sábado, 31 de dezembro de 2022

 

EIS O CORDEIRO DE DEUS

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

No Evangelho de hoje temos o testemunho de João Batista referente diretamente a Jesus (Jo 1,29-34). Toda uma visão de fé quanto à pessoa de Cristo e de sua obra colocada em alguns versículos nos lábios do Precursor. Com efeito, o Evangelista apresenta Jesus sucessivamente como o Cordeiro de Deus, um personagem existindo depois de tempos imemoriais, o portador do Espírito Santo, o Eleito e o Filho de Deus. A figura do Cordeiro de Deus é ela só um resumo da história da Aliança, dado que ela evoca de uma só vez o cordeiro pascal do Êxodo, cujo sangue, projetado sobre as colunas da porta de cada casa dos hebreus, indicava a noite de sua libertação, o Servidor sofredor que descreve o profeta Isaias, conduzido ao matadouro como o cordeiro e isto por causa dos pecados de seu povo, o cordeiro vencedor que, segundo os apocalipses judeus, devia destruir o mal no mundo. Quanto a preexistência de Jesus, o Enviado de Deus, é um tema bem joanino.  Jesus dirá um dia aos fariseus: “Antes que Abraão existisse, eu sou “(Jo 8,58); e na sua oração da última tarde ao Pai, ele rezará dizendo: “Pai glorifica-me junto de ti com aquela glória que eu tinha junto de tí antes que o mundo existisse” (17,5). O que lembra a afirmação do Prólogo: “no começo era o Verbo”; desde sempre era. O Filho de Deus. Enfim, o Evangelista acentua que o Espírito desceu sobre Jesus no batismo e permaneceu sobre Ele. Jesus, por conseguinte, possuía permanentemente o Espírito Santo durante sua vida terrestre, mesmo que Ele tenha esperado sua hora, a hora de sua paixão e de sua glorificação para transmitir o Espirito aos homens vindos até Ele pela fé. O livro de Isaias anunciava já que o Espírito do Senhor repousaria sobre o Messias, saído do trono de  Jessé e que Deus colocaria seu Espírito sobre seu servidor, o Eleito que teria toda sua complacência. Deste modo, desde o início do Evangelho, o Precursor com insistência volta nosso olhar para Jesus, o Enviado, o Filho de Deus, e nos rediz simplesmente : ” Ele, somente Ele , é Ele que o Pai santificou e enviou ao mundo (10,365), é a Ele  que é preciso servir,  se queremos construir a paz, é Ele que é preciso amar com todas as nossas forças, com todo nosso espírito, com todo o nosso coração (Dt 6,5), é Ele que Deus nos dá com o salvador, como irmão, como companheiro de caminhada, é Ele que  que tudo  toma sem nada reclamar”. Estes testemunho do Batista marcou o ponto de partida da fé em Jesus, Messias, Filho de Deus. Os cristãos sempre guardaram esta lembrança e eis porque tantos pintores, tantos artistas representaram João Batista com o dedo apontando para Jesus, como que para repetir a cada geração dos que creem o que ele dizia a seus contemporâneos: “Há entre vós alguém que não conheceis: É Ele o Cordeiro de Deus. Eis porque também nas Missas o sacerdote mostrando o Corpo de Cristo, retoma as mesmas palavras do Percursor: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!”. E todos juntos, antes de comungar dizem duas vezes a uma só voz: “Cordeiro de Deus, tem piedade de nós!”. Piedade de nós, “pobres pecadores”, se mostram a uma só voz doce e muito forte. Doce porque o Filho de Deus é capaz de júbilo com seu perdão, não obstante nossa miséria, ainda que tenhamos caído fundo no pecado, na miséria, no desespero. Muito forte, porque esta piedade de Jesus tira o peado do mundo que está dentro do coração. Ele é vitória sobre o mal e não nos deixa estancar na recusa do bem próximo dela: ela nos coloca de pé, nos põe em caminho. Jesus meigo nos diz: “Vem para o Pai!”  Cordeiro de Deus” tem piedade de nós” é nossa prece de cristãos de qualquer idade. É a prece dos jovens: “Tu que salvas todos os homens, faze de mim um irmão universal”. É a prece dos esposos cristãos: “Tu que te imolaste até à morte, tu que morreste por nós dois, tomai-nos, em tua piedade, tomai nosso amor no teu amor, coloca teu amor no coração do nosso amor. É a prece confiante dos idosos: “Cordeiro de Deus, tu que tão frequentemente pendoaste minhas misérias e minhas lentidões, dá-me o tempo de me imergir de minha parte na tua misericórdia. É a prece de toda a comunidade no momento em que Cristo vem se unir a todos os irmãos, em seu único Corpo: “Cordeiro de Deus, vencedor do mal, vem habitar nossas diferenças, vem triunfar de nossas indiferenças. Tu que te entregas por nós, coloca em nós a sede da unidade”. Trata-se de uma prece universal e de todos aqueles que nela se contemplam amargurados porque testemunham o Evangelho: “Jesus, de todos os povos e de todos os homens de boa vontade, dá-nos a paz. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

 02 A ESTRELA DOS MAGOS Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* No Evangelho de São Mateus os dois primeiros capítulos, denominados frequentemente evangelho da Infância, constituem uma espécie de prólogo, mesclando os acontecimentos e sua interpretação teológica como bem observa. Jean-Christian Lévêque, notável hermeneuta. É preciso então partir da significação religiosa da narrativa para apreciar os detalhes em função da visão global. O texto de hoje (Mt 2, 1-12) consagrado à visita dos Magos, continua no Evangelho de São Mateus com três outros episódios: a fuga pera o Egito, o massacre dos meninos inocentes e a ida da Sagrada Família para Nazaré. Excetuando-se Jesus, o personagem central nestas passagens do Evangelho é Herodes, o cruel,  cioso de seu poder. O fio que liga as quatro cenas é   o conflito entre dos reis, a saber o velho déspota e “Jesus o Messias o rei dos Judeus, que acabara de nascer” (Mt 2,2). O Rei Herodes, bem conhecido dos historiadores, é para o evangelista Mateus o símbolo da recusa em acolher Cristo e sua mensagem e, desse modo, é todo o destino de Jesus que nos é apesentado desde o prólogo deste evangelista. Jesus acolhido pelos homens de boa vontade, será rejeitado pelos responsáveis de seu povo. Outro tema teológico está baseado na vinda dos Magos, Ele que veio trazer uma salvação universal. De fato, são pagãos que se apresentam em Jerusalém, procurando o rei dos Judeus, são eles que retomam o caminho, sempre guiados por uma estrela e vão até Belém, entram na casa e adoram o   Menino nele vendo o Salvador. A partir deste encontro com Jesus os Magos se tornam crentes, rompendo com Herodes. Deus os adverte, agora não por um astro, mas por um anjo, como Ele faz com seus eleitos. Rebrilha assim, de fato, uma teologia da salvação e os detalhes do texto recebem seu verdadeiro valor. Nossa fé cristã repousa em definitivo não sobre um fundo histórico impossível de se deduzir dos   textos atuais, mas sim sobre os testemunhos dos diversos discípulos, testemunhos dados ao mesmo Cristo através de imagens vindas da tradição de Israel. Os Magos, vindos do Oriente são sábios, persas ou babilônios, provavelmente astrônomos, que puderam, talvez, ter tido contato com o messianismo israelita no comercio de Babilônia, anda florescente na época. Através deles é o mundo da ciência que se coloca em marcha para Cristo, o Messias, é o universo dos pagãos   que se volta para a luz do Evangelhos. Nada nos diz que eles eram três, senão talvez o número dos presentes, mas é certo que eles não eram reis e assim não serão na tradição cristã, antes do Livro armênio da Infância, datado do 6ª. século. No que concerne à estrela, qualquer que seja o ponto de partida material e a observação de base, o essencial é que o texto sublinha que os sábios viram na estrela um sinal, retomando assim a tradição judia, que considerava o Astro surgido da tribo de Jacó como como um dos símbolos do Messias esperado. Já os teólogos da Idade Média, no seu sólido bom senso, tinham notado que não poderia se tratar de um corpo celeste ordinário, pois que seu brilho era intermitente e se movimento descontínuo. O traço messiânico de toda a cena é por outra sublinhado pelo texto do profeta Miquéias, que os escribas citam imediatamente junto da pessoa de Herodes: “E tu Belém de Éfrata, tão pequena entre as principais cidade de Judá, de ti sairá para mim aquele que dominará em Israel” (Mq 5,1). Prosseguindo na leitura da profecia de Miquéias se chega ao presépio e aos confins do mundo:” Ele tem suas origens desde os tempos anteriores. Desde os dias mais remotos. Por isto os entregará à mercê de outrem até o tempo em que dê a luz aquela que há de dar à luz e o resto de seus irmãos voltará com os filhos de Israel. Ele permanecerá firme e governará com a força do Senhor e com a majestade do nome de Javé seu   Deus. Viver-se-á em paz, porque então ela será grande até os extremos confins da terra. S tal será a paz “. Deste modo. Para São Mateus a chegada dos Magos a Belém, guiados pela Estela, anunciou a missão de Cristo, marcou o cumprimento das promessas da antiga aliança. Os Magos chegando não viram senão uma criança, mas o Evangelista, pela sua narrativa, clara e ao mesmo tempo sugestiva, lembrava à comunidade o que a fé deve ver aquele menino, a saber o Pastor do povo de Deus, o único guia      para a salvação e aquele que trouxe a paz ao mundo. A narrativa de São Mateus deixa igualmente entrever que o destino de Jesus seria marcado pelo drama da descrença. Herodes não pensava senão no poder e se faz perseguidor, porque só lhe interessava a construção das cidades terrena. Os escribas conheciam a fundo as Escritura, sabiam de cor o catecismo das profecias   messiânicas, mas não se mexeram. Os estrangeiros, eles sim, souberam trilhar o caminho, souberam perceber os sinais de Deus na sua vida e no fundo de sua ciência. No encontro do Menino Jesus e do ódio São Mateus discerne já o mistério de Cristo sinal de contradição. Perante o Menino e os sábios, o Evangelista vê prefigurado Cristo, Verdade de Deus. Quanto a nós, se recebemos tudo isto como uma catequese bíblica sobre os acontecimentos da Infâmia do Messias, nós podemos descobrir então o apelo de Jesus para que tenhamos uma fé adulta. Hoje ainda é necessário aceitar que a esperança venha ao mundo através da humildade do Filho de Deus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

 LUZ QUR ILUMINA TODAS AS GENTES  Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Natal! Qual é a natureza a desta solenidade?  Festejamos o nascimento de uma criança. Este Menino que é Deus em pessoa. Um nascimento como todos os outros, mas um nascimento extraordinário, que foi assumido pela maternidade e na virgindade, A maternidade de Maria que nos festejaremos daqui a uma semana no dia primeiro de Janeiro de 2023. Maternidade divina que termina na oitava do Natal e que abrirá o ano civil, ano da graça de 2023, maternidade assumida numa virgindade, no ser mesmo de Maria a qual fora Imaculada em sua Conceição. Jesus é verdadeiramente um homem, mas cuja pessoa é divina. Não é Deus que vem em uma pessoa é a segunda Pessoa da Trindade, o Filho, o Verbo, o Único, gerado, não criado, que toma carne de Maria e neste momento sua alma humana é criada e Jesus terá esta dupla vontade, que não é de uma vontade divina na sua única Pessoa que é a Pessoa do Verbo a qual assume a natureza humana que obedece, que entra em comunhão íntima com a Pessoa do Verbo.  É o que se chama “comunicação dos idiomas”: tudo o que podia passar da divindade na humanidade e da humanidade na divindade se realiza na Pessoa do Verbo e, dizendo isto, estamos no limiar do Mistério e não seremos nunca capazes de explicar na sua totalidades quem é Jesus ou quem é a Trindade. Deus nos ultrapassa e ultrapassará sempre, mas a revelação que Deus nos oferece sobre seu ser e nosso próprio ser nos introduz realmente neste nosso   conhecimento e em nossa comunhão com Ele. A luz de Deus e a grandeza de Deus nos ultrapassa. Nós somos chamados a entrar neste Mistério de amor do qual não somos a fonte, mas os beneficiários. Devemos nele adorar a Deus, pois “o Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14) Como diz São Paulo, “dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. (“Rm11,36), Ele é, de fato, a luz quer ilumina todas as gentes. Em Jesus Deus se faz vulnerável, e o Todo-Poderoso se torna uma pequena criança, se faz semelhante a nós, e a Ele acessível. Ele esconde sua glória, seu poder. Deus não tem necessidade de mostrar seu poder, como nós os seres fracos que temos por vezes a precisão de nos mostrar fortes, não obstante nossa fraqueza. Nós somos convidados a escutar a Palavra, o Verbo de Deus que nos é dirigida neste seu Natal. A voz do Senhor que fala ao nosso coração. Deus nos fala sem cessar. Ele fala à nossa consciência. Temos uma alma espiritual, o que caracteriza nessa pessoa.  Somos chamados a escutar, a receber o Verbo que vem até nós. Como Maria saibamos O acolher.  Portanto, receber Jesus, contemplá-lo e escutá-lo o que Ele nos quer dizer neste seu Natal. Procurar sabem o que Ele solicita de nossa vida pessoal, o que podemos melhorar em nossa existência cristã, para que sua palavra seja fecunda em nossa vida. Jesus é sempre fonte de vida, vida que é luz. O Natal nos convida a sermos luz, canais que transmitem a vida divina aos irmãos e irmãs, ajudando-os a crescer espiritualmente. Cumpre levar por toda parte Jesus que é a fonte de vida, a plenitude da vida. Ele que transfigura nossa existência. Acolhamos o Menino Deus com fé, com respeito e muito amor. Deixemo-nos transformar por esta Palavra que se fez carne e habitou entre nós e se fez o nosso Salvador. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos