terça-feira, 26 de novembro de 2013

AGRADECIMENTO AO JORNALISTA JOSÉ MARIO RANGEL

Prezado  notabilíssimo Jornalista José Mário Rangel,
Entre as supresas que os 80 anos me tem reservado muito honrou a este sacerdote o seu artigo sobre o fato em tela.
Num momento como este, apesar de nossas divergências históricas sobre o glorioso 30 de setembro, quando em 1871 Santa Rita do Turvo foi elevada a Vila, início indiscutível de sua organização jurídica que a levaria a se tornar um das mais gloriosas cidades do Brasil e do mundo, data que tem sido  sempre festejada com pompa e circunstância pelos viçosenses, envio-lhe  meus sinceros  agradecimentos pela homenagem a este seu admirador.
 
Em todas as etapas de uma vida já longa tenho sempre em mente o que disse o Mestre divino: "Depois de terdes feito tudo que fizestes, dizei, somos SERVOS INÚTEIS ( Lc 17,10) . Na verdade, porém,nem sempre fizemos tudo que deveríamos fazer!
Louvo-lhe o interesse pelas datas cívicas de Viçosa, apesar de sua idiossincrasia pelo memorável 30 de setembro.
 
Amigos, amigos, opiniões à parte.
Com todo apreço e gratidão
 
Côn.José Geraldo Vidigal de Carvalho 

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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

UMA FÉ ESCLARECIDA

UMA FÉ ESCLARECIDA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Eis a questão que foi apresentada a este articulista, solicitando  um posicionamento: "Vez ou outra encontramos algumas correntes, ou seja, papel ou estampas de santos, dizendo para rezarmos determinada oração, tirar cópias e repassar para frente. Algumas vezes até dizendo que a corrente não pode ser quebrada, inclusive anunciando desgraças para quem interrompe tal corrente de preces”.  Em primeiro lugar, cumpre saber que é necessária sempre uma fé esclarecida. Esta repele de plano qualquer tipo de superstição. Jesus foi claro: “Pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. Pois quem pede, recebe; quem procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá” (Lc 11, 9-10). Quem então se dirige a Deus tem fé no seu poder e confiança na sua bondade. Jesus é o único mediador entre o Ser Supremo e os homens, mas a intercessão dos anjos, de Maria e dos santos, por causa dos merecimentos infinitos do divino Redentor, é valiosíssima e por meio deles graças extraordinárias são obtidas. Um erro teológico seria fazer promessas diretamente a Deus, a Cristo e a estes intercessores, porque não se pode transformar a religião num balcão de negócios. É logo que o orante deve se colocar em condições de receber as graças solicitadas e isto, antes de tudo e sobretudo, examinando se está ou não observando os mandamentos, tendo, assim, um procedimento correto. Uma vez, porém, obtida a graça é imprescindível o agradecimento que abre a porta para novos favores celestiais.  Muitas pessoas civilizadas e inteligentes do século XXI ainda se deixam porém, paradoxalmente, levar por inúmeras manifestações supersticiosas. O termo superstição vem do latim superstitio que significa o que sobrevive de épocas passadas. Acreditam muitos, de fato, ingenuamente, nas formas primitivas de interpretação dos eventos da existência neste planeta, próprios tais modos de ver de povos incultos que não conheceram o desenvolvimento social. A experiência científica avançou consideravelmente, mas crendices ainda povoam mentes que se infantilizam diante dos desafios da vida. Ainda se fala também em dias faustosos e aziagos, em pressentimentos tenebrosos, em forças ocultas que agem através de certos ritos inteiramente desconexos com a realidade dos fatos. O fatalismo impera em certas mentes que tudo atribuem a um determinismo que contradiz a reta Filosofia e a sã Teologia. É preciso ser invulnerável às atitudes destituídas de fundamento lógico ou bíblico. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.




sábado, 23 de novembro de 2013

Vigilância, uma atitude fundamental

VIGILÂNCIA, UMA ATITUDE FUNDAMENTAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Notável o alerta de Jesus a seus seguidores: “Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor”! (Mt, 24,42). A vigilância é uma atitude fundamental na vida do cristão. Ela envolve na esperança do reencontro com o divino Redentor. Esta expectativa não conduz a um futuro incerto, mas leva a uma atitude no momento presente dada a iminência constante da chegada de Cristo. O fato é certo, a hora é que se torna incerta e, por isto mesmo, coloca o cristão em estado de precaução. Não se trata simplesmente de estar acordado, mas, sim, preparado, pois quem pode chegar é Aquele que deseja introduzir o seu fiel discípulo numa felicidade perene. Envolto nos dons divinos, o cristão precisa então colocar sempre sua liberdade a serviço da graça, da fé, do amor e da comunhão fraterna. Quem não está vigilante, malbarata os favores recebidos de Deus, não cresce na fé e o amor vai se extinguindo. É que o batizado vela para que o mundo não se esqueça nunca de Deus se engolfando nas paixões desregradas que serão severamente condenadas quando o Filho do homem voltar. Deste modo, a vigilância tem um significado concreto, profundo. Orienta o desejo humano para além do tempo, pois no reencontro com seu Senhor principiará a eternidade. Eis porque a vigilância pregada por Cristo vai além da mera precaução humana diante das evoluções sociais e tecnológicas cada vez mais rápidas no contexto atual. Se a precaução é necessária a quem vive na sociedade atual tão rica de possibilidades, mas tão complexa, a vigilância leva quem tem fé a não perder de vista o fim último que é a salvação eterna. No meio de uma série de solicitações, proposições e atividades profissionais, familiares, sociais a precaução conduz a um bom gerenciamento do tempo e de tudo que se possui, antecipando problemas. Prever é uma das palavras chaves da sociedade de consumo. Esta prevenção que é importante não deve, contudo, impedir o cristão de estar voltado para realidades mais sublimes. O Evangelho deixou claro que as pessoas entregues apenas aos afazeres materiais foram levadas pelas águas do dilúvio (Mt 24, 39). A grande questão, portanto, é saber conciliar o viver num mundo de atividades sócio-econômicas com a atenção à glória que há de raiar com a chegada de Cristo. Entretanto, a própria aceleração da história que caracteriza os tempos hodiernos é um alerta a mais para se estar vigilante, porque mais do nunca o ser racional percebe a passagem rápida dos dias, meses e anos. A mundialização econômica e cultural, a rapidez das transformações tecnológicas faz com que o tempo passe com uma rapidez impressionante e ai daqueles que não cuidarem em bem se preparar para a vinda de Cristo. A vigilância evangélica não consiste em imaginar o que virá, mas é uma disposição ininterrupta de acolhimento de uma Pessoa que chegará para recompensar pelo bem praticado, pela boa administração das dádivas divinas, pelas virtudes praticadas. Há hoje, assim, uma maneira diferente pela qual se deve estar vigilante. Mais do que nunca cumpre um engajamento radical e uma renúncia a tudo que embarga a chegada Reino de Deus. Este reino exige um investimento de todo o ser que não se deixa prender ao efêmero. Sabe, contudo, o cristão que o estar preparado para a volta de Cristo é obra de Deus, pois o mundo novo é fruto da pura misericórdia divina. A vigilância exige então um controle maior da própria liberdade e isto com uma exigência sem limites. Trata-se da consciência de uma responsabilidade pessoal no que tange à própria vida na eternidade. Responsabilidade concreta na espera da hora final de uma trajetória nesta terra. Esta vigilância, não obstante as fraquezas humanas, imerge na confiança total em Deus, apesar dos riscos que cada um corre na sua caminhada por este mundo. A vigilância, porém, torna o cristão audaz, corajoso, porque ele se abandona à prece e se dispõe continuamente a estar atento ao serviço da justiça do Reino de Deus. Como dizia São Paulo, este é o momento de se sair do sono, para se entregar a uma esperança dinâmica. A prevenção incita, deste modo, a se despojar do que é secundário para melhor acolher o Reino de Deus. Aquilo que é o agora, não deve ofuscar o que ainda será, quando Deus fará todas as coisas novas. Daí, a advertência de Jesus: “O Filho do Homem virá na hora em que não pensais”. Se o cristão vigilante não pode prever o dia e a hora, pode, contudo viver o presente com um coração aberto para a novidade de Deus. Isto não é inútil, mas, sim, essencial, de vital importância. Fruto da confiança em Deus que é maior do que os projetos humanos, a vigilância aceita o imprevisível como marca da liberdade e do amor. Ela dá sentido aos acontecimentos e até se robustece por vezes das rupturas dolorosas da existência. É deste modo que o primeiro domingo do Advento ajuda cada um a se preparar para o Natal, novo encontro com Cristo, aguardando o reencontro final com Ele no ocaso da vida de cada um. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O PECADO CONTRA O ESPÍRITO SANTO

O PECADO CONTRA O ESPÍRITO SANTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Decisiva a declaração de Jesus: “Quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca será perdoado” (Mc 2,22-30). Blasfemar contra a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, o amor eterno entre o Pai e o Filho, fonte do amor imenso deste Deus Uno e Trino é desprezar o amor. É duvidar da salvação oferecida pelo Ser Supremo. Consiste em desesperar da misericórdia divina. É uma paranóia no alto grau. Tudo junto de Deus pode ser perdoado exceto a recusa do perdão, a desconfiança do amor, a ausência radical do afeto que tudo destroem e nada constroem, nada reparam e tudo perdem. O requinte desta atitude sumamente condenável leva inclusive a não querer a dileção oferecida pelo Criador, rejeitando seus dons num gesto ignóbil, insensato. Deus ama e perdoa, mas não destrói a liberdade do ser racional de recusá-lo, apesar de todas as provas de Sua ternura infinita. Deste modo, surge um pecado sem remissão pela natureza intrínseca do mesmo. Não se trata de ofender com palavras o Espírito Santo, de contristá-lo, mas se trata de recusar a receber a salvação que o Pai ofereça ao ser racional pelo Espírito em virtude do sacrifício da Cruz.   Deus não tem um limite para sua misericórdia que é infinita.  Entretanto, a recusa desta misericórdia, do perdão de Deus impossibilita o Senhor a conceder a perdoar este pecador renitente. Deus não pode perdoar o ser racional à força. É preciso que seu perdão seja acolhido, que se aceite a luz divina. Quem recusa a salvação e se fecha no seu pecado coloca uma barreira intransponível para o mundo sobrenatural, impedindo inteiramente a ação do Espírito Santo. Bloqueia assim totalmente a entrada no reino do céu. Adite-se que o Espírito Santo não é Deus que se manifesta numa carne humana, mas Deus que vem habitar no interior mesmo do coração do batizado. É Deus que se revela no interior do cristão. O Espírito Santo é a luz que faz ver o mistério de Deus. Quem não quer esta realidade sublime passa para a outra margem da vida de onde todo retorno se torna impossível. É aquele que não deseja ser amado pelo seu Criador. Então Deus não pode nada mais fazer diante de tanta insensatez e inclusive Ele fica impedido de entrar no íntimo deste coração empedernido. Deus não força a liberdade humana. Neste caso não é Ele que rejeita o homem, mas este que se colocar fora do Reino, rejeitando a manifestação suprema de seu amor que é o perdão que Ele oferece a quem se arrepende. Dá-se desta forma a maior desgraça que pode acontece a alguém que volta suas costas ao Onipotente, ao Todo-poderoso. É o próprio homem que torna assim o seu pecado imperdoável por ser uma atitude inteiramente descabida, a negativa afrontosa da dileção divina. Blasfêmia profunda porque nega o essencial mesmo de Deus que é o seu amor.  Todas estas reflexões devem então alertar o cristão, para que por suas infidelidades não chegue a cair em tão profundo abismo. Cumpre rezar sempre pelos que se desesperam da misericórdia divina e àqueles que se acham em tal estado é preciso levar uma palavra e encorajamento, de abertura para o Absoluto. Deus está sempre de braços abertos para receber quem se arrepende e se corrige. O Filho pródigo encontrou a porta aberta do coração de se pai, porque ele voltou, ele se arrependeu. Estava morto e começou a novamente viver. Além disto, é preciso saber escutar o Espírito Santo. Todo cuidado é pouco, dado que  a mensagem divina esclarece, o milagre aponta uma rota, mas nem a palavra nem o milagre podem aprisionar o homem em sua lógica e arrebatar-lhe a liberdade de ser irredutível à evidência. Se assim não fosse, não haveria nem a ventura suprema da opção, nem o valor da virtude livremente praticada. O Espírito Santo é admirável advogado de todos os homens e apela sem cessar junto de cada coração: “Volta de novo para o teu Senhor que muito te ama”! Entretanto o pecado grave da desesperança bloqueia a percepção de um tal apelo. O  ser racional se torna então obtuso para o plano espiritual. É necessário portanto estar cada um atento, porque as distrações mundanas podem blindar a vida interior, o apego às coisas terrenas pode absorver de tal modo o ser humano que este se torna impermeável às mensagens divinas. Os divertimentos malsãos, os programas televisivos, as paixões terrenas acabam impedindo o diálogo com Deus. Aquele que se fecha a esta tertúlia vai aos poucos dando as costas ao Ser Supremo. Entretanto, aquele que cai em si e se esforça para se aproximar das realidades espirituais logo conhece a alegria interior vinda do alto. Há então a experiência do perdão de Deus e uma imersão no seu amor.Assim longe de qualquer blasfêmia contra o Espírito Santo passa a reinar a paz.  Esta permite vencer a inércia e os temores. Brilha a fidelidade à Verdade e a presença do Espírito Santo inflama a coragem e afasta toda e qualquer blasfêmia. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 16 de novembro de 2013

CARACTERÍSTICAS DO REINADO DE CRISTO

CARACTERÍSTICAS DO REINADO DE CRISTO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O trecho do Evangelho de São Lucas leva a bem conceituar o reinado de Cristo (Lc 23, 35-43). A essência deste reinado diferencia-se profundamente das concepções que normalmente se tem da realeza. Os reis que aparecem na História se apresentam como um onipotente senhor, muito acima de seus súditos. Chefe de um poderoso exército, possui terras, palácios, numerosos servos às suas ordens. Vivem no luxo, cercados das mais extravagantes mordomias. Em síntese, um privilegiado, muitas vezes passando seus dias numa corte mundana e submissa a seus caprichos. Hoje, porém, o rei que é festejado se apresenta no alto de uma cruz, objeto de injustos insultos, vítima de uma grosseria inominável advindos do povo e dos seus dirigentes. Não está ali um Rei coberto de ouro, porque não seria o ouro que o faria um soberano. Nem mesmo a legião dos anjos lhe vem salvá-lo naquela hora, dado que não seria isto que o tornaria um monarca. Apresenta-se marchetado de feridas, ironizado sob todos os aspectos, condenado a uma morte ignóbil. Ele não se salva a si mesmo, porque viera para redimir todo o mundo. Não escapa voluntariamente da cruz, uma vez que ela seria salvação de toda a humanidade, a paga pelos pecados dos homens, a garantia da reconciliação com o Ser Supremo. Antes de estar no altar de uma terrível imolação pelos seus vassalos ele havia demonstrado que sua realeza tinha características peculiares, pois ele se ajoelhara diante de seus discípulos e lhes lavara os pés, Ele que nascera numa manjedoura, vivera numa pobre carpintaria e pôde então afirmar que seu império não era deste mundo. Ele, o Verbo Eterno de Deus que se encarnara para conduzir seus seguidores para seu reino de justiça e de felicidade, de amor e de paz, proclamava assim o pouco valor dos poderes meramente humanos. A marca fundamental de sua soberania era o amor que o levara àquele martírio para abrir para quantos O aceitassem as portas do Reino dos céus. Eis porque, consumado seu sacrifício, morto, sepultado, ressuscitando pelo seu próprio poder seria aclamado Rei imortal dos séculos por milhares de homens e mulheres tocados pela vibração deste amor incomensurável. O grande monumento deixado nesta terra por este Rei, seria sua Cruz, mas esta indicaria para todos que O aceitassem o caminho para a entrada nos deslumbrantes palácios da eternidade. Enquanto os todo-poderosos deste mundo haveriam de continuar a se impor através da propaganda, de suas estratégias para se manter no mando, este Rei prosseguiria pelos tempos afora a recomendar: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”, Ele que viera “não para ser servido, mas para servir”. Viera realmente numa missão de amor, para testemunhar e atestar que Deus ama suas criaturas racionais. Por isto ele tocaria fundo os corações generosos e seu reinado se distinguiria pelos novas relações dos homens entre si e de todos com Deus.  Verdadeiro Rei que dá às pessoas que se submetem a Ele força para lutar contra todas as formas de injustiças que desfiguram a humanidade. Aos vivos e mortos que O têm como soberano ele os  envolve na luz de sua ressurreição e garante: “Quem crê em mim, viverá eternamente”. Este Rei, porém, não é um dominador como os potentados deste mundo. Ele continua pela história afora a passar na vida dos seres humanos, batendo à porta dos corações, correndo o risco de ser novamente rejeitado como acontece com tantos arraigados nos seus erros e paixões, mas conquistando milhares que aderem à Verdade e ao Bem. Isto porque pertencer à Verdade é escutar seus ensinamentos, perceber sua voz e conformar a vida pessoal, familiar e profissional com seus desígnios sublimes. Pertencer à Verdade é se entregar a Ele imbuído de seu Espírito, retificando sempre a conduta sem se deixar influenciar pelo Príncipe das Trevas. Ele, contudo, conta com seus súditos fiéis para levarem por toda parte sua mensagem salvífica, seu olhar de amor e de ternura. Ele espera de seus autênticos epígonos que anunciem que o mal não terá jamais a última palavra, que seu amor de Rei triunfante é que vencerá. Cumpre difundir sempre “seu reino de vida e de verdade, de graça e santidade, de justiça de amor de paz”. Um dia este Rei voltará para estabelecer para sempre o reino divino. Por isto, seus súditos que caminham nesta terra vivem num processo de conversão, sem se deixar seduzir pela falsa lógica do mundo. É preciso trazer os que se acham longe deste Rei para o acatamento de sua Pessoa. Eis porque se repete tantas vezes na oração que Ele ensinou “que o teu reino venha a nós”. Isto leva à submissão a seu coração de misericórdia e de amor. Grande a responsabilidade do cristão em testemunhar o reino de Cristo. Que se contemple então a Cruz na qual a realeza de Jesus se revela em toda sua amplitude cósmica, oferecendo a todos o seu Reino de luz, de paz, de  ventura por toda a eternidade. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

sábado, 9 de novembro de 2013

Perseverança e salvação

PERSEVERANÇA E SALVAÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Admirável o alerta de Cristo: “Pela vossa perseverança ganhareis as vossas almas” (Lc 2,19). Sentença breve e incisiva, frase contundente dado que o Mestre divino alia a constância do cristão à sua salvação eterna. Do exercício desta virtude depende a entrada no Reino eterno de Deus. É que a conquista do céu supõe coragem e determinação por entre as incongruências da vida. Exige uma luta sem tréguas contra os inimigos da alma e, sem bravura esta batalha que caracteriza da vida cristão não pode ser ganha. A vereda que conduz à Casa do Pai apresenta dificuldades e sem a fortaleza interior as boas intenções se tornam estéreis, infrutíferas. Cristo alertou seus seguidores sobre as contradições que teriam no mundo. Num contexto materializado, avesso à prática das virtudes, no qual os maiores absurdos morais são apresentados na mídia como se fossem atitudes naturais a seres racionais ou o discípulo de Cristo se fortalece continuamente ou acaba vendo comprometida por toda a eternidade sua alma. A perseverança no seu mais alto grau esplendeu no alto de uma Cruz. Foi fruto de um grande amor. Eis porque a constância nas rotas de bom oferece a oportunidade de uma atitude repleta de dileção para com quem tanto se sacrificou pela redenção de cada um. O ingrediente máximo da perseverança é o amor a Cristo que oferece o cada um a paciência e aceitação jubilosa da vontade de Deus e leva a repudiar tudo que afronta seus preceitos sagrados. Então a energia transbordante da tenacidade age e faz compreender a ciência difícil da cruz. Desta forma, afastada mera resignação o cristão caminha após Jesus que preceituou a seus epígonos a renúncia a si mesmo. Seu seguidor nunca é um estóico que endeusa o sofrimento, mas alguém que dá uma aplicação transcendental à luta diária nunca desanimando. Para muitos a fidelidade total a tudo que Jesus ensinou se torna impossível, exatamente porque para perseverar é preciso a fortaleza da graça que é obtida pela prece sincera repleta do desejo de não voltar atrás, trilhando caminhos trevosos da infidelidade a Deus. Num universo relativista os preceitos do Criador são questionados, as verdades obnubiladas. Isto explica a deserção de tantos batizados que deixam a Igreja para aderir a uma multiplicidade de seitas ou a doutrinas espúrias inteiramente contrárias ao Evangelho. Falta a convicção na fé. Ao invés de um engajamento firme, inabalável, se passa a preferir idéas subjetivas ou se deixa guiar pelas mensagens errôneas transmitidas pelos meios de comunicação social que passam a fazer a cabeça do cristão desavisado. Muitos até pensam que a perseverança é um entrave à liberdade, engessando o indivíduo numa conduta da qual quer se libertar. Donde ser mais do que nunca atual a advertência de Cristo: “Pela vossa perseverança ganhareis as vossas almas”. Esta virtude é possível, porque é um dom de Deus. O Ser Supremo conhece seus filhos e sabe quais são suas fragilidades, seus limites. Jesus havia orado ao Pai pelos seus seguidores: “Eu lhes dei a tua palavra, mas o mundo os rejeitou, porque não são do mundo, como eu não sou do mundo. Não te peço que os tires do mundo. mas que os guardes do Maligno; Eles não são do mundo,como eu não sou do mundo. Consagra-os na verdade a tua palavra é verdade. Como tu me enviaste ao mundo, assim também eu os enviei ao mundo.Eu me consagro por eles,a fim de que eles também sejam consagrados na verdade” ( Jô, 17, 14-19). Há, portanto, uma dicotomia entre o mundo alheio ao Evangelho e o posicionamento do batizado, como, aliás, bem retrata o Evangelho de hoje. O pedido de Jesus de que o Pai consagre seus epígonos na verdade, significa na fidelidade total, na perseverança sem limites. É por isto que o cristão recebe o Espírito Santo no Sacramento da Crisma para que possa perseverar não obstante tantas dificuldades, não se deixando nunca esmorecer. É o Espírito Santo que comunica a todos os batizados a força, o fogo e o gosto da perseverança, desde que se corresponda a suas inspirações. Quem se precata contra o Maligno não se afasta da fonte da água viva e guarda a Palavra de Deus por árdua que seja a batalha contra a inconstância. A fidelidade com relação a Deus não é uma crispação heróica da vontade nem uma decisão tomada a golpes violentos, mas resulta do sereno autodomínio sob o influxo da graça. Deste modo a perseverança conduz a uma obra criadora que se vive no presente voltando toda a vida de cristão para um futuro reluzente. Trata-se de uma atitude continuamente atualizada na vida de cada um. Ela oferece respostas novas aos diversos desafios que surgem nas etapas da vida do batizado. Aí está a santidade do cotidiano. Desta forma o cristão pode repetir com São Paulo: “Nada nos poderá separar do amor de Deus que está em Jesus Cristo nosso Senhor” (Rm 8,39). Dá-se então o que Jesus recomendou: “Pela vossa perseverança ganhareis as vossas almas”. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.