva a vontade do Pai, Ela refletiu a glória de Deus, mas de maneira tão discreta que podíamos passar sem captar isto. A glória de Deus se manifestava de maneira extraordinária nela, em sua alma e em seu corpo. Devemos pedir sempre a ela que nos ajude a perceber os mistérios do Reino celeste. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

A Transfiguração de Jesus

A TRANSFIGURAÇÃO DE JESUS Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Esta pagina do Evangelho é rica de alegorias (Mt 17,1-9). Jesus toma consigo três dos quatro primeiros apóstolos que Ele havia chamado. Com Ele transfigurado estavam Moisés e Elias dois personagens do Antigo Testamento, que haviam a bastante tempo morrido e se pode então bem compreender o espanto dos discípulos ao vê-los. Moisés representa a Lei que recebeu de Deus na montanha e Elias, o Profeta, estava ali figurando todos os profetas que Deus havia suscitado. Era um momento de silêncio, pois estavam no alto de um monte longe de qualquer tumulto. Por isto, Jesus havia tomado à parte aqueles três discípulos. Quantas vezes gostaríamos de estar num lugar silencioso, longe do bulício dos homens para entrar numa intimidade amorosa com Jesus, divino e eterno amor! Entretanto Jesus quer sempre se revelar a cada um de nós numa verdadeira identidade, pura e longe de falsas imagens apresentadas pelo mundo trepidante de ilusões. Entretanato, o que é preciso é deixar que Ele conduza cada um de nós para estes momentos de tertúlia celestial, isentos da agitação que nos cerca. Cumpre, porém, se dispor a escutar também Moisés a lembrar que se deve seguir sempre os dez sagrados mandamentos, para viver através deles a freternidade, assimilando os designios divinos.Pedro extasiado ante a maravilhosa visão pede para que se prolongue sua duração e solicita ao Mestre que lhe pemita erguer aí três tnedas, como era costume fazer para a festa dos Tabernáclos, com ramos de árvores. Os discípulos deveriam fixar a ordem do Pai: “Este é o meu Filho amado, no qual ponho minhas complacências. Ouvi-o.”. É deste modo que se deve viver o mistério da transfiguração. Não é só ver Jesus, mas fazer decorrer a vida com Ele. Vê-lo no cotidiano em cada um dos irmãos e nos providencias acontecimentos do dia a dia, deixando Cristo trnafigurar nossas vidas. Ele deve ser sempre nosso refúgio, nosso libertador, nossa fortaleza, nosso escudo, nele sermpre confiando. A transfiguração foi um momento inefável repleto de preciosas mensagens. Jesus deu esta ordem aos três apóstolos: “Não faleis a ninguém desta visão”. Por que Jesus impôs o silêcio a seus discípulos? É daí que vem a questão do segredo messiânico. A fé é bem aquela concernente a Cristo morto e ressuscitado, não apaenas aquela naquele que fazia coisas extraordinárias, milagres ou discursos atraentes. Jesus desejou firmar bem a fé daqueles discípulos já que depois Elle estaria morto no alto de uma cruz. A transfiguracião é uma profecia, uma antecipação do corpo glorioso de Jesus e também da esperança do que vai ocorrer com nosso corpo, se formos fiéis a Deus. Os três discípulos são os mesmo que estarão presentes no Horto das Oliveiras. Lá também se entregarão ao sono. Sono diante do espetáculo da glória final como diante do espetáculo da agonia de Cristo. Pobre humanidade. No Tabor eles são testemunhas da glorificação do Mestre divino. Esta transfiguração é para nós fanal de esperança. Nós sairemos um dia do combate dos males para contemplarmos eternamente Jesus em sua glória. Pedro já queria se instalar ante Jesus glorificado, encontrando nisto uma grande alegria. Cumpria, porém, descer da montanha e se colocar na rota para Jerusalém a cidade que veria Jesus crucificado, morto e sepultado. Grande ensinamento para nós, porque é preciso passar pelas agruras terrenas num combate espiritual constante até se chegar à glória eterna. A ordem do Pai foi clara, ou seja, é preciso sempre escutar Jesus No meio das incertezas da vida nesse mundo é preciso nos inebriarmos da expectativa que se irradia na cena da transfiguração. Até o dia de sua ressurreição Jesus pediu silêncio aos três apóstolos o que se chamou de segredo messiânico. Trata-se de fe concernente a Cristo morto e ressuscitado e não apenas a fé que provinha de fatos extraordinários, dos discurso atrativos. O Pai proclama solenemente que Jesus era o Filho bem amado e isto deve estar bem fixado no íntimo de nosso ser, no espírito do seu Seguidor. Jesus é o Senhor. É a âncora, a luz, o farol de todo cristâo. Nossa confiança em Jesus é combatida obstinadamente pelo demônio, porque ela é a vida, a salvação. À obstinação de Satã saibamos opor sempre a obstinação de nossa ilimitada confiançe em Cristo. .Assim seremos salvos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.