segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

GUIADOS POR UMA ESTRELA


 

GUIADOS POR UMA ESTRELA

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A solenidade da Epifania mostra o divino Redentor a se revelar a todas as nações pagãs chamadas também elas a integrar o único povo messiânico. Admirável a atitude daqueles sábios que, tendo visto uma nova estrela deixaram seu país, seu conforto, suas riquezas, interpretando naquele astro um sinal de uma manifestação de Deus. Sem conhecerem as Escrituras e os tesouros da revelação bíblica, corajosamente partiram rumo a algo desconhecido, patenteando uma total disponibilidade na busca da verdade atinente ao Ser Supremo. Este, de fato, através de diversos meios chama a todos para o júbilo do encontro com sua presença. Aqueles estudiosos da ciência dos astros, astrônomos perspicazes, receberam um impulso de uma estrela usada pelo Espírito da Verdade que os levaria a uma pobre casa de um carpinteiro, onde estava uma criancinha com Maria sua mãe. Com a visita dos magos, porém, reascendeu o ânimo perverso do tirano Herodes que logo intentou assassinar aquele que salvaria não apenas o povo de Israel, mas toda a humanidade.  Herodes o cruel, temeroso pelo seu poder, forçaria a fuga da Sagrada Família para o Egito.  Felizes, contudo, foram os Magos que com perseverança chegaram até o Redentor. Pela fé descobriram sob a aparência de um menino a majestade daquele que era o Deus feito homem e lhe ofereceram ouro. Prestaram também suas homenagens bem simbolizadas no incenso e anteviram as perseguições que sofreria representadas na mirra. Decodificaram magnificamente o significado teológico daquele encontro. Eis porque avisados em sonho, não mais por uma estrela, mas por um anjo, não regressaram a Herodes e retornaram por outro caminho para sua terra. Deixaram, entretanto, a magna lição de que a salvação que aquela criança ofereceria seria universal e eles abriam o caminho de todos aqueles que se converteriam. Através deles era igualmente o mundo da ciência que se colocava em marcha para Cristo, o Messias. Este mais tarde, elevado na Cruz atrairia a Ele inúmeros seguidores de todas as raças e nações, iluminando-os com a luz do Evangelho. O conteúdo messiânico de todos estes fatos envolvendo a visita dos Magos ficou bem ressaltado pela referência que os grão-sacerdotes e os escribas do povo haviam relatado a Herodes atinente à profecia de Miquéias (Miq 5,1-3). Esse predissera que seria de Belém que sairia um Príncipe que haveria de reger o povo de Israel. A chegada dos Magos em Belém marcou o cumprimento das promessas da antiga aliança e, ao mesmo tempo, anunciou a missão de Cristo, o Pastor do Povo de Deus, Aquele que traria a paz a todo o mundo. Entre muitos judeus reinaria a descrença com relação ao mistério de Jesus, como foi o caso do ambicioso Herodes. Os escribas conheciam a fundo as Escrituras e nelas as profecias messiânicas, mas não captaram sua realização naquele instante histórico. Para muitos Cristo seria sempre um sinal de contradição. Quanto a nós é preciso que penetremos fundo nas mensagens da Epifania, vendo nela uma catequese bíblica sobre o papel que Jesus deve exercer em nossas vidas e tal é o seu apelo, ou seja, que tenhamos uma fé adulta como tiveram os Magos, Maria e José. Estes foram os notáveis atores do episódio hoje recordado, protagonistas de uma atitude de fé e de muito amor ao divino Infante. Cumpre aceitar a esperança que vem a este mundo através da pobreza do Filho de Deus. Os Magos não se acomodaram quando perderam o contato com a estrela. Com efeito, procuraram, indagaram, se alegraram com o reaparecimento do sinal celeste e tiveram o júbilo de um final feliz de todos os seus esforços. Jesus recém-nascido oferecia ensinamentos de desapego de bens materiais, de humildade e, um dia, lá no Calvário seria reconhecido como Rei dos Judeus.  Além disto, milhares por toda parte em todos os séculos viveriam em função dele, praticando seus ensinamentos.  Maria e José que receberam os Magos continuam através dos tempos a recepcionar os que acatam Jesus como seu Salvador, abrindo a inteligência e o coração dos que procuram com sinceridade o sentido mais profundo do mistério redentor. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

JESUS SUBMISSO A MARIA E JOSÉ


JESUS SUBMISSO A MARIA E A JOSÉ

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Após o reencontro de Jesus no templo de Jerusalém, Ele voltou para Nazaré e era submisso a Maria e a José (Luc 2,41-52). A Sagrada Família proporciona, como belo jardim onde florescem as flores das mais excelsas virtudes, exemplos atualíssimos para os que constituem um lar cristão. Este deve ser o reflexo da casa de Nazaré onde viveu Jesus e que apresenta lições magníficas de eficácia prática profundamente formativa.  Lá se deu uma vida doméstica consagrada com notáveis virtudes. Esta solenidade vem então lembrar aos pais sua missão de educadores, imitando a Maria e a José a quem Jesus, enquanto homem, obedecia inteiramente.  Como registrou São Lucas, junto de seus pais “Jesus crescia em sabedoria, estatura e em graça diante de Deus e dos homens”. É certo que Ele possuía a plenitude da ciência, sabedoria infinita que era, mas no exterior demonstrava a cada dia um desenvolvimento do qual seus pais eram instrumentos visíveis. O ideal de todos os pais é que seus filhos cresçam sempre buscando a perfeição. Grande a responsabilidade paterna e materna nesta missão sublime. Hoje, felizmente, os pais estão cada vez mais conscientes de que devem se empenhar para dar aos filhos sábio itinerário sem omissões que poderiam ser fatais. Filhos e filhas esperam um influxo benéfico do pai e da mãe e é deste modo que a família pode atingir sua finalidade. Nas caravanas que iam até o templo em Jerusalém os filhos caminhavam no grupo do pai ou da mãe. Voltando da Cidade Santa, após um dia de viagem, ao darem falta do Menino Jesus, imediatamente José e Maria voltaram a Jerusalém, envoltos em grande aflição. Enorme era o amor que devotavam a Jesus. O amor dos pais é compatível com suaves admoestações, por isso Maria indagou a seu filho: “Porque procedeste assim conosco”. O verdadeiro amor supõe muita abnegação, mas exclui toda rigidez ou condescendência condenáveis, procurando sempre o equilíbrio educacional. Jesus voltou para o seu lar em Nazaré no qual conheceria seu desenvolvimento humano numa família humana até iniciar sua tarefa de pregador do Evangelho. Entretanto, já com doze anos, Jesus manifestou sua vontade própria e revelou a José e a Maria que íntima era sua união com o Pai que está no céu, justificando sua atitude junto dos doutores da Lei. Sua submissão a José e a Maria em Nazaré foi, porém, um exemplo definitivo para todos os filhos que devem obediência e respeito a seus país. A Sagrada Família foi no pleno sentido da palavra uma comunidade de três pessoas que tinham uma fé profunda na qual brilhava a união com a Santíssima Trindade e o serviço ao próximo. José e Jesus trabalhando numa carpintaria, Maria devotada aos afazeres domésticos. As famílias cristãs através dos tempos viveriam também de uma fé profunda, na oração e no serviço de cada um a seus membros e à comunidade na qual estariam inseridas. Isto como garantia de união e estabilidade. Nenhum assalto do espírito infernal pode então levar à traição e à ausência de paz dentro do lar. Este é o caminho traçado por Jesus, Maria e José, caminho da graça divina e de um profundo amor humano. A peculiaridade da família cristã é descobrir e desenvolver o amor mesmo de Deus que deve envolver num mesmo liame pais e filhos. Isto vivido no cotidiano de suas vidas sob a proteção de Deus. Maria e José não realizavam nada de extraordinário, mas estavam sempre abertos à obra maravilhosa de Deus na sua vida transcorrida em função de Jesus. Acima de toda e qualquer realidade espiritual o sacramento do matrimônio, que estabelece laços indestrutíveis, torna pais e filhos abertos à vontade divina. Comunidade de vida e de amor, a família cristã testemunha a aliança fiel e fecunda da humanidade com o seu Criador, o Deus, Trindade Una e Santa. Torna-se assim uma escola de santidade na qual resplandece a paciência, a tolerância, o perdão cordial. Nunca se exaltam demais os valores familiares, pois a família é o santuário do amor, da vida e da fé. Lugar sagrado no qual a dignidade de cada um de seus membros é respeitada, porque aí todas as virtudes são cultivadas.  Eis porque a família é por excelência a fonte viva da evangelização. Aí tanto para os filhos como para os pais se desenvolve uma vida espiritual que se irradia por toda parte. É que a aliança fiel e fecunda dos esposos, o acolhimento sem condições de um e do outro, envolvendo os filhos num exemplo frutuosíssimo, leva ao crescimento social e político para o bem comum. Tudo isto apesar das dificuldades, das tentações de um mundo alheio aos valores do Evangelho. A mensagem da Família de Nazaré é que os pais e filhos se eduquem no amor e vivam do amor em todas as circunstâncias.  Obra profética para dissipar as ilusões dos falsos amores e das falsas doutrinas. Missão divinaa  da Família cristã que deve, realmente, reproduzir a grandeza da Família de Nazaré. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

 

 

 

 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

FELIZ AQUELA QUE ACREDITOU


01 FELIZ É AQUELA QUE ACREDITOU
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Próximos do Natal os textos da liturgia fixam neste domingo a atenção sobre duas futuras mães: Maria e sua prima Isabel. Para Deus nada é impossível. Uma mulher idosa e estéril a conceber João Batista e uma jovem Virgem esperando em seu seio o Messias prometido. Ambas sintetizam toda a história da salvação. Isabel representando os longos séculos de preparação para o maior acontecimento da história humana e Maria, a Imaculada, anunciando a Igreja de Jesus.  Quer Isabel, quer Maria tinham em comum as esperanças da humanidade e percebiam que sua maternidade estava inserida inteiramente nos planos divinos.  Ambas testemunhavam a importância das crianças que traziam em seu ventre. Um era filho de Zacarias e o outro era filho do próprio Deus concebido do Espírito Santo. Na visita feita por Maria à mãe do Precursor ela e Isabel trocam cumprimentos repletos de profundos conceitos teológicos. Isabel se torna notável teóloga ao exclamar: Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?” Ela inclusive assim se expressou: “Feliz aquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor” (Lc 1,39-45). Neste extraordinário elogio está mensagem realmente preciosa para os fiéis de todos os tempos, visando uma comemoração frutuosa do nascimento do divino Salvador. Toda a felicidade de Maria, realmente, se enraizava na fé. Mais tarde o próprio Jesus confirmará esta verdade, quando do meio da multidão que O cercava alguém exclamou: “Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os seios que te alimentaram”. Mas Jesus replicou: “Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a observam” (Lc 11,27-28). Foi o que ocorreu, sobretudo, com sua Mãe e é o que sempre se dá com todos que fundamentam sua vida na promessa redentora de Deus. É esta fé que conduz até o Presépio para contemplar naquele Menino o próprio Filho de Deus que se fez homem para redimir a todos que nele acreditassem e O amassem. Esta certeza é que engrandece o seguidor de Cristo e faz lançar pelo mundo através dos tempos as luzes da boa nova nas comunidades, nas famílias, nos corações que buscam os valores que ultrapassam as ilusões terrenas. Fé inabalável como a de Maria que está a lembrar a todos que o Senhor está perto, pois em cada comemoração de seu nascimento transbordam as graças que jorraram um dia lá em Belém numa renovação admirável do grande mistério. Maria quer então que cada coração se deixe tocar pelo autêntico sentido do Natal, penetrando fundo no significado deste acontecimento maravilhoso. Ela, a cheia de graças, esteve ininterruptamente inserida no caminho da fé em Deus ao qual submetia toda sua existência. Ela se tornou mãe de Deus no seu corpo trazendo Jesus, mas ela, mais ainda, O tinha no seu coração por meio de sua fé admirável. Deste modo, pôde se tornar o canal que o Criador escolheu para manifestar ao mundo seu amor misericordioso. Ela almeja que todos que comemorarão o Natal de seu divino filho se entreguem a Ele com confiança, acolhendo os apelos para uma vivência plena de seus ensinamentos, indo além da exploração comercial desta solenidade. Maria está hoje a nos lembrar  que a comemoração Natal é um dos momentos chaves na história pessoal de cada um que abre o seu coração para que nele receber Jesus. Felizes os que já se prepararam e vão se preparar para uma fervorosa comunhão no glorioso vinte e cinco de dezembro. No seio de Maria Cristo se tornou nosso irmão, o Emanuel, o Deus conosco. Natal é o dia da vitória da divina misericórdia sobre o pecado e todas as suas funestas consequências. Reaviva em todos o desejo de uma vida melhor, livre das escravidões satânicas, dos rancores e dos medos. Hoje escutamos a voz maternal de Maria que apela cada um para se colocar no caminho da santidade existencial oferecida por Jesus. Ela está a convidar: “Vinde todos à fonte da paz e da verdadeira alegria”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

ENSINAMENTOS DE JOÃO BATISTA


02 ENSINAMENTOS DE JOÃO BATISTA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Aos que interrogavam João Batista sobre o que deviam fazer para produzir frutos condignos de arrependimento foram ministrados preciosos ensinamentos (Luc 3,10-18). Pregador exímio, o Precursor de Cristo, mostrava como se preparar urgentemente para receber o divino Redentor. Foi claro e objetivo. A todos em geral recomendava a partilha generosa com os necessitados. Aos coletores de impostos mostrava a necessidade do equilíbrio não exigindo mais do que a lei preceituava. Aos soldados recomendava a fuga da violência, da difamação e da ambição desmesurada. Orientações sábias com relação ao ter e ao poder e que patenteavam um dos aspectos da espiritualidade daquele que era a voz que clamava por uma preparação condigna da chegada do Messias prometido. Honestidade e generosidade eram imprescindíveis para receber através de Cristo o batismo com o Espírito Santo e com o fogo. Além disto, fazia fulgir uma humildade profunda ao afirmar que não era digno de desatar as correias das sandálias daquele que era o Salvador da humanidade. Fidelidade absoluta à missão da qual estava investido nos planos admiráveis de Deus. São todas estas eminentes virtudes que por meio de João Batista o Advento vem recordar para os fiéis através de todos os tempos, condições para desfrutar as graças natalinas. Esforço corajoso apesar das provas, das incertezas pessoais, familiares, comunitárias. Um alerta para superar as incompreensões e até, o desprezo do próximo, mas tendo cada um em mira se aprimorar espiritualmente para com alegria acolher de maneira especial a Jesus na comemoração de seu natalício. Raios de esperanças luminosas, júbilo profundo que devem envolver os que desejam honrar o Menino Deus no seu Presépio. Este é um tempo propício para uma imersão na confiança absoluta no amor daquele que se encarnou para remir os que O acatassem e seguissem. Apesar das inquietudes existenciais inerentes a este exílio terreno necessário se faz saborear a paz que se irradia lá de Belém, por que o Filho de Deus se faz semelhante a nós movido pelo grande amor com que desde toda a eternidade envolveu suas criaturas racionais. Diante da afirmativa de João Batista mostrando que o Salvador tem na mão a pá para limpar a sua eira e recolher o trigo no seu celeiro, por força desta certeza, é preciso lançar para longe os pensamentos negativos, as tristezas e todas as recordações mórbidas do passado que possam paralisar e desvitalizar a grandeza do reencontro feliz com o Menino Jesus. Eis porque este é um tempo para uma revisão otimista da vida pessoal, porque não basta passar pelo Natal, dado que o Natal necessita ser vivido em plenitude com reflexos brilhantes na própria existência. É esta capacidade de ação a qual cada um tem dentro de si que leva a uma ascensão ano após ano junto da manjedoura. O cristão então avança na inteligência de sua vida, num desenvolvimento contínuo, progresso que inclui uma interação amorosa na comunidade em que vive. João Batista está a mostrar que o seguidor de Jesus pode e deve querer se impor um renovado modo de conviver consigo e com os outros. O Natal passa deste modo a ser um renascimento pessoal, pois a vinda de um Deus a esta terra exige uma renovação contínua dos corações. Tudo isto dentro das limitações naturais do ser humano, o qual, contudo, não pode se entregar a qualquer tipo de mediocridade. A questão é saber explorar a disponibilidade interior, correspondendo às inspirações da graça, bem empregando o tempo num esforço ininterrupto para alcançar a própria santificação. Tarefa complexa, mas indispensável, triunfando o seguidor de Cristo de qualquer resquício de desânimo. Os ensinamentos de João Batista conduzem a um agir constante, discernindo cada um os meios necessários na busca da perfeição. Jesus preceituará: “Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito”. O Advento oferece ocasião para todas estas reflexões, motivando a adesão aos valores que o Batista salientou: crescimento na solidariedade, na integridade, na compreensão, na humildade. O fundamento de tudo é a fé na Encarnação do Verbo de Deus que impede o cristão de ser palha a ser queimada no fogo inextinguível. Mensagens concretas que conduzem ao domínio do possível da parte de cada em mais uma semana do Advento. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

PREPARAR O CAMINHO DO SNHOR


PREPARAR O CAMIMHO DO SENHOR

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

No segundo domingo do Advento a liturgia vem nos lembrar que “no deserto fez-se ouvir a palavra de Deus a João, filho de Zacarias” (Lc 3,1-6). Antes de mostrar a mensagem do Precursor o evangelista apresenta o momento histórico em que isto deu. Os dados são importantes porque patenteiam a situação política e religiosa na qual irão repercutir os ensinamentos de João e depois os de Jesus. Quer na Galileia, quer em Jerusalém notava-se um surto de nacionalismo. Esse era duramente reprimido pelas autoridades de então. Os filhos de Israel estavam sob o jugo de Roma, sem vislumbrarem uma libertação em curto prazo, colocavam sua esperança unicamente em Deus. Isto intensificava a fé dos diversos grupos religiosos, salientando-se a comunidade que guardava o espírito ascético dos essênios. Surge neste contexto a figura de João Batista, que, vindo do deserto, começou a pregar na região do Jordão. Aí ele batizava os que em grande número chegavam para escutá-lo. Havia um ritual de purificação moral que preparava já a ablução radical que o Messias haveria de propiciar, batismo no Espírito Santo que somente Ele podia oferecer. O cerne da pregação do Batista era a conversão, passando cada um da vida do pecado para total adesão a Deus. Breve o Reino messiânico seria instalado neste mundo. João trazia à tona o vulto do profeta Isaias que no final do exílio da Babilônia fizera ecoar ondas de esperança e afastamento completo dos vícios e paixões desregradas: “Preparai o caminho do Senhor” (Is 40,3). Era uma condição basilar para que raiasse a verdadeira liberdade do povo de Deus. Veredas deviam ser aplainadas, vales preenchidos, montes e colinas abaixados, vias tortuosas endireitadas e as escabrosas precisavam se tornar planas. Este programa de vida espiritual, apropriado para acolher o Libertador, deveria ser em todos os tempos o modo como se preparar para a recepção renovada de todas as graças daquele que ofereceria a completa redenção aos seus seguidores. Como o Advento é esta preparação para a comemoração do Natal do Filho de Deus o roteiro joanino é um vigoroso clamor para uma completa renovação espiritual. O ponto de reparo são os dez mandamentos, caminhos indispensáveis rumo ao Presépio. Os vales da depressão e do desalento a serem preenchidos pela certeza do poder salvífico de Jesus no qual se deve depositar toda a confiança. As montanhas do orgulho precisam ser demolidas. Tudo isso operado com muita sinceridade a fazerem as atitudes censuráveis retificadas e as ações pedregosas dulcificadas por um intenso amor a Deus e ao próximo.  Eis aí um itinerário para que o Natal seja abençoado e ponto de partida para uma total renovação da história pessoal de cada um. Uma palavra resume o que precisa ser realizado de plano: metanoia, ou mudança essencial de pensamento ou de todo o ser numa transformação espiritual completa, absoluta.  Jesus vem, Ele não deixa nunca de vir, desde que seu seguidor se disponha a melhorar sempre sua conduta, abrindo todos os espaços de seu coração através desta higienização interior, numa sincera revisão de vida. Trata-se do progresso na caminhada da salvação pessoal e de toda a comunidade. Afastamento total de tudo que é indigno de um cristão é o ideal a ser vivificado nesta jornada até o Presépio. A palavra de Deus foi dirigida a João Batista no deserto antes dele iniciar sua pregação. Durante o Advento é preciso parar, sair um pouco do bulício do mundo para receber a palavra divina que levará a todas as mudanças necessárias. Momentos de silêncio para cada um poder examinar o que precisa alterar nas suas relações com Deus. Criar um clima de disponibilidade, para deixar a luz divina entrar no ritmo do apelo a uma santidade consistente, desatando as cadeias de qualquer pecado. Então esta palavra de Deus será recebida, guiará e produzirá muitos frutos pessoais e coletivos. Cumpre deixar Deus intervir decisivamente na história de cada um. Trata-se então de oferecer a Ele todas as fraquezas, todas as aflições para que Jesus possa realmente vir até o íntimo do coração de seu seguidor. Ele retificará tudo que estiver errado. Nada, portanto, de desalento, mas, isto sim, procurar um repouso salutar que ofereça espaço ao Deus que salva e redime, desejando ardentemente sua presença, sua redenção a ser revivida em mais um Natal que se aproxima. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

.