VIGILÂNCIA, UMA ATITUDE FUNDAMENTAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Notável o alerta de Jesus a seus seguidores: “Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor”! (Mt, 24,42). A vigilância é uma atitude fundamental na vida do cristão. Ela envolve na esperança do reencontro com o divino Redentor. Esta expectativa não conduz a um futuro incerto, mas leva a uma atitude no momento presente dada a iminência constante da chegada de Cristo. O fato é certo, a hora é que se torna incerta e, por isto mesmo, coloca o cristão em estado de precaução. Não se trata simplesmente de estar acordado, mas, sim, preparado, pois quem pode chegar é Aquele que deseja introduzir o seu fiel discípulo numa felicidade perene. Envolto nos dons divinos, o cristão precisa então colocar sempre sua liberdade a serviço da graça, da fé, do amor e da comunhão fraterna. Quem não está vigilante, malbarata os favores recebidos de Deus, não cresce na fé e o amor vai se extinguindo. É que o batizado vela para que o mundo não se esqueça nunca de Deus se engolfando nas paixões desregradas que serão severamente condenadas quando o Filho do homem voltar. Deste modo, a vigilância tem um significado concreto, profundo. Orienta o desejo humano para além do tempo, pois no reencontro com seu Senhor principiará a eternidade. Eis porque a vigilância pregada por Cristo vai além da mera precaução humana diante das evoluções sociais e tecnológicas cada vez mais rápidas no contexto atual. Se a precaução é necessária a quem vive na sociedade atual tão rica de possibilidades, mas tão complexa, a vigilância leva quem tem fé a não perder de vista o fim último que é a salvação eterna. No meio de uma série de solicitações, proposições e atividades profissionais, familiares, sociais a precaução conduz a um bom gerenciamento do tempo e de tudo que se possui, antecipando problemas. Prever é uma das palavras chaves da sociedade de consumo. Esta prevenção que é importante não deve, contudo, impedir o cristão de estar voltado para realidades mais sublimes. O Evangelho deixou claro que as pessoas entregues apenas aos afazeres materiais foram levadas pelas águas do dilúvio (Mt 24, 39). A grande questão, portanto, é saber conciliar o viver num mundo de atividades sócio-econômicas com a atenção à glória que há de raiar com a chegada de Cristo. Entretanto, a própria aceleração da história que caracteriza os tempos hodiernos é um alerta a mais para se estar vigilante, porque mais do nunca o ser racional percebe a passagem rápida dos dias, meses e anos. A mundialização econômica e cultural, a rapidez das transformações tecnológicas faz com que o tempo passe com uma rapidez impressionante e ai daqueles que não cuidarem em bem se preparar para a vinda de Cristo. A vigilância evangélica não consiste em imaginar o que virá, mas é uma disposição ininterrupta de acolhimento de uma Pessoa que chegará para recompensar pelo bem praticado, pela boa administração das dádivas divinas, pelas virtudes praticadas. Há hoje, assim, uma maneira diferente pela qual se deve estar vigilante. Mais do que nunca cumpre um engajamento radical e uma renúncia a tudo que embarga a chegada Reino de Deus. Este reino exige um investimento de todo o ser que não se deixa prender ao efêmero. Sabe, contudo, o cristão que o estar preparado para a volta de Cristo é obra de Deus, pois o mundo novo é fruto da pura misericórdia divina. A vigilância exige então um controle maior da própria liberdade e isto com uma exigência sem limites. Trata-se da consciência de uma responsabilidade pessoal no que tange à própria vida na eternidade. Responsabilidade concreta na espera da hora final de uma trajetória nesta terra. Esta vigilância, não obstante as fraquezas humanas, imerge na confiança total em Deus, apesar dos riscos que cada um corre na sua caminhada por este mundo. A vigilância, porém, torna o cristão audaz, corajoso, porque ele se abandona à prece e se dispõe continuamente a estar atento ao serviço da justiça do Reino de Deus. Como dizia São Paulo, este é o momento de se sair do sono, para se entregar a uma esperança dinâmica. A prevenção incita, deste modo, a se despojar do que é secundário para melhor acolher o Reino de Deus. Aquilo que é o agora, não deve ofuscar o que ainda será, quando Deus fará todas as coisas novas. Daí, a advertência de Jesus: “O Filho do Homem virá na hora em que não pensais”. Se o cristão vigilante não pode prever o dia e a hora, pode, contudo viver o presente com um coração aberto para a novidade de Deus. Isto não é inútil, mas, sim, essencial, de vital importância. Fruto da confiança em Deus que é maior do que os projetos humanos, a vigilância aceita o imprevisível como marca da liberdade e do amor. Ela dá sentido aos acontecimentos e até se robustece por vezes das rupturas dolorosas da existência. É deste modo que o primeiro domingo do Advento ajuda cada um a se preparar para o Natal, novo encontro com Cristo, aguardando o reencontro final com Ele no ocaso da vida de cada um. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.