23 Quem me viu, viu o Pai
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
23 Quem me viu, viu o Pai
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho*
AS OVELHAS CONHCEM SUA VOZ
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
De domingo a domingo, especialmente neste tempo pascal, a liturgia da Igreja vem até nós com a mesma mensagem de esperança. Embora os tempos sejam difíceis e os anos passem com seu conjunto de provas pessoais, familiares, eclesiais. O que faz viver o seguidor de Cristo é a certeza absoluta de que Jesus está vivo, Ele é o Bom Pastor que cuida com amor suas ovelhas e que estas O conhecem, pois escutam a sua voz. Ele está presente na sua Igreja. Não nos é dado vermos a Cristo, que nós não tocamos cada dia, nem voluntariamente os sinais de sua ação, mas nós temos um meio maravilhoso de estarmos unidos a Ele, pois onde nós estamos nos basta abrirmos os ouvidos para escutar a voz do Pastor: “Minhas ovelhas escutam a minha voz e eu as conheço e elas me seguem”. É que Jesus é a porta e se alguém entrar por Ele será salvo, porque entrará e sairá e encontrará pastagem. Existe uma espécie de conivência entre as ovelhas e o pastor e a voz do pastor não é sempre uma voz que se impõe. Simplesmente de um tempo a outro o pastor fala, como que para dizer: “Eu estou lá e as ovelhas escutam minha voz e a seguem”. É bem isto que nos leva a reagir e difundir esta voz de Cristo que rediz: “Eu estou lá contigo. Eu estou lá por vós e te conheço. Eu te darei a vida eterna e jamais tu me perderás”. Nós não nos perderemos porque seremos defendidos pelo Bom Pastor. Este para nós é não somente uma voz que se faz ouvir, pois é uma mão que nos sustem e que nos protege. Jamais nada nem ninguém não poderão nos arrancar da mão de Cristo, porque o Bom Pastor nos guarda e nos protege como um presente que o Pai lhe fez: “Eles eram teus e tu os destes a mim e eu não perderei nenhum deles” (Jo 17, 6.12). Nós somos de Cristo e de Deus Pai, Ele que é maior que tudo. Ele faz e nós escutamos a voz deste Pastor, porque o Pai quer salvar o homem e assim nos deu um tal pastor para nos conduzir à vida eterna. Este Pastor, realmente, nos assegura sua presença, nos segura pela mão, a ovelha O escuta e O acompanha. Admitidos na intimidade do Pai com Cristo, por Cristo e em Cristo somos como o Bom Pastor enviados cada dia, cada hora a marchar até o final de nossa caminhada terrestre, até o dom de nós mesmos, de acordo com o que afirmou ao Apóstolo Paulo no ocurso de sua missão: “Eu fiz de ti a luz das nações, para a graças a ti a salvação chegue até as extremidades da terra” (Ac 13,47). Assim a ovelha é portadora da mensagem do Bom Pastor no horizonte de sua vida, ou seja, no seu lar, no seu trabalho, nas relações sociais, no diálogo com os amigos, em todo movimento de solidariedade e até mesmo nos instantes de solidão através da prece intensa. Extenso, portanto, o horizonte de quem escuta a voz do Bom Pastor e a segue. Uma multidão imensa de todas as nações, multidão em marcha na qual se aprende a se conhecer como ovelha arauto da mensagem sublime do Mestre divino. Muitas vezes a ovelha é provada e a prova se faz mais pesada, a fidelidade mais difícil, o desvio da rota se torna possível e a esperança se afasta de nós mesmos ou daqueles que nós amamos. O Bom Pastor, porém, é maior que tudo e não nos deixa transviar. É a ternura dele que tem a última palavras e nos dirá: “Eu estou aqui, não desanimes”! O Bom Pastor é o senhor e o salvador. Hoje em dia há numerosos falsos profetas a nos chamando a segui-os, a viver segundo suas diretrizes. Eles impõem sua concepção da vida, sua ideologia. São os mercenários que assaltam as ovelhas de Cristo para viver a custa delas. Cumpre estar atentos, refletir antes de ceder às artimanhas do maus, dos visionários e fabricantes de milagres. Jesus, o Bom Pastor fala a nosso coração para que nós vivamos de sua vida, de seu amor na plena liberdade de nosso coração. Entre as palavras de Jesus insistamos nestas: “As ovelhas reconhecem minha voz e a seguem”. Isto significa que elas O seguem porque reconhecem sua voz e, assim O amam, Lhe são gratas como devem ser. O convite de Jesus nos leva a agir como Ele e consiste a entrar na salvação e cura do mundo que tem necessidade de nossa colaboração. Agir como Cristo, estar com Cristo, ser todo dele e trabalhar para glória do Pai como Ele. Escolher caminhar nas vias do Bom Pastor e o seguir, escutar e reconhecer sua voz. Ele estará sempre conosco. Não tenhamos medo! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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FICAI CONOSCO
Côn. José Geraldo Vidigal de
Carvalho
Dois homens num rota de subúrbio (Lc
24,13-35). Dois homens que nos parecem como irmãos, mas dois crentes que
viveram antes de nós a ventura da fé. Tudo começa para eles por uma sublime iniciativa
de Jesus. Eles esperavam, entretanto agora não esperam mais. A libertação
política de Israel não se dera: o profeta Cristo estava morto sem resistência ao
suplício reservado aos criminosos, em algumas horas, nas porta da cidade; era o
fracasso em todo sentido, pois a morte vencera uma vez mais. Bem que houvera
uma réstea de esperança: mulheres do grupo pretendiam que Jesus estava vivo.
Tudo que se sabia era que o túmulo estava vazio: alguns foram até lá, mas Ele,
o divino Mestre, não O tenham visto. Eis o que pode acontecer a cada um de nós.
Nós ouvimos falar do Ressuscitado, nós acolhemos o testemunho da comunidade de
Jesus, mas Ele nós não O vemos. Nós O cremos longe, dia após dia, porém. Ele
toma conosco a iniciativa do diálogo. Esta iniciativa de amor tomada por Jesus
torna possíveis o reencontro e o reconhecimento progressivos. O desconhecido
que se junta aos dois discípulos não os cega com sua glória, como São Paulo
ficara cego no rota de Damasco, nem lhes mostra suas mãos e seus pés. Ele não
lhes dá uma evidência fácil, mas os incentiva a escutar uma palavra já dita por
Deus. Uma palavra que comenta divinamente a história de Jesus de Nazaré e que
revela o sentido do que havia ocorrido. Aprouve
a Deus salvar o mundo pela loucura da Cruz, reservando a Jesus o destino
misterioso de Servidor sofredor; mas a loucura de Deus é a suprema sabedoria
para a salvação dos homens. Para a feliz redenção. Todo ao longo do caminho está
catequese de Jesus modifica o olhar dos discípulos, mas eles não percebem imediatamente
o calor de seu coração, nem a claridade que penetrou neles. Eles vão
compreender pouco a pouco. Eles têm suficiente sede da luz para possuir Aquele
que a oferece, mas eles não o reconhecerão senão no momento em que a liturgia
da palavra brilhará na fração do pão, no momento da palavra que os introduzirá
no sacramento, mistério da amizade. Amizade que se torna o convite e o
convidado oferece em partilha sua própria carne. Este momento, porém, momento
supremo é aquele da separação. Como Maria Madalena os dois homens de Emaús
devem perceber a presença na ausência, penetrando fundo na palavra do amigo.
Não se trata de ver, de tocar, de sentir a proximidade, mas trata-se, pela
palavra e pelo sacramento, de se penetrar profundamente na vida do
ressuscitado. Assim, a iniciativa de
Cristo se abre uma vez mais a um reencontro pessoal e vivificante com Ele.
Entretanto, imediatamente este diálogo com o Ressuscitado se desdobra em missão
e em testemunho. Eles tinham partido dando as costas à cidade do fracasso, abandonando
os irmãos em sua solidão. Tendo, porém, encontrado Jesus, ele retornam de
imediato para a comunidade que tinham abandonado. Eles tinham fugido da fraternidade desamparada,
fixado sobre a lembrança de um morto, mas agora eles encontraram o Vencedor da
morte eles se tornam para sempre solidários daqueles que creem em Jesus
ressuscitado. Voltaram a Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os que
estavam com eles. Belas lições desta passagem dos peregrinos de Emaús. Da
decepção passam eles para o júbilo mais esfuziante ante o encontro com Jesus.
De tristes e sem coragem, se tornam vibrantes, entusiastas comunicativos, pois
viram o Messias que devia salvar Israel e toda a humanidade. Note-se que Jesus
chegou a eles lá onde eles menos o esperavam, ou seja, no meio de seu caminho, no
meio de seu desespero. Estavam centrados na sua decepção, no seu sofrimento
pessoal, a ponto de não reconhecerem de pronto o Senhor. Seus olhos estava
obnubilados e não viram Jesus. Estes teve toda paciência e perseverança para os
fazer compreender o que havia de acontecer e, de fato, ocorreu. Jesus caminhou
com eles, chegou até um vilarejo e fez que ia continuar o caminho e sabia bem
que nesse momento seus corações estavam tocados e que eles tinham desejo de
saber mais, de falar mais com Ele. Jesus teria podido entrar diretamente com
eles na casa, mas lhes ofereceu a ocasião de O convidar para isto. Jesus não se
impõe, ele se propõe! É o discípulo que deve desejar estar perto dele. Ele
respeita sempre a liberdade humana de seu seguidor. Ele então pôde se revelar
na fração do pão, porque os seus coações então estavam preparados. Eles estavam
descentralizados de si mesmos e podiam receber a verdade da presença de Deus.
Eles estão agora prontos para reconhecer o Senhor ressuscitado. Jesus pôde
então desaparecer porque sua presença estava viva pela fé no fundo de seus
coações. Esta verdade, esta Boa Nova é então fonte de profunda alegria e eles
vão ser arautos de tudo isto. Este episódio deve tocar profundamente nossa vida
espiritual com todas essas mensagens. Jesus está presente na Hóstia consagrada
e cumpre viver esta realidade em plenitude, vivificando com ela a nossa vida
diária. Como os discípulos de Emaús digamos sempre a Jesus “ficai conosco Senhor
Jesus” Professor no Seminário da Mariana
durante 40 anos.