quinta-feira, 27 de abril de 2023

 23 Quem me viu, viu o Pai

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Jesus disse aos apóstolos: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,1-1-12. Assim sendo, que nosso o coração se deixe de agitar, isto é, nossa inteligência e afetividade. Antes de tudo,  o temor pela partida de Jesus para junto do Pai. Um novo isolamento tomava conta dos amigos de Cristo, em um mundo hostil que vai se voltar contra eles e lhes fará pagar sua amizade pelo Messias. A solidão do coração é a tentação de viver como órfãos, a tentação da tristeza, como dirá ainda Jesus. Em resposta a este receio, Jesus dirá :”Crede  em Deus, crede também em mim”, de fato quem O viu, viu também o Pai. Trata-se, portanto da fé especificamente cristã, pois a fé implica uma real união viva com Deus, o Pai, e com Jesus seu Filho, como Ele  afirmou, com razão,  que ninguém vai ao Pai senão por Ele. O antídoto para a agitação do coração, no limite da esperança, o medo de morrer ou de viver, é   ir ao Pai por Jesus e a propósito desta grande passagem ao Pai, Jesus declara sucessivamente seu papel pessoal e a parte que nos cabe. Jesus passa além, através da morte e, uma vez na glória, na casa do Pai, Ele prepara um lugar para nós. O lugar não faltará para ninguém, Ele o garante, pois Ele voltará para nos levar consigo, se estivermos sempre com Ele lá onde Ele está, na mansão da glória. Quando Ele voltará? Aqui é o conjunto do Evangelho de São João que nos responde, lembrando-nos as três vindas do Ressuscitado, a saber, suas aparições nas aparições dos primeiros dias depois de sua ida gloriosa,  e entre as duas, sua vinda cada dia para fazer em nós sua morada. Cada dia, com efeito, Cristo vem a  nós para nos tomar com Ele, e nós nos aproximarmos, pouco a pouco, do lugar para onde Ele foi, Deste modo temos nossa parte neste glorioso caminhar, restando sempre a caminho e nunca perdendo a rota, pois Ele disse que o lugar para onde Ele foi, nós sabemos a passagem. O único caminho o que  conduz para a casa da glória,  para o Pai da glória é Jesus, Ele mesmo que é de uma só vez o caminho que guia e a rota que conduz Ele mesmo.  Ele é mesmo paradoxalmente de uma só vez o caminho que orienta e que fortifica o caminheiro, porque é no mistério    de sua Pessoa, que está toda a verdade oferecida por Deus e toda a vida que Ele oferece em partilha. Ele é sempre o “Caminho, a Verdade e a Vida”. Assim sendo, no caminho que é Cristo e por Cristo, nosso caminho, é que nós vivemos já dos bens da casa da glória que nos é preparada, pois, Jesus e o Pai veem a nós para nos fazer em nós suas moradas. É o mistério da dupla morada, a morada em Deus e a morada em nós que fascinou por, exemplo Elisabeth Leseur, no que dizia respeito sobre seu caminho tão curto, a ponto dela dizer à Santíssimo Trindade: “Pacificai minha alma fazei nela vosso céu, vossa mansão amada e o lugar de vosso repouso] ...] Escondei vós em mim, para que eu me esconda em Vós, aguardando ir contemplar em vossa luz o abismo de vossas grandezas”. Crer, pois em Jesus é crer que Ele está morto e ressuscitado, é crer que Ele tem uma vida além mundo e crer que Ele nos aguarda para junto dele e do Pai nos acolher. Portanto, a vida eterna existe e nós devemos tomar a rota desde agora. Este caminho é o do amor incondicional a Deus e ao próximo, dado que Jesus deixou este mandamento. Examinemo-nos sempre se trilhamos esta vereda sagrada.  Aí encontraremos a serenidade e o júbilo ao longo de um rio de paz junto de seu Coração ressuscitado, lá no nosso coração tantas vezes agitado e inquieto, tantas vezes tomado por também por uma atividade febril e vã. Temos que lutar contra a agitação, o enervamento, o constrangimento. Paira a mentira que infecta a mente dos homens, fazendo-os confundir o mal e o bem, levando-os a perder a luz pela obscuridade e obscuridade pela luz e semeando em suas almas a dúvida e o ceticismo que apagam a manifestação da esperança em um horizonte de plenitude que nosso mundo, com seus atrativos não sabe nem pode lhes dar. Os frutos desta diabólica situação são bem evidentes. Esquecidos de que apenas Jesus é o caminho e verdade e a vida. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

segunda-feira, 17 de abril de 2023

 AS OVELHAS CONHCEM SUA VOZ

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

De domingo a domingo, especialmente neste tempo pascal, a liturgia da Igreja vem até nós com a mesma mensagem de esperança. Embora os tempos sejam difíceis e os anos passem com seu conjunto de provas pessoais, familiares, eclesiais. O que faz viver o seguidor de Cristo é a certeza absoluta de que Jesus está vivo, Ele é o Bom Pastor que cuida com amor suas ovelhas e que estas O conhecem, pois escutam a sua voz. Ele está presente na sua Igreja. Não nos é dado vermos a Cristo, que nós não tocamos cada dia, nem voluntariamente os sinais de sua ação, mas nós temos um meio maravilhoso de estarmos unidos a Ele, pois onde nós estamos nos basta abrirmos os ouvidos para escutar a voz do Pastor: “Minhas ovelhas escutam a minha voz e eu as conheço e elas me seguem”. É que Jesus é a porta e se alguém entrar por Ele será salvo, porque entrará e sairá e encontrará pastagem. Existe uma espécie de conivência entre as ovelhas e o pastor e a voz do pastor não é sempre uma voz que se impõe. Simplesmente de um tempo a outro o pastor fala, como que para dizer: “Eu estou lá e as ovelhas escutam minha voz e a seguem”. É bem isto que nos leva a reagir e difundir esta voz de Cristo que rediz: “Eu estou lá contigo. Eu estou lá por vós e te conheço. Eu te darei a vida eterna e jamais tu me perderás”. Nós não nos perderemos porque seremos defendidos pelo Bom Pastor. Este para nós é não somente uma voz que se faz ouvir, pois é uma mão que nos sustem e que nos protege. Jamais nada nem ninguém não poderão nos arrancar da mão de Cristo, porque o Bom Pastor nos guarda e nos protege como um presente que o Pai lhe fez: “Eles eram teus e tu os destes a mim e eu não perderei nenhum deles” (Jo 17, 6.12). Nós somos de Cristo e de Deus Pai, Ele que é maior que tudo. Ele faz e nós escutamos a voz deste Pastor, porque o Pai quer salvar o homem e assim nos deu um tal pastor para nos conduzir à vida eterna. Este Pastor, realmente, nos assegura sua presença, nos segura pela mão, a ovelha O escuta e O acompanha. Admitidos na intimidade do Pai com Cristo, por Cristo e em Cristo somos como o Bom Pastor enviados cada dia, cada hora a marchar até o final de nossa caminhada terrestre, até o dom de nós mesmos, de acordo com o que afirmou ao Apóstolo Paulo no ocurso de sua missão: “Eu fiz de ti a luz das nações, para a graças a ti a salvação chegue até as extremidades da terra” (Ac 13,47). Assim a ovelha é portadora da mensagem do Bom Pastor no horizonte de sua vida, ou seja, no seu lar, no seu trabalho, nas relações sociais, no diálogo com os amigos, em todo movimento de solidariedade e até mesmo nos instantes de solidão através da prece intensa.  Extenso, portanto, o horizonte de quem escuta a voz do Bom Pastor e a segue.  Uma multidão imensa de todas as nações, multidão em marcha na qual se aprende a se conhecer como ovelha arauto da mensagem sublime do Mestre divino.  Muitas vezes a ovelha é provada e a prova se faz mais pesada, a fidelidade mais difícil, o desvio da rota se torna possível e a esperança se afasta de nós mesmos ou daqueles que nós amamos.  O Bom Pastor, porém, é maior que tudo e não nos deixa transviar. É a ternura dele que tem a última palavras e nos dirá: “Eu estou aqui, não desanimes”!     O Bom Pastor é o senhor e o salvador. Hoje em dia há numerosos falsos profetas a nos chamando a segui-os, a viver segundo suas diretrizes. Eles impõem sua concepção da vida, sua ideologia.  São os mercenários que assaltam as ovelhas de Cristo para viver a custa delas. Cumpre estar atentos, refletir antes de ceder às artimanhas do maus, dos visionários e fabricantes de milagres. Jesus, o Bom Pastor fala a nosso coração para que nós vivamos de sua vida, de seu amor na plena liberdade de nosso coração. Entre as palavras de Jesus insistamos nestas: “As ovelhas reconhecem minha voz e a seguem”. Isto significa que elas O seguem porque reconhecem sua voz e, assim O amam, Lhe são gratas como devem ser. O convite de Jesus nos leva a agir como Ele e consiste a entrar na salvação e cura do mundo que tem necessidade de nossa colaboração. Agir como Cristo, estar com Cristo, ser todo dele e trabalhar para glória do Pai como Ele. Escolher caminhar nas vias do Bom Pastor e o seguir, escutar e reconhecer sua voz. Ele estará sempre conosco. Não tenhamos medo! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 6 de abril de 2023

 

18 FICAI CONOSCO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

Dois homens num rota de subúrbio (Lc 24,13-35). Dois homens que nos parecem como irmãos, mas dois crentes que viveram antes de nós a ventura da fé. Tudo começa para eles por uma sublime iniciativa de Jesus. Eles esperavam, entretanto agora não esperam mais. A libertação política de Israel não se dera: o profeta Cristo estava morto sem resistência ao suplício reservado aos criminosos, em algumas horas, nas porta da cidade; era o fracasso em todo sentido, pois a morte vencera uma vez mais. Bem que houvera uma réstea de esperança: mulheres do grupo pretendiam que Jesus estava vivo. Tudo que se sabia era que o túmulo estava vazio: alguns foram até lá, mas Ele, o divino Mestre, não O tenham visto. Eis o que pode acontecer a cada um de nós. Nós ouvimos falar do Ressuscitado, nós acolhemos o testemunho da comunidade de Jesus, mas Ele nós não O vemos. Nós O cremos longe, dia após dia, porém. Ele toma conosco a iniciativa do diálogo. Esta iniciativa de amor tomada por Jesus torna possíveis o reencontro e o reconhecimento progressivos. O desconhecido que se junta aos dois discípulos não os cega com sua glória, como São Paulo ficara cego no rota de Damasco, nem lhes mostra suas mãos e seus pés. Ele não lhes dá uma evidência fácil, mas os incentiva a escutar uma palavra já dita por Deus. Uma palavra que comenta divinamente a história de Jesus de Nazaré e que revela o sentido do que havia ocorrido.  Aprouve a Deus salvar o mundo pela loucura da Cruz, reservando a Jesus o destino misterioso de Servidor sofredor; mas a loucura de Deus é a suprema sabedoria para a salvação dos homens. Para a feliz redenção. Todo ao longo do caminho está catequese de Jesus modifica o olhar dos discípulos, mas eles não percebem imediatamente o calor de seu coração, nem a claridade que penetrou neles. Eles vão compreender pouco a pouco. Eles têm suficiente sede da luz para possuir Aquele que a oferece, mas eles não o reconhecerão senão no momento em que a liturgia da palavra brilhará na fração do pão, no momento da palavra que os introduzirá no sacramento, mistério da amizade. Amizade que se torna o convite e o convidado oferece em partilha sua própria carne. Este momento, porém, momento supremo é aquele da separação. Como Maria Madalena os dois homens de Emaús devem perceber a presença na ausência, penetrando fundo na palavra do amigo. Não se trata de ver, de tocar, de sentir a proximidade, mas trata-se, pela palavra e pelo sacramento, de se penetrar profundamente na vida do ressuscitado.  Assim, a iniciativa de Cristo se abre uma vez mais a um reencontro pessoal e vivificante com Ele. Entretanto, imediatamente este diálogo com o Ressuscitado se desdobra em missão e em testemunho. Eles tinham partido dando as costas à cidade do fracasso, abandonando os irmãos em sua solidão. Tendo, porém, encontrado Jesus, ele retornam de imediato para a comunidade que tinham abandonado.  Eles tinham fugido da fraternidade desamparada, fixado sobre a lembrança de um morto, mas agora eles encontraram o Vencedor da morte eles se tornam para sempre solidários daqueles que creem em Jesus ressuscitado. Voltaram a Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os que estavam com eles. Belas lições desta passagem dos peregrinos de Emaús. Da decepção passam eles para o júbilo mais esfuziante ante o encontro com Jesus. De tristes e sem coragem, se tornam vibrantes, entusiastas comunicativos, pois viram o Messias que devia salvar Israel e toda a humanidade. Note-se que Jesus chegou a eles lá onde eles menos o esperavam, ou seja, no meio de seu caminho, no meio de seu desespero. Estavam centrados na sua decepção, no seu sofrimento pessoal, a ponto de não reconhecerem de pronto o Senhor. Seus olhos estava obnubilados e não viram Jesus. Estes teve toda paciência e perseverança para os fazer compreender o que havia de acontecer e, de fato, ocorreu. Jesus caminhou com eles, chegou até um vilarejo e fez que ia continuar o caminho e sabia bem que nesse momento seus corações estavam tocados e que eles tinham desejo de saber mais, de falar mais com Ele. Jesus teria podido entrar diretamente com eles na casa, mas lhes ofereceu a ocasião de O convidar para isto. Jesus não se impõe, ele se propõe! É o discípulo que deve desejar estar perto dele. Ele respeita sempre a liberdade humana de seu seguidor. Ele então pôde se revelar na fração do pão, porque os seus coações então estavam preparados. Eles estavam descentralizados de si mesmos e podiam receber a verdade da presença de Deus. Eles estão agora prontos para reconhecer o Senhor ressuscitado. Jesus pôde então desaparecer porque sua presença estava viva pela fé no fundo de seus coações. Esta verdade, esta Boa Nova é então fonte de profunda alegria e eles vão ser arautos de tudo isto. Este episódio deve tocar profundamente nossa vida espiritual com todas essas mensagens. Jesus está presente na Hóstia consagrada e cumpre viver esta realidade em plenitude, vivificando com ela a nossa vida diária. Como os discípulos de Emaús digamos sempre a Jesus “ficai conosco Senhor Jesus” Professor no Seminário da Mariana durante 40 anos.