segunda-feira, 28 de novembro de 2016

CONVERTEI-VOS

CONVERTEI-VOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

No Advento ressoa a vós de São João Batista em mais um alerta na preparação para o Natal: “Convertei-vos” (Mt 3,1-12). Mensagem sublime a ser acolhida para que se possa receber as graças natalinas. É de se notar que o Precursor pregava no deserto da Judéia. Na Bíblia o deserto é sempre uma terra desabitada. Portanto, os que queriam escutá-lo tinham que caminhar até ele numa região solitária situada a alguns quilômetros de Jerusalém ou de Belém. Eis uma primeira lição a ser observada. Como se lê na tradução da Vulgata, “non in commotione Dominus” – “Deus não se acha na agitação” (1 R 19,11). Isto significa que cumpre escutar a palavra divina no deserto do coração, no silêncio de uma reflexão profunda e numa disposição de sair do comodismo. Neste caso é possível a conversão, a qual não é um mero mudar de mentalidade, mas uma marcha decisiva, corajosa para Deus. Muitas vezes se pensa que a conversão é um instante especial de uma grande graça, mas ela é bem mais do que isto. Com efeito, se a conversão é um instante de uma grande bênção do céu, é mais ainda um encaminhamento, uma nova maneira durável de pensar, de agir, de ser. Além do arrependimento de faltas passadas, é, sobretudo, uma peregrinação de amor que projeta o cristão para Deus. Coloca-o no rumo certo do Reino daquele que comunica paz e alegria. Trata-se da submissão integral à autoridade soberana do Criador de tudo, o qual enviou o seu Filho a esta terra com a missão messiânica de abrir as portas de uma felicidade eterna para os que O acatam. Mudança de vida à luz do verdadeiro significado natalino que, comemorado cada ano, deve produzir novos frutos de salvação. É o que São João Batista está a proclamar: “Fazei, pois, frutos convenientes ao arrependimento”. Eis porque São Mateus não julgou ser inútil descrever a vestimenta e o rigor a que o Precursor se submetia: “João tazia uma veste de peles de camelo e um cinto de couro à volta dos rins, e o seu alimento eram gafanhotos e mel silvestre”. Não basta, contudo, admirar como João Batista podia suportar uma vida tão dura. Durante o Advento é necessário o espírito de penitência que leve a abolir comodidades inúteis visando a purificação interior. O Salvador cujo nascimento se comemorará nós o veremos não num palácio suntuoso cercado de luxo, mas no frio de um estábulo, na mais rigorosa pobreza.  Na preparação para o Natal, João Batista e o Menino de Belém estão a condenar toda espécie de ostentação, de gastos desordenados, de excessos no comer e no beber, enfim abstenção de tudo aquilo que uma sociedade de consumo prega e que tanto mal faz à saúde do corpo e da alma. Abusos que não condizem com um cristão precisam ser cortados corajosamente. O seguidor de Crsito  recebeu não o Batismo de água, mas o Batismo “com o Espírito Santo e com fogo” instituído por Cristo. Este tempo do Advento é assim ocasião oportuna para que o cristão reveja como tem empregado os dons celestes de seu Batismo o qual o purificou de toda a a imundície. Cumpre, então, retirar todas as vestimentas da vaidade e do orgulho e mostrar ao mundo austeridade que é uma reprimenda aos que se deixam levar pelas paixões terrenas. O convite de São João Batista é a renúncia a tudo que contradiz a existência de quem se prepara para o Natal. Clamor por uma vida sóbria, moderada e equilibrada. Deste modo, se estará cada um se dispondo a fazer uma fervorosa Comunhão dia 25 de dezembro, participando com uma consciência pura dos mistérios sagrados da vinda do Filho de Deus a esta terra. Instrução e exemplo nos legou São João Batista e para bem acolher suas mensagens é de bom alvitre o lembrete de São Paulo: “Aquele que deve vir, virá e não tardará” (Hb 10,37). A penitência pregada por São João Batista, porém, não deve consistir somente em se abster do mal, mas ainda em multiplicar as boas obras. Pensar em proporcionar ajuda aos mais carentes, em perdoar todas as ofensas,  mais paciência com todas as pessoas, irradiar imperturbabilidade por toda parte. Ruptura corajosa com tudo que macula o coração e a alma que vai se aproximar do Presépio. Escutemos, então, o apelo do Percursor de Jesus: “Convertei-vos que já está próximo o reino dos céus”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos. 

terça-feira, 22 de novembro de 2016

ESTAI PREPARADOS

ESTAI PREPARADOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Este alerta de Jesus nunca é demais refletido: “Estai preparados, porque a hora em que menos pensais o Filho do Homem chega” (Lc 12,40). A morte e a vinda gloriosa de Cristo na sua glória devem ser dois referenciais nunca esquecidos na vida do cristão. Este corre o risco de se deixar impregnar pelo impacto da secularização que leva a adotar os modelos de pensamento e de conduta do mundo; do horizontalismo que conduz  a um compromisso social exclusivo como única dimensão da existência cristã; da incredulidade reinante nos meios de comunicação que vai abalando os alicerces da fé. Todo cuidado é pouco porque é no tempo atual que se decide o destino eterno de cada um. O alerta de Cristo foi claro: “Estejam cingidos os vossos rins e acesas as vossas lâmpadas”, ou seja, que haja uma vigilância atenta para que nos dois encontros com Ele o fiel esteja preparado, quer no momento de deixar este mundo, quer no juízo universal. Trata-se do cumprimento fiel de todos os deveres pautados pelos valores do Evangelho. No presente é que se constrói uma eternidade bem-aventurada. O cristão está sempre atento porque sabe que tem um grande futuro a sua frente. A vinda do Filho de Deus a esta terra se humilhando até a morte da Cruz para redimir a humanidade perdida, é uma prova peremptória da importância da salvação eterna que cada um deve procurar sem nenhum descuido.  Cumpre a todo batizado se revestir de Cristo, pertencendo inteiramente a Ele, mesmo porque a graça santificante, semente da glória eterna, não pode ser perdida, e, se for perdida, deve logo ser recuperada, sob pena de incorrer na perdição perene.  Porque possui Jesus dentro de seu coração o cristão, seja onde estiver, está iluminando os outros, pela sua conduta alertando-os a fim de estarem vigilantes na prática do bem nesta preparação terrena para os encontros com Deus além-mundo visível. É necessário ser sempre um cristão preparado para estes chamados inevitáveis e decisivos do Criador, o qual está à espera dos que lhe são leais para lhes dar uma recompensa perene. O Mestre divino veio a este mundo para ensinar os de boa vontade como caminhar nesta terra com o objetivo de alcançar o Reino Eterno. Não se trata de se estar alienado da realidade, pelo contrário, aquele que está vigilante em vista da realidade futura se torna um cumpridor exato de suas obrigações e constrói um mundo melhor em torno de si num serviço admirável ao próximo. O autêntico discípulo de Jesus está atento para viver de uma maneira mais intensa esta sua marcha neste mundo, como lembrou o Papa Francisco na sua Encíclica “Lumen Fidei” (n. 16).  Em qualquer situação social, seja onde a Providência o colocou o cristão verdadeiro, continuamente antenado nas realidades vindouras, semeia paz, difundindo pelas boas obras felicidade e sabe que não tem um minuto a perder rumo ao que lhe espera na outra vida sendo, de fato, fiel a Deus.  O bem-aventurado Papa Paulo VI inúmeras vezes insistiu que o batizado estivesse sempre com a lâmpada acesa precisamente para também iluminar os que estão a sua volta. Esta luz é a fé que se traduz em obras luminosas, lucífluas. Cumpre refletir seriamente nisto.  Jesus virá para inaugurar “os céus novos e a terra nova”, para por o selo de Deus sobre toda a obra que cada cumpriu com amor na sua trajetória terrena. Ninguém sabe nem o dia nem a hora em que vai deixar este mundo, nem quando se dará a parusia, isto é, sua volta gloriosa no fim dos tempos. Jesus falou várias vezes sobre a preparação para estes dois eventos como nas parábolas relatadas por São Lucas. O leit motiv das mesmas é estar vigilante.   Pouco importa o lugar que seu discípulo ocupe neste mundo O essencial é que quando Ele vier, Ele encontre seu seguidor cumprindo suas obrigações com eficiência e competência para glória de Deus e bem das almas.  Uma prudência elementar aconselha a quem tem fé e juízo a assim proceder não perdendo jamais o gosto de bem viver e o sentido de um devotamento ininterrupto ao próximo, consagrando a ele e a Deus todo seu amor. Quem assim agir degustará em plenitude a promessa feita por Jesus: Ele o porá à frente de todos os seus bens. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

VOTOS

Aos prezados amigos votos de abençoado Natal e feliz 2017. Coloco as intenções de todos nas Missas de 25 de dezembro e primeiro de janeiro.
Côn. José Gealdo Vidigal de Carvalh
                                         VALORIZAR O TEMPO
                                             Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Nunca se reflete demais sobre o cuidado que se deve ter em bem empregar o tempo. É sempre uma temeridade menosprezar os instantes de cada dia.  O momento presente precisa ser explorado ao máximo, pois ele rapidamente passa. Trata-se de uma dádiva de Deus que não pode ser perdida. Uma diretriz preciosa é não adiar as obrigações, mesmo porque aquilo que está feito não está por fazer e outros deveres vão surgir. Sabedoria é ter consciência de que a cada dia basta sua tarefa. É o que ensina o Livro do Eclesiastes “Todas as coisas têm seu tempo e para cada ocupação chega a sua hora debaixo do céu” (Ecl 3,1). Assim sendo, a programação diária precisa ser organizada com antecedência para que sejam usufruídos todos os benefícios decorrentes das boas ações. O autêntico cristão está persuadido de que a vida nesta terra pode acabar a qualquer momento. Cristo preveniu seus discípulos: “Vigiai, pois não sabeis o dia nem a hora” (Mt 25,3). Daí a seriedade com que as obrigações a serem feitas de acordo com a vontade divina devem ser encaradas. Trata-se de nada perder para a eternidade. Donde ser preciso sempre uma total adesão a Deus. É necessário pedir continuamente a Ele o discernimento para bem praticar o que é conforme a seu beneplácito e para perceber os próprios defeitos a fim de corrigi-los. É que o conhecimento de Deus é tão necessário como o conhecimento próprio. Eis por que Santo Agostinho solicitava: “Senhor que eu Vos conheça e que eu me conheça”.  Apenas assim, se valoriza a existência humana nesta trajetória terrena. Disto decorre a fidelidade a Deus a começar pelas pequenas tarefas diárias. Cristo deixou claro: “Quem é fiel nas pequenas coisas, o será também nas grandes” (Lc 1916). Coragem e constância no cumprimento dos deveres cotidianos é que fortalecem o cristão para superar as tribulações pelas quais Deus costuma provar aqueles que desejam valorizar sua vida. Entretanto, o desejo de explorar com sabedoria o tempo, que flui inevitavelmente, não deve levar o fiel a desanimar ante as faltas cometidas. Só Deus é perfeito. Grandes santos diziam a si mesmos: “Ainda que eu caia vinte vezes, cem vezes, eu me levantarei e prosseguirei a minha caminhada”. É óbvio que eles não cometiam faltas graves, mas se referiam ás fraquezas inevitáveis ao ser humano. Assim tomavam todas as precauções para progredirem na prática das virtudes. O que valem são os esforços contínuos, uma vez que grande é a debilidade humana. São Paulo declarou: “Para os que amam a Deus tudo coopera para o bem” (Rm 8,28). Deus permite as fraquezas humanas para curar seu seguidor da presunção e do orgulho. É de se notar que grandes santos atingiram notável perfeição após erros gravíssimos que depois deploraram profundamente, como aconteceu com Davi, com São Pedro e tantos outros. Davi, arrependido, asseverou no salmo 50: “Um coração contrito e humilhado, Deus não despreza”. O Príncipe dos Apóstolos, após lamentavelmente negar a Cristo, chorou amargamente (Lc 22, 62). A conversão de quem se arrepende sinceramente constitui o fundamento de salvação e possui, deste modo, valor inestimável. O convite de amor da parte de Deus para que se empregue com sabedoria o tempo, com o poder de sua graça, capacita à correspondência a uma vida de fidelidade a Ele. É impossível determinar os dons ofertados por Deus a cada hora e perscrutar os corações, pois as condições existenciais variam. É certo, porém, que cumpre estar atentos às inspirações celestes para não se abusar da misericórdia divina. Donde o alerta do referido Santo Agostinho: “Temo a Jesus que passa e que pode não voltar”. Adite-se que a valorização do tempo passa por uma espiritualidade encarnada na vivência profunda da profissão que cada um exerce. É preciso não escapar do ambiente do próprio compromisso laboral, mas mister se faz vivê-lo profundamente. Deste modo se desenvolvem plenamente as possibilidades de auto aperfeiçoamento e de serviço a Deus e ao próximo. Isto inclui uma exigência de empenho, de esforço, de competência.  É assim que se tem uma visão clara da dimensão social das implicações realizadas no âmbito da vocação de cada um com toda sabedoria e inteligência sob o olhar de Deus, Senhor do tempo. Deste modo o cristão tende a transformar o mundo e a dar testemunho da esperança na construção e pela construção da comunidade em que vive. Trata-se de existir plenamente nesse mundo, empenhando-se a fundo em face das possibilidades humanas. Em síntese, o ser humano precisa bem se situar na tríplice dimensão do tempo, ou seja, no passado, no presente e no futuro. Do cronos que se foi lições devem ser tiradas com sabedoria, o que constitui o cerne da experiência vivida. Esta possibilita explorar melhor o instante presente, o agora, tornando-o proveitoso para si e a comunidade na qual se vive. O porvir é uma incógnita e está sempre a exigir estratégias para que se amenize o impacto do imprevisível. Para quem tem fé a confiança em Deus o enche continuamente de expectativas de dias felizes. Está sempre lembrado do alerta que é profundamente bíblico: “Ajuda-te que o céu te ajudará”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

CRISTO, REI DO UNIVERSO

CRISTO, REI DO UNIVERSO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Na Cruz Jesus se manifestou como Rei num episódio cujos detalhes merecem uma reflexão profunda por parte de seus seguidores (Lc 23,l35-43). Como era costume no seu tempo no caso de um condenado à tortura da cruz, no alto da mesma, havia uma tabuleta, que esclarecia o motivo daquela crucifixão. No caso de Cristo lá estava uma inscrição em grego, latim e hebraico: “Este é o rei dos judeus”. A Judéia era governada diretamente pelo Procurador romano e não tinha, de fato, um rei como outras regiões vizinhas. As autoridades de então estavam ironicamente a mostrar aos que haviam reconhecido Jesus como o Messias-Rei o destino desastrado do mesmo. Entretanto,  mesmo os que acertadamente viam em Cristo o soberano de que falaram os profetas, erravam ao julgar que Ele era Rei num sentido político. Pensavam que Ele haveria de expulsar os romanos invasores e ofereceria ao povo judeu sua autonomia perdida, dando-lhe um reino humanamente glorioso. Enganavam-se os que assim julgavam ser esta a missão daquele que fizera tantos milagres e se mostrara como o libertador dos mais necessitados. Jesus, contudo, não deixou ilusão ao responder claramente a Pilatos no processo a que fora submetido: “Meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36), Bem, podemos, contudo imaginar a decepção daqueles que o haviam aclamado na entrada triunfal em Jerusalém poucos dias antes. Agora estavam diante do Filho de Davi, perante um Messias retalhado de feridas pendente no lenho de um suplício humilhante. Jesus, antes de morrer, como narrou São Lucas, observava diante de si aqueles que o olhavam desiludidos; os chefes  que zombavam dele; os soldados romanos os quais caçoavam daquele pobre homem ali martirizado. São Paulo dirá com propriedade aos Coríntios que Jesus era “um escândalo para os judeus e uma loucura para os pagãos” (1 Cor 1,23).  Ao lado, porém, do Mártir divino lá estavam dois famigerados ladrões. Um a provocá-lo: “Não és tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e nós”. O outro a proclamar solenemente a realeza e a divindade de Cristo ao lhe dizer: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres na auréola de tua realeza”. Mereceu uma resposta admirável de alguém que era, realmente, Rei: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso”, Gestas se equivocou porque Jesus não veio para libertar da cruz. Dimas acertou, dado que Ele viera salvar pela cruz .Aí  uma notável mensagem. Com efeito, aqueles sofrimentos, aquela cruz eram a manifestação de um grande amor. São João magistralmente havia explicado: “Como amasse os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). A cruz seria a prova definitiva da dileção imensa do Rei do Universo que havia dito: “Ninguém dá maior prova de amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Pendente da Cruz, Ele demonstrou que era um Rei que viera não para salvar da cruz, mas para libertar pela cruz, sinal definitivo de um  amor imenso pela humanidade da qual se tornara o Soberano, abrindo aos que O amam um Reino eterno de glórias conquistado com tantos sofrimentos. Deixou, contudo, uma ordem para seus súditos: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (Mt 16,24) . Hoje este Rei está a interrogar a cada um de nós se temos carregado a nossa cruz, pois a dele Ele carregou até o Calvário. Ele não está a exigir sacrifícios impossíveis, mas sim o cumprimento exato do dever de cada dia, a paciência diante dos naturais sofrimentos inerentes a um exílio terreno. Ele pede uma fidelidade incondicional na fuga corajosa do pecado.. Ele quer a observância corajosa dos Mandamentos e muito amor a Ele e ao próximo. É a cruz de uma luta sem tréguas contra o mal, de uma caridade sem limites para com todos, de uma cooperação generosa na difusão do Evangelho no meio em que se vive, sobretudo através do exemplo. Uma vida voltada para Ele, Rei do universo, ao qual cada um foi consagrado no dia de seu Batismo.  Os batizados  O devem fazer conhecido e amado. Jean-Christian Lévêque, foi inspirado ao dizer que “o reinado de Jesus é o brilho universal de sua palavra, é a iluminação do coração daquele que crê, é o incêndio do amor até os confins da terra a começar pelo incêndio de nosso coração, onde tudo deve arder  para glória de Deus e salvação do mundo”.  Pensemos nisto! Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.                           

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O FUTURO A DEUS PERTENCE

O FUTURO A DEUS PERTENCE
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
São Lucas leva-nos a meditar sobre o que Jesus falou sobre o que deverá acontecer no fim dos tempos, num futuro longínquo (Lc 21,5-19). Até chegar o término do mundo Cristo relata uma série de acontecimentos, cuja data apenas é do conhecimento do Criador de tudo. Ao assinalar alguns fatos marcantes o  Redentor pedagogicamente alerta seus seguidores. Neste sermão escatológico, porém, alguns eventos serão recentes como a ruina do templo e de Jerusalém. Trata-se da realização das ameaças proféticas contra a cidade infiel. Além disto, contudo, Jesus, na sua visão de toda a História da sua Igreja,  alude às provações   pelas quais passarão as comunidades, as perseguições que serão feitas a seus discípulos. Isto vem sucedendo século após século. Ecoa, entretanto, sempre sua advertência: “Mas tende confiança! Eu venci o mundo” (Jo 16,33). Estamos já no terceiro milênio depois de sua vinda a esta terra e não sabemos quantos milênios ainda virão antes da consumação do tempo, mas temos, contudo, uma certeza absoluta de que a História do mundo com a chegada do Messias prometido está na sua reta final, na sua fase definitiva. O importante é que devemos viver em plenitude a existência que atualmente nos é dada. É mister, no entanto, estar atentos a um fato inexorável que é o instante da morte. Para esta se deve estar preparado, vigilante para não cair nas garras de satanás, comprometendo a própria salvação. O conselho de Jesus foi meridianamente claro: “Tomai cuidado para não serdes desencaminhados”. Muitos falsos profetas, realmente, têm aparecido no decurso dos séculos e infelizes os que se deixaram ou se deixam enganar por eles. O importante é que, se o futuro a Deus pertence, cada um de nós tem o dia de hoje para O servir e amar, acolhendo em tudo o ensinamento de Cristo, iluminados por sua palavra salvadora. Cumpre a cada um deixar um rastilho luminoso dentro desta História da Igreja como o fizeram todos aqueles que foram fiéis ao Evangelho. São Lucas registrou ainda  outra recomendação de Jesus: “´É por vossa perseverança que obtereis a vida”. Com suma sabedoria e lucidez divinas  Cristo ensina como superar todos os percalços existenciais pessoais e como os fiéis podem cooperar pelo triunfo de sua Igreja. Palavra maravilhosa: “perseverança”! Deus está sempre ao lado daqueles que nele esperam e são constantes no seu engajamento às verdades reveladas. A questão é saber como perseverar. Não é fácil muitas vezes por entre os sofrimentos e provações testemunhar a fé ultrapassando todas as dificuldades. Lemos no livro de Jó: “A vida do homem nesta terra é uma luta”(Jo 7,1). Jesus, contudo, afirmou: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,05), o que significa que com Ele tudo podemos realizar. Ai está o segredo do sucesso na trajetória dos santos e na marcha da Igreja não obstante tantas
contradições. São Tiago assim se expressou: “Tende na conta de pura alegria, meus irmãos, quando vierdes a encontrar-vos em provações de toda a espécie, sabendo que a vossa fé produz a perseverança. A perseverança, por sua vez, cumpra a obra, a fim de que sejais completos e perfeitos em nada deficientes (Tg 1,1-4). A fidelidade ao nome de Jesus. tem dado ânimo a seus seguidores e sustentado a Igreja por entre as vicissitudes da História. Invocar o  nome de Jesus é uma maneira de reconhecer que a Ele pertencemos e este nome dá identidade e consistência à sua Igreja. Lembra sempre um ideal de vida e inflama a esperança para se ter parte no Reino futuro já inaugurado pelo divino Redentor. É o que aparece evidente  na diretriz dada por Ele. No contexto atual, por entre tantas calamidades, perversidades, corrupção, crimes hediondos, mais do que nunca é necessário crescer na fé e na esperança. A presença de Jesus nos revela sempre a visão de Deus que  ultrapassa a compreensão humana. Cumpre deixar nossa vida aberta a uma maneira nova mais espiritual, crendo na Providência divina e na submissão  aos planos do Criador. Daí resulta a perseverança que leva a uma sabedoria que é mais forte do que o mal. Perseverar é fazer em tudo a vontade divina sem querer polemizar, sendo arrogante com Deus. Uma humilde docilidade aos desígnios divinos é de vital valor na caminhada dos cristãos e da Igreja. Lembrança de que o campo da batalha a que se referiu o livro de Jó é o interior de cada um e assim se consegue a liberdade que se pode irradiar em raios de paz para toda a comunidade. É o viver não no temor, mas na confiança absoluta no Senhor Onipotente. Deste modo se ganhará a vida eterna, garantida pelo nosso salvador Jesus. Nele nós podemos sempre confiar!         *Professor  no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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